domingo, 5 de janeiro de 2014

O pai perdulário

A família do Sr. Dias vivia bastante bem. Os rendimentos do trabalho do Sr. e da Sr.ª Dias davam para todas as despesas normais de uma vida relativamente desafogada e sem preocupações e ainda sobrava algum. Dava ainda para sustentar, vestir e tratar o menino Dias, dar-lhe uma semanada algo generosa e comprar-lhe brinquedos e jogos mesmo fora das épocas mais propícias a presentes, como o Natal e os aniversários. Mas com o tempo esta situação começõu a degradar-se. A empresa onde trabalhava o Sr. Dias faliu e, embora tenha conseguido novo emprego em relativamente pouco tempo, o salário do novo trabalho era muito inferior. A Sr.ª Dias manteve, felizmente, o seu posto como funcionária do Estado, mas a crise fez com que também passasse a ganhar menos, enquanto os impostos aumentavam. O casal e o rebento conseguiram manter um nível de vida pouco alterado gastando as suas poupanças e depois devido a terem conseguido empréstimos de bancos com que tinham relações antigas. Um dia, a Sr.ª Dias viu qye a situação era insustentável e convocou o Sr. Dias para uma reunião em que a insuficiência dos rendimentos para manter o nível de gastos, e ainda pior, as prestações correspondentes aos juros e a amortizações dos empréstimos começavam a pesar no orçamento. A reunião foi longa e o menino Dias, no seu quarto, ouviu a mãe, já um pouco exaltada, exigir, entre outras reduções de custos, que as semanadas fossem cortadas e a aquisição de brinquedos reduzida ao mínimo. As outras coisas pouco interessaram ao menino Dias, mas estes cortes chocaram-no, sentindo-se atingido nos seus direitos adquiridos. Dormiu mal e no dia seguinte abordou o Sr. Dias e queixou-se da decisão dos pais. O Sr. Dias, que não estava nada satisfeito com as exigências de contenção de despesas da esposa, e que supunha que alguma solução havia de lhe ocorrer para continuar a gastar como costumava, teve uma enorme compreensão pela reclamação do filho e negou-se terminantemente a seguir as ideias da Sr.ª Dias, alegando o princípio da confiança que a criança tinha em poder continuar a receber semanadas e presentes, pensando, sem o referir expressamente por precaução, que também ele tinha direito a abrigar-se ao mesmo princípio. Os dias passaram para a família Dias, mas em pouco tempo a verdade veio ao de cima e o crédito foi-lhe cortado. À beira da bancarrota, as despesas tiveram subitamente de ser reduzidas a fim de não perderem a casa e o carro e o princípio da confiança não passou disso mesmo: um princípio que não se aplicada quando a realidade se impõe.

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