sábado, 8 de fevereiro de 2014

Miró

Já que todos falam no Miró e todos têm opinião firme sobre a conveniência ou o desastre, conforme os casos, de trocar as suas obras ex-propriedade do BPN por patacos (muitos patacos, mas uma gota de água comparado com o que o BPN nos está a custar), não vejo como não dar também a minha opinião sobre Miró e a sua obra. Leio no 31 da Armada: «Miró era um surrealista, mas o caso das obras que pintou e foram parar às mãos do BPN e, depois, às do Estado português, é um retrato neo-realista, do mais cruel, da contemporaneidade nacional.» Ora aí está. A primeira vez que ouvi uma jornalista dizer que Miró era surrealista, pensei que a senhora sabia pouco de arte. Afinal eu é que estava enganado; todos afirmam que era mesmo surrealista, o próprio, ao que parece se considerava surrealista. Para mim o surrealismo era mais como os quadros de Dali ou os desenhos de Cruzeiro Seixas: reconhecem-se os corpos e os objectos, só que a combinação destes é fora da realidade comum, por isso é surreal. O Vespeira também é considerado surrealista, e admito que com certa razão, embora em geral as formas dos seus quadros sejam menos reconhecíveis, mas insinuam qualquer coisa. Já os quadros de Miró não representam coisas reais nem surreais, são formas quase sempre irreconhecíveis e que nada insinuam. Se Miró pretendia representar qualquer coisa, para mim não conseguiu. Claro que esta é a opinião de um ignorante em arte.

Surreal é mesmo a controvérsia do vende, não vende, leiloa, não leiloa. Alexandre Borges, no 31 da Armada, acha o caso neo-realista. Para mim é mesmo surrealista. Não Miró, não os quadros, mas a controvérsia. Por isso ligo tanto ao caso como o gato do meu filho.

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