quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ainda a espiral

O discurso de ano novo do Presidente da República foi para mim uma desilusão. Por uma vez até concordei com a apreciação do PCP: o Presidente foi incoerente. Claro que não cheguei a esta conclusão pelos mesmos motivos, mas achei que houve no discurso contradições, questões com pouca relação entre si, falta de uma mensagem inteligível. A principal contradição foi notada: Cavaco criticou o enorme aumento de impostos, mas só suscitou a questão da inconstitucionalidade relativamente a reduções na despesa, cuja eventual anulação pelo Tribunal Constitucional terá como consequência previsível a necessidade de mais impostos para atingir a meta negociada com a troika que o próprio Presidente considera fundamental.

Mas o que mais me espantou foi Cavaco Silva ter ido buscar ao ideário da esquerda o fantasma da espiral recessiva. Já há meses que escrevi aqui sobre o tema e justifiquei a minha ideia de que não há, pelo menos no caso do nosso ajustamento, qualquer espiral. Por definição, uma espiral evolui inexoravelmente para patamares cada vez mais afastados e a velocidade crescente, o que não se está a verificar. A ser verdade, a recessão deste ano seria inevitavelmente mais grave do que a de 2012, o défice teria de ser superior e assim por diante. Gostaria que Cavaco explicasse como chegou à conclusão da existência de tal espiral.

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