sexta-feira, 5 de julho de 2013

Estabilidade

«É evidente que, em democracia, o recurso ao voto popular é, em tese, uma opção possível. A questão que deve colocar-se é o que ganharia Portugal com uma crise política antecipada. No momento em que o nosso país se encontra, a um ano da saída da troika; com dois terços do programa de assistência cumpridos; e em circunstâncias de grande volatibilidade externa, a avaliação que fazemos é que precipitar uma crise conduziria a riscos maiores e não controlados, até porque ninguém pode honestamente prever o preço da ruptura da nossa credibilidade externa. O risco de um segundo resgate seria elevado e o prolongamento da dependência externa seria inevitável. Tudo isso poderia pôr em causa e até deitar a perder esforços notáveis e sacrifícios pesados já realizados pela sociedade portuguesa. A própria posição de Portugal a par da Irlanda, que é a companhia desejável, sofreria certamente um retrocesso. Compete aos defensores da tese das eleições antecipadas demonstrar que a promessa de um “segundo programa”, o risco de um segundo resgate, e o prolongamento da presença troika em Portugal, trariam benefícios. Sem essa demonstração que não se afigura credível uma crise política apenas serviria propósitos partidários.»

Este texto corresponde exactamente ao que eu penso, mas não fui eu que o escrevi. Adivinhem quem foi.

Não adivinham? Foi Paulo Portas, mas antes de decidir mandar tudo às malvas e precipitar exactamente uma "crise política antecipada". O texto é parte da moção que Portas tencionava apresentar no Congresso. Bem sei que com a expressão "crise política" se referia a eleições antecipadas, mas não só todo o raciocínio se aplica igualmente a uma crise provocada por um pedido de demissão extemporâneo como não está ainda completamente excluído que o seu acto venha a precipitar a antecipação de eleições.

Ainda no mesmo documento, Portas acrescenta:

«Ao invés, o CDS considera que é num quadro de estabilidade e de procura de consensos políticos que se podem obter as mudanças necessárias no relacionamento com a missão externa e na margem de manobra do Estado português.»

Bonita maneira de assegurar um quadro de estabilidade!

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