domingo, 29 de janeiro de 2017

Cimeira

Cimeira dos Países do Sul da Europa
Southern EU Countries Summit
Lisbon
Porque é que nesta Cimeira o painel colocado atrás da recepção tinha o nome da cimeira escrito só em Português e Inglês? E porquê, ainda por cima, o nome da cidade de acolheu a Cimeira estava só em Inglês?


Que eu saiba, apenas Malta tem como língua oficial o Inglês, além do Maltês. O número de falantes de Inglês estava francamente numa ínfima minoria. Gostaria de saber em que língua falaram os participantes na Cimeira não só durante os trabalhos, se é que trabalharam alguma coisa, mas também nas conversas ao almoço.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Como financiar o aumento do salário mínimo em 5% ao ano?

Não se fala de outra coisa (Bem... não é bem assim, também se fala de Almaraz): É justo e conveniente compensar as empresas por terem de suportar um aumento do salário mínimo superior ao que a inflação, o crescimento da economia e o da produtividade justificariam, concedendo-lhes um desconto na TSU? É ou não um erro, talvez um monumental tiro no pé, o facto de Passos Coelho se negar a apoiar o Governo nesta cruzada? A resposta à primeira pergunta parece-me ser que pode ser justo, mas não é conveniente. A lógica diria que, se o crescimento do salário mínimo acima da produtividade pode prejudicar as empresas, então não deveria ser aprovado. Compensações, ainda por cima à custa das receitas da Segurança Social perecem profundamente erradas. Quanto ao monumental tiro no pé que alguns acusam Passos Coelho de praticar, há muitas opiniões que não classificam assim a posição do PSD neste caso.

Mas para mim, o fundamental desta questão não está em nenhum destes aspectos, mas sim no aspecto da sustentabilidade. O acordo que o PS firmou com os partidos que apoiam o seu Governo prevê que o salário mínimo volte a aumentar em 2018 e mais ainda em 2019, até atingir os 600 € no final da legislatura. Se já em 2017 é necessário compensar as empresas para que possam suportar o custo acrescido, como pensa António Costa, se é que pensa alguma coisa, conseguir o apoio em Concertação Social nos próximos anos? Com mais descontos na TSU? Parece nitidamente impossível. Haverá outros modos sem custos que desequilibrem o orçamento? Se há, porque teve este ano de se fazer esta acrobacia? Em resumo: Como financiar o aumento do salário mínimo em 5% ao ano? Focados na dificuldade do momento, ninguém fala nisso.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Será que os portugueses querem mesmo o Novo Banco nacionalizado?

A SIC e o Expresso noticiam que a maioria dos portugueses aprova a nacionalização do Novo Banco. Aprova? Não é bem assim. Lendo melhor, segundo uma sondagem, a maioria dos portugueses concorda com a nacionalização do Novo Banco se não houver se não houver uma boa proposta de compra. Será agora verdade? Talvez seja melhor explicar ainda que, segundo o vídeo da notícia no sítio da SIC-Notícias, a maioria concorda se não houver proposta de compra lucrativa. Pode haver alguma diferença entre o que se considera uma boa proposta e uma proposta lucrativa. Lucrativa para quem? Poderá ser considerada lucrativa uma proposta que não cubra pelo menos a quantia que o Estado emprestou ao Fundo de Resolução? Se não, já é sabido que não existe qualquer proposta lucrativa. E como foi feita a pergunta aos entrevistados para a sondagem? O modo como a pergunta é feita é muito importante. Pelo modo como são apresentados os resultados da sondagem presume-se que, na hipótese de não haver uma proposta de compra boa ou lucrativa, se deu a escolher entre a nacionalização e a liquidação. Não foi posta a hipótese de vender mesmo que ao proponente de uma proposta menos boa ou não lucrativa. Ora há quem tenha defendido publicamente que a melhor solução é vender pela melhor proposta (ou seja, pela menos má). Esta resposta não foi prevista. Portanto parece.me que a conclusão de que há uma maioria de portugueses que concorda que a melhor hipótese é a nacionalização está profundamente errada. Ainda bem, porque afinal os portugueses não são maioritariamente estúpidos e não gostam de desperdiçar dinheiro.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Estado de negação

A emissão de títulos de dívida de ontem revelou a dificuldade crescente que o Estado português tem para se financiar. Apesar da procura, a taxa ficou-se pelos 4,227%. Nada que preocupe o Ministro das Finanças, que atribui o considerável aumento a factores exteriores e garante que a subida de juros seja "temporária", tendo ainda esperança que a notação financeira de Portugal possa melhorar em breve. É autenticamente um estado de negação que chega a ser perigoso.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Satisfação infundada

Recentemente, dois documentos de entidades internacionais de prestígio foram apontados como citando dados económicos positivos em Portugal, elogiando as medidas do Governo de António Costa e admitindo que uma união com o comunismo e a esquerda radical pode funcionar. As notícias citaram amplamente trechos destes documentos e a satisfação do Governo e em particular do PM com este reconhecimento, como prova de que o País vai por bom caminho. Estes documentos foram o relatório da missão do FMI de Novembro-Dezembro de 2016 e, mais recentemente, um artigo do Financial Times. Estão ambos disponíveis na internet e a sua consulta mostra que, embora contenham alguns elogios e reconhecimento de resultados positivos, são, por outro lado, muito críticos e dão sobretudo relevo aos factores negativos e aos perigos que a situação económica portuguesa enfrenta.

Vejamos:
O relatório do FMI, reconhece que a perspectiva de curto-prazo melhorou no final de 2016 principalmente por uma aceleração das exportações e pelo crescimento, superior ao esperado, verificado no terceiro trimestre, mas salienta, ao mesmo tempo, que este crescimento se seguiu a dois trimestres de actividade reduzida e que será necessário uma continuação de forte crescimento para assegurar uma recuperação mais rápida. Embora o FMI considerasse que o objectivo orçamental de 2016 seria alcançável, reconhecia que as perspectivas são vulneráveis a choques devido à elevada dívida pública e privada e à fraqueza do sector financeiro, necessitando de esforços ambiciosos para conseguir uma consolidação orçamental durável e elevar o potencial de crescimento económico. Enquanto se esteja a verificar uma redução no desemprego, persiste uma rigidez estrutural que limita o crescimento a cerca de 1,2% a médio termo. Mesmo tendo em consideração o orçamento aprovado para 2017, a dívida pública manter-se-á elevada e para conseguir atingir o objectivo definido para o défice será necessário um esforço estrutural adicional de 0,4% do PIB. Um esforço de consolidação baseado em reformas estruturais da despesa será mais favorável do que confiar na compressão do investimento público. Em particular, a flexibilização do mercado laboral com os aumentos de salário alinhados com a produtividade favorecerá a economia e permitirá uma maior resiliência e uma convergência mais rápida com a união monetária.

Por suas vez, o artigo do Financial Times, reconhece que o PM "anti-austeridade" ultrapassou com êxito as expectativas, mas as preocupações mantêm-se. Apesar dos bons resultados que o PS continua a obter em sondagens, os credores internacionais, os mercados financeiros e as agências de notação estão cépticos, temendo que o modesto crescimento económico de Portugal seja incapaz de suster a excessiva dívida pública superior a 130% do PIB. As preocupações sobre a fragilidade do sector bancário também influem no aumento dos custos de financiamento. Os críticos argumentam que a dívida, o reduzido crescimento e a fraqueza dos bancos tornam o País altamente vulnerável. Um economista de Lisboa diz que qualquer choque - os bancos italianos, as eleições francesas - pode precipitar uma crise. Holger Schmieding, economista chefe de Berenberg, avisa que a política de aumento de consumo privado pela reversão rápida dos ´cortes nos salários públicos, do horário de trabalho, dos feriados e das pensões são exactamente o modo errado de atrair investimento, para conseguir uma aproximação ao crescimento do PIB, como faz a Espanha, por exemplo. O PM consegue cumprir as metas orçamentais por congelamento do consumo público em áreas como a saúde e reduzindo drasticamente o investimento público.

Da leitura dos documentos na sua integralidade verifica-se que, a par de elogios e reconhecimento de aspectos positivos, há o reconhecimento de estratégias erradas e da existência de perigos muito consideráveis. Ambos os documentos contêm indicações sobre o que há a fazer para evitar os perigos, indicações que vão exactamente no sentido oposto das políticas que estão a ser seguidas.

(A parte dos textos em negrito corresponde ao que a comunicação social em geral não referiu ou pelo menos não salientou, o que deu um aspecto mais favorável aos documentos no seu conjunto.)

A generalização dos SMSs

Alguém é capaz de me explicar o que quereria o Ministro Centeno significar quando declarou que "Esta tentativa de generalizar SMSs como se fossem facebooks comigo [com ele] não funciona!"? Que quererá dizer "generalizar SMSs"? Porque usa Facebooks no plural? Que tem uma coisa a ver com a outra? No contexto em que esta declaração foi feita, no âmbito das conversações com o então Presidente da CGD demissionário, que importância pode ter terem sido feitos contactos por SMS ou por Facebook? Porque é que as TVs e a imprensa repetiram esta frase como se tivesse um significado fundamental para o caso?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Não em meu nome

"Marcelo felicitou Cuba "em nome do povo português" pelo 58.º aniversário da revolução"

É certo que o povo português votou maioritariamente em Marcelo, mas certamente muitos portugueses, e penso que principalmente dos que votaram Marcelo, não têm qualquer vontade de felicitar Cuba pela sua revolução e pelo modo como o povo cubano tem sido governado ao longo destes 58 anos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Dívida pública desce poucochinho (depois de subir muito)

Os órgãos de informação anunciam sem comentários que a dívida pública desceu em Novembro 1300 milhões de euros face ao mês anterior. A redução foi de 1300 milhões para um valor de 241.800  milhões. É uma notícia positiva, mas merecia um tratamento que explicasse de modo mais exacto a situação. Do lado das notícias positivas, poderiam acrescentar que já em Outubro a dívida tinha diminuído 1212 milhões. São portanto 2 meses consecutivos com a dívida pública a descer. O pior é quando comparamos com o valor de Dezembro de 2015: 231.100 milhões. Portanto, estas duas descidas vales pouco quando de Dezembro de 2015 até Novembro de 2016 houve um aumento de 10.700 milhões. Noticiar a boa notícia da descida sem a enquadrar na péssima notícia do grande aumento, é informar mal.

Para enquadrar melhor a evolução da dívida pública, basta mostrar o seguinte gráfico (que roubei a Nuno Gouveia, que o tinha, por sua vez, roubado a Jorge Costa):

Elucidativo.