sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um país triste, pobre e revoltado

O New York Times publicou um artigo sobre a actualidade portuguesa ilustrado com fotografias do fotógrafo brasileiro Maurício Lima. O artigo (pelo menos na versão em linha) é factual, mas dá, em minha opinião, um retrato da situação que ignora parte da realidade. Por exemplo, ao afirmar que “São cada vez mais frequentes manifestações do tipo das que têm sido vistas em outros países que enfrentam crises económicas”, diz a verdade, mas apesar de serem cada vez mais frequentes estão longe do que se tem relatado na Grécia, em Espanha e mesmo em Itália em termos de frequência e de violência, além de que se tem notado alguma diminuição no número de participantes. Também quando diz que “Os salários dos trabalhadores têm sofrido cortes tanto no sector público como no privado”, esquece que os cortes no sector privado estão previstos no orçamento, mas ainda não foram realizados. Ainda ao dizer que “os reformados enfrentam aumentos no custo da saúde” poderia acrescentar que, se por um lado houve aumento das taxas moderadoras, a grande maioria dos reformados estão isentos, e que o preço dos medicamentos até baixou. Mas no fundamental a notícia está correcta.

O título do artigo é “Os portugueses juntam-se ao coro europeu de indignação”. Enfim, não serão todos os portugueses, mas já vamos estando habituados a estas generalizações abusivas nos meios de comunicação. Mais grave é o título escolhido pela TVI para divulgar o artigo: “Um país triste, pobre e revoltado”. Há muitos portugueses tristes, outros pobres e alguns revoltados, até pode haver alguns que têm as três situações, mas não é o estado geral do País. É , no entanto o que as fotografias escolhidas para ilustrar a notícia levam a crer. Maurício Lima pode ser um fotógrafo com um grande currículo e muito apreciado, mas as fotografias que acompanham o artigo não me parecem muito felizes para dar uma ideia da situação actual no nosso País. A demolição de casas ilegais ocupadas por imigrantes de Cabo Verde ocorreu, mas não é uma característica actual do País. Não sei quais são os “hospitais que estão a fechar”. A mudança dos móveis e pertences de um “idoso que morreu” não ilustra nada, a não ser que morrem idosos; os móveis até me parecem terem boa qualidade. Existem sem-abrigo, mas o que se mostra na fotografia deve ser um caso extremamente raro. Grafiti existem em quantidade em Lisboa, mas ainda não vi nenhum que se refira à elevada taxa de desemprego. Os ângulos escolhidos e o preto e branco parecem ter como propósito dar um aspecto triste. Maurício Lima deve tê-los escolhido propositadamente, mas não dá um retrato fiel de Portugal.

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