quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O estranho caso do golpe de secretaria

Isabel Moreira revoltou-se contra Paulo Portas por este ter opinado que um eventual acordo como resultado das conversações entre o PS e os partidos à sua esquerda seria "um golpe de secretaria". Está no seu direito. Como disse um recém-empossado ministro, trata-se apenas de combate político. No entanto, não me parece que Isabel Moreira tenha razão na sua revolta e muito menos em falar de "extremismo anti-democrático". O combate político não pode dar razão aos dois lados combatentes. A revolta de Isabel Moreira e a sua acusação resultam de pensar que Paulo Portas estaria a pôr a Assembleia da República na categoria de uma secretaria. Ora, manifestamente não foi o caso. As reuniões do PS com o BE e com o PCP não foram reuniões parlamentares, não se deram nem no plenário nem em comissões da Assembleia da República, não foram públicas, nem foram divulgadas actas dessas reuniões. Foram, portanto, encontros particulares e informais, pelo que compará-los a reuniões de secretaria não é ofensivo para com a AR. Quanto a serem apelidados por Portas de "golpe", é uma opinião que, justa ou injusta, é partilhada por muita gente e parece que não foi isso que ofendeu Isabel Moreira. Já acusar Portas de "extremismo anti-democrático" deve decorrer de considerar que comparar a AR, casa da democracia, a uma secretaria é extremamente grave, mas enferma do mesmo equívoco, já que as reuniões não tiveram lugar no AR (mesmo que tivessem sido fisicamente na AR, não foram reuniões parlamentares normais). Chamar a Paulo Portas "secretário" por oposição a ela própria, que se orgulha de ter se uma deputada eleita pelo povo, não tem pois qualquer sentido já que também Paulo Portas foi eleito pelo povo.

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