domingo, 23 de dezembro de 2012

Investimento na indústria

No último Expresso da Meia-Noite assisti a uma interessante discussão sobre os problemas que Portugal enfrenta actualmente e a necessidade de investimento, designadamente na indústria. Estiveram presentes Pires de Lima, da Unicer, Henrique Neto, que foi o fundador da Ibermoldes e tem ideias bem estruturadas sobre o estado e as necessidades da indústria, Peter Villax, da Hovione, e Artur Baptista da Silva, economista do Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul. Eu não sabia da existência deste organismo e infelizmente pouco fiquei a saber, mesmo depois de uma busca na net, a não ser que existe, tem como economista o Sr. Artur Baptista da Silva e dá conselhos e sugestões sobre questões económicas. Procurei referências ao Observatório, mas só achei um sítio de um Observatório Económico das Nações Unidas que não esclarece sobre o seu estatuto e a sua finalidade, tem notícias sobre diversas assuntos relacionados com a acção da ONU e suas agências, como o Conselho de Direitos Humanos e o Conselho Económico e Social, mas a notícia mais recente é de Outubro de 2010. Nada diz sobre a Europa do Sul. Hoje na RTP o mesmo economista foi apresentado como pertencendo ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), mas o assunto em notícia relacionava-se com um relatório entregue ao Governo português em que se alerta para "consequências catastróficas" da política seguida. Eu não sabia que a ONU se imiscuía deste modo na política dos estados membros e ignoro se foi o Governo que solicitou este relatório ou se é habitual emitir documentos análogos para todos os países membros.

Mas, voltando à discussão no Expresso da Meia-Noite, já quase no fim do programa houve uma troca de palavras que mostra que o economista do Observatório (ou será do PNUD?) tem uma visão dos problemas económicos do País bastante diferente da dos industriais presentes. Depois de Baptista da Silva ter afirmado que Portugal deveria negociar uma dívida de 41 mil milhões de euros que não fez por querer viver acima das suas possibilidades, mas que lhe foi imposta por ser contrapartida para receber fundos da UE (?) e que nessa negociação deveria pedir condições iguais não às da Grécia, mas sim às que foram concedidas à Alemanha quando recebeu auxílio destinado a resolver as dificuldades do banco Hypo, juro de 1% para um prazo de 3 anos. Por este meio, Portugal poderia poupar em juros 6 mil milhões de euros! Peter Villax notou que, se bem que as razões apontadas por Baptista da Silva pudessem ser válidas, a principal questão não era essa, mas sim fomentar o investimento para que se pudesse produzir e exportar de modo a assegurar o crescimento e a criação de emprego, como se verificara na década de 60, em que Portugal teve um crescimento médio de 6% ao ano. O economista da ONU retorquiu que isso foi no Estado Novo e que certamente Villax não quereria voltar ao tempo de Salazar. Esqueceu-se que, se é verdade que a Hovione foi fundada em 1959 e cresceu principalmente após 1969, ano da entrada em funcionamento da 1.ª fábrica da empresa, continuou a crescer e a internacionalizar-se depois de 1974, e nunca teve, que eu tivesse sabido, qualquer protecção especial durante o Estado Novo.

P.S.: Interrompo este postal ao tomar conhecimento, por uma notícia da SIC e uma declaração da TSF, que afinal Artur Baptista da Silva não é conhecido na ONU e que há suspeitas de que se trate de um impostor, que se apresenta como coordenador de um Observatório Económico e Social das Nações Unidas  para a Europa do Sul que não existe. Não posso, evidentemente, confirmar estas suspeitas, mas é estranho, para não dizer mais, que buscas na net sobre este Observatório apenas tenham como resultado as notícias ou os comentários sobre as declarações de Baptista da Silva no Expresso da Meia-Noite e numa entrevista dada recentemente à TSF, copiosamente repetidas em todos os blogs de esquerda, com rasgados elogios à clarividência do economista. Espero esclarecimentos adicionais.

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