quinta-feira, 15 de junho de 2017

Regras cumpridas e desastres

Há 5 dias impressionou-me a notícia de que um "técnico" teria "revelado" que "As filmagens no Convento de Cristo cumpriram níveis de segurança absolutos". Hoje lembrei-me dessa declaração (ou seria uma "revelação"?) ao ler que "A empresa responsável pelas obras" efectuadas no ano passado na Torre Grenfell em Londres, que sofreu agora o terrível incêndio que tem sido noticiado, "diz que cumpriu padrões de segurança".

Sem pretender comparar as duas ocorrências, num caso, embora o julgue escandaloso, trata-se de pequenos estragos que só adquirem importância por terem acontecido num monumento tão especial, no outro caso, com um saldo terrível de mortes, cujo número ainda está longe de poder ser esclarecido, de perda de habitação, bens, recordações de uma vida, e de sofrimento, repito, sem pretender comparar as duas ocorrências, há nas declarações citadas um traço comum, que é aliás muito vulgar quando ocorrem desastres: as regras de segurança, chamem-lhe "níveis" ou "padrões", foram cumpridas! E não ocorre a estes técnicos e responsáveis concluir que, a ser correcto o que afirmam, há que pôr em causa as referidas regras, os níveis e os padrões. A realidade impõe-se e tentativas de negar responsabilidades só descredibilizam quem as profere. Técnicos e responsáveis por obras têm de prever além das regras estabelecidas, têm de ter bom senso e saber ter em conta as consequências previsíveis dos seus actos.

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