sábado, 22 de abril de 2017

Estabilidade e pacificação

Marcelo Rebelo de Sousa continua a sua cruzada de sossegar os portugueses. De um optimismo irritante (embora só reconheça o "optimismo" e não o "irritante"), contagiado por certo pelo Primeiro Ministro, apregoa a sua confiança e mesmo felicidade perante a ínfima boa notícia, mas cala qualquer mínima referência a problemas, fracassos ou dificuldades. Vá lá, desta vez, depois de incutir esperança na audiência juvenil do 15.º Encontro Nacional de Associações Juvenis, reconheceu: "Não é que não haja aspectos negativos a corrigir, não é que não haja erros, fracassos, mas há sucessos e vocês devem liderar a luta por esses sucessos". Na minha modesta opinião seria mais prioritário que os jovens colaborassem no combate aos erros e fracassos. Mas o que me chocou mais nas declarações do PR foi a afirmação de que "estamos a viver em Portugal, um momento ... de estabilidade e pacificação", que o Jornal de Negócios decidiu, e bem, puxar para título da notícia.

Estabilidade, com os apoios de esquerda do Governo a ameaçarem todos os dias a sobrevivência da geringonça? Claro que todos sabemos que estas ameaças não são, por enquanto, para levar a sério, porque os partidos de esquerda radical, seja estalinista, seja trotskista ou maoista, não vêem ainda vantagem em precipitar uma crise. Mas esta estranha estabilidade é, afinal, a estabilidade do funâmbulo, sujeito a cair se houver um descuido ou um abanão. Além disso, apesar da alegria que o nosso PR encontra no nosso crescimento anémico, nas pequenas variações favoráveis do desemprego, das exportações, do investimento, estes indicativos não são ainda suficientemente firmes para os considerarmos estáveis. Além de erros e fracassos, MRS deveria ter mencionado os perigos, que os há e têm sido denunciados, embora não com o relevo suficiente, já que a comunicação social não gosta de assustar o povo.

Quanto à pacificação, penso que o PR se referia apenas à arena política, já que na social e especialmente na cena desportiva, em particular no futebol, nunca estivemos tão longe de um clima de paz. E todos sabemos que a redução drástica de número de manifestações, greves  e reclamações de rua, o que não significa ausência, se deve apenas à táctica do PCP  e da CGTP de dar uma aparência de calma a fim de não criar, de momento, dificuldades ao PS e ao Governo. No fundo não há mais paz real do que a que havia durante o resgate e a austeridade imposta pela troika. A austeridade que aí vem, é tão bem disfarçada que talvez não provoque manifestações violentas, mas daí concluir que os portugueses não sofrem com ela é um erro grave.

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