sexta-feira, 22 de março de 2013

O regresso de Sócrates

A notícia do convite da RTP endereçado ao ex-primeiro ministro José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa para comentar semanalmente a actualidade nacional, e suponho que em particular a actualidade política do País, caiu como uma bomba e suscitou de imediato reacções adversas e até algumas favoráveis. Há agora uma luta renhida de petições e de declarações sobre o assunto. Um dos argumentos aduzidos em favor da decisão da RTP baseia-se na célebre frase de Voltaire: "Não concordo com nem uma das palavras que me diz, mas lutarei até com minha vida se preciso for, para que tenhas o direito de dizê-las". Embora nem sempre esteja de acordo com as ideias de Voltaire, adiro completamente a este princípio (com a ressalva de que não subscrevo a parte de "até com a minha vida se for preciso"; não teria coragem para tanto). No entanto, este argumento não é aplicável a esta questão: Não é objectivo dos que protestam contra o convite a Sócrates tirar-lhe o direito de liberdade de expressão. Sócrates tem, tal como o interlocutor de Voltaire, tem todo o direito de falar e é bom que o tenha. O que está em causa é o critério e a oportunidade do convite para comentador endereçado a Sócrates, principalmente por partir de uma estação de televisão que tem por obrigação prestar serviço público. Que utilidade tem para o País ouvir as opiniões do senhor Pinto de Sousa? Que interesse tem para os telespectadores saber o que ele pensa? O seu percurso profissional e político não o recomenda como emissor de pareceres válidos. Claro que há pelo menos mais um exemplo de um ex-primeiro ministro que tem feito comentários na TV e vários ex-líderes de partidos e ex-ministros também o fazem, mas o caso de Sócrates é muitíssimo mais grave pelo modo como desgovernou o País e pelo estado em que deixou as nossas finanças. Basta todos os dias sermos confrontados com as consequências da sua política.

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