quinta-feira, 18 de julho de 2013

Incoerência

Apesar de todas as explicações, continua a parecer-me profundamente contraditória a atitude do PS ao tentar, se é que tenta, chegar a um acordo de princípios com os partidos da maioria e simultaneamente a votar favoravelmente uma moção de censura ao Governo suportado pela mesma maioria. A desculpa de que não é com o Governo que o PS mantém conversações com vista a um compromisso, mas sim com partidos, é isso mesmo, uma desculpa, aliás uma desculpa sem qualquer lógica. Os partidos da coligação defendem a política do Governo que deles emana. Como pode ser possível negociar um compromisso com estes partidos se se recusa e se censura a política que eles defendem?

Além disso parece estranho que o PS vote favoravelmente um texto que o atinge, quando diz «O memorando da Troika e as políticas do Governo demonstraram-se um caminho destruidor, colocando Portugal num rumo inegável de definhamento económico e social.» Ora foi o PS que negociou o memorando que agora acha que é responsável, é certo que juntamente com as políticas do Governo, mas concomitantemente com estas, pela destruição e pelo definhamento do País. Mais à frente, o texto da moção de censura defende que se deve «trocar o memorando da Troika pela renegociação da nossa dívida». O PS defende a renegociação, mas não em troca do memorando que assinou. Assim o PS, que se tem recusado obstinadamente a reconhecer que o governo de Sócrates foi grandemente responsável pelas dificuldades actuais, não hesita em acusar o memorando de contribuir para essas dificuldades. Não parece uma atitude coerente.

Parece-me ainda politicamente desastroso que o PS apoie uma moção de um partido que é uma criação do PCP e que defende políticas opostas, do ponto de vista democrático, das defendidas pelo PS, contra uma coligação que, por muitas diferenças programáticas que tenha com os socialistas, está ideologicamente mais próxima destes no que se refere ao regime de democracia representativa que defende.

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