sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A via do crescimento

Voltando ao assunto: Seguro insiste em reduzir o défice sem austeridade e sem cortes. Como? Pela via do crescimento. É lógico: Como as metas do défice são expressas em percentagem do PIB, tanto se pode diminuir essa percentagem conseguindo défices mais reduzidos em valor monetário, o que tem o inconveniente de exigir mais receita ou menos despesa, como aumentando o PIB, o que é exactamente o que Seguro preconiza quando fala na via do crescimento. Ou seja, um défice menor, como quociente que é, tanto se pode alcançar diminuindo o divisor como aumentando o dividendo. Tudo bem.

Vejamos agora o caso concreto da meta do défice que Portugal deve cumprir em 2014, sejam os 4% acordados, os 4,5% que consta estarem em negociação ou os 5% que Seguro defende. O Governo pretende alcançar a meta fazendo cortes na despesa, os célebres 4700 milhões de euros ou talvez, numa versão reduzida, apenas 4 mil milhões. Como o PIB previsto para 2013 deve rondar os 155 mil milhões (em 2012 foi de 160 mil milhões e deve cair cerca de 3,2% este ano), se para 2014 cair mais 1%, rondará os 153 mil milhões. O défice entre 4 e 5% não deverá ultrapassar portanto 6,1 a 7,6 mil milhões. Para atingir estas metas será necessário aumentar a receita ou diminuir a despesa, sendo que o aumento da receita implicaria mais impostos, o que há unanimidade em considerar totalmente inaceitável, tanto na opinião do Governo como da oposição. A diminuição da receita necessária tem sido estimada em 4700 a 4000 milhões. Tomemos este último valor como base de cálculo. Isto significa que o défice sem esta correcção ultrapassaria as metas e estaria entre 10,1 e 11,6 mil milhões.

Mas estes valores, se correspondem a percentagens do PIB previsto para 2014 de 6,6% a 7,6%, poderão ser aceitáveis e corresponder a percentagens correspondentes às metas (4% a 5% do PIB) se o PIB crescer de modo correspondente, isto é, se em vez de 153 mil milhões crescer até os défices sem correcção darem as percentagens desejadas, ou seja, crescer até 253 a 233mil milhões. O crescimento do PIB necessário seria então de 66% (para a meta de 4% de défice) até 52% (para a meta pretendida por Seguro de 5%). Seria bom que Seguro explicasse se é este crescimento que tem em mente quando fala em défice de 5% e em consegui-lo pela via do crescimento.

Claro que esta hipótese é uma anedota, mas num plano mais sério, mesmo se fosse possível negociar um ritmo de ajustamento mais lento (e os financiamentos necessários para o conseguir), é evidente que sem reduções substanciais da despesa o crescimento da economia necessário para esse ajustamento será muito acima do que parece previsível.

Sem comentários: