sábado, 28 de dezembro de 2013

A IKEA não terá lojas em França?

A notícia parece incrivel, mas é verdade. Estabelecimento multado em 9000 € por deixar os clientes devolverem os copos vazios ao balcão. Foi considerado que admitia trabalho não declarado e multado! Note-se que a notícia não diz que o estabelecimento obrigava os clientes a esse "serviço", só afirma que os clientes o faziam. Nem a ASAE se atreveria a tanto.

Mas surge-me uma pergunta: Nos restaurantes das lojas IKEA os clientes são delicadamente convidados a levar, no fim das refeições, as bandejas servidas com os pratos e os restos a locais de depósito, o que é geralmente praticado. Também noutros estabelecimentos se passa o mesmo, como no piso de restaurantes do Centro Comercial Vasco da Gama ou nos bares Jeronymo, mas como a IKEA é uma multinacional, ao contrário dois outros exemplos conhecidos onde este "serviço" é solicitado, pergunto-me se também em França a IKEA fará a mesma solicitação. Se o faz, é melhor parar e contratar mais trabalhadores para irem buscar as bandejas às mesas, aumentanto evidentemente os preços dos alimentos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Última oportunidade perdida

A crise em que vivemos desde 2007 é uma crise complexa, com numerosas facetas. Há quem lhe chame crise do euro, não tendo em conta que o euro, como moeda, continua de boa saúde. Como dizia Mark Twain, a notícia da sua morte anunciada foi grandemente exagerada. Também lhe chamam crise da dívida, aí, parece-me, com mais propriedade, talvez, ainda mais, seja uma crise das dívidas, seja das dívidas soberanas, seja das dívidas públicas ou ainda das dívidas das sociedades. Mais simplesmente há quem diga que é uma crise financeira, para alguns que deu origem a uma crise económica. Talvez seja afinal uma crise do capitalismo.

Se esta última designação parece justa, é surpreendente que a esquerda revolucionária, guiada pela sua fé nas previsões do Socialismo Científico, não tenha conseguido aproveitar nenhuma das ocasiões que desde 2007 se lhe ofereceram para criar situações que possam vir a provocar o aprofundamento da luta de classes com vista à revolução inevitável que, acabando com o capitalismo, acabe com a crise. Os grandes movimentos de massas, que entre nós tiveram a sua expressão máxima na grande manifestação de 15 de Setembro, não conseguiram manter o ritmo. Nem cá, nem em Espanha, nem nos Estados Unidos, com o movimento Ocupy Wall Street, nem noutras paragens. Ao contrário do que muitos previam, as manifestações foram tendo cada vez menos participantes e, embora incómodas, tornaram-se inofensivas para a sobrevivência dos regimes democráticos e do capitalismo. Como muito bem escreveu Miguel Castelo Branco, «As revoluções não se deram, como as rebeliões mostraram à saciedade - para desencanto dos revolucionários - que os mais expostos às devastações produzidas pela crise não reclamavam a revolução, mas o retorno aos tempos dourados do consumismo, do bem-estar e da despreocupação anterior à crise». E não parece que os movimentos revolucionários, apesar do estrebuchar que ainda consegem, consigam aproveitar esta oportunidade para chegarem aos amanhãs que cantam.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Professores

Qual é o pai ou a mãe que fica descansado ou descansada sabendo que os seus filhos estão entregues a professores que podem eventualmente pertencer ao grupo dos que rasgaram provas, invadiram salas onde os colegas estavam realizando a prova, tentaram impedir a entrada dos colegas no estabelecimento ou fizeram o máximo de ruído para perturbar o acto? Que legitimidade têm estes professores para educarem, ensinarem, manter a disciplina, exigir que os alunos façam testes e exames, vigiar estas provas?

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Legitimidade

Quem defende que este Governo perdeu a legitimidade por propor medidas que são posteiormente consideradas inconstitucionais esquece que a legitimidade do Governo vem do voto popular, enquanto que a Constituição nunca foi submetida a qualquer votação. Não defendo que por isso a constituição seja ilegítima ou não deva ser respeitada; o que afirmo é que a legitimidade do Governo está para além da Constituição. A legalidade é sempre garantida pelo facto de o Tribunal Constitucional poder sempre vetar legislação proposta pelo Governo, mesmo que votada no Parlamento pelos representantes da Nação. Não cabe, portanto, ao Governo o juízo final sobre a concordância das normas que propõe com os preceitos constitucionais, já que existe um órgão próprio para exercer esse juízo. Quando o Governo acata as decisões do TC, está agindo dentro da mais estrita legitimidade e a mais não deve ser obrigado, o que me parece pacífico, concorde-se ou não com as medidas do Governo, concorde-se ou não com as decisões do TC.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Marxismo

Segundo o DN Globo, o Papa Francisco "assegura que não é marxista, mas afirma que não se sente ofendido quando o denominam como tal" porque "A ideologia marxista está equivocada, mas na minha vida conheci muitos marxistas boas pessoas, por isso não me sinto ofendido". Também na minha vida tenho conheçido marxistas boas pessoas, certamente não tantos como Francisco, mas alguns, no entanto não gostaria que me chamassem ou julgassem que sou marxista porque considero o marxismo uma doutrina não só equivocada mas além disso perniciosa. Penso que o Papa não conhece o ditado português que diz que "De boas intenções está o Inferno cheio", a que se poderia acrescentar "De boas pessoas está o Purgatório cheio".

Peter O'Toole

Noticiaram hoje a morte do actor Peter O'Toole. Todos os canais de televisão que noticiaram o falecimento do grande actor referiram que ficou especialmente conhecido como intérprede de Lawrence da Arábia, mas ninguém referiu mais nenhum dos numerosos filmes em que entrou, muitos em papeis importantes que lhe valeram mais 7 nomeações para Oscars, além da do papel de Lawrence. Esqueceram filmes como O Leão no Inverno, Adeus, Mr. Chips, Como roubar um milhão, Calígula, Masada, O Último Imperador e muitos outros. De facto, entre 1960 e 2011, O'Toole participou em 71 filmes. Nos poucos que vi representou sempre com grande arte e com uma presença notável. Merecia bem referências mais alargadas do que referir apenas o papel de Lawrence.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Schäuble mantém cargo

A alegria dos socialistas e da esquerda em geral após se conhecerem os resultados das eleições na Alemanha, por Merkel não ter conseguido a maioria absoluta, sofreu agora, 3 meses depois, um sério revés ao ser conhecida a composição do Governo de coligação com o SPD: Schäuble, o braço direito de Merkel, mantém o cargo de Ministro das Finanças. Sócrates deve estar muito triste com este resultado que mantém aquele a que chamou "estupor" no centro do poder e Mário Soares está também, certamente, muito desiludido com os seus amigos alemães por não terem conseguido desalojar o ministro alemão que mais detesta. A alegria não durou muito.

74

Tudo me espantou no caso dos 74 alegados sírios que chegaram a Lisboa num avião da TAP vindos de Bissau. Logo porque não julgava possível na actualidade o facto em si de na Guiné-Bissau coagirem a tripulação da TAP a aceitar no voo os 74 indivíduos, apesar de terem sido detectados sinais de contrafacção nos passaportes. Mas o que mais me espantou foi o facto destes indivíduos, pelos vistos indocumentados, visto que os documentos que apresentaram são considerados falsos, terem sido autorizados a entrar e permanecer no território nacional e a circularem livremente pelo País. De vez em quando há notícias de que estrangeiros indocumentados são expulsos do País; como é possível que estes tenham tratamento especial? Depois chocou-me saber que estão hospedaddos e alimentados a expensas do contribuinte português com direito a dieta especial sem porco "devido à sua cultura"; com direito a serem servidos à mesa por criadas fardadas, quando em qualquer cantina de empresa ou nos restaurantes de "pronto a comer" o cliente tem de levar a sua bandeja para a mesa. Justifica-se este tratamento de VIP a pessoas que entraram ilegalmente no País, de que não se sabe ao certo a nacionalidade nem a verdadeira proveniência nem porque estão cá e não num dos países por que passaram na sua deambulação? Merecem mais do que os sem-abrigo a quem se dá um jantar pago por caridosos e por mecenas uma vez por ano pela época do natal? Merecem hospedagem e alimentação grátis quando não se sabe se são verdadeiramente carenciados, quando há tantos carenciados em Portugal?

sábado, 14 de dezembro de 2013

Incoerência ou mudança de opinião?

Seguro levou anos a criticar o Governo por não pedir mais tempo e mais dinheiro para Portugal cumprir o programa de ajustamento, mais tempo e mais dinheiro do que o seu partido tinha negociado, recorde-se. Agora critica o Governo por admitir que podemos vir a necessitar de um programa cautelar. Prefere um regresso súbito aos mercados. Não haverá alguma incoerência nestas críticas?

Nadir

Morreu Nadir Afonso. Não sou apreciador especial de arte abstracta, mas as pinturas de Nadir Afonso sempre me impressionaram pelo que me fazem pensar em paisagens imaginárias ou cidades ideais. Considero Nadir Afonso um dos maiores pintores portugueses contemporâneos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Recessão acabou

O INE confirma o fim da recessão, com um crescimento de 0,2% em cadeia no 3.º trimestre, embora aquele indicador esteja ainda inferior ao valor do mesmo período do ano passado. Por outro lado, a OCDE divulga dados que indicam boas expectativas de recuperação da economia portuguesa.

Perante estas notícias a oposição fica muda, mas pelas caras tristonhas de alguns políticos de esquerda adivinha-se a tristeza que lhes vai na alma: Como convencer agora o povo a repetir as grandes manifestações de há tempos? Como continuar a afirmar que há inevitavelmente uma espiral recessiva?

domingo, 8 de dezembro de 2013

ENVC

Não tenho opinião formada sobre o caso dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, pois não disponho de informações que me permitam ter uma posição baseada em factos e não em pressupostos ou em simpatias. Admito que a empresa possa ter sido viável e que a solução a que finalmente se chegou não seja a melhor. Resta saber "melhor" para quê. Pode ser que a melhor solução para os trabalhadrores não seja a melhor para o País ou vice-versa. Pode ser que depois de vários governos deixarem arrastar o problema já só seja possível uma solução menos pior. Espero que a Martifer possa aproveitar todos os trabalhadores competentes e que assegure a sobrevivência da empresa, mas não sei se isso é possível.

No entanto, com todas estas interrogações, fiquei seriamente desconfiado com a nova reunião de esquerdas na defesa da continuação do statu quo dos ENVC e contra o Governo. Quando Mário Soares aparece, como nesta embrulhada, coligado com o PCP e com o BE, o que começa a ser cada vez mais frequente, é para atacar as soluções do Governo, independentemente de serem ou não adequadas. Neste caso, esta estranha coligação de esquerdas com posições tão irroconciliáveis leva-me a desconfiar que afinal a solução que condenam será mesmo a melhor. Pelo menos, os trabalhadores recebem chorudas indemnizações que lhes farão muito jeito, mesmo que o coordenador diga que não querem dinheiro, querem trabalho. Até provavelmente vão ter as duas coisas.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nabos

A NASA vai experimentar cultivar na Lua nabos. Bem podia ter escolhido outra cultura, que nabos já cá temos muitos.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Números

A ideia que alguns espalham de que o "povo" está massivamente contra o Governo e a sua política (austeridade, privatizações, estado mínimo, "destruição do estado social", "destruição da escola pública", "destruição do SNS", etc.) é desmentida pelas sondagens. Depois das últimas legislativas, o PSD teve uma descida rápida seguida de uma quase estabilidade, enquanto o PS teve uma variação completamente inversa, uma subida rápida e depois um patamar. Quanto ao CDS/PP desceu, mas principalmente depois da tentativa de demissão de Paulo Portas. Quem mais cresceu foram os partidos de extrema esquerda e principalmente o PCP. Que resulta destas trajectórias? Uma maioria estável para o PS mas que não chega para poder governar sem ajuda. O PSD segue a 4 a 10 pontos percentuais de diferença, o CDS apresenta grandes variações, mas raramente consegue mais de 10%, o PCP estabilizou à volta dos 10% e o BE não consegue crescer mais do que 7 a 8%.

Segundo a última sondagem conhecida, da Aximage em 9 de Novembro, o PSD e o CDS em conjunto ultrapassam o PS, como tem acontecido na maioria das últimas sondagens. Há, sem dúvida, uma maioria de esquerda, mas de que vale se as esquerdas não se entendem nem podem entender-se devido às ideias políticas tão diferentes e em certos aspectos importantes, como a atitude perante o resgate e a dívida, absolutamente opostas? E apesar da maioria de esquerda, a percentagem dos potenciais votantes na actual maioria, superior, como se disse, à do próprio PS, não é de molde a permitir afirmar que o Governo perdeu a sua base de apoio popular.