segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Democracia

Nunca estive na Grécia, mas é um país com o qual simpatizo, pela sua história, pela sua língua (apesar de pouco a conheer para além do alfabeto), pela sua arte, pelos poucos gregos que não conheço pessoalmente mas que conheço pelas suas obras. Lamento profundamente o estado de degradação a que a Grécia chegou, principalmente pelo desemprego intolerável e pela situação difícil em que vive o povo, mesmo a parte que não sofre desemprego. Não tenho conhecimentos para poder com certeza identificar os culpados desta situação, mas perece-me caricato, além de injusto, culpar a Alemanha ou a Sr.ª Merkel, ou atribuir todos os males à austeridade. (A propósito dos males atribuídos à austeridade, aconselho a leitura do artigo A austeridade e o seu Contrário n'O Insurgente.)

Tenho também uma grande admiração pela democracia, que é, como dizia Churchill "a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras que foram experimentadas." Em particular, respeito a escolha democrática dos gregos pelo partido Siriza. O que não quer dizer que concorde com as ideias contidas no programa de governo deste partido, mas compete aos gregos escolher e estes escolheram maioritariamente o partido de Tsipras (36,34% dos gregos que votaram). Em democracia é assim. Apesar de mais de 50% dos eleitores não terem aprovado o Siriza, as regras livremente aceites ditaram que o Siriza pudesse formar governo.

Já não posso concordar com os que afirmam que, por os gregos terem democraticamente escolhido o partido que deu origem ao governo grego actual (em coligação por lhe faltarem 2 deputados para a maioria, mas isso não afecta a legitimidade do governo), os cidadãos dos restantes países da UE e em particular os da Zona Euro terão de concordar com as exigências que o programa de governo contém, para além das normas especificamente internas. É evidente que, se nos outros países a maioria estivesse de acordo com as ideias do Siriza, teriam votado apoiando os partidos de extrema esquerda com programas próximos dos princípios que o Siriza defende. Ou pelo menos, tendo em conta a volatilidade das vontades dos votantes, as sondagens sugeririam a supremacia destas partidos. Ora não é o que acontece. Em Portugal, isto corresponderia a resultados próximos da maioria para o Bloco de Esquerda ou deste em conjunto com os pequenos partidos mais próximos, como o LIVRE. Vemos que na última sondagem divulgada, a da Eurosondagem para a SIC, o Bloco de Esquerda tem uma esperança de obter 4% dos votos expressos e mesmo somado ao LIVRE não ultrapassa os 6,2%. Os eleitores portugueses, portanto, não concordam na sua grande maioria com tais ideias. Porque razão teriam então de as aceitar passivamente como boas ou, mais ainda, sentirem-se representados por estes partidos, como pretende Louçã? A situação noutros países, tanto quanto sei, não é muito diferente. Mesmo em Espanha, o Podemos ainda não conseguiu aproximar-se dos números do Siriza.

Repito que penso que devemos respeitar a escolha dos gregos. Mas como não estamos de acordo com as ideias que esta escolha significa, para uma convivência num projecto comum, como é o Euro, será preciso encontrar uma solução de consenso, por muito difícil que isto seja. Ou então a Grécia deverá desligar-se do projecto comum, o que não é desejável para os gregos nem para os restantes parceiros da Zona Euro.

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