sexta-feira, 31 de março de 2017

Pagar ou não pagar, eis a questão

Comprar bancos por zero euros parece que se torna uma actividade vulgar. A venda do Novo Banco foi um grande êxito ou terá antes sido uma desgraça. A culpa desta desgraça, no segundo caso, é do Ricardo Salgado, do Passos Coelho, do Centeno ou do António Costa? E, finalmente a grande questão, os contribuintes vão ou não ter de pagar? António Costa afirmou com ar solene que não. Todos os restantes comentadores dizem que sim. É difícil saber quem fala verdade porque está muita coisa em jogo, desde as responsabilidades dos bancos no Fundo de Resolução, até à habilidade do  fundo Lone Star (ou será Lonestar tudo pegado?) em fazer o banco ter lucros e evitar as perdas com os activos de risco. Ou será o Fundo de Resolução que terá de cuidar destes activos? Bem, basta de interrogações. Se tivermos de pagar, não haverá modo de fugir. Ou há?

domingo, 26 de março de 2017

Corte de relações

É lícito que um Ministro dos Negócios Estrangeiros corte as relações com um responsável internacional, com o qual deverá relacionar-se politicamente, alegando que o diálogo com aquele se tornou impossível devido a uma frase infeliz que considerou ofensiva? Já aqui deixei a minha opinião de que a referida frase não tinha a carga ofensiva que lhe quiseram atribuir e, mesmo que a tivesse, nada indicava que fosse dirigida em particular ao nosso País. Mas, mesmo que houvesse razões para Augusto Santos Silva se sentir ofendido, um Ministro dos Negócios Estrangeiros de um governo da UE e, para mais, da Zona Euro, não pode recusar-se a dialogar com o Presidente do Eurogrupo quando o assunto for oficial. Pode recusar conversas não oficiais, seja sobre o tempo ou sobre outro qualquer assunto, mas, mesmo desejando e reclamando a demissão de Dijsselbloem, enquanto ele se mantiver no cargo, terá de manter as relações oficiais que os cargos respectivos exigirem.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Álcool e mulheres

Poucas vezes uma simples frase dita por um político de um pequeno país provoca, de um dia para o outro, tanta celeuma, ou, como se diria antes da era digital, faz correr tanta tinta. Políticos de toda a Europa pronunciam-se furiosos com a frase dita por Dijsselbloem e acusam-no de xenofobia, sexismo e racismo. Outros, mais comedidos, limitam-se a dizer que a frase foi infeliz. Mas alguns chegam a pedir a demissão de Dijsselbloem, considerando-o indigno do cargo.

Vejamos qual foi a frase. A versão portuguesa, segundo o Expresso, é: "Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda." Segundo outros a frase não foi dita na primeira pessoa, mas no modo impessoal: "Não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, a seguir, pedir ajuda." Mas ainda segundo alguns, não falou especificamente em álcool, mas sim em "aguardente" ou, inocentemente, em "bebidas" ou ainda "copos". Fazendo uma busca em inglês, não se consegue esclarecer completamente: entre "I cannot spend all my money on liquor and women and plead for your support afterwards." e “You cannot spend all the money on drinks and women and then ask for help.” há várias expressões. Uns falam em "booze" que significa "bebida alcoólica", mas a maior parte das referências usa apenas "drinks".

Seja como for, nunca Dijsselbloem se referiu aos países do sul e muito menos a Portugal ou a qualquer outro país inequivocamente identificado. A frase em si parece perfeitamente aceitável, lógica e inocente. De qualquer modo, refere-se a comportamentos de esbanjamento de dinheiro antes de pedir ajuda. Portanto, poderia talvez irritar José Sócrates, por ter esbanjado dinheiro e, em consequência, ter sido obrigado a, depois, pedir ajuda. António Costa não deveria ter enfiado a carapuça, a não ser por ter sido ministro de Sócrates antes do pedido de assistência. É evidente que Dijsselbloem não mencionou Portugal e não se referia aos gastos do actual Governo português. Só por ter má consciência e no seu íntimo saber que, como o seu optimismo irritante e com os anúncios de vitórias no campo económico, está a tentar enganar os portugueses, é que António Costa se sentiu atingido. Se fosse esperto, teria assobiado para o lado e disfarçado, sem mostrar que pensava que a acusação lhe era dirigida.

terça-feira, 7 de março de 2017

Ainda a Rua Nova dos Mercadores

Por qualquer razão que desconheço, as minhas 2 mensagens neste blog sobre os quadros que representam a Rua Nova dos Mercadores da Lisboa pré-pombalina tem sido das que despertaram mais interesse dos visitantes e, apesar de terem sido publicadas uma em 2011 e a outra em 2015, continuam a ser visitadas até hoje. Acontece que o Museu Nacional de Arte Antiga resolveu montar uma exposição intitulada A Cidade Global sobre a Lisboa do Renascimento em que estas pinturas estão em grande destaque. Tive agora oportunidade de ter acesso, via internet, a reproduções com maior resolução e sem cortes destas notáveis pinturas.





Não me importa que a autenticidade das pinturas esteja em discussão. Para mim valem como documentos indiscutíveis, sejam ou não exactamente da época que pretendem retratar. Repare-se ainda como, vendo-as em reprodução integral, é mais evidente que se trata de um único quadro que foi cortado ao meio. Veja-se o resultado.


sábado, 4 de março de 2017

Era isso que eu queria dizer

O meu arrazoado anterior, a que dei o título de "Declarações ignóbeis", tentava fazer uma mensagem sobre as infelizes palavras do PM tentando culpar a oposição por desejar que o País não tenha sucesso. Procurei rebater resumidamente a falsa ideia do sucesso do actual Governo. Mas eis que este aspecto é abordado com muito mais êxito pel'O Insurgente, em "Socialistas à beira de um ataque de nervos ameaçam o Conselho de Finanças Públicas" e pelo Delito de Opinião em "A boca de Marcelo fugiu para a verdade". Além disso, estes blogs abordam o falso sucesso do Governo, mas referem-se principalmente a outras questões, como os ataques a Teodora Cardoso, que não auguram nada de bom, e as declarações do PR, que têm a ver também com o modo como o défice foi reduzido.

Declarações ignóbeis

Já há algum tempo que temos ouvido António Costa e outros responsáveis do PS declarar que a oposição anda irritada com os bons resultados obtidos pelo seu Governo. Esta afirmação tem sido repetida tantas vezes que é evidente que se pretende que, de tanto ouvir, muita gente venha a acreditar nesta efabulação. Mas, pensando certamente que a repetição não é suficiente, ouvimos hoje o PM declarar, muito sério, o seguinte:

"Nós temos de ter nervos de aço e sangue frio. Já percebemos todos que a oposição anda muito irritada e também já percebemos bem o que é que a irrita. Cada sucesso do País é um insucesso da oposição. E a culpa não é do País, a culpa é mesmo da oposição, que adoptou esta estratégia absurda de “tudo o que for bom para o País é mau para nós, tudo o que for mau para o País é bom para nós”. Bom, quem se coloca assim, a apostar nos interesses contrários ao interesse do País, está condenado a fracassar na sua estratégia, porque se há coisa que nenhuma portuguesa e nenhum português deseja é mal ao seu País e portanto ninguém deseja o bem da nossa oposição."

Estas afirmações ultrapassam o que é normal em críticas entre partidos em democracia. Nunca ouvimos qualquer dirigente do PSD ou do CDS afirmar ou sequer insinuar que alguém no PS desejasse o mal do País, quer agora, que estão no poder, quer quando estavam na oposição. António Costa deveria citar em que declarações ou actos se baseia para concluir que a oposição defende o mal de Portugal.
 Por outro lado, os sucessos da governação que irritariam a oposição não são visíveis. Será que o PM se refere ao baixo défice conseguido com medidas não repetíveis e cortes insustentáveis, ao crescimento anémico, à redução do desemprego que apenas continua a tendência que já vinha do anterior Governo, ao corte do investimento? Escolas com salas de aula fechadas por chover lá dentro, faculdades cujo orçamento não chega para pagar ao pessoal, prisões onde se verificam fugas de prisioneiros alegadamente pele escassez de pessoal, serão estes os grandes êxitos deste Governo?