quinta-feira, 19 de março de 2015

Poderão haver percas

Ulrich poderá ser muito bom em gestão bancária, poderá saber muito de economia e parece que tem sido bem sucedido na presidência do BPI. Além disso tem dito coisas muito acertadas sobre a situação económica do nosso país, como quando previu que estávamos quase a "bater na parede"; de facto pouco depois batemos na parede e precisámos ajuda para nos levantarmos. Gosto de ouvir Ulrich e as suas considerações frontais e geralmente certeiras. Só é pena que descuide um pouco a correcção do seu português. Há dias avisou para "as percas que poderão vir a haver para cima dos accionistas e detentores de dívida subordinada do BES". (Ouvi perfeitamente, mas infelizmente não achei eco desta afirmação em nenhum órgão de comunicação, apenas nos blogs Farpas e Corta-fitas, e pela mesma blogger, Maria Teixeira Alves.) Como notou José Meireles Graça no blog Gremlin Literário, "Fernando Ulrich - acho desde logo que bem podia consertar os dentes e aprender a falar Português (passa a vida a falar de percas, sem todavia se estar a referir a percídeos)". Mas além disso, na mesma frase Ulrich faz outro erro de palmatória: esqueceu que o verbo haver é impessoal e não se conjuga, como acontece com o verbo existir, no plural quando o que há está no plural, mesmo que sejam percas ou qualquer outro peixe. Não hão nem nunca haverão percas, nem hão nem nunca haverão perdas; há percas ou há perdas. Não poderão haver percas ou perdas; poderá vir a haver percas ou perdas ou o que for. Se Ulrich sabe francês, deve lembrar-se que o sujeito do verbo haver é um "ele" impessoal: "il y a". Infelizmente este erro grave é dito frequentemente por profissionais da linguagem, os jornalistas. Mas não deixa de ser grave.

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