segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As ideias e os ódios

Depois de ter aqui escrito manifestando a minha concordância com o texto que Fátima Bonifácio escreveu há dias no Público, dei com a opinião fortemente negativa do Embaixador Seixas da Costa sobre o mesmo texto. Esta opinião e o modo como foi exposta surpreendeu-me muito. Leio com alguma frequência o blog de Seixas da Costa, "duas ou três coisas", e quase sempre concordo com as ideias que expressa. Pelo menos nunca discordei frontalmente de qualquer artigo como aconteceu agora. Seixas da Costa viu no texto de FB "um texto inqualificável, no qual, misturando deliberadamente os seus ódios com bugalhos alheios, deu uma expressiva nota da intolerância que afeta a as mentes de certos setores políticos em Portugal". Não foi o facto de Seixas da Costa escrever conforme o AO90 que me leva a discordar, foram palavras que me parecem completamente desajustadas como "ódio" e "intolerância". Reli o texto de FB e não encontrei nada de ódio nem de intolerância (e depois li o meu próprio texto, não fosse encontrar nele também ódio ou intolerância). É certo que FB critica com alguma violência a excessiva tolerância que certos sectores políticos em Portugal têm para com a Esquerda, mas refere-se expressamente aos comunistas e só de leve , no parágrafo final critica "a Esquerda socialista ou não alinhada" a quem acusa, talvez um pouco injustamente, de partilhar com os comunistas, "embora mais discretamente, a aversão pela Liberdade tal como os liberais a entendem" e ainda, neste caso com toda a justiça, ao que me parece, de abominarem o regime capitalista. Seixas da Costa, segundo revela na sua crítica, ficou ofendido por estas acusações à sua posição política, a tal ponto que lhe "percorreu um frio na espinha". Talvez Seixas da Costa não seja dos que tem a tal aversão pela Liberdade, no sentido preciso que FB define, e mesmo não abomine o regima capitalista, mas não deve ignorar que muitos dos seus camaradas socialistas têm estas posições. De resto, este último parágrafo que se refere à "Esquerda socialista ou não alinhada" é para mim um pormenor que não retira o mérito da exposição de FB sobre a "condescendência generalizada ... de que os comunistas beneficiam". Lembrar que a comiunistas, como Trotski, Lenine e Estaline não repugnava "sequestrar crianças, matar pais e filhos e avós, dizimar populações inteiras à custa de fomes deliberadamente provocadas, prender, torturar, executar e deportar milhões de pessoas" será exprimir ódio? Citar a Coreia do Norte ou "Cuba, esse paradisíaco santuário dos pobres" será intolerância? Porque se indigna um socialista por isso? O texto de FB que Seixas considera "inqualificável" foi por mim qualificado como justo e oportuno. Continuo a pensar assim.

1 comentário:

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Freire de Andrade: agradeço o modo elegante como se referiu ao meu post, dedicado ao artigo da professora Fátima Bonifácio.
O texto escandalizou-me pelo seu tom maniqueísta. Estou muio longe de poder considerar que a esquerda possa ser identificada à caricatura que dela é feita. Em especial, acho inaceitável que uma académica de méritomcaia na vulgaridade, por mera chicana política (e numa linguagem caceteira, falando de "bêbados" e "ladrões"), de meter no mesmo saco forças partidárias e ideologias tão diferentes entre si - como se os maoístas pudessem ser equiparados aos socialistas democráticos, que ajudaram a consagrar o Portugal onde a professora Bonifácio usufrui das suas liberdades.
No meu caso, tendo-me pronunciado sobre António Borges da forma serena como o fiz, senti-me insultado pela generalização rasteira feita.
Quanto ao "frio na espinha", ele foi verdadeiro. O tom policiesco do artigo, identificando a esquerda com todos os males do mundo, fez-me voltar a tempos velhos, aos editoriais do "Diário da Manhã", da "Época" ou de "A Voz". Eu, que não sou de direita, estou longe de considerar que os partidos do atual governo, por exemplo, possam ser equiparados aos fascistas ou aos nazis. Por que diabo hei-de admitir, com naturalidade, que toda a esquerda seja insultada de forma simétrica?
Chamando-se o meu amigo Freire de Andrade, poderá perceber melhor por que não gosto de atitudes persecutórias...
Com cordiais cumprimentos
Francisco Seixas da Costa