sábado, 28 de outubro de 2017

Sustentabilidade

Escreve André Abrantes Amaral no Jornal Económico: "Olhamos para o orçamento de Estado e vemos um intento que para alguns chega a ser um desígnio. Sem reformas, no Estado e na economia, e pondo toda a fé no milagre que é o turismo, na ajuda do BCE e na bênção dos céus que são os baixos preços das matérias-primas, o Governo tem margem de manobra para manter a despesa pública, cobrar impostos a parte da população e distribui-los depois entre o seu eleitorado." e acrescenta: "Margem para isso e até para cumprir as metas do défice impostas por Bruxelas. Bruxelas que, de toda a forma, não esquece de alertar para as tais reformas estruturais que há uns anos eram imprescindíveis e agora se deixam para depois. Quer isto dizer o quê? Muito simplesmente que os números que nos são apresentados, tanto da actividade económica como da política orçamental, são fumo que se esvairá ao primeiro contratempo." Muito justo. Resta saber de que contratempo se poderá tratar e se poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde.

Os factores que são apontados como factores de sustentabilidade da margem de manobra são: 1) turismo; 2) ajuda do BCE; 3) baixos preços das matérias primas. Vejamos: 1) O milagre que é o turismo não durará sempre. Mesmo para quem acredita em milagres, sabe-se que estes são raros. Vendo de modo mais largo a contribuição das exportações, há que temer que o nosso principal cliente, a Espanha, entre num período complicado, podendo ter consequências na economia e no comércio externo. 2) A ajuda do BCE já tem data marcada para sofrer uma redução significativa. E a prazo tenderá mesmo a terminar. 3) A bênção dos céus que são os baixos preços das matérias primas parece ter chegado ao fim pouco depois de Abrantes Amaral ter escrito o que lemos acima. A matéria prima que mais influência tem na nossa economia é o petróleo, a distância das outras. Ora ontem o preço do brent, que tem vindo a aumentar lentamente, ultrapassou os 60 dólares. A bênção está a esgotar-se.

Com o fim anunciado destes sustentáculos e com a rigidez das novas despesas (a tal distribuição entre o seu [do PS] eleitorado), não parece que o esvaizamento em fumo que Abrantes Amaral prevê esteja muito longe.

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