quarta-feira, 18 de junho de 2014

A 3.ª via de António Costa

António Costa descobriu e anunciou com ar prazenteiro e muito satisfeito consigo próprio que as medidas do Governo para redução do défice não são aceitáveis pois se reduzem à diminuição da despesa ou ao aumento da receita, quando afinal há uma terceira via. Ao ouvir tais declarações fiqueri espectante e atento para saber qual a descoberta de AC. Afinal a 3.ª via é, por outras palavras, exactamente a que Seguro tem defendido desde pelo menos 2012: a via do crescimento. AC chama-lhe a via de aumento da riqueza, mas é a mesma coisa. Afirmei aqui em 2012 que para se atingirem os défices a que estamos obrigados seriam necessários crescimentos verdadeiramente estratosféricos, completamente fora das possibilidades. E, como Seguro insistiu na asneira, demonstrei-o em 2013 com umas simples contas.

Agora António Costa apresenta a mesmíssima solução (falsa solução) chamando-lhe aumento da riqueza em vez de crescimento [do PIB] como se fosse uma ideia original e inédita. Se é assim que pretende demonstrar as suas diferenças em relação a Seguro, só mostra que não tem memória, andava desatento ou nos quer aldrabar.

Mais uma vez, para continuar a reduzir o défice, conforme estamos obrigados, e que seria necessário mesmo sem qualquer tratado ou memorando, já que a manutenção de défices elevados faz aumentar a dívida e é insustentável a prazo, a via do crescimento ou, o que é o mesmo, do aumento da riqueza, exigiria crescimentos impossíveis.

As contas são semelhantes às que apresentei em 2013. Qual terá de ser o PIB em 2015 para que 2,5% desse valor não seja superior ao défice actual? Ou qual terá de ser o PIB em 2016 para que 0,5% desse valor não seja superior ao défice de 2015? Como diria Guterres: É fazer as contas. Os cálculos são independentes do valor absoluto do PIB. Basta ter em conta os valores do crescimento do PIB e do défice. Dando o valor de 100 para o PIB de 2014 (que, de acordo com as previsões deve corresponder a cerca de 166 mil milhões de euros), e tendo em consideração o crescimento previsto de 1,1%, teremos um valor de 101,1 em 2015. Para não aumentar a receita nem reduzir a despesa do Estado, o valor do défice em 2015, em valor absoluto, não pode ser superior ao de 2014, ou seja 4% do PIB, 4 em valor absoluto. Como o défice só pode ser 2,5% do PIB, o crescimento de 1,1% é insuficiente; só um crescimento de 60% permitirá que 4 seja 2,5% do PIB em 2015. Este é um valor claramente impossível. Vamos agora ver que crescimento será necessário em 2015 para permitir um défice de 0,5% do PIB em 2016, ou seja, que um défice de 4, na mesma escala de PIB 100 em 2014, seja 0,5% do PIB de 2016. A impossibilidade é ainda superior, se é que uma impossibilidade pode ser superior a outra: O crescimento teria de ser de 400%.

Falando agora em euros, o PIB em 2014 de cerca de 166 mil milhões de euros teria de atingir 840 mil milhões de euros em 2016 para que o défice previsto para 2015 de 4200 milhões de euros fosse apenas 0,5% daquele último valor. A terceira via de Costa não é simplesmente viável.

Como não sou economista, admito que o meu raciocínio esteja errado. Muito agradeceria a quem me corrigissse, se for o caso. Se esse quem for António Costa, pedir-lhe-ei perdão. De qualquer modo, sempre gostava de saber qual a ideia dele para aumentar a riqueza.

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