quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A matemática implacável também por cá

Escrevi em tempos que a matemática é implacável. Referia-me então à dificuldade que, na Grécia, o Syriza teria em terminar com a austeridade, renegociar a dívida e conseguir financiamento para pagar salários dos funcionários públicos e cumprir as outras funções do estado, tudo ao mesmo tempo. Como se sabe, não conseguiu. Mas agora, a matemática aplica-se, não às contas da Grécia, mas às nossas. Mais uma vez, a matemática não se compadece com boas intenções ou com optimismos desajustados da realidade. A promessa de acabar com a austeridade (não imediatamente, que é impossível como até Costa já reconheceu, por muito que custe aos seus apoios de esquerda, mas, em certos pontos, ao longo dos 4 anos da legislatura) não é compatível com a obrigação de redução do défice. Só que a pobre matemática, bem torturada, deixa de ser uma ciência exacta, a rainha das ciências exactas, para poder dar os resultados que sejam desejados se se adoptarem como dados de partida números irrealistas. É o que Rita Carreira chama, em O "Exel de Centeno" o efeito da cauda que abana o cão. Suponho que Costa e Centeno terão ficado muito contentes com a ideia e vá de enviar o célebre esboço de orçamento para Bruxelas. Agora recebem críticas não só da oposição, mas também das agências de notação financeira, do Conselho de Finanças Públicas e da UTAO, assim como um sério pedido de explicações da Comissão Europeia, explicações tão urgentes que têm de ser apresentadas em apenas 2 dias, sob a ameaça de não aceitação do esboço e exigência da sua reformulação. A apreciação da UTAO é particularmente violenta, ao apontar no documento "contradições", "irregularidades" e contas questionáveis, e todos são unânimes em falar em perigo, demasiado optimismo, irrealismo.

Entretanto Costa parece satisfeito e diz que a carta da Comissão é absolutamente normal, que muitos países têm recebido cartas semelhantes, Galamba diz que todos estão errados, misturam alhos com bugalhos, e só o Governo está certo, Porfírio Silva acusa Bruxelas de "tentar tramar o governo português". De Centeno não se sabe, deve estar fechado a preparar as explicações pedidas por Bruxelas. Não sei se pensa seguir o exemplo de Campos Cunha. É a gente como esta que estamos entregues.

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