quinta-feira, 31 de julho de 2014

Abcesso ou cancro?

Há cerca de 20 dias, Ulrich referiu-se ao caso BES com um "abcesso no caminho de prestígio do País". Perante a reação indignada de alguns, explicou que um abcesso é uma afecção que pode ser tratada e até é possível que não deixe sequelas. Nos últimos dias verificou-se que Ulrich, como de outras vezes em que previu problemas graves, se não tinha razão foi por defeito, ao nter comparado o caso do BES a um abcesso, quando afinal seria mais apropriado compará-lo com um cancro. Claro que um cancro também é tratável e com os avanços da medicina pode felizmente muitas vezes ser tratado e curado sem sequelas, principalmente quando se conhece o remédio adequado. A semelhança com um cancro é adequada porque o doente sentiu os sintomas que faziam adivinhar doença grave, mas quiz mantê-los em segredo e só agravou o seu estado ao não tomar a tempo as precauções que se impunham. Quando teve mesmo de ir ao médico, começou por tentar embelezar a situação e só com meios de diagnóstico mais poderosos se descobriu o tumor. Uma observação mais invasiva revelou que o tumor já era enorme, pondo em perigo a vida do doente. Só um tratamento de choque e uma mudança radical de comportamento podem conduzir à cura e salvar o doente, mas o facto de se conhecer agora com maior precisão a causa e a localização do tumor torna mais fácil o tratamento e provável uma evolução favorável. Estirpar o tumor e eliminar completamente possíveis metástases constituem as únicas vias de salvação.

Pode dizer-se, numa alegoria religiosa, que, em vez de rezar ao Espírito Santo, o caminho correcto é recorrer a água benta.

Clandestinidade revolucionária

Os membros do PND que decidiram passar à clandestinidade revolucionária não se viram ao espelho antes de dar a conferência de imprensa onde anunciaram a sua decisão. Se tivessem olhado as suas imagens já vestidos e preparados para o acto, tinham reparado na figura ridícula que faziam vestidos de fantasmas com boinas bascas por cima do lençol. Esperam-se os seus actos revolucionários.

domingo, 27 de julho de 2014

Prisões à dezena

No Eixo do Mal de hoje, alguém emitiu a opinião de que a detenção de Ricardo Salgado só pecou por insuficiência: Não devia ter sido preso só um, mas sim 20! Calculo que, ao especificar um número tão exacto, tenham conhecimento de quem são os outros 19 e por que crimes deverão ser presos (ou, pelo menos, que indícios deverão levar à sua detenção). No PREC havia ordens de detenção em branco que serviam para prender qualquer um que desagradasse a quem as tinha em seu poder. Actualmente pretendemos viver num estado de direito e não se prendem pessoas às dezenas.

sábado, 26 de julho de 2014

Fala quem sabe

Teixeira dos Santos defende que não deve haver recurso de dinheiros públicos para resolver os problemas do BES. Sabe bem do que fala, pois tem experiência do desastre a que pode conduzir a intervenção de dinheiros públicos para salvar bancos e conhece como esta intervenção pode ficar cara aos contribuintes. Só espanta como ainda tem cara para aparecer a falar do assunto.

Moody's dá melhor nota a Portugal

Depois de, em Maio passado, ter aumentado a notação da dívida soberana de Portugal de BA3 para BA2, a agência Moody's subiu agora a dívida portuguesa mais um ponto, para BA1, a um degrau de sair da categoria especulativa, o chamado lixo. Mais uma indicação de que a situação em Portugal vai lentamente melhorando.

O neo-liberalismo em que vivemos

Eu não sabia que vivíamos em neo-liberalismo, muito menos em neo-liberalismo repressivo. Mas Adriano Moreira (AM) elucidou-me agora, ao declarar que «Sou contra o neoliberalismo repressivo em que vivemos». Pensava que quando se vivia nesse estado repressivo se dava por isso e, para falar a verdade, eu não tenho dado. Pode ser distracção minha, já que há que reconhecer que AM tem muito mais prática de regimes repressivos do que eu. Mas, o regime repressivo em que AM viveu não era mesmo nada liberal, nem neo nem não neo. Se é certo que AM tenha sido, de início, simpatizante da oposição ao Estado Novo, tendo chegado a ser preso, mais tarde veio a aproximar-se cada vez mais do regime de Salazar, que chegou a chamá-lo para o Governo. Por isso talvez seja mais contra o aspecto neo-liberal do que contra o aspecto repressivo.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Ainda a natalidade, ou melhor, a justiça

Ainda a propósito da bondade de algumas das medidas propostas para o fomento da natalidade, há uma que merece todo o meu apoio. E merece também o apoio de Vasco Lobo Xavier no Corta-Fitas:

«A criação de um quociente familiar em função do número de filhos para aferir, face ao rendimento colectável do casal, o escalão e taxa de IRS a pagar nem deveria ser um estímulo à natalidade mas antes uma mera e óbvia questão de justiça que tarda.»

Claro que é uma medida de carácter económico, das tais que critiquei aqui, mas, exactamente por ser uma «óbvia questão de justiça»,  tem a minha concordância, mesmo que não venha eventualmente a conribuir para um aumento da natalidade.

domingo, 20 de julho de 2014

Fomento da natalidade

As propostas de medidas anunciadas para combater a diminuição da natalidade baseiam-se em grande parte em incentivos económicos. É certo que muitos casais se desculpam da sua pouca vontade para criarem descendência ou para adoptarem a regra chinesa do filho único com as dificuldades económicas, mas não é certo que seja sempre essa a verdadeira razão. Para ajuizar da justeza desta posição, covirá meditar que a natalidade era muito superior nas épocas em que o grau de pobreza em Portugal era muito superior e em que mesmo grande parte da classe média não tinha possibilidades de dispor de factores de conforto que hoje são considerados indispensáveis. Basta ver estatísticas dos anos 30, 40 ou 50 do século passado sobre o número de automóveis por 100 habitantes e mesmo de outros bens hoje tão vulgares como telefone em casa, frigorífico ou aspirador. Não é preciso ir às épocas em que estes bens eram novidade, basta perguntar a pessoas de 80 anos como era na época da sua juventude. E, apesar destas circunstâncias, o número de filhos por mulher era muito superior. Além disso é nos países mais desenvolvidos e mais ricos que a natalidade mais caiu.

Não quero dizer que algumas das medidas propostas, mesmo de carácter económico, não possam ser úteis ou justas. O que me parece é que o problema não é predominantemente económico.

sábado, 19 de julho de 2014

Costa: PSD sim; Passos não

Leio em roda-pé da TV: "Costa abre porta a aliança com PSD, mas sem Passos". É moda nova um militante (e candidato a Secretário-Geral) de um partido arrogar-se o direito de poder escolher o líder de outro partido. Mas já que é assim, o melhor é Costa organizar umas primárias no PSD, abertas a simpatizantes, para substituir Passos Coelho. Já tem o know how.

Ou será que não interpretei bem a frase e o "abre porta" tem a ver com Portas? Se no CDS há quem proponha Rui Rio para candidato presidencial, porque não alguém no PS propor o Portas para presidente do PSD? Talvez conviesse ao PS.

terça-feira, 15 de julho de 2014

BES, GES e ignorância

Esta tarde segui parte do programa Opinião Pública na SIC Notícias sobre o caso BES. Após uma exposição de José Gomes Ferreira, sucinta mas muito correcta e bem explicada, das circunstâncias e dos efeitos possíveis da situação financeira do Grupo Espírito Santo e do Banco Espírito Santo, sublinhando muito bem a diferença entre as duas entidades, foi dada a palavra aos telespectadores. A ignorância, a superficialidade e a distorção da realidade da maior parte dos intervenientes deixou-me atónito. Para praticamente todos os telespectadores que telefonaram, o BES está condenado irremediavelmente a falir, entre outras coisas porque deve 900 milhões segundo uns ou 7000 milhões segundo outros. Várias vozes afirmaram que a situação do BES era igualzinha à do BPN e que os contribuintes portugueses pagariam também neste caso uma factura pesada. A explicação de José Gomes Ferreira foi muito criticada e o jornalista económico foi mesmo acusado por um interveniente de defender a família Espírito Santo e a posição do Primeiro Ministro sobre esta questão por partidarismo e por ser de direita. A confusão entre o BES e o GES foi total e ignorou-se em geral todas as explicações que se têm ouvido e lido na comunicação social sobre o caso. Lamentável.

domingo, 13 de julho de 2014

O triunfo e a derrota, eternos impostores

Custa-me muito compreender a paixão futebolística e, em geral, toda a paixão clubística, principalmente quando levada ao extremo. Não entendo como é possível chorar convulsivamente por o seu clube ou a selecção do seu país perder um jogo ou mesmo um campeonato. Compreendo que as pessoas se preocupem com as circunstâncias que têm influência na sua vida, em especial na sua felicidade, a ponto de chorar quando alguma coisa lhes corre mesmo mal. Mas chorar porque os 11 indivíduos que representam o seu clube ou o seu país não conseguiram meter a pontapé uma bola numa baliza é coisa que me ultrapassa. Confesso que não gosto de futebol e, embora admire a habilidade de alguns bons jogadores, sou incapaz de seguir mais do que breves minutos um jogo na televisão. Os resultados deixam-me indiferente ou quase. Mas não pretendo que todos ou mesmo a maioria tenham a mesma falta de gosto por este desporto. Posso mesmo dizer que, embora eu não tenha estes sentimentos, compreendo alguma alegria por um triunfo ou alguma tristeza por uma derrota. Mas daí a ficar destroçado ou enraivecido, a chorar ou ter uma tristeza profunda por uma derrota, como se de morte de parente próximo ou de um amigo se tratasse, aí ultrapassa a minha compreensão. Do mesmo modo as festividades em caso de vitória parecem-me sempre exageradas.

Neste capítulo, como noutros, estou de acordo com Rudyard Kipling, quando no poema Se(1) diz:
"Se podes encarar com indiferença igual o triunfo e a derrota, eternos impostores..." e depois de muitos outros "ses", afirma: "Alegra-te, meu filho, então serás um homem!"

(1) Se, de Rudyard Kipling, na tradução de Félix Bermudes, quanto a mim a mais conseguida. Outra tradução, a do brasileiro Guilherme de Almeida, junto do original inglês "If" pode ser vista na Folha de São Paulo on-line.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Aviso aos investidores

Segundo notícias de há pouco, a Moody's e a S&P cortaram 3 níveis na notação financeira do BES. Estas agências parecem-me de uma inutilidade flagrante: Não prevêem, não avisam os potenciais investidores a tempo, actuam vários dias depois de toda a informação estar abundantemente disponível em todo o mundo. Se eu fosse um potencial investidor e me guiasse exclusivamente pelas notações destas agências para fazer as minhas escolhas, sem ver televisão, sem ler jornais, sem ouvir rádio e sem falar com amigos ou conselheiros, poderia ontem ter comprado um milhão de acções do BES na bolsa (antes de a CMVM ter fechado a torneira; depois já não poderia). Talvez até fosse um excelente negócio, mas das duas uma:

Ou teria sido um excelente negócio por as acções estarem a preço de saldo e poderem valorizar-se muito a prazo, depois da nova administração tomar posse e tomar as suas medidas, e então os conselhos da Moody's e da S&P são completamente errados.

Ou então a Moody's e a S&P têm razão e as acções do BES valem menos que lixo e não virão a valorizar-se nunca ou só daqui a muitos anos, e então o conselho das agências foi inútil para mim, porque só avisaram tarde demais para quem não têm informações por outras vias. Felizmente não sou um potencial investidor, mas mesmo assim estou mais bem informado pela comunicação social do que pela notação financeira atribuída por estas poderosas agências.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Plano concreto para a bancarrota

Depois dos 74 vêm os 4. Quais cavaleiros do apocalipse, anunciam a desgraça, mas, ao contrário dos cavaleiros, estes peões disfarçam a desgraça num triunfo: Num documento intitulado Um Programa Sustentável para a Reestruturação da Dívida Portuguesa prometem resolver de vez o problema da dívida pública e privada e explicam em pormenor ao longo de mais de 70 páginas como é possível realizar esta proeza. Quando ouvi o anúncio deste programa, desconfiei, não só por vir de quem vinha, mas também por já ter meditado um pouco sobre a problemática graças ao Manifesto dos 74. Mas, como os meus conhecimentos de economia são apenas básicos, não me atrevi a exprimir críticas sobre o plano até ler opiniões mais abalizadas:

Carlos Guimarães Pinto, n'O Insurgente, analisa resumidamente, mas de modo sistemático, a proposta de Louçã ed al., e apresenta, sob a forma de perguntas, as mais que prováveis consequências: "fuga de depósitos" e perda da "solvabilidade dos bancos portugueses".

José Manuel Fernandes, no Observador, também analisa em pormenor a proposta e apresenta as dificuldades e os inconvenientes (entre outros a "perda imediata de acesso aos mercados").

Vital Moreira, no blog Causa Nossa, faz uma crítica mais feroz e mesmo destrutiva. Conclui que a proposta de Francisco Louçã equivaleria a um "maciço confisco e coletivização (sic, assim sem "c", a culpa é do AO90) patrimonial" e afirma que "É evidente que nenhum governo responsável alguma vez poderia perfilhar uma ficção destas, para não falar da sua rejeição liminar pela UE."

Creio que os quatro subscritores do programa terão alguma dificuldade em rebater com algum êxito estas críticas. O "programa sustentável" parece tudo menos sustentável.

Declaração de interesses: Possuo um Certificado de Aforro e alguns Certificados do Tesouro, além de algum dinheiro no banco, como quase todos os portugueses. Por isso, não aceitaria o programa proposto, já que me prejudicaria sensivelmente. (ver página 32)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Morreu José Delgado Domingos

Não cheguei a conhecê-lo, apesar de termo coincidido no Instituto Superior Técnico durante 3 anis, mas desde cedo segui com muito interesse a sua intervenção pública sobre temas de energia, nomeadamente de crítica à opção pela energia nuclear e aos argumentos políticos sobre a causa antropogénica do aquecimento global. Nestas duas polémicas, o Professor Delgado Domingos foi incansável e baseou sempre os seus argumentos em bases científicas sólidas. Espero que com a sua morte não se verifique o esquecimento da sua obra e das consequências práticas que o seu estudo deve ter nas opções políticas sobre questões energéticas e ambientais.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Homem prevenido

Já tinha ouvido alguém comentar que Vítor Bento era capaz de vir a ter uma grande surpresa quando visse as contas do BES. Mas Vítor Bento já tem muita experiência em lugares ligados à alta finança e não é ingénuo. Por isso não fiquei nada surpreendido quando soube hoje que Bento só tomará o seu lugar como presidente da Comissão Executiva do BES depois de Salgado apresentar as contas do primeiro trimestre. Assim, por muitas surpresas que possa vir a ter quando examinar as contas, será evidente para toda a gente quem foi o responsável pelo passado e o novo presidente terá mais justificação para tomar medidas correctivas se vierem eventualmente a ser necessárias.

domingo, 6 de julho de 2014

Novos administradores do BES

A escolha dos nomes indicados e mais que provavelmente aceites para a nova administração do Banco Espírito Santo, nomeadamente Vítor Bento para presidente da Comissão Executiva, Moreira Rato para administrador financeiro e Paulo Mota Pinto para presidente do Conselho de Administração, mereceu críticas dos partidos da oposição, mais violentas nos casos do PS, na reacção de Seguro, e do BE, nas palavras de João Semedo, mais brandas, vá-se lá saber porquê, no caso do PCP, pela boca de Jerónimo de Sousa. Criticam a influência do PSD na nova liderança, a promiscuidade entre os negócios e a política. Não terão aqueles dirigentes esquerdistas a noção de que os melhores gestores de negócios são de direita?

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Onde houver um português, aí está Portugal

A frase é muito bonita e até tem o seu quê de verdade, mas, se se pretende combater a divisão do País entre Continente (ou Cont'nente, como diz Jardim) e as regiões autónomas, como suponho que é a ideia de António Costa, afirmar que não deve haver divisões porque "Portugal são todos e cada um dos portugueses, esteja no Minho, no Algarve, aqui, no Machico, em Ponta Delgada, na África do Sul, na Venezuela, onde esteve um português, está Portugal" pode não agradar aos portugueses de Machico e de Ponta Delgada. Juntá-los com os portugueses da África do Sul e da Venezuela é dizer que Machico e Ponta Delgada, e por extensão as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, não são bem Portugal, são territórios exteriores a Portugal oude há portugueses. Isto pode ser combater a divisão dos portugueses, mas parece estabelecer uma divisão estre Portugal e regiões estrangeiras. Certamente não foi essa a intenção de António Costa, mas escolheu muito mal a frase.