quinta-feira, 16 de maio de 2013

Cai, mas não tanto

Os senhores jornalistas, ou para ser mais exacto: alguns senhores jornalistas ainda não aprenderam a distinguir entre variação em cadeia e variação homóloga, e daí, às vezes sai disparate. Ontem de manhã alguns canais noticiavam em "Última hora" que o INE tinha divulgado uma recessão no primeiro trimestre de 3,9%, para outros era de 0,3%. Era de ver que havia alguma confusão de conceitos. Quando desenvolveram a notícia, compreendi que a queda do PIB tinha sido de 0,3% no trimestre, ou seja, em relação ao trimestre anterior, mas a variação homóloga, referida ao primeiro trimestre de 2012, tinha sido de 3,9% negativos. Má notícia, mas não tão má como se tivesse caído 3,9% no período do trimestre, isto é, desde 1 de Janeiro até 31 de Março. Mas eis que no Telejornal das 13, o jornalista da RTP declarou claramente que "a economia caiu 3,9% em 3 meses". E disse isto com o ar mais sereno do mundo, como se fosse normal tal queda e não constituísse uma catástrofe. A recessão vai mal, mas não tanto. À mesma hora, na TVI apareceu escrito "economia encolheu 3,9% no 1.º trimestre". Mas a voz do jornalista acrescentou "face ao mesmo período do ano passado", o que corrigiu o tiro.

Pondo de lado o modo mais ou menos correcto de dar a notícia, uma recessão é sempre má, uma recessão de 3,9% numa base anual é muito má, mas uma queda de 0,3% num trimestre em si não é uma grande desgraça, e é comparável com a média de 0,1 da zona euro no mesmo período. Claro que, mesmo com a nossa queda, seria preferível que o resto da zona euro tivesse um crescimento pujante, pois assim as nossas esperanças de virmos a aumentar as exportações seriam maiores, mas a companhia na desgraça, se não nos ajuda, sempre pode servir de conforto.

PS: Convém ver os dados e o gráfico apresentados no Insurgente.

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