quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cavaco Silva aterrorizado

Na sessão de apresentação do seu último livro, "A esperança é necessária”, Mário Soares apresentou teses que considero pelo menos controversas, para não dizer disparatadas.

A principal foi a tirada em que afirmou que "O Presidente da República mandou o diploma do corte de pensões para o Tribunal Constitucional por ter ficado aterrorizado depois da sessão que fizemos na Aula Magna" (citado de memória). Estou mesmo a ver Cavaco Silva aterrorizado, talvez mais ainda do que os banqueiros internacionais tremeriam se nós disséssemos "Não pagamos!", como alguns preconizam. Cavaco com as pernas a tremer de medo, talvez escondido num armário, receando a violência que Soares anunciou...

Outra foi ter considerado que "O Papa disse que isto vai resultar em violência dois dias depois de eu dizer". Claro que Soares não se atreve a supor que o Papa o imitou, mas a afirmação de haver uma concordância não tem em conta que o Papa não se freferia, obviamente, à situação portuguesa, mas ao ambiente mundial, o que é completamente diferente. Uma coisa é pensar que o "capitalismo selvagem", a que o Papa aludiu, pode levar a reacções violentas em algumas regiões do mundo por causa das desigualdades a que alegadamente dá origem, outra muito diversa é prever que a acção do Governo português vai inevitavelmente dar origem a violência a breve trecho, como defendeu Soares. A propósito: Não estou com os que acusam Mário Soares de incitamento consciente à violência; Penso sim que a justificação da violência como reacção inevitável é tão perniciosa como o incitamento. E isto aplica-se não só ao ex-Presidente, mas a outros interlocutores que o acompanham nestas andanças.

Se não disparatada, foi pelo menos muito exagerada a forma como criticou a chefia do PS: "Se o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90 por cento com certeza". Concordo que entre as causas de o PS não despegar nas sondagens que o põem muito longe da maioria absoluta estará certamente a fraqueza da sua liderança, a ausência de ideias firmes de Seguro e a inconsequência das críticas ao Governo repetidas monotonamente. Mas há outras causas, como a lembrança da acção de Sócrates que nos levou à beira da banca-rota e o modo como o Governo PS negociou o resgate com a troika, origem de muitos dos graves problemas que atravessamos agora. Se o PS fosse um bocadinho mais activo talvez conseguissa alcançar um bocadinho mais do que os 32 a 37% dos votos que as últimas sondagens prevêem. Se além de mais activo fosse também mais certeiro nas suas críticas e capaz de apresentar alternativas viáveis, teria um pouco mais, mas a maioria absoluta para o PS tem sido uma excepção e falar em 90% é uma piada de mau gosto.

A novela Mário Soares continua a dar que falar, mas só faz pena e não dá vontade de rir. Suponho que o livro agora dado à estampa padecerá do mesmo mal.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

TC aprova 40 horas

aqui dei a minha opinião sobre a questão do aumento de trabalho dos funcionários públicos para as 40 horas semanais. Por uma vez o Tribunal Constitucional foi da mesma opinião que eu. Desta feita venceu o princípio da equidade em detrimento do da confiança, isto é, deixou de haver trabalhadores previlegiados (apenas neste aspecto do horário de trabalho), mas os funcionários públicos viram traída a confiança que tinham de que o patrão Estado lhes tinha atribuído um horário mais leve do que o dos trabalhadores privados e que esse previlégio duraria até à reforma. Não durará, apesar da decisão do TC ter sido obtida apenas por 1 voto de vantagem.

domingo, 24 de novembro de 2013

Comunismo e direitos humanos

Estou certo de que Marcelo Rebelo de Sousa não é comunista nem cripto-comunista e nem sequer simpatiza muito com a doutrina comunista. Nem creio que MRS considere que os comunistas são defensores sinceros dos direitos humanos. No entanto deixou sair uma frase que parece ter essa ideia: No seu programa semanal de comentário na TVI, referindo-se ao Presidente Kennedy, disse que este, "apesar do seu anti-comunismo, era um defensor dos direitos humanos". O "apesar" deve ter-lhe escapado sem pensar.

O ADN de São Pedro

Na SIC noticiaram a exposição pela primeira vez na história de alguns fragmentos ósseos de São Pedro. Segundo a notícia, os ossos, descobertos numa escavação em 1940, foram atribuídos pelo papa Paulo VI ao Apóstolo Pedro pelo local, pelas circunstâncias do achado e ainda pelas características físicas. No entanto, acrescenta a notícia, não há testes de ADN que confirmem a conclusão. Não compreendo como seria possível qualquer confirmação por testes de ADN; seria necessário comparar o perfil de ADN com antepassados ou descendentes do santo. Por análise do ADN apenas é possível saber a identidade do indivíduo por comparação com amostras do próprio ou de parentes próximos. Quando muito seria talvez possível determinar o grupo étnico a que pertencia, mas dado que na época existiriam muitos milhares de judeus esta determinação não permitiria qualquer identificação. Uma determinação de carbono-14 poderia indicar a época em que viveu o dono dos ossos, mas ainda é pouco para se poder dizer se era ou não São Pedro ou um qualquer seu contemporâneo. Parece-me que a atribuição feita pelo papa Paulo VI é mais uma questão de fé.

Esquerdas

Com a promoção da reunião desta Sexta-feira em defesa da Constituição (e de ataque ao Governo e ao Presidente da República), Mário Soares tentou lançar o embrião de uma frente ampla que reunisse toda a esquerda e sectores de independentes e de direita críticos das políticas do Governo e das medidas de austeridade. Uma vez que a participação da direita se resumiu quase à presença de Pacheco Pereira, foi fundamentalmente uma reunião das esquerdas. Soares estava visivelmente satisfeito e foi muito cumprimentado. A sua ideia de contribuir para a formação de uma "frente patriótica" e "reunir os patriotas" através do "Congresso de Esquerdas" tinha tido um início bem conseguido.

O pior estava para vir, mas não demorou muito. Logo após as 11 da noite, no programa "Expresso da meia-noite", a troca de argumentos entre João Oliveira, líder parlamentar do PCP, e Pedro Silva Pereira, ex-ministro do PS, mostrou que a reunião de patriotas não é tão fácil como Mário Soares pretende.

sábado, 23 de novembro de 2013

Descida da dívida pública não é notícia importante

Há 2 dias a SIC-Notícias noticiou brevemente em roda pé que a dívida pública tinha "caído" para 128,8% do PIB. Mais uma vez, como era uma notícia positiva, não lhe foi dado o devido relevo. Não vi nem ouvi nada sobre esta descida em qualquer outro órgão de informação assim como não dei por qualquer repetição nem desenvolvimento no próprio canal onde vi a notícia. Também não dei por nenhum comentador ter salientado o facto. Só depois, numa busca na net, confirmei que vários outros meios de comunicação, como o Jornal de Negócios online, deram a notícia, mas foi tudo tão discreto que só procurando se acha. Verifiquei não só que a descida foi acentuada (2,6 pp) como foi a primeira baixa desde final de 2011. Se tivesse sido um aumento da dívida, calculo as parangonas, os comentários e as repetições, com várias conclusões catastrofistas e acusações às políticas do Governo que tinham levado a tal resultado. Assim foi tudo muito discreto. Pouparam-se os foguetes, já que continua a ser tempo de crise.

O programa político muito democrático de Mário Soares e companheiros

Do blog (Im)pertinências:

«22/11/2013
ESTADO DE SÍTIO: Democracia, legitimidade e eleições são como, se e quando eles quiserem, respectivamente. Voilà.

«Vamos pegar na nossa criatividade, energia e imaginação e vamos fazer-lhes frente até que sejam corridos.» «Não são cortes nem poupanças o que estão a fazer. São roubos o que eles estão a fazer. A violência é legítima para pôr cobro à violência.» Helena Roseta, presidente da AM de Lisboa

«Estamos aqui em legítima defesa colectiva da Constituição perante a agressão das políticas do Governo.» Pedro Silva Pereira, dirigente do PS

«Estamos a caminho de uma nova ditadura». «É preciso ter a consciência de que a violência está à porta. Com um Governo completamente paralisado e sem rumo, que não dialoga com o povo, e um Presidente da República que só pensa em manter o seu partido, estamos todos dias a criar o desespero e a violência. É por isso que digo que o Presidente e o Governo devem demitir-se.» Mário Soares, ex-presidente da República

«Eles ou saem enquanto têm tempo ou qualquer dia, como dizia há uns dias em Alcaçovas, vão ser corridos à paulada, se não for pior». «Capitão de Abril» Vasco Lourenço

«Não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma mas a atacar. A iniquidade, a injustiça, o desprezo, o cinismo dos poderosos para quem a vida decente de milhões de pessoas é irrelevante, é entendida como um custo que se deve poupar.» José Pacheco Pereira

Exortações de verdadeiros democratas na conferência «Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social» que terminou com o Hino Nacional.

«Está na hora do Governo ir embora.» «A polícia unida jamais será vencida». Palavras de ordem dos polícias em manifestação frente à Assembleia da República

Memo to the file: «Mas que tal se os meus críticos se pronunciassem … sobre esta fabulosa arrogância que é considerar que as eleições só são boas, dignas e “livres” quando o “povo” vota em nós? Sobre a acusação ao “povo” que é “feio, porco e mau” quando não vota à “esquerda”?» (José Pacheco Pereira em Janeiro de 2006).

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Participação

Não é só o número de manifestantes nas iniciativas da CGTP e de outros grupos como o Que se Lixe a Troika que têm estado a diminuir; a assistência e a participação nas reuniões promovidas por Mário Soares também sofreram grandes baixas da anterior reunião contra a Austeridade, que encheu completamente a Aula Magna e obrigou muitos participantes a assistirem de pé, para a de ontem, alegadamente na defesa da Cosntituição mas realmente contra o Presidente da República e o Governo, em que a sala estava mais ou menos composta mas longe de estar cheia, notando-se muitos lugares vazios. Claro que não esqueço a manifestação das polícias que decorreu ao mesmo tempo e que reuniu milhares de participantes, mas essa só se pode calibrar com a dos secos e molhados que decorreu nos tempos de Cavaco Primeiro Ministro e não sei dizer se em participantes foi mais ou menos numerosa.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ordens de Bruxelas: há que obedecer!?

Notícias de hoje:

1) Bruxelas dá 2 meses a Portugal para resolver a situação dos professores contratados. A primeira notícia  era tão sucinta que não dava para avaliar qual era o problema e que resolução era requerida nem que autoridade tem Bruxelas para dar ordens e fixar prazos. Depois houve uma notícia mais desenvolvida: O facto de haver professores contratados cujos contratos são sistematicamente renovados está contra uma qualquer regra comunitária. Estes professores devem passar para o quadro. Fico sem saber que regra é esta. Sei que a lei portuguesa fixa para os contratos de trabalho privados um número de renovações máximo nos contratos a termo certo, salvo erro 3 vezes. Após este número de renovações, o trabalhador tem de passar a contrato sem prazo ou ser despedido. Desconheço se exista qualquer regra para o funcionalismo público e não sei o que diz a legislação comunitária sobre o assunto. Mas fiquei surpreendido por ser possível a UE ter intervenção num assunto que me parece do foro nacional.

2) Parlamento Europeu discute a obrigatoriedade de um mínimo de 40% de mulheres na direcção das empresas. Neste caso, não existe ainda regra, mas o PE prepara-se para acrescentar uma num sentido politicamente correcto de "igualdade de género". Quanto a mim não faz sentido criar novas regras para obrigar as empresas privadas a comportarem-se como algumas mentes iluminadas julgam ser o mais correcto. Deixem as empresas governarem-se como querem, escolher quem as deve dirigir sem ter em conta o sexo dos elementos da direcção. Há felizmente cada vez mais mulheres em cargos directivos e têm provado em geral ser eficicientes e ter qualidades próprias, mas deixem esta tendência seguir o seu ritmo natural sem imposições exteriores. Este fenómeno é resultado do espectacular aumento de formação de mulheres nas últimas gerações e da alteração nas funções da mulher na sociedade, sendo provável que continue a evoluir no mesmo sentido. É salutar e desejável. Uma coisa completamente diferente é querer apressar a evolução por via legislativa e sobrepor-se assim à livre iniciativa.

Estes dois exemplos de normativas, actuais ou propostas, que vão contra o princípio da subsidiariedade e da livre iniciativa são preocupantes e devem ser criticados.

Legitimidade e constitucionalidade 2

A comunicação sosial, ao referir a reunião promovida por Mário Soares e por outras figuras da esquerda, abrangendo a esquerda do PS e alguns membros ou simpatizantes do PCP e do BE, afirmou que também participariam figuras da direita. Segundo creio deveriam estar a referir-se a Pacheco Pereira e a Freitas do Amaral. A direita estaria assim representada por indivíduos muito pouco representativos. Pacheco Pereira conserva alguns tiques de maoismo e Freitas do Amaral há muito que aderiu ao ideário do PS. Aliás chegou agora a notícia de que este último desiste de participar na reunião. Não sei os motivos, mas é natural que considerasse o ambiente demasiado à esquerda para as suas preferências.

Legitimidade e constitucionalidade

Mário Soares continua na sua campanha contra o Governo e contra o Presidente da República.Criou no seu cérebro uma situação virtual segunda a qual o Governo é ilegítimo, o PR não respeita o seu juramento de cumprir a constituição, o estado social e mesmo o País estão a ser destruídos pelas políticas seguidas e o povo irá inevitavelmente revoltar-se. Seguindo nesta campanha, deu hoje uma entrevista no programa Política Mesmo da TVI24, em que dissertou longamente sobre estes mitos, e promove amanhã uma reunião na Aula Magna com o lema "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social".

Segundo esta situação virtual, o Governo é ilegítimo porque não cumpre as suas promessas eleitorais e já não corresponde à vontade popular. Soares não se lembra das promessas de governos anteriores que não foram cumpridas nem tem em conta as circusntâncias absolutamente excepcionais que o País atravessa e que requerem medidas excepcionais. Quanto à suposta vontade popular contra o Governo, Soares não tem em conta que não são as sondagens que definem a legitimidade nem que, mesmo se pudesem ser consideradas mandatórias, os partidos da maioria continuam a ter, no seu conjunto, intenções de voto próximas das do PS.

No que se refere ao cumprimento da Constituição pelo PR, o ex-PR deveria ter em atenção que existe um Tribunal Constitucional e tanto o próprio PR como deputados ou outras entidades ou grupos de cidadãos podem requerer que o TC avalie a constitucionalidade dos actos do Governo, como tem acontecido. Em todos os casos verificados até agora, ou o TC considerou não haver inconstitucionalidades ou, no caso contrário, as inconstitucionalidades encontradas foram sanadas. Não há portanto razão para acusar Cavaco Silva de não cumprir ou não fazer cumprir a Constituição.

A acusação de destruição do estado social não é um exclusivo de Soares, mas aplica-se apenas a um modelo de estado social defendido pela esuqerda. Noutros países há sistemas diferentes que funcionam bem e a contendo dos cidadãos. Quanto à ideia de destruição do País, não há qualquer destruição visível: Há crise, há desemprego, há dificuldades, mas o País no seu todo continua a funcionar.

A ilusão da revolta inevitável do Povo deve basear-se nas grandes manifestações que ocorreram desde que este Governo tomou posse. Mas mesmo nas maiores destas manifestações o número de protestantes não equivale a uma censura maioritária. E recentemente tem-se verificado um cansaço de participar neste tipo de acções, com cada vez menos manifestantes.

Em conclusão: Mário Soares pode continuar com as suas tentativas de minar a autoridade do Governo e do PR. Repete os mesmos argumentos estafados e sem base e, se consegue encher a Aula Magna, não tem qualquer outro resultado visível.

sábado, 16 de novembro de 2013

A espiral recessiva revisitada

aqui me referi por várias vezes ao mito da espiral recessiva. Fico contente por os factos me terem dado razão, não por vaidade, mas porque a não ocorrência de uma espiral recessiva é uma boa notícia que significa um futuro menos mau (até talvez um futuro algo bom). O gráfico agora apresentado pelo Blasfémias, que não resisto a reproduzir, tem o duplo interesse de demonstrar a inexistência de qualquer espiral (parece mais um V) e de sobrepor à linha da evolução do crescimento (negativo até agora) do PIB as diferentes intervenções que alimentaram o mito, algumas de pessoas de quem se esperaria um juízo mais despido de preconceitos. Infeliz, como na altura notei, foi a referência de Cavaco Silva à espiral inexistente num momento em que em vez de uma aceleração em espiral já se notava um abrandamento e que representou exactamente o ponto de viragem.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Grande coligação 2

Afinal não há conspiração de silêncio sobre o apelo do PM de uma grande coligação. Acabo de ouvir a repetição da reportagem sobre o discurso de Passos Coelho na SIC-Notícias. Parece que o diminuto eco que as declarações de Passos no Congresso das Comunicações tiveram nos meios de comunicação é apenas devido a que os jornalistas dão pouca importância ao que ele disse. Se têm ou não razão, o futuro o dirá.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Grande coligação

Terá sido por acaso que Passos Coelho utilizou a palavra "coligação" na sua intervenção esta manhã na sessão de abertura do 23.º Congresso das Comunicações? Analisemos o contexto: Passos disse: "Estamos a construir um futuro mais próspero e mais justo, e essa tarefa não pode ficar a meio caminho. É preciso agarrar o futuro com as duas mãos, sabendo que só uma grande coligação entre todos os agentes, entre todos os portugueses será suficientemente duradoura para manter vivo esse espírito reformista de que precisamos hoje." Não se referiu, portanto, a um governo de coligação nem a uma coligação entre partidos, mas sim a "agentes" e "todos os portugueses". Mas é evidente que a palavra "coligação" tem principalmente um sentido político.

A meu ver, trata-se pois de mais um apelo ao PS para que se junte à discussão sobre a reforma do Estado, seja esse apelo com esperanças de resultados, seja no sentido de uma responsabilização do PS se este continuar obstinado em recusar o diálogo.

Ou então, sabendo que todas as sondagens indicam que o PS não terá uma maioria para governar sozinho, é uma indicação de que, se este cenário se confirmar nas próximas eleições legislativas, o PSD está pronto a colaborar na formação do Governo (formar a tal grande coligação, esta no sentido político), desde que possa manter o tal "espírito reformista", isto é, não admitindo que o PS, após formar Governo, faça marcha atrás em todas as medidas reformistas que o actual Governo tem tomado e vai continuar a tomar até essa data.

De qualquer modo, parece-me muito estranho que estas declarações, difundidas na RTP e na SIC-Notícias esta manhã, não tenham sido repetidas (pelo menos que eu tenha visto) nem tenham tido o devido eco nos restantes noticiários até agora (22:15), nem tenham sequer sido objecto de comentários. Seriam assim tão desprovidas de importância? Não me parece.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

domingo, 10 de novembro de 2013

Paul de Grauwe

Apesar de ser um talvez ilustre professor da London School of Economics, nunca tinha ouvido falar dele. Os responsáveis do ISCTE que o convidaram, certamente que o conheciam e apreciam. Claro que haverá muitos outros economistas muito ilustres em que nunca ouvi falar, já que em economia sou quase um zero à esquerda, mas o que interessa é que as opiniões deste senhor não só não me convencem como são contrárias às de muitos economistas. Também é certo que há outros que concordam com ele, e não só economistas, mas principalmente políticos e muitos do PS ou mais à esquerda. Pode ser que seja ele que tem razão e não os economistas que me parecem mais competentes, mas quando « lembrou que há uns anos Portugal era um país solvente. No entanto, as políticas de austeridade levaram à recessão económica e aumentaram de tal forma o endividamento que agora corre o risco de não conseguir pagar a sua dívida» é evidente que está mal informado ou a deturpar os factos: Quando se iniciaram as políticas de austeridade, Portugal estava longe de ser um país solvente - estava à beira da bancarrota e sem o resgate não teria podido respeitar os seus compromissos. Quando diz que «toda a Europa devia estar comprometida em fazer os países como Portugal saírem da recessão económica, já que o endividamento não é só culpa destes, até porque para haver quem deve tem de haver quem empresta», estará a insinuar que quem nos emprestou dinheiro quando pedimos resgate tem também culpa do nosso endividamento? A Paul de Grauwe parece que Portugal escolheu ter austeridade porque quis, esquecendo que quando pedimos o resgate houve uma negociação em que nos foram impostas condições e uma delas era que, se gastávamos mais do que produzíamos, teríamos forçosamente de passar a gastar menos e isso implica sempre austeridade. E quando defende que «a necessidade de reformas estruturais em Portugal é um “mito”» é porque não conhece seguramente o estado do País, o que se confirma por dizer «Vocês [em Portugal] fizeram reformas estruturais, flexibilizaram, reformaram o mercado trabalho e não resultou». Fizemos reformas estruturais? Que eu saiba, antes do resgate só a da Segurança Social, e mesmo essa já se revelou insuficiente. Francamente, o ilustre economista deveria ter-se informado melhor sobre Portugal e a sua situação antes de emitir estas opiniões.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Natal já!

Maduro, o venezuelano, decretou que o Natal lá deles começou a 1 de Novembro. Nem o nosso Maduro nem mais ninguém no Governo se atreveu a seguir-lhe o exemplo. Apesar de o Natal ser quando um homem quiser, por mero acaso parece que todos o querem a 25 de Dezembro. Todos? Não! Afinal há mesmo cá pelo burgo quem siga o exemplo da Venezuela: Os supermercados e lojas de chineses estão já cheios de artigos natalícios e já se vêem muitas ruas com as iluminações de Natal montadas, embora ainda apagadas. Os interesses comerciais, pelos vistos, coincidem com os da política bolivariana!

Vender areia no deserto

As expressões "vender areia no deserto" e "vender frigoríficos a esquimós" correspondem à excelência do êxito comercial, ao sucesso de vendas quase impossível. Pois bem, acho que vender arroz na China é quase tão surpreendente como aqueles feitos. Bem sei que a China tem carência de solos agrícolas e admito que, como consequência, necessite de importar alimentos, entre os quais arroz, base da alimentação da sua numerosa população. Mas a proximidade da Indonésia, da Malásia e de outros países produtores, cuja mão de obra agrícola não deve ser cara, levava-me a crer que a China satisfaria as suas necessidades na região. Supunha eu que o arroz nacional não teria grandes possibilidades de concorrência com o arroz asiático. Afinal, o vice-Primeiro Ministro acaba de anunciar que iremos exportar arroz para a China. É, para usar mais um expressão já feita, como meter uma lança em África.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Criticar por criticar

É espantoso como certos sectores da oposição conseguem criticar qualquer declaração de membros do Governo, mesmo que sejam simples constatações factuais da realidade, como as declarações do ministro Nuno Crato de que «portugueses teriam de "trabalhar mais de um ano sem comer" para pagar a dívida». É um facto matemático (como fica bem a Nuno Crato): basta comparar o valor do PIB e o valor da dívida. Pois estas simples palavras provocaram uma chuva de críticas como se o ministro tivesse dito "devem" em vez de "teriam". Cada vez é preciso mais imaginação para criticar o Governo, mas esta ultrapassa a racionalidade.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Assombração

Não resisto a transcrever o postal de João Távora no Corta Fitas:

«Isto anda tudo assombrado e não é só na Venezuela: hoje vislumbrei as feições de José Sócrates numa prata de chocolate amachucada. Mandei logo para o largo do Rato para análise.»

Ainda espero ver algures, numa parede, na casca de um pinheiro ou noutro local inesperado, a figura de António José Seguro.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Reanimação do consumo interno

Eu sei que não podemos tirar conclusões válidas sobre o estado do País apenas por aquilo que podemos observar nas ruas quando das nossas deambulações. O problema é que também não podemos confiar plenamente nos retratos do País dados na comunicação social, normalmente distorcidos por uma visão catastrófica e enviezada. Por isso, a nossa experiência quotidiana, se bem que não representativa da realidade total de Portugal, significa uma amostra dessa realidade independente das nossas ideias políticas.

Deste modo, não posso deixar de considerar minimamente significativa a observação que tenho feito nestes últimos meses de aumento sensível de frequentadores de centros comerciais, supermercados e hipermercados (com carrinhos de compras bem cheios), restaurantes e outros locais de consumo. Flagrante foi ver no Domingo passado muitos cidadãos descendo a Avenida Marechal Gomes da Costa vindos da Feira do Relógio com sacos bem cheios de compras, coisa que já não observava há muito tempo. Claro que esta observação vale o que vale, quero dizer: pouco, mas condiz com algumas notícias de retoma económica tímida com reanimação do consumo interno. Vamos a ver se as consequências do OE2014 não contrariam esta tendência.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ontem foi dia mundial da poupança

O Estado, por meio do IGDP, resolveu em boa hora lançar no mercado interno um novo instrumento de poupança, os Certificados do Tesouro Poupança Mais. Logo no primeiro dia venderam 30 milhões de euros. Os bancos temem a concorrência do Estado. Têm bom remédio: aumentarem os juros dos depósitos; assim já os depositantes não terão razão para fugirem.

Os meios de comunicação deram pouco relevo a este lançamento, dando a notícia laconicamente e, no caso da SIC-Notícias na informação das 14 h, erradamente: Disse o jornalista: "São novos Certificados de Aforro com taxas de cerca de 5%". O resto da notícia foi correcto: Não se chamam Cerificados de Aforro, que continuam a existir, mas sim Certificados do Tesouro, e não rendem cerca de 5%, têm sim uma taxa crescente que no 4.º e 5.º ano é de 5%, sendo a média de 4,25%. É tão difícicil ter um mínímo de correcção nas notícias?