quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Estímulos económicos: baixar TSU ou IRC?

O porta-voz do PS de serviço em período de férias, Rocha Andrade, veio defender a medida preconizada no programa eleitoral do partido de baixar a taxa social única paga pelos trabalhadores em 4 pp para, deste modo, as famílias ficarem com mais dinheiro para gastar, estimulando assim a economia, levando as empresas a aumentar a produção e a necessitar de mais trabalhadores, com o fim último de baixar o desemprego. Considera que as criticas a esta medida por parte da coligação PSD/CDS-PP não têm razão de ser, até porque a própria coligação defende que a baixa do IRC, que é um estímulo económico semelhante, também tem por consequência baixar o desemprego.

Esta comparação parece-me disparatada. Parece-me que o rendimento disponível das famílias resultante da baixa da TSU pode ou não ser dirigido ao consumo e, se o for, terá provavelmente maior incidência nas importações do que no estímulo à produção nacional. Há que ter ainda em conta que muitas empresas têm, em virtude da crise, capacidade de produção excedentária, pelo que poderão satisfazer a eventual procura adicional sem admitir novos trabalhadores. O efeito sobre a baixa do desemprego é portanto falível. Já a redução do IRC é um estímulo directo ao investimento e é conhecido internacionalmente o seu efeito sobre o emprego. Comparar as duas coisas não tem qualquer justificação.

sábado, 22 de agosto de 2015

Publicidade grátis

É bem conhecido o slogan "O que é Nacional é bom". Mas os meios de comunicação têm uma forte fatia de publicidade de produtos estrangeiros, que por vezes também são bons. Aliás actualmente o proteccionismo está mal visto e a discriminação não é tolerável. Nada há, pois, contra a publicidade a produtos estrangeiros. Mas o que não está bem visto nem é tolerável é a publicidade disfarçada de notícia. E quando essa publicidade é descarada e não vem nada a propósito não é aceitável. Hoje, na TVI, durante a apresentação do Noticiário por Judite Sousa, depois de se falar no Verão e na frequência das praias, passou uma reportagem sobre a praia de Ayamonte. Não foi um apontamento curto, mas um longo elogio das condições da praia espanhola com entrevistas a vários frequentadores, quase todos espanhóis mas também alguns portugueses. Todos disseram muito bem da praia. A que propósito? Publicidade encapotada? Lembrei-me lodo de que a TVI depende da Prisa, que é espanhola, mas pode ser mero acaso. Não gosto de acusar ninguém nem nenhuma instituição sem provas, mas lá que parecia publicidade, parecia. Apenas as imagens talvez não fossem as mais bem escolhidas para fazer propaganda: areia escura e paisagens que não podiam concorrer com as nossas praias mesmo ali ao pé.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Medidas, promessas e compromissos

Ouvimos ontem o economista-mor do PS, Centeno, (que, segundo parece, nem sequer é do PS, isto é, não é militante) apresentar as contas que suportam as medidas, ou talvez antes recomendações, que o PS apresentou no seu programa eleitoral. De caminho, apresentou também uma revisão, a 3.ª, das metas que o PS prevê alcançar por meio dessas medidas. Foi bastante claro ao afirmar que essas metas, entre as quais os famosos 207 000 empregos a criar em 4 anos, são previsões. Mas logo a seguir apareceu António Costa a dizer que o que o PS apresentava não eram promessas, mas sim compromissos (Não estou a ver bem a grande diferença em termos políticos entre promessas e compromissos). Neste alinhamento, propositadamente ou não, parecia evidente que a criação de 207 000 postos de trabalho era um compromisso. Outros órgãos de informação também apresentaram esta criação de postos de trabalho como uma promessa. Hoje, António Costa desfez o equívoco e explicou muito explicitamente que o PS se comprometia com pôr em prática as medidas preconizadas. O resultado dessas medidas eram previsões e não compromissos. Portanto, se daqui a 4 anos não forem criados os 207 000 empregos só podemos culpar o PS de ter falhado as previsões e não de ter feito falsas promessas. A impressão com que ficara na véspera era apenas uma manipulação jornalística ou uma má compreensão da minha parte, mas que estou convencido que foi partilhada por muitos mais telespectadores. Isto é válido não só para os 207 000 postos, mas também para todas as outras previsões tão largamente propagandeadas.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Uma mentira muito repetida torna-se verdade

Acho que foi Göring que disse que "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Na mesma onda, Salazar disse um dia que "Em política, o que parece, é". Longe de mim acusar os dirigentes do PS de simpatia nazi ou salazarenta, mas o que é certo é que, ao repetirem constantemente que o actual Governo quer cortar 600 milhões de euros nas pensões ou que a coligação PSD-CDS/PP pretende fazer este corte, como ainda hoje ouvi ao próprio Secretário-Geral António Costa, está objectivamente a usar a estratégia de Göring a de Salazar. Desde que a Ministra Maria Luís Albuquerque referiu a necessidade de encontrar modo de reforçar a verba da Segurança Social no montante de 600 milhões, que tem sido repetida a mentira de que esta necessidade será necessariamente satisfeita com cortes nas pensões, apesar dos desmentidos e das explicações exaustivas de que se trata de encontrar modo de ultrapassar essa dificuldade e não de cortar pensões. É evidente que qualquer consenso sobre a reforma da Segurança Social vai ser impossível.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A maldição dos cartazes

Se é certo que o PS tem dado vários tiros nos pés (assim mesmo, "pés" no plural) e talvez mesmo nas mãos, ao espalhar pelo País enormes cartazes que suscitaram galhofa, dúvidas, raiva e desconfiança, quando as palavras chave da sua campanha são "rigor", com o "O" de cor diferente para se ver bem, e "confiança", não é menos certo que é pena que as duras críticas que se têm feito ouvir tanto nas redes sociais como nos comentadores políticos de jornais e TVs, ao incidir principalmente sobre os incidentes dos cartazes, têm esquecido o mais importante, o programa eleitoral e as medidas preconizadas e as suas possíveis consequências sobre a estabilidade financeira e política do País. Espero que agora, esgotada a guerra dos cartazes, a discussão passe a ter em conta os aspectos económicos e políticos dos programas e das promessas dos partidos que concorrem às próximas legislativas.