quinta-feira, 23 de março de 2017

Álcool e mulheres

Poucas vezes uma simples frase dita por um político de um pequeno país provoca, de um dia para o outro, tanta celeuma, ou, como se diria antes da era digital, faz correr tanta tinta. Políticos de toda a Europa pronunciam-se furiosos com a frase dita por Dijsselbloem e acusam-no de xenofobia, sexismo e racismo. Outros, mais comedidos, limitam-se a dizer que a frase foi infeliz. Mas alguns chegam a pedir a demissão de Dijsselbloem, considerando-o indigno do cargo.

Vejamos qual foi a frase. A versão portuguesa, segundo o Expresso, é: "Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda." Segundo outros a frase não foi dita na primeira pessoa, mas no modo impessoal: "Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda." Mas ainda segundo alguns, não falou especificamente em álcool, mas sim em "aguardente" ou, inocentemente, em "bebidas" ou ainda "copos". Fazendo uma busca em inglês, não se consegue esclarecer completamente: entre "I cannot spend all my money on liquor and women and plead for your support afterwards." e “You cannot spend all the money on drinks and women and then ask for help.” há várias expressões. Uns falam em "booze" que significa "bebida alcoólica", mas a maior parte das referências usa apenas "drinks".

Seja como for, nunca Dijsselbloem se referiu aos países do sul e muito menos a Portugal ou a qualquer outro país inequivocamente identificado. A frase em si parece perfeitamente aceitável, lógica e inocente. De qualquer modo, refere-se a comportamentos de esbanjamento de dinheiro antes de pedir ajuda. Portanto, poderia talvez irritar José Sócrates, por ter esbanjado dinheiro e, em consequência, ter sido obrigado a, depois, pedir ajuda. António Costa não deveria ter enfiado a carapuça, a não ser por ter sido ministro de Sócrates antes do pedido de assistência. É evidente que Dijsselbloem não mencionou Portugal e não se referia aos gastos do actual Governo português. Só por ter má consciência e no seu íntimo saber que, como o seu optimismo irritante e com os anúncios de vitórias no campo económico, está a tentar enganar os portugueses, é que António Costa se sentiu atingido. Se fosse esperto, teria assobiado para o lado e disfarçado, sem mostrar que pensava que a acusação lhe era dirigida.

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