terça-feira, 30 de abril de 2013

Sol na eira e chuva no nabal

Nunca estive tão de acordo com Jerónimo de Sousa como hoje quando o ouvi criticar o discurso de António José Seguro por querer "sol na eira e chuva no nabal", por pretender fomentar o crescimento e combater o desemprego sem denunciar "o pacto de agressão". Realmente, Seguro, ao basear a sua proposta de estratégia governativa em medidas contraditórias, quer "sol na eira e chuva no nabal", não exactamente pelas razões que Jerónimo de Sousa avança, mas por pretender manter o seu compromisso com o estipulado no Memorando de Entendimento (embora deseje renegociar as metas nele estabelecidas) e ao mesmo tempo tomar medidas que o contrariam, designadamente pelo aumento de despesa que implicariam.

domingo, 28 de abril de 2013

Alternativa

Terminado o Congresso do PS, confesso que continuo sem saber bem qual é a alternativa que Seguro defende para o "novo rumo" do País. Reconheço que não tive paciência para ouvir na íntegra o discurso do Secretário-Geral nem conheço o conteúdo da sua moção aprovada por 99% dos delegados. Admito portanto que possa estar muito bem definida num destes documentos ou em outros que desconheço uma estratégia bem delineada e explicada. Mas como segui com alguma curiosidade o decorrer do Congresso e procurei informar-me através das principais notícias, a não ser que os jornalistas tenham sido tão incompetentes que tenham omitido o mais importante, isto é, em que consiste concretamente a alternativa à política do actual Governo, qual é o "novo rumo", terei de concluir que só deve conter ideias vagas ou de impossível realização, para além de algumas medidas de pormenor, que não constituem qualquer alternativa. Destas medidas ouvi Seguro anunciar, como se a salvação do País dependesse delas, o aumento do período em que os desempregados terão direito a subsídio (aumento de despesa, portanto) e melhor articulação entre os Centros de Saúde e os Hospitais, com deslocação de médicos e telemedicina!

Vejamos. Sei qual é a alternativa defendida pelo PCP, pelo BE e por Mário Soares, que está cada vez mais próximo do BE: Não pagar! É também o que defendem diversos grupelhos, como o movimento "Que se lixe a troika" e os chamados "indignados". É uma alternativa real, mas as suas consequências seriam de tal modo desastrosas que os defensores desta estratégia conseguem movimentar milhares de manifestantes mas representam, no seu conjunto, uma pequena minoria. Como Seguro tem afirmado com ênfase que respeitará o Memorando de Entendimento que o PS negociou e assinou, não é esta a alternativa a que se refere. Diz, sim, que quer renegociar as condições do resgate. Ora uma negociação depende da vontade das duas partes, e não parece que a UE, o BCE e o FMI estejam com vontade de negociar (Quem viu as expressões dos representantes da troika à saída do palácio do Rato há dias perceberam que não vão mesmo negociar se o PS vier a ser Governo, a não ser, talvez, retoques mínimos que pouco irão mudar). Que resta então a Seguro? Como vai respeitar o memorando, mesmo com algumas modificações menores, sem austeridade? Poderá fazer como o seu modelo Hollande: chamar rigor à austeridade, pensando que, mudando-lhe o nome, o povo se deixa enganar e pensa que é coisa diferente. Em França não está a dar resultado e duvido muito que dê em qualquer parte do mundo. Então que lhe resta? Se não admite, e muito bem, que se mantenham os elevados impostos actuais, mas por outro lado recusa cortes da despesa, que margem tem para mudar alguma coisa que não sejam pormenores sem importância? Parece-me que nada.

sábado, 20 de abril de 2013

O telefone e a net fazem muita falta...

Na Segunda-feira passada, dia 15, de manhã, fiquei sem telefone fixo e sem net. Felizmente, continuei a ter a possibilidade de usar o telemóvel. Contactada a PT, fiquei a saber, através de uma gravação, que havia uma avaria na minha zona e que esperavam repará-la até ao dia 17 às 18 horas e zero minutos (sério: disseram mesmo "e zero minutos"; pena não terem precisado os segundos). Tiveram ainda a grande amabilidade de me informar, via SMS, que a avaria se devia a "roubo de cabos". Fiquei espantado: Roubo de cabos telefónicos em plena Lisboa? Tinha visto algumas notícias na TV sobre roubo de cabos em zonas remotas, pouco habitadas, em que os cabos telefónicos e de energia viajam em postes elevados à vista de todos e de mais fácil acesso. Mas nas cidades os cabos são enterrados e só acessíveis através de caixas subterrâneas com tampas metálicas e não é fácil, julgava eu, a qualquer larápio abrir a tampa, ir lá, cortar e roubar cabos, transportá-los e tudo sem ser visto. Já me informaram que não é assim tão raro: tem havido outros casos de roubo de cabos em plena cidade, por ladrões que se fazem passar por pessoal técnico ou que o fazem a coberto da noite.
Na tarde desse mesmo dia, vi vários funcionários da PT a trabalharem perto de uma tampa aberta no passeio numa rua perto, mas às 18 h taparam a abertura e foram-se embora. Na Terça-feira, outros funcionários da PT, cavaram um buraco na relva algumas dezenas de metros mais longe, buraco que foi tapado no mesmo dia à tarde, tendo os funcionários desaparecido novamente à hora normal de terminar o trabalho. No dia 17 às 18 horas, zero minutos e zero segundos nada aconteceu. O telefone continuou mudo, tal como a net, muda e incontactável. Da PT, perante o meu protesto, adiantaram nova data: dia 19 às 18 horas (desta vez ignoraram não só os segundos, como até os minutos). 
Finalmente ontem, Sexta-feira 19, às 16 horas e alguns minutos (não vi exactamente quantos), voltei a ter telefone e net, o que me possibilitou escrever a história desta experiência no meu blog. 5 dias para repor os cabos roubados! 5 dias sem telefone fixo e sem acesso à internet! Assim é que se aprecia bem como estas coisas que damos por adquiridas fazem muita falta. Claro que a falta de fornecimento de electricidade ou água seria muito mais grave, mas há pequenas coisas que também se tornaram praticamente imprescindíveis. 
Como não tenho experiência de montar cabos telefónicos, não tenho dados para saber se o prazo foi razoável ou exagerado, mas parece-me que não houve a preocupação de pedir aos funcionários para fazerem horas extraordinárias para pouparem os clientes. Sempre quero ver se a PT tem a lata de cobrar o serviço não prestado nos dias em que não tive ligação telefónica...
 
E aqui está a explicação da minha ausência do blog nesta semana que agora acaba.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Confucionismo e confusionismo

Quem desejar saber quais as diferenças e as semelhanças entre o Confucionismo de Lao Tsé e o Confusionismo de Tó Zé, vá a

delitodeopiniao.blog.sapo.pt/5318494.html

ou a

oinsurgente.org/2013/04/09/a-religiao-tozesista/

e ria-se um bocadinho. Estamos mesmo a necessitar de momentos bem-humorados.

Pânico

Já estava preocupado, mas depois de ler isto, fiquei em pânico.

O tempo passa...

No facebook lembrei a Sarita Montiel que hoje morreu. Confessei que foi uma das minhas (muitas) paixões de adolescente. Aqui prefiro escrever sobre temas mais sérios: No mesmo dia que a Sarita, morreu Margaret Thatcher. Não, a Dama de Ferro não foi uma das minhas paixões, nem de adolescente, nem de homem maduro, nem de velho, mas aprendi a admirar a sua política principalmente por contactos profissionais, que tive anos mais tarde da sua actividade política, com um técnico inglês com quem colaborei e que me relatou a força paralisante dos sindicatos que prejudicava fortemente a competitividade do Reino Unido e como ela mudou esse estado de coisas. A época das cançonetas e dos couplés de Sarita e do governo de Thatcher passou e deixou muitas e fortes recordações, mas passou.

sábado, 6 de abril de 2013

Seguro dixit

Segundo Seguro, «Quem criou o problema que o resolva». Parece-me que esta frase tem sido mal interpretada no que toca à tentativa de identificar o «quem»: Para mim é evidente que Seguro se referia mesmo a quem criou o problema, isto é, ao ex-PM, ex-estudante de filosofia em Paris e actual comentador na RTP: Sócrates. A sério que gostava mesmo de ver Sócrates a tentar resolver o problema que criou! Só que o País não merece tal desgraça.

Sócrates ao poder!

Se fosse possível experimentar

Claro que experiências em política são em geral impossíveis e, se possíveis, muito perigosas, mas sempre gostava de ver como é que António José Seguro resolvia a questão do défice e da dívida, apostando ao mesmo tempo no crescimento e na luta ao desemprego se amanhã fosse convidado a formar governo. Claro que, mesmo que o Governo se declarasse incapaz e apresentasse a sua demissão e o Presidente Cavaco Silva decidisse convocar eleições, seria improvável que Seguro conseguisse formar governo com base parlamentar suficiente, mas, se por absurdo tal acontecesse, como poderia acabar ou, pelo menos, abrandar significativamente as medidas de austeridade, seguir os ditames do Tribunal Constitucional, renegociar com a Troika o memorando que prometeu respeitar e conseguir ainda promover o crescimento económico. Se tem ideias tão boas que podem permitir-lhe fazer esse milagre, é pena que não deixe antever nem um pouquinho dessas ideias, limitando-se a dizer que está disponível para substituir o actual Governo, mas que não quer dizer quais as soluções que preconiza para resolver o rombo que a decisão do TC criou, já que acha que «Quem criou o problema, que o resolva».

Estado de choque?

Segundo o Expresso, "o Governo ficou em choque com a extensão do chumbo do Tribunal Constitucional". Francamente, custa-me a crer. Em primeiro lugar, porque entre o não chumbo, o chumbo mínimo e uma reprovação global, a possível "extensão do chumbo" poderia ir de 0 a muitos milhares de milhões; a decisão do TC não foi além do expectável para um observador pouco informado e desconhecedor dos altos meandros da interpretação da constituição como eu. Se o Governo não estava à espera, então ou os ministros são muito ingénuos ou são optimistas inveterados. Estou em crer que, durante o longo período que o TC levou a deliberar, os membros do Governo e nomeadamente o PM e o Ministro das Finanças tiveram tempo para ponderar as diversas possibilidades e preparar respostas para cada caso. A afirmação de Vítor Gaspar de que não tinha plano B deve ser tomada como um recado político para fazer crer que o Governo estava confiante em que o OE2013 não continha inconstitucionalidades, um modo de afirmar a sua boa-fé. Penso mesmo que é muito natural que algumas hipóteses de responder a possíveis reprovações pelo TC tenham sido discutidas ou pelo menos alvo de sondagens com a Troika. De qualquer modo, se o Governo não esperava uma tão grande "extensão do chumbo", tinha certamente a noção de que o TC poderia querer mostrar que não cede a pressões, sendo por isso mais rigoroso do que seria sem esse receio. Não é, certamente, este o "pior cenário"; poderia ter sido muito pior. Conseguir, nestas circunstâncias, respeitar a meta do défice para este ano é certamente difícil, mas entre não fazer nada e pedir à Troika licença para que o défice aumente para 6,3% (o número que já vi citado) e substituir as medidas que o TC reprovou por outras no domínio da despesa ou da receita que limitem a derrapagem deve ser possível.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Salário mínimo e TSU 2

Afinal a CIP veio esclarecer que não vê condições para o aumento do salário mínimo este ano. A abertura que mostrou anteriormente já não existe. Tinham corrido notícias de que o patronato até concordava com o desejo dos sindicatos, só o Governo estava contra; depois houve a tentativa de compensar com uma baixa da TSU. Agora a CIP está contra em absoluto. Não explicou porque mudou de opinião, se se enganou nas contas, se houve pressão de alguns associados com menos condições, se verificou que a compensação pela baixa da TSU não era possível ou simplesmente porque caiu em si. Mas, mesmo assim, continua válida a possibilidade de os patrões que concordavam com o aumento do salário mínimo aumentarem os seus empregados sem esperarem que o Governo os obrigue a isso por lei.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Salário mínimo e TSU

O grande argumento das centrais sindicais a favor do aumento do salário mínimo era que até o patronato estava de acordo. Houve realmente algumas declarações dos representantes do patronato nesse sentido e parecia que só o Governo estava contra por pura teimosia, como se o aumento do SMN fosse condição necessária para quem quisesse aumentar os seus empregados. Agora verifica-se que os patrões aceitam o aumento do salário mínimo se não forem eles a pagar: Pretendem, para compensação uma baixa na TSU. Na prática isto quer dizer que, pelo menos em parte, querem que seja a Segurança Social a arcar com a despesa. Grande generosidade.