terça-feira, 10 de julho de 2018

Malthus actual

Em 1798, Thomas Malthus especificou no seu Primeiro Ensaio, que se aproximava, dentro de anos, uma crise alimentar, já que, se nada fosse feito para o evitar, a população cresceria a um ritmo exponencial, enquanto que a produção alimentar crescia a um ritmo aritmético, o que levari inevitavelmente a uma falta de alimentos. Malthus errou na sua previsão e foi muito atacado e finalmente quase esquecido por esse erro. O que se verificou nos anos seguintes foi um dramático aumento da produção agrícola, devido a novas tecnologias, de tal modo que a crise alimentar prevista não teve lugar. Sabe-se que até à actualidade a produção agrícola (com fins alimentares) tem sido suficiente para alimentar a população actual. Além disso, o crescimento populacional, embora sempre positivo à escala global, já não é exponencial, tendo sofrido um abrandamento, nomeadaente devido à diminuição do número de filhos por mulher, principalmente no Ocidente (em grande parte devido ao advento e generalização da pílula, e ao processo de liberalização da mulher), e a campanhas nos países mais populosos exactamente no sentido de diminuir a natalidade, como a lei do filho único na China, já revogada mas que teve forte impacto, e as campanhas de sensibilização para a esterilização na Índia.

Portanto, Malthus errou redondamente e não houve ainda crise alimentar geral. As suas conclusões foram fortemente atacadas e posteriormente praticamente esquecidas até ao século XX. Os optimistas de serviço concluíram então que jamais haveria crise alimentar, pois, apesar do aumento populacional contínuo, a produção alimentar continuaria a crescer o suficiente.

Mas Malthus não errou no raciocínio, apenas no modo como extrapolou a evolução temporal dos parâmetros que utilizou e,por outro lado, na limitação da análise à questão alimentar.

Mais recentemente houve outro sobressalto quando da publicação em 1972 do livro "Os Limites do Crescimento" (Edição portuguesa daa Publicações dom Quixote). Este relatório do M.I.T., da autoria de Donella Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens II, baseado nas pesquisas dos mesmos por encargo do Clube de Roma, voltou a pôr a questão da sustentabilidade da sociedade de consumo, nomeadamente da questão alimentar e da questão ecológica, que não tinha, como é natural, preocupado Malthus. Já com  ajuda de programas informáticos, Donella Meadows e colaboradores chegaram a conclusões que actualizavam e extrapolavam, desta feita com dados mais fiáveis, as previsões de Malthus. O principal dado é a evidência de que o planeta é finito, sendo também finitos, necessariamente, os recursos que se podem extrair dele para consumo ou transformação.



30 anos mais tarde, Donella Meadows deu à estampa uma actualização e uma verificação das previsões e uma apresentação da evolução dos recursos. Chegou à conclusão de que, de um modo geral, as previsões de 1972 se tinham confirmado.

Entretanto o Mundo continua entretido em coisas que podem ser importantes momentaneamente, mas que em nada contribuem para a resolução nem mesmo para a mitigação dos problemas que nos conduzem ao colapso da nossa civilização. Fala-se muito das alterações climáticas, e é combinado internacionalmente um pequeno esforço para tentar evitá-las, diminuí-las ou contrariá-las, procuram-se energias renováveis, mas estas revelam-se mais caras e a sua generalização, com o fim do uso de combustíveis fósseis, continua a ser uma miragem longínqua, mas a exploração desenfreada dos recursos continua e é a base do actual do nosso bem-estar. A adopção em massa de novas tecnologias impõe uma nova necessidade de recursos escassos. Os responsáveis políticos pensam mais no curto prazo, um pouco no médio prazo e nada no longo prazo. Quando se derem conta da necessidade urgente de mudanças drásticas, deve ser tarde.

domingo, 1 de julho de 2018

Horrível

António Costa considerou que a reunião de líderes da União Europeia  em que se alcançou um acordo sobre imigração foi "uma das mais horríveis " às que assistiu em Bruxelas. No entanto esta declaração não teve grande eco nos meios de comunicação portugueses, que optaram pelo lado positivo noticiando de preferência a declaração de Costa sobre "o grande passo em frente" conseguido sobre o euro. Sabendo as posições de Costa sobre o assunto dos migrantes, não admira que tenha considerado "horríveis" as novas medidas sobre a recepção de migrantes, embora pareça conveniente não noticiar muito essa opinião do nosso PM.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Mensagem sexista

O Bloco de Esquerda, sempre atento aos problemas mais importantes e urgentes que o País atravessa, decidiu pronunciar-se sobre o filme que foi produzido no âmbito de uma campanha contra o aumento do consumo do tabaco pelas mulheres. Acusou o filme de ser sexista. E eu que pensava que agora se falava em género em vez de sexo! O filme talvez seja, qual será a palavra??, talvez seja "generista" ou "generalista" (?). Além disso é misógino. E se o filme se passasse com homens? Um grande fumador que diga ao filho para não lhe seguir o exemplo porque um desportista não fuma, será uma mensagem sexista? A questão da princesa incomoda a Dona Catarina? Talvez o exemplo do desportista também não lhe agrade. Será que o Bloco poderá ameaçar o PS de votar contra o orçamento para 2019 se o Governo não retirar o filme da divulgação em curso e programada? Não seria má ideia.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Alguns sinais

Lido aqui e ali:

As exportações desaceleraram mais do que as importações e o investimento em construção travou a fundo, diz o INE

gastos em bens duradouros "abrandaram

formação bruta de capital fixo (FBCF) abrandou

economia portuguesa cresceu 0,4% no primeiro trimestre / contributo negativo da procura externa líquida

Subida do petróleo tira 0,1 pontos ao PIB português

há riscos externos e internos que ameaçam Portugal. A nível internacional, o FMI aponta para um “aumento da incerteza política em alguns dos países parceiros de Portugal”, bem como para a “volatilidade” dos mercados obrigacionistas e cambiais. “Isto é um lembrete de que as condições externas, ainda que maioritariamente favoráveis, podem tornar-se desfavoráveis”, diz o FMI. Já a nível interno, Portugal apresenta ainda o elevado nível de endividamento, pelo que “surpresas” nas taxas de juro podem ter um impacto relevante sobre a economia.



Há que ter em atenção estes sinais.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Acabou

Ainda pensei na hipótese, quando da rendição da liderança no PSD, de dar o benefício da dúvida a Rui Rio. Agora não há qualquer dúvida nem qualquer benefício. Para mim, acabou.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Blog 4R

4R Quarta República

Que se passa com o blog 4R, que já reuniu peças fundamentais para compreender o descalabro da nossa democracia. Nos últimos tempo só lá escreve Pinho Cardão, e mesmo este sem grande frequência. É ou era um blog de referência, mas agora vê-se definhando por falta de colaboração.
JM Ferreira de Almeida, Margarida Corrêa de Aguiar, Massano Cardoso, Miguel Frasquilho, Suzana Toscano,Tavares Moreira, David Justino: de que estão à espera? Já não se passa algo na política que suscite o vosso comentário?
Ou será que os cargos que ocupam lhes roubam tempo para escrever 4 linhas no 4R?

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Sócrates sempre

O caso Sócrates volta ser actual a espaços. Tem passado por várias fases, desde os escândalos ou os casos duvidosos durante o seu governo, passando pela estadia em Paris num luxuoso apartamento, que não se sabe a quem pertence, pela publicação de um livro cuja venda em grandes quantidades foi amplamente comentada, e finalmente pela fase judicial, pela prisão, pelos interrogatórios, pelas visitas dos diferentes sectores do PS à prisão, cada um com a sua história, pela a liberdade condicional, pelas sessões com apoiantes, voltando agora a ser notícia por causa das declarações dos principais dirigentes do PS, que decidiram, finalmente, que a presença de Sócrates no PS só podia prejudicar o partido. Foi nitidamente uma operação consertada enquanto o primeiro-ministro estava no Canadá (e provavelmente decidida antes da partida do PM para essa visita). O Presidente do PS, atacou com força, as declarações de António Costa foram mais brandas, mas não menos corrosivas. Outros dirigentes tiveram posições diferentes, e algumas até de defesa do ex-PM, mas essas não tiveram eco. O mais interessante foi a troca de palavras entre Fernanda Câncio, num artigo de opinião fortemente arrasador da própria personalidade do seu ex-namorado, e as reacções que esse artigo gerou, chegando a ser classificado de "nojo". Não vou referir exaustivamente as intervenções a favor e contra estas posições, mas tratou-se de um verdadeiro combate de palavras que não sei se já se poderá dar por terminado.

Mas para mim, todas estas peripécias são secundárias tendo em atenção o aspecto político da governação do Sr. José Sócrates Pinto de Sousa. Como eu disse em 2017, considero que os erros cometidos durante o tempo em que este senhor governou o País mereciam um castigo violento. Repito que acho correcto que a má governação seja paga nas urnas, mas é preciso reconhecer que não é a má governação que está a ser julgada em tribunal, e, portanto, por muito que os crimes de que Sócrates é acusado levem a uma pena pesada, os erros de governação, que tanto mal causaram a Portugal, continuarão impunes. E, o mais grave, não me parece que esses erros tenham sido erradicados do PS, apesar dos ataques que os principais dirigentes do PS desferiram. Estes tinham por fim evitar que o PS seja prejudicado nas próximas eleições, e mais nada.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

O milagre económico desmascarado

Luís Ribeiro escreve no Observador um artigo que destrói completamente a lenda do milagre económico de Centeno. Desde o mito do fim da austeridade até ao do menor défice da democracia, tudo é desmascarado com dados fiáveis e bem explicados. A conclusão é óbvia: "Centeno conseguiu resolver os problemas da geringonça e os da Europa, mas sem qualquer contribuição para resolver o problema nacional. Merece ser Presidente do Eurogrupo, mas não ministro das Finanças." Mas não aconselho ninguém a ficar pela conclusão: é aconselhável ler o artigo completo.

sábado, 21 de abril de 2018

O Melro

Não me refiro ao melro de Guerra Junqueiro, mas a outro que também era negro, vibrante, luzidio. Aliás há muitos melros na minha rua e arredores. Esvoaçam, cantam e procuram comida. É raro o dia que, saindo à rua, não vejo uns tantos e não oiço o assobio de muitos mais. Dá-me prazer vê-los e ouvi-los. Mas, fugidios como são, Nunca tive oportunidade de fotografar um para prova do que afirmo. Até ontem. Armado em modelo fotográfico, este fez o possível por se pavonear, no chão e nos ramos das árvores, até que desapareceu voando para longe. Tenho gosto em partilhar o resultado da caçada.







O animal feroz volta a atacar

Foi com algum espanto que vi a ameaça de Sócrates ao Juiz Carlos Alexandre e ao Procurador Rosário Teixeira, considerando-os os principais suspeitos da divulgação criminosa de gravações em vídeo de excertos de interrogatórios. Se suspeitar de alguém e afirmá-lo em público não me parece crime, já afirmar que "por ação ou negligência eles são os autores morais dessas e das demais violações da lei" pode ser considerado como difamação se a afirmação não puder ser provada. Mais: Sócrates acusa o Juiz e o procurador de "desonestidade" na feitura da acusação do seu processo. Chamar desonesto a alguém não poderá também ser classificado como difamação? No entanto, não creio que o Juiz Carlos Alexandre ou o Procurador Rosário Teixeira queiram formular qualquer acusação nesse sentido contra Sócrates.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Operação Marquês

Fiquei espantado e mesmo impressionado com a transmissão pela SIC, imitada pela CMTV, de excertos do interrogatório do senhor José Sócrates, chamado frequentemente por "senhor engenheiro", no âmbito da operação Marquês. É necessário ter em conta que os excertos foram escolhidos e desenquadrados da sequência do interrogatório. Mas mesmo assim o que vi suscitou-me dois tipos de dúvidas: 1) Serão assim habitualmente os interrogatórios judiciais? Mais parecia um debate do que um interrogatório. Estabeleceu-se por vezes um diálogo entre o magistrado e o arguido em que este chegou a pôr questões ao procurador, invertendo os papéis. O mais espantoso é que o procurador, em vez de cortar o diálogo, por vezes o sustentava. É certo que uma vez chegou a dizer qualquer coisa como "Eu interrogo e o senhor responde sim ou não", mas logo em seguida permitiu que o debate se restabelecesse. A agressividade de Sócrates, atitude estudada e provavelmente ensaiada, tinha evidentemente por fim cansar e desencorajar o interrogador. Sempre pensei que um interrogatório judicial tivesse outra formalidade e outra disciplina. 2) Apesar de o processo já não se encontrar em segredo de justiça, não pensei que fosse possível e fosse legítimo ter acesso a gravações e muito menos transmiti-las para o público. Segundo algumas notícias parece que tal não é legal. Espero para ver as consequências.

sábado, 14 de abril de 2018

Sexo e género

Muito pertinentes as considerações de Carlos Loureiro sobre a questão levantada pela nova lei de autodeterminação de género. Se cada um pode escolher sem mais o género que prefere, que sentido tem a obrigatoriedade dessa preferência figurar nos documentos oficiais. Tanto como o meu gosto por música clássica ou pela cor verde. Mas afinal o que os documentos oficiais, como o cartão de cidadão, registam é o sexo e não o género. O que resulta da alteração voluntária é uma mentira. O sexo é definido biologicamente e não muda apenas por um acto de vontade e um registo em documentos.

Stephen Hawking chumbado

Já era esperada a notícia de que a nota em Educação Física entraria na média da nota de candidatura ao ensino superior. Mas eu ainda tinha alguma esperança de que sobrasse um pouco de bom senso para evitar tal disparate. Mas não foi assim. Que seja requisito para alguns cursos, compreende-se. Que tenha influência na seriação de entrada em cursos como os de línguas ou de Matemática parece-me completamente aberrante. Se da consulta pública não resultar uma modificação ao diploma, vai certamente acontecer que um brilhante aluno de Física ou de Literatura, mas que falhe em saltos no plinto, seja ultrapassado por um estudante atlético mas de menor espírito científico ou jeito para as letras e perca a vaga no curso pretendido por um defeito que nada tem a ver com a carreira que pretende seguir. O exemplo de Stephen Hawking é flagrante. Não interessa que quando se candidatou e quando foi admitido à Universidade ainda não se tinha declarado a sua doença incapacitante; o que é certo é que quando se doutorou e mais tarde quando lhe foi concedida a cátedra que fora de Newton já a doença limitava gravemente a sua actividade física. Haverá certamente muitos outros exemplos que provam que a eficiência em Educação Física não tem influência nas capacidade de entrar e concluir um curso superior nem de seguir a carreira profissional para que esse curso prepara.

domingo, 8 de abril de 2018

Racismo?

Catarina Martins afirmou que "a prisão de Lula da Silva não é sobre corrupção. É um golpe da direita reaccionária, racista e fascista." Que seja um golpe é discutível, não creio que seja fascista, mas que seja racista nem dá para perceber. De que raça é Lula?

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Poesias e canções

Num novo blog, de título "Poesias e Canções", publicarei algumas poesias e letras de canções que me marcaram ou que me agradam especialmente. Ainda há pouco que ver, mas convido quem me seguir a visitar o novo blog em poesiaseletrasdecancoes.blogspot.pt.

Desmascarando tentativas de engano

A carga fiscal aumenta. O Governo, pela voz de Mário Centeno tenta desmentir. Basta ler Ricardo Arroja para ter perfeita noção do engano. Arroja explica de modo a que todos possam compreender como Centeno usa argumentos enganadores para disfarçar a realidade. Conclui: "as receitas de contribuições e impostos cresceram mais do que a riqueza gerada na economia. ...  Receita fiscal que, tendo passado a remunerar mais o Estado em proporção da riqueza gerada na economia, reduziu em termos relativos a remuneração globalmente atribuída ao trabalho e ao capital. A isto se chama aumentar a carga fiscal." Claríssimo,

A dívida pública aumenta. O Governo faz crer q1ue está a reduzir a dívida pública. Basta ler Pinho Cardão para verificar como nos estão a querer enganar.

E isto são só exemplos.


domingo, 1 de abril de 2018

; (Ponto e vírgula)

Não, não me quero referir ao sinal gramatical "ponto e vírgula" (;) usado em escrita normal para dividir frases relacionadas que não merecem ser separadas por pontos. Vou antes falar do uso em escrita numérica do ponto ou da vírgula conforme as situações. Primeiro há que lembrar que há países em que o separador decimal, que separa o algarismo das unidades da parte decimal de um número, é um ponto e que há outros países que usam, para o mesmo fim, uma vírgula. Entre os primeiros estão os países de expressão inglesa e os da maior parte da Ásia; os restantes, os da América Central e do Sul e a maioria dos países europeus continentais, usam a vírgula. Portugal integra-se nestes últimos.




O uso da vírgula como separador decimal é, em Portugal, ensinado na escola primária, no liceu ou nas escola  do ensino secundário e nas universidades. Mas verifica-se que o uso do ponto é muito frequente. Tanto jornalistas como oradores das mais diversas categorias, até ministros, incluindo os das áreas que mais lidam com números, os das Finanças e da Economia, de quaisquer partidos, tanto dizem que o PIB cresceu dois vírgula sete como dizem, com a mesma cara, que foi dois ponto sete. Parece-me que até usam mais vezes o ponto que a vírgula. Porque será? Talvez influência do inglês, como também acontece na errada designação de "bilião" para o milhar de milhões. Mas não há dúvida que segundo as leis portuguesas o uso da vírgula é correcto e o do ponto está errado. Mais a mais pode usar-se um ponto para dividir os números extensos em classes de milhares, separando-os em grupos de três algarismos. Os ingleses e os outros países que usam o ponto como separador decimal usam, para este último fim, uma vírgula.  Assim a utilização errada pode dar origem a erros, por vezes com consequências graves. Note-se que esta utilização quer de pontos quer de vírgulas para separar os números em grupos de três algarismos não é recomendada pela 22ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, que indica que neste caso se deve usar apenas um intervalo. Era bom que estas normas fossem cumpridas para nos entendermos e evitar confusões.

sexta-feira, 16 de março de 2018

A "nossa informação" em causa?

No discurso de António Costa, substitua-se "nossa informação" por "nosso querido Primeiro-Ministro". Fica:

Um dos maiores problemas do País é a péssima qualidade do nosso querido Primeiro-Ministro, que só acorda para os problemas a meio das tragédias, esquecendo-se habitualmente do problema na hora certa de prevenir que a tragédia possa vir a acorrer.

Fica mais correcto. De facto, não cabe à "nossa informação", isto é, à comunicação social, prevenir tragédias. A sua missão é informar, ao contrário da do Governo. É certo que, quando Ministro dos Assuntos Internos, em 2006, António Costa aprovou uma legislação de limpeza das florestas, mas esqueceu-se de a fazer cumprir (e há dúvidas de que fosse eficaz em caso de ter sido cumprida). Quando Primeiro-Ministro, continuou a esquecer-se de que tal lei, supostamente de sua autoria, existisse. Só 2 anos depois, acordou, não no meio da tragédia, mas sim apenas no fim da tragédia, depois de merecidas férias e mais uns meses de tragédia em curso. Mas parece que a culpa é da "nossa informação". É preciso ter lata.

terça-feira, 6 de março de 2018

40900

Alguém ainda se lembra da luta académica de 1962 a favor da autonomia da Universidade e contra o Decreto 40900? As críticas que se têm ouvido contra a contratação de Pedro Passos Coelho pelo ISCSP da UL levam a crer que já não. A esquerda contribuiu decisivamente para esta luta, desde a esquerda moderada e democrática até à esquerda comunista. E, nesse tempo, poderia considerar-se de esquerda todo aquele que estava contra a ditadura de Salazar, muitos dos quais são agora designados como de direita. O ódio que Passos Coelho suscita na actual esquerda, leva a uma verdadeira cegueira. Chega ao ridículo de afirmar que, se o PSD voltar ao poder, vamos ter novamente cortes nos salários da função pública e nas pensões, entre outras malfeitorias, como se os cortes não tivessem sido iniciados pelo PS no tempo de Sócrates e continuados porque o acordo com a troika feito pelo PS assim o exigia, como aliás exigia também a salvação das finanças do País. Se a Universidade é de opinião que a experiência governativa pode ajudar a transmitir critérios de Administração Pública, não são razões políticas que se devem sobrepor.

PS: Já depois de escrever isto, vi isto, com que concordo totalmente.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Critérios jornalísticos

Porque será que a confirmação por parte do INE de que o crescimento do PIB em 2017 foi 2,7%, reconhecimento este que não deu lugar a qualquer surpresa mas sim a inúmeras referências, mereceu uma interrogação por parte de jornalistas ao Presidente da República sobre o que pensava desse facto positivo e notável, mas, por outro lado, a notícia, conhecida no mesmo dia, dada pelo Banco de Portugal, de que a dívida pública voltou a aumentar em Janeiro (mil milhões) não teve grande eco nos meios de comunicação nem suscitou qualquer interrogação a Marcelo Rebelo de Sousa sobre o que poderia pensar deste facto negativo e detestável? Não quero acreditar que foi apenas para provocar mais um elogio do PR ao Governo de António Costa.

PS: A própria dívida pública líquida, que para mim é mais importante do que a bruta, aumentou 300 milhões.

Reconhecimento (II)

Também estou com Rodrigo Moita de Deus quando escreve no 31 da Armada: «Na sua cabeça até pode ter presidenciais esperanças para o dia em MRS se farte do lugar mas a verdade é que Passos Coelho sai de cena como o mau da fita. Mau líder da oposição. E o homem responsável pela "destruição do SNS", pelo "desinvestimento público", a "pior crise económica da democracia" e a probreza de milhares e milhares de portugueses. O pai da austeridade. O passismo tornou-se adjetivo. E o adjetivo não é um elogio. Uma narrativa da esquerda que o próprio, por omissão, deixou vingar. A política tem destas injustiças. Passos fez o que mais ninguém quis fazer - nem o PS. Assumiu responsabilidades que mais ninguém quis assumir - nem o Presidente. E, contra todas as expectativas, conseguiu. E conseguiu mesmo. O país que não tinha dinheiro para o ordenado dos funcionários públicos evitou a ruptura. O governo que não tinha condições para sobreviver mais de três meses durou um mandato inteiro e até ganhou as eleições. Ao país herdado e falido de 2011 valeu a teimosia daquele homem. Tudo o resto é conversa. E no fundo, no fundo, a Catarina, o Jerónimo e o António até sabem disso.»

PS: Não dou qualquer importância a comentários de anónimos. Até ficarei muito divertido se o Sr. Anónimo que se fartou de rir ao ler o meu artigo anterior também achar graça a este.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Reconhecimento

A despedida de Pedro Passos Coelho pode ter sido sentida por alguns com alívio, mas terá sido, certamente, o próprio o que maior alívio sentiu. Atacado, incompreendido e caluniado, Passos Coelho saiu da cena política calmamente e com dignidade. Estou com os que lhe prestaram homenagem. Em particular com Ricardo Campelo de Magalhães, que escreveu há dias n'O Insurgente: «É um tempo novo, mas não queria deixar passar a oportunidade de agradecer todo o serviço de Passos Coelho ao país. Em meu nome e em nome de todos os que apreciam uma certa forma de fazer política: Muito Obrigado!». Estou também com Luís Rosa, que escreveu no Observador outro agradecimento a Passos Coelho de que João Távora retirou para o Corta-Fitas o seguinte excerto: «
(...) Ao contrário de todos os outros, e por única e exclusiva culpa de um deles (José Sócrates), Passos Coelho teve de gerir um país à beira da bancarrota, focado que estava em cumprir um único programa de ajustamento para evitar repetir a tragédia da Grécia. Tudo ao mesmo tempo que reconstruia o tecido económico nacional com um enfoque estratégico no sector exportador de valor acrescentado que permitisse um equilíbrio sustentável da nossa Balança de Pagamentos, que construía reformas importantes na legislação laboral para atraír investimento direto estrangeiro, que criava uma legislação no arrendamento que acabou com décadas a fio de iniquidades derivadas do congelamento das rendas que promoveu o abandono e a decadência dos nossos principais centros urbanos e que liberaliza sectores estratégicos da nossa economia de forma a combater o desemprego e a promover o progresso económico.
Mais do que o “não” a Ricardo Salgado para envolver a Caixa Geral de Depósitos na viabilização de um Grupo Espírito Santo falido — o que permitiu-lhe ser coerente e consequente com um pensamento económico liberal que não vê o Estado como o motor da economia ou como o salvador promíscuo de empresas inviáveis a troco de um controlo político de instituíçoes que devem orientar-se pelo valor que criam para os seus acionistas — mais do que esse fundamental “não” que muito poucos seriam capazes de dizer, um dos contributos mais importantes de Passos Coelho para um aprofundamento da democracia portuguesa foi a construção de uma Justiça verdadeiramente independente que pôde finalmente cumprir o seu papel: escrutinar todos aqueles que se julgavam acima da lei e investigar tudo o que fosse necessário independentemente do poder político, social e económico dos respetivos protagonistas. (...) Em suma, estou com os que reconhecem a justeza da política de Passos Coelho. Temo que Portugal não o tenha merecido.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Aborto ortográfico

Desta vez até estou de acordo com uma proposta do PCP agora em discussão na Assembleia da República. Abaixo o aborto ortográfico. Lembremos os argumentos da Vasco Graça Moura. Bem ajam os que assinaram a petição e os que se associaram a ela, como Bagão Félix, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, Mota Amaral, Pacheco Pereira, Ribeiro e Castro, Júlio Isidro, Manuel Alegre, Maria Filomena Mónica, Miguel Sousa Tavares, Richard Zimler ou Rui Veloso, entre outros, e as organizações como a Sociedade Portuguesa de Autores, Associação Nacional de Professores de Português e o Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Esperemos que os fortes argumentos contra este aborto tenham eco nas posições da maioria dos deputados.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A garrafa de Lisboa é inglesa

A EPAL teve a ideia de convidar o arquitecto Álvaro Siza Vieira a desenhar uma garrafa que evocasse a "história e o património de Lisboa", como homenagem às "matérias primas [a]os artistas nacionais. Boa ideia, sem dúvida. O desenho da garrafa é inspirado "na Torre de Ulisses, fundador lendário da cidade". Talvez a EPAL se refira ao Ulisses de James Joyce e não ao herói grego, só assim se poderá justificar que alguém, não sei se da EPAL ou o próprio Siza Vieira, tenha pensado que era apropriado dar à garrafa um nome inglês: Lisbon Soul. Assim talvez tivesse sido mais lógico que a garrafa evocasse a história e o património de Londres ou mesmo de Dublin em homenagem às matérias primas e aos artistas ingleses ou talvez irlandeses. Ou, mais prosaicamente, alguém pensou que seria mais conveniente apostar no mercado dos turistas ou até da exportação e um nome em português seria mesquinho. Já agora, porque é que a EPAL não passa a vender water aos seus clientes, Lisbon water.
Não cobro nada pela ideia.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Tanta pressa porquê?

As eleições para o novo Presidente do PSD decorreram no último Sábado, dia 13, no 1.º dia do fim-de-semana, período de merecido descanso. Hoje é, portanto, o primeiro dia útil após a eleição de Rui Rio, que não teve tempo para fazer contactos para quaisquer alterações de órgãos dirigentes do partido. Como é presidente eleito, mas só tomará posse depois do Congresso, que apenas decorrerá daqui a um mês, não é exigível que comece já hoje com quaisquer iniciativas. Mas parece que os barões e baronetes do partido e vários politólogos não pensam assim e todos decidiram dar sugestões, quase exigências, sobre o que Rui Rio deve fazer e até do que já deveria ter feito. Como se estas sugestões e quase exigências não fossem suficientes, sugere-se ainda que os titulares de cargos no Partido tomem eles próprios a iniciativa que, pensam, se impõe após e vitória de Rio. Marques Mendes abriu logo no Domingo o espectáculo declarando que Hugo Soares deveria pôr o lugar à disposição, logo imitado por Manuela Ferreira Leite. Qual é a pressa? E põe-se a questão, que parece não aflorar aos neurónios de Mendes nem de Ferreira Leite: pôr o lugar à disposição de quem? O lugar de Hugo Soares como Presidente do grupo parlamentar do PSD, é de escolha do dito grupo parlamentar. Ora o Presidente do partido mudou ou mudará no próximo congresso, mas os deputados que formam o grupo parlamentar não mudaram nem se prevê que mudem até lá. Portanto ou todos colocariam o seu respectivo lugar à disposição dos eleitores, os que os elegeram, o que é impossível, ou então não tem sentido mudarem de opinião por irem mudar de Presidente. Claro que toda a gente sabe que as escolhas dos deputados são influenciadas, quando não comandadas, pela direcção política, mas também se dá o caso de que esta ainda é a mesma. Por estas razões parece-me que Mendes e Ferreira Leite se apressaram demasiado. Deixem Rui Rio decidir, falar e, principalmente, tomar posse, e dêem então as sugestões que quiserem, mesmo as que não tenham qualquer cabimento.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Notícias de 1623

Não é uma notícia recente, muito menos de última hora, mas não deixa de ter actualidade nos dias de hoje. Leio em "História de Portugal por datas", Temas e Debates, 3.ª edição, 2000, a seguinte notícia: "1623 [31 de Janeiro] Carta de lei que estabelece que os funcionários públicos devem proceder à declaração de bens." Já havia, portanto, a preocupação de vigiar o enriquecimento não justificado dos titulares de cargos públicos e, mais do que agora, mesmo de todos os funcionários públicos! Note-se que isto acontece durante a dinastia filipina. Não sei se esta medida se manteve depois da restauração.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O pior

O pior não é uns deputados, na verdade a grande maioria deles, terem cozinhado uma lei às escondidas, aprovando-a disfarçadamente num dia em que pensavam que todas as pessoas estavam distraídas e não davam por isso. O pior não é terem aprovado essa lei para permitir que os partidos se pudessem financiar à fartazana e sem limites. O pior não é arrogarem-se o direito de isentar os respectivos partidos de pagar IVA. O pior não é não terem a noção de que havia um claro conflito de interesses na aprovação dessa lei, feita para lhes facilitar a vida. O pior não é terem mentido ao afirmar que se tinham limitado a esclarecer dúvidas que a lei anterior suscitava. O pior não é os deputados que aprovaram a lei não terem tido a sequer esperteza, já não digo a inteligência, de pensar que o povo não é parvo e alguém havia de dar pelo disparate e que a aprovação pelo Presidente da República era improvável. Tudo isso é grave, é gravíssimo, mas nada disso é o pior.

O pior é que são estes indivíduos que mandam em nós, fabricando as leis que nos regem, nomeando o Governo que nos governa. Isso é que é o pior. E com estes indivíduos mais o Governo que escolhem a mandarem assim em nós não admira que o País vá tão mal como vai.