sexta-feira, 8 de abril de 2016

Desculpas condicionais

O caso escabroso das ameaças de bofetear dois comentadores políticos por parte do então Ministro da Cultura, João Soares, mereceu enorme atenção dos órgãos de comunicação, dos comentadores, dos políticos e das redes sociais. O sentido geral foi de condenação, o que considero inteiramente merecido. A excepção mais notável veio do PS, com a intervenção do deputado Ascenso Simões, que lamentou que, perante a actual "vida liofilizada" se tenha "evaporado da vida pública" a "grandeza do discurso político viril". Esta reacção é tão idiota quanto as ameaças do ex-ministro. Depreendo que Ascenso Simões considera que há grandeza em ameaçar com bofetadas e que o discurso político deve ser viril, o que me parece nem sempre ser pouco adequado, já que actualmente o discurso é frequentemente proferido por fêmeas, deputadas, comentadoras ou simples cidadãs, cuja virilidade se dispensa. Considera ainda uma pena que a vida actual seja liofilizada. Prefere a grosseria à pureza da liofilização!

Mas, voltando às origens do caso, o que mais me fez ver quão grosseira e mesquinha foi a ameaça do então ministro foi o próprio pedido de desculpas ter sido condicional, ao dizer "Peço desculpa se os assustei." Ora se os visados não se assustaram, como perece que foi o caso, as desculpas não se aplicam. Soares arma em valentão que pensa que assusta os incautos com as suas ameaças. De certo medo, este pedido de desculpas condicional equivale a uma acusação de cobardia dos visados. Como é costume dizer, é pior a emenda que o soneto.

PS: Espero que este texto não me sujeite a ser ameaçado de levar bofetadas ou pior. Por mim, fico desde já assustado.

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