domingo, 20 de agosto de 2017

Medo

Já se tornou um lugar comum dizer que o verdadeiro herói não é o que não tem medo perante o perigo, mas sim aquele que vence o medo e actua apesar do medo. Concordo absolutamente com esta afirmação. No entanto, perante a vaga de ataques terroristas que estão a tomar uma frequência assustadora, tornou-se agora moda dizer que não temos medo, que não devemos ter medo, e que não devemos alterar o nosso comportamento e a nossa maneira de estar na vida, porque é isso que os terroristas pretendem. Parece-me que há uma contradição entre estas duas formas de encarar o perigo representado pelo terrorismo.

É certo que o que os terroristas pretendem, antes de tudo, é suscitar o terror, ou seja, o medo em alto grau. Sempre foi assim, desde o terror da Revolução Francesa. No caso do terrorismo islâmico, parece até que, seguindo uma interpretação dos versículos VIII.55 a 65 e IX.5 e 73 do Alcorão(1), os terroristas pretendem matar o máximo de não crentes e conseguir converter os sobreviventes pelo terror. Não é claro se têm consciência de que não será possível deste modo eliminar, quer por morte quer por conversão, todos os infiéis, mas o objectivo final será, pelo menos, tornar, a longo prazo, o seu modo de encarar a sua religião preponderante em todo o mundo.

Perante isto, será aconselhável e possível evitar o medo? Não me parece. Pode ser que os apelos e as afirmações contra o medo tenham uma função benéfica, evitando as alterações exageradas de comportamento, mas não devem ser de molde a prejudicar as medidas de precaução aconselháveis. Até acho bem que se façam declarações para evitar o pânico, como fez o Rei de Espanha ao declarar: "Não temos medo, e não teremos nunca!", mas o medo justificado e até salutar pode salvar vidas. O perigo existe e devemos encará-lo com coragem, mas tendo consciência de que nos pode atingir.

(1) VIII.55. As piores bestas diante de Deus são os descrentes, pois eles não crêem.
              57. Se os encontrardes na guerra, dispersa-os; os que vêm a seguir talvez meditem.
              60. Preparai contra eles a força e os cavalos ajaezados que possais, para atemorizar o inimigo
                    de Deus...
              65. Incita os crentes ao combate!... Vencereis a mil dos que não crêem...
      IX.5 Terminados que sejam os meses sagrados, matai os idólatras onde os encontrardes.
               Apanhai-os! Preparai-lhes todas as espécies de emboscadas!
           73. Combate os descrentes e os hipócritas! Sê duro para com eles! O seu refúgio será o
                 Inferno.

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