sábado, 29 de novembro de 2014

Justiça e política

Mário Soares considera que o processo que levou à prisão de Sócrates, e levará eventualmente a acusação e julgamento deste, é um caso político. Sócrates concorda, ao mandar escrever na carta que ditou: "Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos". A acusação é muito grave, mas aparentemente os jornalistas não lhe deram a devida importância. Tanto um como o outro acusam a justiça de actuar por motivos políticos. Soares foi mesmo a ponto de personalizar a sua fúria na figura do juiz Carlos Alexandre, além de referências mais genéricos a "malandros" e "tipos". Ao contrário de António Costa, que fez questão de separar e pedir aos socialistas que separem o caso de justiça de implicações políticas, estes dois socialistas fazem questão de afirmar que a justiça não é independente e tem razões políticas para o que está a fazer ao ex-primeiro-ministro.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Nella Maissa

A notícia da morte da pianista Nella Maissa trouxe-me recordações que julgava esquecidas. A memória prega-nos destas partidas: Coisas (factos, imagens, músicas, poesias) que pareciam definitivamente esquecidas e apagadas da memória aparecem subitamente nítidas, vindas de qualquer conjunto recôndito de neurónios. Nunca assisti a um concerto de Nella Maissa, não possuo qualquer disco dela, mas via-a muitas vezes tocar piano. Sucede que eu acompanhava a minha irmã quando esta ia às aulas de ballet de Mme. Ruth Asvin e era exactamente Nella Maissa que tocava ao piano as músicas que as alunas dançavam. Lembro-me principalmente do Concerto de Grieg e da Finlândia de Sibelius em versões para piano solo, que ouvi repetidamente durante os ensaios. Foi muito mais útil para ficar a conhecer estas e outras obras do que se as tivesse ouvido apenas num concerto. Além disso, o filho de Nella Maissa, Ricardo Maissa, era meu colega no Liceu, o que me levou a dar mais atenção e a apreciar mais atentamente o modo como Nella tocava. Tudo isto estava escondido na minha memória para regressar agora.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tanto Sócrates!

Nestes últimos dias vi mais imagens de Sócrates, sério, a rir, com a mão direita na testa, com a mão esquerda na testa, de frente, de perfil, etc., do que durante todo o seu longo reinado. Ele são fotografias, muitas de grande formato nas primeiras páginas de jornais e revistas, ele são pequenas cenas nas televisões, Sócrates e mais Sócrates. Não se aguenta mais.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Medidas de coacção

Muito se tem discutido a detenção de José Sócrates e muito se vai discutir a respectiva prisão preventiva há pouco enunciada. A propósito, já repararam que praticamente todas as pessoas, incluindo jornalistas e comentadores, deixaram de lhe conceder o título de engenheiro? Mas vamos ao que interessa. E o que interessa, quanto a mim, não é saber se Sócrates fica ou não em prisão preventiva, já se sabe que fica. O que interessa também não é saber em que facto se funda esta medida, a mais grave da gama possível de medidas de coacção. O que interessa também não é saber em que estabelecimento prisional vai Sócrates cumprir esta medida. O que verdadeiramente interessa é saber porque foi montado um dispositivo inédito para o anúncio das medidas pela escrivã do tribunal constituído por uma cadeira com aspecto vetusto, aparentemente de estilo do Século XVII, e um púlpito acrílico ultra moderno, possívelmente do Século XXI. Alguém me explica?
O choque de gostos, de estilos e de épocas entre a cadeira e o púlpito é completamente inusitado e tem certamente um propósito oculto. Será que a cadeira representa a tradição, a arrogância, a austeridade (no verdadeiro sentido do que austero e não da política de cortes), enquanto que o púlpito representa a leveza e a tolerância? Mas sendo assim, que significado pode ter o facto de a escrivã não ter chegado a usar a cadeira? Não consigo descortinar o verdadeiro significado desta confrontação de objectos.

domingo, 23 de novembro de 2014

Liderança tricéfala: Cérbero

João Cortez sugere n'O Insurgente a seguinte solução para o problema de liderança do BE:





Eu já tinha pensado em solução semelhante, mas perferiria a seguinte imagem:




(Espero que a Walt Disney não exija royalties)

Mas pensando bem, a de João Cortez condiz melhor com o actual estado do BE.

Grande vitória de Costa

António Costa está feliz. Apesar de dizer que lamenta a prisão do seu amigo e ex-chefe, apresenta um evidente aspecto de grande satisfação. Corre-lhe bem a vida. Foi eleito para Secretário-geral do PS com 96% dos votos, 22 702 votos em 23 697 votantes. Grande vitória.

Mas porque será que só votaram 23 607? Segundo números recentes, o PS tem 46 229 militantes com as quotas em dia, portanto com capacidade para serem eleitores. Isto quer dizer que afinal Costa foi eleito por apenas 49% dos militantes habilitados. Se considerarmos o total de militantes, contando com os que não pagado as quotas, então a percentagem desce para 27%.

Teorias de conspiração

Há quem acredite que a prisão de José Sócrates não ocorreu para prender José Sócrates. Parece uma ideia maluca, mas é o que pensam os que julgam que tudo ocorreu por outras razões que não têm nada que ver com averiguar se o ex-PM praticou os crimes de branqueamento de capitais, fraude fiscal, corrupção ou falsificação de documentos. De facto tanto Edite Estrela como João Soares apontam para outras razões: Edite Estrela acha que a detenção de Sócrates foi "a melhor forma de desviar as atenções do escândalo dos vistos gold", enquanto que João Soares opina que se trata de "perversa tentativa de humilhação". Ao menos Soares admite que talvez haja "que julgar", mas acrescenta-lhe um "se". A humilhação estaria mais na forma de efectuar a detenção, numa sexta-feira à noite e por se tratar de um ex-primeiro-ministro (É sabido que os ex-primeiros-ministros não devem ser tratados como os vulgares mortais). Já Edite Estrela está bem acompanhada por alguns que consideram "que a detenção de Sócrates também será para desviar a atenção do caso BES e até dos submarinos". Também se pode pôr a hipótese de tudo servir para desviar as atenções de grandes e importantes acontecimentos da esquerda como a eleição de António Costa a Secretário-geral do PS ou mesmo da Convenção do BE. Coitado de José Sócrates, usado para desviar as atenções! E coitados também das autoridades, do procurador, do juiz Carlos Alexandre e dos jornalistas que cobrem a pé firma o acontecimento, que afinal é apenas uma manobra lateral! Sendo assim, é de esperar que o processo de Sócrates, uma vez cumprida a sua função, seja de humilhar, seja de desviar atenções, seja arquivado sem mais consequências.

sábado, 22 de novembro de 2014

Uma bomba

A notícia da prisão de Sócrates caiu como uma bomba. Mesmo quem a desejava não acreditava que fosse possível, muito menos que estivesse eminente. As razões para a detenção são graves mas expostas de modo genérico. Infelizmente, Sócrates não foi preso (uso propositadamente este termo no lugar do oficial "detido" porque na linguagem vulgar "preso" significa exactamente que não se pode mover livremente) por ter sido o responsável principal pelo desastre por que Portugal está a passar, mas antes por suspeitas de fraude fiscal (falta de declaração de rendimentos ou outra?), branqueamento de capitais (que capitais, qual a sua proveniência, para quem diz não os ter?), corrupção (activa ou passiva?) e falsificação de documentos (quais?). Para a imagem da justiça, é bom que estas suspeitas estejam justificadas por indícios sólidos.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Renovação da carta de condução: serviço super-rápido

Mais uma vez tive de me submeter ao processo de pedir a renovação da minha carta de condução antes da mesma expirar. Estava preparado para uma demora de meses: Da vez anterior, há 2 anos, tive de renovar a guia que substituía a carta durante o complicado processo de renovação por o prazo desta ter chegado ao seu termo e só recebi a carta 7 meses após ter feito o pedido. Agora a demora foi reduzida a 13 dias. Tamanha rapidez deixou-me espantado. Não sei a que se deve este progresso, mas não há dúvida que é notável.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Por duas garrafas de vinho

Até faz lembrar o título daquele filme "Por um punhado de dólares". Bem sei que ainda se sabe pouquíssimo do que se passa nos interrogatórios (segredo de justiça oblige). Mas quando o pouco que transparece do grande escândalo de corrupção é que o principal suspeito teria recebido duas garrafas de vinho e teria sido citado numa conversa telefónica entre terceiros como destinado a receber 5000 não se sabe o quê, é caso para se ficar espantado com a insignificância. Claro que os 5000 podem ser 5000 euros ou 5000 robalos ou até 5000 pares de sapatos. De qualquer modo nada que mereça o grande alarido que se tem ouvido. Eu próprio já tenho sido presenteado por vezes (raras, mas aconteceu) com garrafas de vinho. Também já ofereci garrafas de vinho. Claro que não foi para facilitar a concessão de vistos gold nem de qualquer outra coisa, mas como provar isso? Agora fico com receio de vir a ser acusado de corrupção ou de ostentação ou de quqlauer outra coisa. Entretanto fico à espera de escândalos de corrupção que valham a pena, isto é, que valham coisa quen se veja, isto é, que atinjam os milhões.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Erros de linguagem, de tradução e de interpretação

Assim vão os nossos meios de comunicação, ou pelo menos a nossa TV. É raro o dia em que não há um erro ou pelo menos uma imprecisão. São error de linguagem, de tradução e ainda de interpretação. É certo que são pequenos pormenores e que há problemas bem mais importantes. Mas estes erros são tão frequentes que chegam a enraivecer os ouvintes ou telespectadores.

 Alguns exemplos:
1) A maior parte dos jornalistas que lidam com a linguagem de economia e finanças, que são quase todos, já sabem que quando traduzem numa declaração em inglês a palavra "fiscal" a devem traduzir por "orçamental" e não por "fiscal". Os memorandos celebrados com a Troika estão cheios destes caosos. Vai daí e um jornalista que estava a traduzir ontem as declarações de Jean Claude Junker em francês resolveu traduzir "injustice fiscal" por "injustiça orçamental". Junker referia-se às diferenças entre a política fiscal (isto é, referente a impostos) entre vários países da zona euro. Tratava-se portanto claramente de uma questão fiscal e não orçamental. Aliás "injustiça orçamental" em francês seria "injustice budgétaire". Ainda bem que deixam ouvir as declarações em fundo na língua original; assim é possível detectar os erros, imprecisões e alterações injustificadas que são infelizmente correntes nas traduções.
2) A propósito do surto da doença dos legionários, causada pela bactéria Legionella, foi várias vezes informado que, embora uma das fontes possíveis de infecção sejam instalações de ar condicionado, isto só se refere aos grandes sistemas com circulação de água, já que a Legionella só pode viver em meio aquático. Foi explicado várias vezes que os aparelhos de ar condicionado domésticos não podem representar qualquer perigo. No entanto várias televisões ilustraram as suas reportagens com imagens de aparelhos domésticos. Parecem apostadas em causar confusão em vez de esclarecer.
3) Por vezes a culpa é do chamado acordo ortográfico, que mais não é do que um verdadeiro aborto ortográfico. Na Euronews, numa reportagem sobre negócios com divisas, a jornalista mencionou várias vezes que os profissionais deste ramo eram "correctores". Claro que como a palavra não aparecia escrita para os telespectadores, é de supor que o texto que a jornalista lia teria escrito correctamemnte "corretores", mas o AO90 manda escrever "correctores" sem "c" e daí a confusão. Porém a jornalista tinha obrigação de saber que quem trabalha com divisas faz corretagem e é um corretor, enquanto que a pessoa ou o dispositivo que tem como função corrigir é um corrector, e embora que tem o mau gosto de seguir o AO90 escreva sem "c", deve ler com "e" aberto.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dia histórico

Hoje é verdadeiramente um dia histórico por se ter conseguido, pela primeira vez, fazer pousar um aparelho feito pelo homem na superfície dum cometa. A sonda Rosetta andou durante dez anos numa trajectória tão bem calculada e dirigida que conseguiu entrar em órbita ao redor do cometa 67-P (encurtando o nome que é demaiado complicado para copiar) e, feito mais extraordinário, enviar o módulo Philae até ao local escolhido para a "acometagem".

Em vez de reproduzir alguma das muitas fotografias que representam simulações do robot Philae pousando na superfície do cometa, prefiro apresentar uma fotografia de um pormenor do cometa que mais parece uma montanha terrena vista contra a noite escura.



É difícil de compreender como é que a humanidade que é capaz de tais feitos não consegue resolver problemas que aparentemente deveriam ser muito mais fáceis, como evitar guerras ou acabar com a fome no mundo. Das duas, uma: Ou estes problemas são na verdade muito mais complicados do que as façanhas científicas ou tecnológicas que nos empolgam, como é pousar um robot num cometa, enviar homens para a Lua ou detectar o bosão de Higgs, ou então poderiam ser resolvidos se fosse possível reunir uma equipa tão competente e dedicada como as equipas científicas que conseguiram organizar e levar a cabo essas façanhas. A humanidade, na sua diversidade, é capaz de feitos extraordinários e das maiores abjecções. Sempre foi assim e continuará a ser.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Eu não diria melhor

Mais uma vez, poupo trabalho e tempo reproduzindo o artigo de outro blog, neste caso do Corta Fitas, porque estou inteiramente de acordo com o que aí é dito.

«A comunicação social que temos...
por Vasco Lobo Xavier, em 06.11.14
O PCP defende que, em 2016, o salário mínimo deve ser de 600 euros e a comunicação social faz eco acrítico disso, como se fosse possível. O líder da CGTP diz que recusa a desculpa de que não há dinheiro e ninguém o interpela para saber onde ele o vai buscar. O Bloco apregoa que a austeridade não funciona como elemento de consolidação das contas públicas e não há um microfone que o interrogue como é que o desbaratar de dinheiro que não existe fará a consolidação das contas públicas. Freitas, Félix, Carvalho da Silva, Louçã e outros, sempre contra qualquer corte da despesa pública, contra aumento de impostos, e críticos de cada vez que o Estado se arrisca a não cumprir o défice ou as previsões, exigem agora que o Estado gaste uma catrefada de centenas de milhões de euros dos contribuintes na PT, coisa que os media divulgam aplaudindo. O desemprego desce e a TVI vai para a porta dos centros de emprego interrogar as pessoas desempregadas. PCP e Bloco desmentem o INE em todos os noticiários e ninguém se lembra de lhes perguntar em que estudos, análises ou estatísticas foram eles basear-se para tais afirmações.
A Troika, com o FMI à cabeça, passou a ter razão plena a partir do momento em que criticou o Governo, e com o aplauso entusiástico de toda a oposição, não obstante as críticas se centrarem no aumento do salário mínimo aprovado pelo Governo e na diminuição de austeridade. O INE só é uma entidade boa, séria e credível quando o desemprego sobe. Acaso desça o desemprego, o INE passa a ser o pior dos malfeitores. Ler os jornais ou ouvir noticiários passou a ser um enjoo. E ninguém se indigna.

A única coisa que este país merece, mesmo, é a comunicação social que tem.»

Eu não diria melhor.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A escola luxemburguesa

A proibição de falar português na aula de uma escola no Luxemburgo suscitou opiniões desencontradas. Inicialmente não consegui ter uma opinião formada por falta de informação. Depois da avalanche de notícias sobre o assunto, com mais pormenores, incluindo punições por falar português mesmo a crianças em creches, fiquei ainda mais baralhado. Helena Matos deu a sua opinião considerando que é natural que nas aulas das escolas no Luxemburgo a língua luxemburguesa seja obrigatória, tal como nas escolas portuguesas se deve falar português, e não "crioulo, russo, chinês ou ucraniano". O raciocínio parece impecável à primeira vista, mas não me convenceu. A menos que Helena Matos tenha informação que eu desconheço (a sua citação é a mesma que cito acima), não posso concordar, pelo menos do modo simplista como o caso é posto. Concordo absolutamente que se possa exigir que, durante as aulas, a intervenção dos alunos, em perguntas, respostas ou quando se dirigem aos professores, assim como na execução de trabalhos escritos ou orais, seja feita exclusivamente na principal língua oficial do país, neste caso o luxemburguês. Já acho altamente reprovável que seja proibido que dois alunos, seja qual for a sua nacionalidade, falem entre si em português ou em qualquer outra língua (mesmo crioulo, russo, chinês ou ucraniano), principalmente se a conversa não tiver lugar na aula, mas sim no recreio, nos corredores ou mesmo dentro da aula, mas fora dos tempos lectivos. Muito mais condenável me parece a proibição de se falar português fora do recinto da escola, na rua ou em outros locais. Ainda menos compreensível é a extensão desta regra às creches. E a obrigatoriedade de comunicar em luxemburguês ser acompanhada de punições em caso de não ser cumprida parece-me, então, completamente aberrante. Na ausência de mais explicações sobre o âmbito da alegada proibição e das consequências do não cumprimento da regra, não me é possível ter opiniões firmes a condenar ou aceitar a situação.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O regresso do Sr. Feliz e do Sr. Contente

Maria João Avillez faz no Observador uma crítica mordaz a atitudes, declarações e intenções de Bagão Félix e de Silva Peneda. Fala da «banalidade grave» e do «sorriso, supostamente beatífico» de Félix (Sr. Feliz) e, quanto a Silva Peneda (Sr. Contente), afirma que «acha-se "indispensável"» e «rebenta dele próprio». Mas não se limita a acusações: Explica porque as faz. Confesso que estranhei a ferocidade da crítica, pouco habitual em em Maria João Avillez, mas tenho de confessar também que concordo com ela. Mais, se o PS, «em caso de vitória eleitoral», se «virar» «"por exemplo"» «para a corrente democrata-cristã (?) do CDS, personificada, segundo ele, “por exemplo, em Bagão Feliz”» e/ou «inclinar-se para a ala social democrata do PSD, representada, “por exemplo”, por Silva Peneda», também concordo que se trataria de uma «infelicidade» e de uma «vergonha».

Prosperidade

Uma boa notícia deve, segundo os critérios jornalísticos, vir sempre acompanhada de uma má notícia, para os leitores, ouvintes ou telespectadores não se sentirem felizes durante demasiado tempo. Na verdade, estou em crer que um dos principais objectivos dos meios de comunicação é incentivar o descontentamento e o pessimismo. Apresento, a mero título de exemplo, uma notícia na revista Visão, transmitida também hoje na RTP, sobre a posição de Portugal no índice internacional de prosperidade. A notícia era óptima: Portugal manteve em 2013 o 27.º lugar no índice de prosperidade num conjunto de 142 países. Portugal é portanto um dos países mais prósperos do mundo, o que só pode ser motivo de regosijo. Claro que temos sempre a tendência para nos compararmos com países mais ricos, mais prósperos e mais felizes, mas o lugar 27 em 142 tem de ser considerado uma óptima classificação.

Mas claro que é obrigatório temperar a eventual satisfação do telespectador com uma má notícia. Ela veio logo a seguir (no caso da Visão até antecedeu a boa notícia e mereceu ênfase no título): Na área da educação, Portugal desceu 14 lugares. Pronto, lá ficamos todos mal dispostos com esta queda tão drástica. Faltou dizer em que área ou áreas teremos subido para compensar esta perda e mantermos o nível global. Como isso seria outra boa notícia, o melhor é calar.

É apenas um exemplo, mas se estivermos atentos veremos que é a regra geral: Nunca dar boas notícias sem acrescenter algo desgradável.

sábado, 1 de novembro de 2014

Violação do espaço aéreo nacional?

Foi largamente noticiado o sobrevoo do "espaço aéreo nacional" por aviões militares russos, que teriam sido interceptados e expulsos por caças portugueses. A expressão "espaço aéreo nacional" ou "espaço aéreo português" e a palavra "violação" foram usadas abundantemente e notícias escritas e lidas. Algumas notícias referiram-se também à violação do espeço aéreo europeu, designadamente do Reino Unido e da Noruega, países cujas forças aéreas também interceptaram e escoltaram os aviões intrusos. A verdade foi reposta tanto pela Embaixada Russa em Lisboa como pelo Ministro da Defesa português Aguiar-Branco: A intercepção dos aviões russos «"não foi em espaço aéreo nacional" mas "em espaço aéreo sob jurisdição nacional" - para afirmar que "a informação dos media portugueses sobre a alegada violação do espaço aéreo português pelos aviões russos não corresponde à verdade"». Esta reposição da verdade, que não nega a gravidade dos incidentes, passou quase despercebida, tendo continuado a aparecerem na comunicação social referências a "violação" do "espaço aéreo nacional". Os nossos meios de comunicação têm definitivamente uma atracção pelo abismo.

Evitar o resgate

Tem causado muita risota a afirmação de Ferro Rodrigues de que Sócrates foi das pessoas que mais se bateram por evitar a necessidade de resgate de Portugal. Já Luís Amado tinha afirmado qualquer coisa no mesmo sentido. Fica agora a grande dúvida que um dia os historiadores terão de resolver: Quem levou as finanças portuguesas ao estado de pré-ruptura que tornou indispensável o resgate?

Prémio Eduardo Lourenço

Leio que o filósofo José Gil ganhou o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Lourenço. Não me admiraria que o ensaista Eduardo Lourenço viesse a ganhar, além do Prémio Pessoa e do Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon e de muitos outros que já são seus, o prémio José Gil...