quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pode valer a pena matar?

Há dias ouvi na TV a notícia de que ia ser discutida uma proposta de lei para que um homicida não pudesse vir a ser beneficiado pelo seu crime, recebendo em herança bens da vítima. Fiquei espantado por ser preciso fazer uma nova lei para impedir tal iniquidade; pensava que, por uma simples questão de bom senso, tal já não seria possível. Portanto, além de espantado, fiquei também contente: Finalmente corrigia-se essa injustiça. Mas eis que o assunto volta à baila: Hoje, pela SIC-Notícias, soube que "a ordem dos advogados diz que a condenação por homicídio não pode ditar a perda de herança". Claro que a notícia não explicita que se refere a herança da vítima do homicídio, mas a não ser o caso não teria sentido. Concluo portanto que um potencial homicida tem um motivo evidente para matar os seus pais, os seus avós ou mesmo os seus filhos, se puder vir a herdar deles, já que, mesmo que seja condenado, continua a ser legítimo possuidor da herança!!! A notícia não explicita também a razão porque a Ordem pensa que evitar esse móbil para o assassinato não é possível. Há uma lei contra? Mude-se a lei. É inconstitucional? Mude-se a constituição. O criminoso não deve poder nunca ter vantagem em cometer o crime, a não ser, claro que tenha cometido o crime perfeito e nunca seja descoberto, mas isso é outro problema; se for descoberto e condenado é incrível que possa continuar a manter alguma vantagem pelo crime que cometeu.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PIB, crescimento e imprecisão de linguagem

Ouvido hoje na SIC (ou SIC_Notícias?): "Economia cresceu no segundo trimestre, mas ainda está pior do que no ano passado." Que significa isto? Em que ficamos? Que entendimento terá o jornalista do crescimento económico? Vamos a factos: Segundo a notícia que esta frase pretendia introduzir, o PIB português cresceu 0,6% em relação ao trimestre anterior e o crescimento homólogo foi de 0,8%. Boas notícias, portanto, embora não seja caso para nos pormos aos saltos de contentamento: Trata-se de um crescimento reduzido, menor do que o esperado e inferior ao do ano passado, mas mesmo assim, é um crescimento. O crescimento foi, pois, pior do que o do ano passado, mas o jornalista, na frase citada, não se referia ao crescimento; o sujeito da frase é a economia. Ora se houve crescimento homólogo positivo, a economia está melhor do que no ano passado e não pior. Há uma tendência em alguns jornalistas, a avaliar pela redacção das notícias que veiculam, para confundir um valor que evolui com a sua derivada, as grandezas com a sua evolução. O PIB é uma medida da criação de riqueza, ligado portanto à economia. Se a variação do PIB é nula, isto é, se o PIB não cresce nem diminui, a criação de riqueza é igual à do período anterior e isto significa que a economia não melhorou. Quando o PIB cresce, a criação de riqueza é maior e portanto a economia está melhor. O jornalista confundiu os conceitos de economia e crescimento.

A César o que é de César

Numa conferência de imprensa que teve lugar no Santuário de Fátima, a propósito da peregrinação anual do migrante e do refugiado, o director da Obra Católica Portuguesa para as Migrações disse que a Igreja deve servir de “alerta e denúncia das injustiças". Nessa linha teceu considerações sobre a "incompetência dos políticos", "incompetência" esta que é, para o orador, "fruto de uma crise de valores, de uma corrupção política e financeira que levou a que o país não tivesse condições para criar trabalhos e condições para fixar particularmente os jovens”. Concordo que o Igreja denuncie injustiças, mas ao empregar uma linguagem de generalizações populistas nas frases transcritas e em geral no seu discurso, parece-me que o director da OCPM está a ultrapassar o papel que cabe à Igreja neste campo e a tomar posições nitidamente políticas. Esquece que Jesus distinguiu entre o domínio do político e o domínio do religioso. Para mais, ao referir "os políticos" e, ao considerar que a causa da crise está na corrupção sem apontar outras causas nem reconhecer que haverá certamente entre os políticos e responsáveis alguns competentes e não corruptos, está a cometer uma injustiça flagrante.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Não sou o único a pensar assim

Depois de ter escrito "A reacção de Israel aos foguetes do Hamas é desproporcionada" em que considerava que esta desproporção não contrariava o direito de Israel a defender-se, pensei que ia receber comentários indignados ou pelo menos ler em outros blogs opiniões contrárias. Afinal encontrei em apenas uma curta frase a ideia que eu tinha defendido: «Numa guerra não há considerações sobre proporcionalidade até uma das partes ser derrotada. Nenhuma intervenção de Israel poderá ser considerada desproporcional se falhar em neutralizar o Hamas.» (Carlos Guimarães Pinto em O Insurgente).

Robin Williams

Chocou-me a notícia da morte de Robin Williams, um actor por quem sempre tive grande admiração. Uma das características que me cativou foi o sorriso fácil, mas (aparentemente) sincero. Mas ainda mais do que a notícia da morte, chocou-me saber que combatia há anos contra a tendência para o alcoolismo e o consumo de cocaína. Parece que o facto era conhecido, mas para mim foi uma notícia cruel.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A reacção de Israel aos foguetes do Hamas é desproporcionada

Concordo que a reacção de Israel aos ataques do Hamas com foguetes (recuso-me a escrever rockets, afinal rockets são foguetes, porquê dizer em estrangeiro?) é desproporcionada. Bombardeamentos aéreos e uma ofensiva com blindados não têm proporção em relação a alguns foguetes disparados, destruição maciça de edifícios e quarteirões inteiros não se podem comparar com alguns estragos quando os foguetes não caem em descampados, muitas centenas de mortos não têm qualquer relação com dezenas de mortos. Há evidente desproporção. Mas que sugerem os que criticam duramente Israel e se manifestam contra a sua acção militar? Que Israel responda aos disparos de foguetes de Gaza para Israel com um número idêntico de foguetes disparados para a faixa de Gaza? E de preferência com a mesma pontaria errónea? O que é certo é que a reacção de Israel, mesmo desproporcionada, não tem sido suficiente para convencer os islamitas do Hamas a suspenderem os disparos, apesar da destruição de alguns sítios de lançamento. Se Israel respondesse proporcionadamente, os foguetes do Hamas continuariam a cair pelo menos ao mesmo ritmo.

domingo, 10 de agosto de 2014

Defesa dos mais fracos

António José Seguro anda outra vez preocupado. Aliás muitos portugueses andam preocupados, mas Seguro nos últimos dias tem andado constantemente preocupadíssimo por várias razões e faz questão de dar a conhecer aos portugueses o seu estado de alma por intermédio das televisões. Anda tão preocupado que é de temer que o stress possa ser prejudicial para a sua saúde. Ontem, era por Vítor Bento, na entrevista que deu na SIC, ter admitido que o Novo Banco pode necessitar de uma reestruturação que pode implicar redução de pessoal, logo despediemntos. Seguro acha "inadmissível que sejam os mais vulneráveis a pagar os erros dos administradores e dos accionistas". Não sei onde tem estado Seguro nos últimos tempos, em que várias empresas têm sido reestruturadas com redução de pessoal e muitas outras nem sequer conseguiram sobreviver, tendo pura e simplesmente falido, contribuindo decisivamente para o elevado desemprego de que temos sofrido. O próprio sector bancário tem passado por processos de encerramento de balcões com despedimentos substanciais e nunca vi Seguro referir-se aos mais vulneráveis ou aos erros que levaram a estes processos. Pensa Seguro que os postos de trabalho devem ser mantidos em todas as circunstâncias, mesmo quando esta manutenção é incomportável? E só neste caso em especial?

sábado, 9 de agosto de 2014

Salvar a TAP

É curioso que as greves e protestos realizadas por trabalhadores de várias empresas ou mesmo de vários sectores nunca têm objectivos egoístas como procurar obter aumentos de salários ou outras regalias. Não, os grevistas ou protestantes só pensam em razões altruístas e no bem da empresa contra a qual protestam, do sector ou do País. O caso da TAP é mais um destes: os pilotos grevistas só pretendem salvar a empresa que a administração quer por força prejudicar por qualquer razão obscura. Espero só que não lhes acontaça como noutros casos, para já recordo o da General Motors da Azambuja: Tantas greves fizeram para tentar salvar a empresa que esta acabou por fechar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Bom, o Mau e o Vilão

Logo que o informador oficial do que se passa no Conselho de Ministros, mas ainda não deve ser divulgado, Marques Mendes, anunciou que a solução engendrada pelo supervisor para o caso BES era a divisão em um banco bom e um banco mau, cá em casa perguntámos quem seria então o vilão. A resposta foi imediata: Ricardo Salgado. Assim como as profecias de Marques Mendes se concretizaram, também parece que a nomeação para vilão também se confirma, com a variante de que, além do vilão principal, haverá outros vilõezinhos secundários, mas que também pagam as favas. A música de Ennio Morricone é absolutamente adequada para fundo do drama.