quarta-feira, 3 de julho de 2013

48 horas que puseram o País à beira dum ataque de nervos

A demissão de Vítor Gaspar foi uma surpresa e fez colar muita gente aos ecrãs de televisão. Mas a pronta substituição parecia acalmar as águas, já que, mesmo que viesse a haver problemas (o que previ ou pelo menos admiti), resolvia a questão no curto prazo. Pelo menos assim parecia. Ontem, o pedido de demissão de Portas veio pôr o País à beira dum ataque de nervos. Parecia que o Governo e em consequência a estabilidade política estavam condenados. As palavras de estabilização e de esperança de Passos Coelho e a declaração de que não se demitia veio lançar alguma perplexidade e multiplicaram-se os comentários de todo o tipo. Como de costume os comentadores, mais do que comentar, dedicam-se a tentar adivinhar o futuro, sendo certo que os jornalistas que os interrogam os encorajam para esse exercício de previsão, mesmo quando ou principalmente quando o futuro parece incerto. Muitos consideravam inevitável a queda do Governo e a convocação de eleições antecipadas. Outros discorriam sobre as possibilidades que Passos teria de evitar a queda, conseguindo um compromisso de incidência parlamentar, hipótese maioritariamente julgada pouco provável. Ainda alguns punham, como hipótese muito longínqua, quase impossível, um recuo de algum dos protagonistas, que pudesse reestabelecer a estabilidade governativa. A possibilidade de um governo de iniciativa presidencial, ideia velha e cara a certos sectores, foi só aflorada de passagem e sem entusiasmo. À medida que os acontecimentos se precipitavam, as hipótese iam sendo baralhadas.

A atribuição de culpas ou de responsabilidades também dividia as opiniões, mas as críticas iam maioritariamente para Paulo Portas, pela sua intempestiva e, ao que parece, solitária de apresentar o pedido de demissão de modo irrevogável. As consequências desastrosas no comportamento dos mercados foi a principal base deste julgamento.

O que mais me impressionou é que estes comentários e estas previsões e sugestões eram discutidas como movimentos de peças de xadrez ou tácticas de localização de tropas e de peças de artilharia, sem ter a mínima menção ao interesse do País. Interessava mais saber o que cada partido ou cada interveniente teria a ganhar ou a perder do que as consequências para a posição de Portugal, a situação perante a troika e perante os credores e o maior ou menos sofrimento do povo. Os problemas de uma eventual convocação de eleições, que Seguro e a extrema esquerda pedem insistentemente, são quase sempre esquecidos. Jorge Sampaio, com ar cândido, considera que esta é a melhor e mais rápida solução para saída da crise. Rápida? Teríamos de esperar até 29 de Setembro, mas o tempo de formação do novo Governo. Melhor? Não penso que as sondagens devam estar na base da acção política, mas não podemos esquecer que tudo indica que não sairia de eleições uma solução estável com um partido com uma maioria que lhe permita governar ou um conjunto de partidos compatíveis entre si.

Claro que tudo está ainda em aberto. As próximas horas e os próximos dias serão cruciais para sabermos o que nos reserva o futuro. Como não sou comentador, não tentarei adivinhar.

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