segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ainda Vasco Graça Moura, no seu aspecto anti-acordo

Hoje de manhã vi na RTP que a micose designada como pé-de-atleta se deve escrever "pé de atleta" sem hífen! Não viu, quem fez a insensata regra de tirar o hífen às palavras compostas que adquirem novo significado, como a referida, que "pé de atleta" designa a extremidade do membro inferior de um indivíduo que pratique atletismo, enquanto que "pé-de-atleta" é uma doença, uma micose, que ataca os dedos dos pés de pessoas infectadas pelo fungo causador, sejam essas pessoas atletas ou não.

Claro que o chamado acordo ortográfico tem este e muitos outros disparates. Por isso, é de recordar o poeta e escritor que foi também um grande batalhador contra a desvirtuação da ortografia portuguesa, reunindo argumentos de peso no seu combate, incluindo alguns de ordem legal que deveriam ser tidos em conta para evitar a flagrante ilegalidade que é pretender obrigar a usar a ortografia adulterada em departamentos do Estado e principalmente, o que mais me dói, nas escolas.

Estou com Tavares Moreira, quando, num comentário a um post de Margarida Corrêa de Aguiar, diz:

«A melhor homenagem que poderemos tributar, de forma perene, ao grande português Vasco Graça Moura é continuar a escrever, tranquilamente (como sempre faço), em total indiferença a esse obnóxio acordo ortográfico

Assim farei.

Vasco Graça Moura

Soube com grande pena mas sem surpresa que morreu Vasco Graça Moura. Um dos poucos intelectuais completos. Admiro-o principalmente como tradutor, talvez por conhecer menos a sua obra de escritor e poeta. E ultimamente, admirava-o ainda como batalhador contra o aborto ortográfico que nos querem impor.

domingo, 27 de abril de 2014

Obrigado, mas não, obrigado

Tsipras, o líder do partido grego Sirisa, semelhente ao nosso BE, defende que "não há outra alternativa senão [Portugal e a Grécia] tentar renegociar a nossa dívida em conjunto". Agradecemos o convite, mas sucede que em Portugal só os 74 e alguns outros vêem vantagem numa renegociação, mas mesmo que se viesse, por absurdo, a decidir fazê-la, seria melhor não nos associarmos à Grécia, mas tentar a renegociação sozinhos.

Mas, segundo o título da notícia, mesmo antes da proposta renegociação, "exige perdão da dívida de Portugal e Grécia". Começa bem, exige primeiro e tenta negociar depois.

sábado, 26 de abril de 2014

25 de Abril

Pela sua relevância, decidi transcrever o post d'O Insurgente que promove a post o comentário seguinte:

«Pela sua relevância, decidi promover a post este comentário de FGCosta:

Vi há pouco Mario Soares a cantar o hino com Otelo, vi uma série de indivíduos todos mais ou menos adeptos de sistemas políticos repressivos assumirem-se como donos da verdade a dizer que a liberdade e democracia são corporizadas apenas por aquilo que eles defendem, ignorando que isso sempre foi uma escolha minoritária dos portugueses. Vi uma comunicação social, no dia em que se alegadamente se celebra a liberdade, fazer reportagens militantes.
Vi uma série de apelos ao ódio, vi ódio, vi fanatismo, vi ingenuidade, vi ignorância, vi política baixa. Vi, com a digna exceção de Eanes, apenas discursos formatados pela conveniência político-ideológica de cada um.
Um 25 de Abril como os outros, portanto. Curiosamente o único dia do ano em que, em nome da liberdade e democracia, os valores e escolhas de uma maioria dos portugueses são formalmente insultados. Um dia que celebra valores que deveriam unir, mas que é o clímax do divisionismo entre portugueses. O único dia do ano em que sinto falta de liberdade, em que só há democracia e só é democrata quem estiver de um lado, o único dia em que me sinto marginalizado como português.
Pegando nos slogans do dia, falta fazer o 25 de Abril do 25 de Abril.
»



Nem mais.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mais um mito sobre o antes do 25 de Abril

Mais um mito sobre o antes do 25 de Abril, e este debitado por quem devia saber porque contribuiu para transformar o antes num depois. "Durante o fascismo, apenas podiam votar os funcionários públicos e gente do poder", afirmou Otelo Saraiva de Carvalho. Eu, o meu pai e muitas pessoas da minha família e das minhas relações não éramos funcionários públicos nem "gente do poder" e não só podíamos votar, como votámos sempre que havia eleições. Outra coisa é saber se as eleições eram livres e justas e se os resultados eram autênticos. Claro que nada disto acontecia, mas não foi isso que Otelo disse. A afirmação revela um enorme desconhecimento do tal "fascismo" que combateu ou então uma distorção propositada do passado, de qualquer modo lamentável.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Elogio inesperado de Salazar

Cada vez estou mais espantado com as declarações de Mário Soares, mas hoje fiquei verdadeiramente boquiaberto: Soares, assegurando, como se fosse necessário, que não gostava de Salazar, reconheceu que este teve um grande mérito: "Nunca mexeu nos dinheiros públicos e isso é uma virtude." Suponho que Soares tem razão, e estas declarações têm a vantagem de evitar a noção politicamente correcta de que nada do que se fez no Estado Novo pode ser elogiado. Salazar teve esta virtude e certamente teve outras, mas é frequente criticar asperamente quem reconhece alguma virtude em personagens históricas criticadas. Ainda há pouco houve uma reacção contra alguém que admitiu que a política laboral de Hitler tinha alguma qualidade. É muito provável, acho eu, que Hitler, como Estaline, Mao e, mais modestamente, Salazar, Franco e outros líderes anti-democráticos ou mesmo tirânicos, tenham nas suas políticas e nos seus actos alguns aspectos positivos, por muito negativa que tenha sido globalmente a sua acção. Mas gostava de perguntar a Mário Soares se houve ou há outros governantes em Portugal que não tenham essa virtude de respeitar os dinheiros públicos. A resposta a esta pergunta ajudaria a compreender o verdadeiro alcance das suas declarações.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Antes do 25 de Abril até os autocarros eram maus

Não sou um saudosista do antes do 25 de Abril; pelo contrário, regozijei-me quando se deu e ainda acho que a democracia vale a pena e que mesmo este tipo de democracia representativa em que vivemos vale a pena, apesar de todos os defeitos que a nossa democracia apresenta. Mas há que reconhecer que se criou uma série de mitos sobre o antes do 25 de Abril.

Apenas 2 exemplos:
1 - Um amigo de um amigo meu escreveu que "se era preso e interrogado só por se discordar das ideias do governo". Sem querer desculpar os métodos da PIDE, quem viveu antes do 25 de Abril sabe que esta afirmação é um disparate. Creio que houve maior perseguição aos oposicionistas nos primeiros tempos do Estado Novo, principalmente até ao fim da Segunda Guerra Mundial, mas, nos tempos mais recentes, do que eu me lembro, conheci muitas pessoas, além de eu próprio, que discordavam frontalmente das ideias do governo e não eram presas nem interrogadas só por isso. Se expressavam publicamente, para além dum grupo familiar ou de amigos, as suas discordâncias, aí sim, podiam ser molestados. Se colaboravam com campanhas da oposição, por exemplo na altura de eleições, podiam ser prejudicados até profissionalmente, mas não soube de nenhum caso de prisão só por isso. Caso pertencessem a grupos organizados de tendência comunista, então o caso era mais sério. Mas ser-se preso "só por se discordar" não acontecia.

2 - Hoje, num canal de TV que apresenta pequenos filmes a preto e branco sobre o antes do 25 de Abril, passaram imagens dum autocarro da Carris de 2 andares, com as seguintes palavras: "Os autocarros tinham 2 pisos, eram verdes e estavam longe de ser confortáveis." Só uma verdade e dois erros na mesma frase: Verdade: Eram verdes; Erros: 1) Nem todos os autocarros tinham 2 pisos, só alguns; 2) Posso assegurar, porque fiz longas viagens diárias durante anos nestes autocarros, que eram tanto ou mais confortáveis que os autocarros actuais.

E se tivessem mais cuidado com este tipo de afirmações? Era mau, mas não é preciso exagerar.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Programa de Governo Freitas-Soares?

Ouço e espanto-me. Torno a ouvir e fico ainda mais espantado. E não percebo.

Que quer Freitas do Amaral ao dizer que são precisos novos partidos? Nenhum dos que existem lhe serve? Talvez por já ter fundado um e servido em outro de tendência exactamente contrária, já não gosta de nenhum. Que efeito tem dizer que são precisos novos partidos? Ele, Freitas do Amaral, pode fundar mais um, já sabe como é, mas não pode fundar muitos nem apagar os que agora existem. Que quer que os novos partidos que preconiza façam de diferente dos partidos que existem? Se preconizasse uma nova distribuição de poderes, uma nova legislação eleitoral, diferentes disposições constitucionais, coisas concretas, perceber-se-ia, mas assim, não se percebe.

Mário Soares é um caso mais grave: Em vez de preconizar o derrube do Governo pelo voto, como Freitas, preconiza que seja pela violência, como Vasco Lourenço. Só que, enquanto Lourenço quereria que os seus camaradas de armas derrubassem o Governo, por o considerar ilegítimo, mas reconhece que não há condições para isso, Soares julga que a queda do Governo é para já, e se não for a bem, será a mal (e na sessão da Aula Magna, pensava que a invasão da escadaria pelos polícias era já um sinal da queda do Governo, se não do regime). Que pensa Soares que se passará no dia seguinte à queda do Governo? Eleições? Será que isso resolve, na mente de Soares, os graves problemas que vê ou julga ver, como a destruição em curso do SNS, que segundo ele até já nem existe, e o fim do Estado Social? Que Governo preconiza? Com quem? Se, por milagre ou golpe de magia, Soares se visse amanhã com todo o poder, que faria? E com que dinheiro?

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Nada

Não se passa absolutamente nada nem em Portugal nem no resto do mundo. Só há futebol. Perante a vitória do Benfica, tudo o resto perdeu a importância.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Esperança para a Ucrânia

Finalmente uma boa notícia: Acordo em Genebra sobre a situação na Ucrânia entre representantes da própria Ucrânia (Governo interino), Rússia, EUA e Europa. Ficou definido que as milícias devem ser desarmadas e têm de se retirar de edifícios oficiais ocupados. Só não foi dito (pelo menos na notícia que eu ouvi) a quem caberá a dufícil tarefa de desarmar as referidas milícias, incluindo as pró-Rússia, ou mesmo russas segundo algumas suspeitas, formadas ao que parece por pessoal fardado, sem insígnias, e que parece bem treinado e, pelo menos nalguns locais, apoiado pela população ou por parte dela. Não vejo como será possível que a polícia ou o exército ucranianos tenham facilidade em proceder ao desarme, assim como me parece que não se prevê que militares russos sejam admitidos na Ucrânia com esse fim. Restam as possibilidades de serem elementos da ONU, ou então militares da NATO ou americanos, coisa que a Rússia terá dificuldade em admitir, ou europeus. Não acredito que o acordo tenha sido obtido sem discussão do modus faciendi, mas a notícia era completamente omissa. Fica a dúvida.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Escola da ditadura e escola actual

Segundo o DN, o actual director do Camões (agora já não Liceu Camões) respondeu diplomaticamente às apreciações positivas de Durão Barroso sobre a "cultura de mérito, exigência, rigor, disciplina e trabalho" que existiam no Liceu Camões no tempo em que lá estudou. O DN intitula a notícia "Durão Barroso nostálgico do ensino na ditadura". Este título é enganador e parece-me que o director do Camões errou o alvo ao sublinhar a descida drástica das taxas de analfabetismo como contraponto às qualidades apontadas. Como não conheço as declarações integrais de um e de outro, posso estar a laborar em erro ao apreciar a resposta. Mas pelos trechos transcritos é evidente que falam de coisas diferentes. É um facto que no tempo do Estado Novo, mesmo na época em que calculo que Durão Barroso frequentasse o Liceu, o analfabetismo apresentava taxas vergonhosas e que só uma minoria frequentava o ensino secundário (e o ensino superior era ainda mais minoritário). Mas esse facto não tem nada que ver com a qualidade do ensino que se ministrava já que a maioria dos analfabetos não chegara a frequentar a escola, e é mais uma consequência das circunstâncias económicas do País na época. Por outro lado, Durão Barroso não se referiu ao ensino na sua globalidade, mas sim às circusntâncias que testemunhou no seu liceu, para justificar a dádiva de parte do prémio que ganhara. Daí, acusá-lo de ser "nostálgico do ensino na ditadura" é injusto. Além disso, ou o jornalista se enganou e o comentário do actual director do Camões não era uma "resposta diplomática ao saudosismo de Barroso", mas sim uma crítica justa à situação de iletracia do tempo do Estado Novo, ou então a resposta não negava nada do que Barroso dissera e não diminuia o mérito do Liceu Camões e o seu merecimento da homenagem que Barroso lhe quiz prestar.

domingo, 13 de abril de 2014

Desfile folclórico

Hoje (Sábado 12) houve em Lisboa um bonito desfile de ranchos folclóricos, onde predominavam cantadores de cante alentejano vestidos a rigor e ceifeiras com os seus trajes tradicionais e lindos lenços multicolores. Foi bonito, mas é pena que os participantes fossem tão pouco numerosos.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Salário mínimo

A Dr.ª Manuela Ferreira Leite engana-se redondamente quando afirma, como fez há poucas horas, que o aumento do salário mínimo nacional é uma medida claramente positiva com a “qual todos concordamos". Há muita gente que não concorda. Para mais, a defender a sua ideia, MFL aduziu apenas questões de justiça e dignidade, sem uma palavra para as implicações na economia - nem negativas, nem positivas - e na estabilidade das empresas. Basta ler o que muitos economistas dizem sobre estas implicações para duvidar da bondade da medida, por muito que agrade aos trabalhadores que ganhariam com o aumento. Alguns dos que pensam que ganhavam, acabariam por lamentar a perda do posto de trabalho.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Democracia representativa

Há pouco, quando Vasco Lourenço reclamava na TV o facto de não o deixarem falar na Assembleia da República nas comemorações do 25 de Abril, alguém comentou a meu lado: "Mas ninguém votou neste tipo! Com que direito pensa ele que pode falar na casa da democracia?"

E ainda não sabíamos que tinha dito, numa entrev ista ao i, "Queremos usar da palavra de pleno direito, como usam os deputados e o Presidente". É mais uma prova de que muitos dos que fizeram o 25 de Abril não era a democracia que tinham em mente.

Más notícias precisam-se

A sanha da comunicação social em dar más notícias é tanta que procuram sempre redigir as informações de modo a realçar o pior cenário ou introduzem expressões que sugerem o pior. Mas transformar uma notícia positiva numa má notícia, não me lembro de ter acontecido... até agora. A notícia era que o FMI reviu em alta a projecção do crescimento da economia da zona euro. Foi dada do seguinte modo: "Afinal a economia portuguesa já não vai crescer mais do que a da zona euro". O crescimento português não foi revisto, só que se previa que o da zona euro fosse ligeiramente inferior e afinal parece que vão ser iguais. Mas, do modo como foi dada a notícia parece que somos nós que vamos crescer menos.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Afinal, em vez de 300 eram 800 milhões

Perguntei há dias quanto dinheiro havia afinal em caixa quando o País foi obrigado a pedir resgate financeiro, já que Teixeira dos Santos negara ser a quantia de 300 milhões de euros, que Durão Barroso tinha indicado. Soube posteriormente que Sócrates esclarecera que a quantia certa era 800 milhões. Como se perante as necessidades do Estado fizesse alguma diferença...

A nova Primavera para os povos europeus

O modelo francês para o socialismo, ou melhor, o modelo francês para a felicidade dos povos, falhou rotundamente, como os resultados das recentes eleições municipais francesas vieram confirmar. Foi o modelo que serviu de inspiração a Seguro, que agora não consegue encontrar uma alternativa mais consentânea com a realidade. A este propósito, Alexandre Homem Cristo escreve, n'O Insurgente, um "Obituário da esperança socialista" acutilante. Termina assim:

«Partindo do pressuposto que não é possível manter a esperança num homem que já nem em si mesmo acredita, seria bom que alguém avisasse os seguidores do hollandismo deste suicídio. Em particular, António José Seguro que, seguindo as pisadas de Hollande, recentemente prometia pôr fim à situação dos sem-abrigo – alguém se lembra quando, em campanha, o francês se anunciou como o futuro presidente da “justiça contra a pobreza”? A “nova primavera para os povos europeus” não chegará de Paris. Nem chegará pelos socialistas. Simplesmente, não chegará. Hollande aceitou-o. Está na hora de Seguro o fazer.»

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Empobrecimento sentido e empobrecimento real

Há pouco, no programa Olhos nos Olhos" da TVI24, Vítor Bento tentava explicar a diferença entre empobrecimento sentido e empobrecimento real. A explicação não era muito diferente do que eu aqui já escrevi e tornei a escrever: Pensávamos que não éramos pobres porque os empréstimos cobriam a diferença entre rendimento real e dinheiro disponível, enquanto a dívida ia crescendo. Quando o endividamento atingiu um tal grau que novos empréstimos se tornaram impossíveis, a pobreza torna-se finalmente perceptível. Claro que Vítor Bento explicou muito melhor, com a precisão e a clareza que lhe conhecemos e com o auxílio de um gráfico bem explícito. Medina Carreira deu também a sua achega. As perguntas de Judite Sousa, que temia que os telespectadores não tivessem compreendido bem, só serviram para atrapalhar. Temo muito que quem não estva a compreender bem era a própria Judite Sousa e não é a primeira vez que tenho esta impressão.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cuidado com o Otelo

Ao afirmar candidamente que as Forças Armadas têm não só o poder, mas mesmo o dever de deitar abaixo um governo mesmo demicraticamente eleito, Otelo acaba por deitar abaixo o resto de credibilidade que ainda poderia ter por ter sido uma peça fundamental do levantamento que permitiu que Portugal passasse a ser um país democrático.

Não era 300 milhões. Quanto era?

O ex-ministro Teixeira dos Santos veio desmentir Durão Barroso quando este disse que, no momento em que o governo de Sócrates pediu o resgate financeiro, o Estado só tinha em caixa 300 milhões de euros. Só é pena que Teixeira dos Santos não tenha esclarecido qual seria então a quantia em caixa. Ao afirmar que não era 300 milhões, deveria ter acrescentado quanto era; talvez 301!

Sem-abrigo

A acreditar na comunicação social, Seguro terá prometido que, quando for primeiro ministro, acabará com os sem-abrigo no período de uma legislatura. A ser verdade, sempre gostava de saber como pretenderá Seguro cumprir esta promessa. Será atribuindo a todos os sem-abrigo o RSI? Será internando-os à força na Mitra (se é que ainda existe Mitra) ou numa instituição que faça o papel que fazia a Mitra? Será prendendo-os todos? E, em qualquer destas hipóteses, como é que na prática obrigará todos os sem-abrigo a aceitar a solução proposta? Será necessário um corpo especial de fundionários da Segurança Social a percorrer as ruas das principais cidades e com poderes para obrigar os sem-abrigo a obedecer?

Ficam as interrogações, mas desde já, para ajudar Seguro a cumprir o que prometeu, lembro dois locais que servem de abrigo aos sem-abrigo e onde os funcionários que puserem em prática a solução que vier a ser adoptada se devem dirigir: a Praça de Figueira e as janelas térreas do Pavilhão de Portugal no Parque das Nações.

De qualquer modo, será uma proeza digna de um grande estadista e servirá de exemplo a cidades como Paris e Nova Iorque, entre muitas outras. Os amigos de Seguro, Hollande e Obama, enviarão certamente observadores para aprender como se faz.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Será a palavra reestruturação que mete medo?

Tenho ouvido muitas pessoas, entre elas até alguns economistas, que acham que o que está errado no manifesto dos 70 (ou dos 74 ou seja lá de quantos for) é a palvra reestruturação. Dizem que quando se fala em reestruturação, quem ouve pensa logo em perdão da dívida, pelo menos parcial. Claro que a palavra assusta, mas, quer se pretenda uma reestruturação quer se fique por uma negociação, o que se pretende? Claramente, e o manifesto explica-o muito bem, pretende-se um alívio do esforço, seja por extenção dos prazos, isto é, adiamento das maturidades, seja por redução da taxa de juro. Como já aqui citei, Conraria mostrou em pormenor n'A Destreza das Dúvidas que o valor actual de um crédito baixa quer se faça um alargamento dos prazos, quer se consiga uma baixa de juros, do mesmo modo que se obtenha um perdão parcial da dívida. O resultado é sempre o mesmo, como já tinha sido defendido no “Sovereign Debt Restructurings 1950–2010: Literature Survey, Data, and Stylized Facts” do FMI.

Hoje, na SIC, Vítor Bento explicou esta equivalência em pormenor, mostrando claramente que, qualquer que seja o tipo de reestruturação ou de renegociação, os credores perdem parte do valor que tinham contratado, pelo que exigirão sempre um maior prémio para voltar a emprestar ao mesmo devedor. QED.