quarta-feira, 26 de março de 2014

As eleições municipais francesas e a desinformação

Deixei passar uns dias desde primeira volta das eleições municipais francesas do último domingo não só por preguiça para escrever mas também para ter a certeza do que desconfiei desde Segunda de manhã: A comunicação social não soube ou não quis informar rigorosamente os resultados desta jornada. Tivesse sido um torneio de futebol e teríamos tido numerosos programas e reportagens, comentadores e especialistas a escalpelizarem os resultados. Mas toda a informação foi escassa, atrasada e incompleta. Vejamos:

As notícias focaram principalmente o avanço da extrema direita de Marine Le Pen, quer nos textos, quer nas imagens. Claro que este avanço, se bem que já esperado, foi digno de ser salientado. Mas chegar a omitir os resultados de outras formações para referir apenas a boa classificação do Front National não é certamente dar uma informação completa. Afinal, o Front National cresceu muito, mas a partir de uma base muito baixa, e ficou ainda muito aquém dos resultados dos principais partidos. Parece que o objectivo de salientar de tal modo a "vitória" da extrema direita era meter medo dum regresso do fascismo a países democráticos, fazendo temer a fragilidade da democracia.

Em segundo lugar, em muitas notícias os resultados da UMP foram omitidos. Nas notísias mais pormenorizadas, os resultados mais citados foram baseados nas primeiras projecções, que davam uma pequena diferença entre a UMP (47%) e o PSF (41%) e um crescimento do FN (7%) que não se confirmou, e não rectificaram posteriormente esses resultados, que afinal se afastavam dos finais. O Ministério do Interior francês divulgou, ainda no Domingo à noite, os dados globais e finais: Extrema esquerda: 0,58%; Esquerda: 37,74%; Direita: 46,54%, Extrema direita: 4,65%. Portanto a derrota da esquerda foi muito maior do que o anunciado com base em dados prematuros e o crescimento da extrema direita foi muito inferior ao inicialmente estimado, pouco mais de metade da projecção largamente noticiada. Os resultados oficiais estavam acessíveis para quem quisesse, mas, por exemplo o Expresso, às 21:48 de Domingo ainda só dava a projecção atrasada.

Espero que na segunda volta a informação seja mais completa e mais exacta.

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