sábado, 8 de junho de 2013

Avenida nova

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu (e cumpriu) dar a uma das novas avenidas de Lisboa, construídas na área da antiga Musgueira, o nome de Álvaro Cunhal. Quanto a mim fez mal e suponho que muitas pessoas pensarão como eu. Mesmo os próprios comunistas não terão tido grande entusiasmo na honra feita ao seu antigo Secretário Geral, a julgar pelo pequeno número de assistentes à cerimónia de inauguração. Sem dúvida, Álvaro Cunhal foi uma figura importante na política portuguesa recente, mas nem todas as figuras importantes merecem dar o nome a avenidas ou mesmo a ruas. E Álvaro Cunhal não o merecia pelas suas opções e acções antidemocráticas, que puseram Portugal em risco de cair num regime totalitário, aproveitando a instabilidade que se estabeleceu durante certo tempo após a queda de outro regime totalitário. Álvaro Cunhal combateu a ditadura do Estado Novo, é certo, mas não pelas melhores razões. É preciso recordar que, depois da fuga da prisão, se refugiou na URSS, onde acompanhou e aplaudiu os crimes de Estaline, que concordou com a invasão da Hungria em 1956 e mais tarde da Checoslováquia em 1968. Depois do 25 de Abril, o partido comunista, sob a chefia de Álvaro Cunhal, contribuiu para as políticas que ajudaram a afundar a economia e causaram danos difíceis de reparar no nosso tecido produtivo. Que acções relevantes de Álvaro Cunhal justificam este acto? É geralmente elogiada a sua qualidade de coerência. Mas essa coerência foi uma coerência no erro.

É geralmente aceite dar a avenidas e ruas nomes de reis e presidentes da República, sejam quais forem as suas qualidades humanas. É um reconhecimento histórico e não uma honraria nem um reconhecimento de mérito (mesmo assim, não passaria pela cabeça de qualquer português dar a ruas ou avenidas os nomes dos Filipes I, II e III, que sem dúvida foram reis de Portugal). Mas Álvaro Cunhal foi apenas chefe de um partido e ministro, e não é norma dar a arruamentos nomes de todos os chefes de partidos e ministros. Mesmo que isso tivesse algum sentido, seria necessário construir muitos mais arruamentos. O acto que hoje decorreu foi inútil e injusto. Álvaro Cunhal ficará na nossas história, mas não pelas melhores razões.

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