sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Última oportunidade perdida

A crise em que vivemos desde 2007 é uma crise complexa, com numerosas facetas. Há quem lhe chame crise do euro, não tendo em conta que o euro, como moeda, continua de boa saúde. Como dizia Mark Twain, a notícia da sua morte anunciada foi grandemente exagerada. Também lhe chamam crise da dívida, aí, parece-me, com mais propriedade, talvez, ainda mais, seja uma crise das dívidas, seja das dívidas soberanas, seja das dívidas públicas ou ainda das dívidas das sociedades. Mais simplesmente há quem diga que é uma crise financeira, para alguns que deu origem a uma crise económica. Talvez seja afinal uma crise do capitalismo.

Se esta última designação parece justa, é surpreendente que a esquerda revolucionária, guiada pela sua fé nas previsões do Socialismo Científico, não tenha conseguido aproveitar nenhuma das ocasiões que desde 2007 se lhe ofereceram para criar situações que possam vir a provocar o aprofundamento da luta de classes com vista à revolução inevitável que, acabando com o capitalismo, acabe com a crise. Os grandes movimentos de massas, que entre nós tiveram a sua expressão máxima na grande manifestação de 15 de Setembro, não conseguiram manter o ritmo. Nem cá, nem em Espanha, nem nos Estados Unidos, com o movimento Ocupy Wall Street, nem noutras paragens. Ao contrário do que muitos previam, as manifestações foram tendo cada vez menos participantes e, embora incómodas, tornaram-se inofensivas para a sobrevivência dos regimes democráticos e do capitalismo. Como muito bem escreveu Miguel Castelo Branco, «As revoluções não se deram, como as rebeliões mostraram à saciedade - para desencanto dos revolucionários - que os mais expostos às devastações produzidas pela crise não reclamavam a revolução, mas o retorno aos tempos dourados do consumismo, do bem-estar e da despreocupação anterior à crise». E não parece que os movimentos revolucionários, apesar do estrebuchar que ainda consegem, consigam aproveitar esta oportunidade para chegarem aos amanhãs que cantam.

Sem comentários: