terça-feira, 30 de outubro de 2012

O estranho caso das bactérias marcianas

Vi há dias na SIC a notícia sensacional de que em "Cabeço de Vide [Alentejo] "em 2008 foi detectada uma bactéria também detectada no planeta Marte" e que a "vida na Terra pode ter começado numa vila alentejana". Pareceu-me uma reportagem absolutamente disparatada e sem fundamento, tudo se resumindo ao interesse da NASA na análise de água de umas termas locais pelas características geológicas do local e a especulações sobre o assunto. Mas agora (Domingo, dia 28) a TVI24 emitiu uma reportagem em tudo semelhante repetindo a notícia de que em Cabeço de Vide tinha sido encontrada "a mesma bactéria recolhida em Marte". Bactérias recolhidas em Marte? Quem foi lá recolhê-las? Terá sido um dos veículos robôs americanos? Mas como enviou a amostra de bactérias para a Terra? E porque não foi dada a notícia sensacional e só é divulgada agora a propósito de Cabeço de Vide?

Resolvi fazer uma pequena investigação na internet sobre a possibilidade de ter sido descoberta vida bacteriana em Marte. Descobri realmente que tinham sido divulgadas notícias datadas de 2009 sobre esta descoberta. Curiosamente detectei 62 notícias todas provenientes do Brasil e exactamente com a mesma redacção, que refere a divulgação, pelo "pesquisador Niel Darvin do JPL" da descoberta de bactérias em Marte,  que seria descrita em pormenor na "revista Natura". Também curiosamente as ligações (links) do texto da tecnoclasta não conduziram a nada. Segui então duas pistas: 1) Procurar pelo nome do técnico citado nas notícias: Niel Darvin; 2) Procurar no sítio da NASA alguma referência a vida em Marte; 3) Procurar todas as referências sobre vida em Marte, bactérias em Marte ou qualquer relação de Cabeço de Vide ou do Alentejo a Marte. 4) Procurar qualquer referência a vida em Marte ou a Niel Darvin numa revista chamada "Natura" ou na Nature. Os resultados foram os seguintes:

1) O nome deste pesquisador não aparece referido nem no sítio do Jet Propulsion Laboratory nem na net em geral, a não ser nas 62 notícias iguais referidas com redacção idêntica e provenientes do Brasil, sem confirmação nas ligações propostas.

2) São raras e apenas hipotéticas as referências no sítio da NASA a vida em Marte. O que se aproxima mais do pretendido refere-se a cristais de magnetite encontrados num meteorito proveniente de Marte que, pelas suas características, se pensa requererem uma "intervenção biológica para explicar a sua presença".

3) Nada consta sobre qualquer confirmação por parte da NASA de bactérias em Marte. O que encontrei foi uma série de desmentidos em comentários às notícias da SIC e da TVI aqui, aqui e principalmente aqui.

4) Não parece existir qualquer revista científica chamada Natura. Admitindo que se pode tratar de um lapso e se refira à Nature, a busca foi estendida e esta revista. No sítio da Nature não consegui encontrar qualquer referência a assuntos relacionados com a descoberta de vida em Marte, com Niel Darvin ou Niel Darwin  ou com Cabeço de Vide ou o Alentejo.

Conclusão: Completo disparate. Como é possível que jornalistas profissionais, directores de informação e chefes de redacção (se é que os há; antigamente havia nos jornais) deixem emitir notícias com tão pouco fundamento?

domingo, 28 de outubro de 2012

Reindustrialização

As jornadas parlamentares conjuntas dos partidos da coligação que decorreram na Sexta-feira e no Sábado passados tiveram pelo menos o mérito de podermos ouvir os vários ministros a expor o que foi feito e o que tencionam fazer cada qual no seu ministério, para além do discurso final do Primeiro Ministro que esclareceu também a ideia do rumo a seguir. Se nada mais tivesse ouvido, valeu a pena só para assistir à declaração do Ministro Álvaro Santos Pereira de que a reindustrialização é um desígnio nacional e que a Europa planeia incentivar a reindustrialização, estando Portugal na primeira linha.

Trabalhei a maior parte da minha vida profissional na Indústria e, quando mudei para o sector terciário, foi para serviços prestados à Indústria. Ao longo dos anos assisti à desindustrialização da Europa e particularmente de Portugal com pena e preocupação. Agora, que, não só a Europa, mas o Ocidente depende da fábrica do mundo que é a China, sei que não é fácil inverter a tendência que foi arvorada em desígnio de deixar o sector primário para uma pequena minoria, deixar minguar o sector secundário e fazer crescer o terciário desmesuradamente, mas se for verdade que há planos de incentivar a reindustrialização já é uma boa notícia.

sábado, 27 de outubro de 2012

Mistério

É para mim um mistério porque é que ainda há quem ache útil entrevistar Mário Soares. Hoje (26) não consegui ver por completo a conversa que teve com Maria Flor Pedroso, simplesmente porque não aguentei tanto disparate. Bastou-me ouvir Soares repetir com um sorriso as suas ideias chave: 1) O Governo deve demitir-se imediatamente e, se não se demitir, deve ser demitido pelo Presidente da República. 2) Depois da demissão do Governo, o PR deve decidir o que fazer, mas eleições antecipadas não são a melhor solução porque o processo é demorado e seria mau para o País esperar esse tempo (Neste último ponto, até estou de acordo). 3) A austeridade deve acabar imediatamente. 4) A crise da dívida resolve-se de um dia para o outro se o BCE puder emitir mais dinheiro. Nunca votei Soares, mas mesmo assim tenho vergonha de o ter tido com Presidente da República. Tenho a impressão que nesse tempo, apesar de não ter então concordado com as suas políticas, não era tão primário nas suas ideias. Devem ser já sinais de senilidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cortes

No Insurgente surgiu há dias uma extensa lista de organismos para os quais se propunha, para o Estado poupar dinheiro, encerramentos para 58, cortes de metade dos custos para outros 27, "pela sua inutilidade presente", e cortes de 20% em ainda mais 56, "onde são sobejamente reconhecidas ineficiências". À primeira vista pareceu-me uma boa proposta, mas quando li as listas mudei de opinião. Se admito que muitos dos organismos incluídos possam ser pouco mais que inúteis ou possam ser reformados de modo a não consumirem tantos recursos, já duvido muito que se possam encerrar pura e simplesmente a maioria dos fundos e serviços autónomos da lista 1., que a maioria dos da lista 2. tenham uma “inutilidade presente” tão evidente que mereçam um corte de metade e ainda que os da lista 3. tenham todos “ineficiências sobejamente reconhecidas” e possam sofrer cortes de 20%. É a propostas como esta que se chama com propriedade “cortes cegos”, tanto por cento e que se arranjem, sem justificar que reorganização pode suportar a perda de receitas. Choca-me principalmente ver incluídos nestas listas todas as Universidades e os Institutos Superiores e Politécnicos. Admito sem dificuldade que muitos dos organismos citados, e por ventura outros que não constam das listas, possam ou mereçam ter os seus orçamentos revistos e eventualmente diminuídos na parte que provém do Estado, mas, assim a granel, não. A lista pode ter a vantagem de lançar uma pedrada no charco e levar os responsáveis a pensar mais sobre o assunto, mas tal como está, se fosse posta em prática, creio que causaria problemas gravíssimos por falta de acções necessárias ou mesmo fundamentais e levaria à paralisia de organismos cujo funcionamento é importante.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Previsão de sismos

Fiquei profundamente chocado com a notícia da condenação por homicídio por negligência de cientistas italianos por não terem previsto o sismo de Aquila, ou melhor, por, segundo a acusação, 6 dias antes do terramoto terem, depois de um encontro, tranquilizado os habitantes com um relatório que subestimava os perigos que a cidade corria. Não sei absolutamente nada de sismologia e não tenho dados pormenorizados sobre a acusação nem sobre a sentença, mas sei que é voz corrente que é impossível prever com precisão a ocorrência de terramotos e que 5000 cientistas de todo o mundo escreveram ao presidente Giorgio Napolitano em defesa dos acusados exactamente com o argumento de que os sismos não podem ser previstos. Admito que o tal relatório fosse falsamente tranquilizador e que, embora sem segurança sobre a data e sobre o grau, talvez pudesse ser avaliado ser e cidade uma região de risco, até pela quantidade de edifícios antigos e, portanto, sem construção anti-sísmica, mas mesmo que se dessem estas circunstâncias, o que eu ignoro, parece-me a sentença desproporcionada e extremamente pesada. Calculo que, em sismologia como em outras situações de avaliação de riscos, os especialistas chamados a pronunciar-se hesitarão de futuro a aceitar o encargo ou então terão tendência a sobrestimar os riscos para não poderem ser acusados de negligência ou incúria. Se, por um lado, isto levará a mais precauções, por outro, estas precauções, que têm sempre custos e muitas vezes riscos, serão exageradas e até inúteis. É possível pensar que um relatório sobre o perigo de sismo eminente numa cidade, ou outro perigo julgado possível, poderá levar a evacuações da população que poderão, se a previsão estiver errada, ser completamente escusadas.

Não notícia

As TVs continuam a ter falta de assunto, talvez por causa da greve da LUSA ou de falta de imaginação. Assim vão buscar assuntos que não interessam nem ao menino Jesus e desenvolvem até à náusea. Agora foi a escuta que apanhou o Primeiro Ministro, que deu pano para mangas e que dias depois de tudo explicado e resolvido ainda dá para remexer os restos. Os três canais informativos começaram hoje os noticiários da manhã com o que ainda conseguiram sacar deste não assunto, o que só poderia dar uma não notícia. Com tom solene afirmaram quase em uníssono, só que em diferentes frequências do espectro televisivo, que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça se tinha recusado a falar sobre a escuta que envolvia o Primeiro Ministro e que lhe fora enviada para eventual validação. Estavam à espera de quê? Que Noronha do Nascimento anunciasse já hoje, perante as perguntas dos jornalistas, o que vai decidir sobre o assunto?

O assalto dos jornalistas às figuras públicas com perguntas por vezes até impertinentes começa a ter momentos de exagero, como aquele em que a jornalista anunciou que o PM tinha deixado expresso que não responderia a perguntas, mas que, mesmo assim, iria interrogá-lo para tentar obter uma declaração. Quando o PM passou, em passo apressado, perto dela, lá gritou uma pergunta que, evidentemente, ficou sem resposta. Será que não reconhecem que não é assaltando as pobres vítimas com perguntas e mais perguntas que podem obter alguma notícia que valha a pena. Por vezes, mesmo em entrevistas ou em conferências de imprensa, resolvem, perante a falta de resposta, refazer por outras palavras a mesma pergunta que já tinham feito ou que um colega tinha atirado. É um jornalismo de ataque que os políticos aprenderam a aguentar com alguma bonomia.

Aqui ao lado

A manipulação tem sido tão intensa que até eu me admirei com os bons resultados que o PP espanhol obteve nas eleições regionais que tiveram lugar hoje na Galiza e no País Basco, principalmente na Galiza. e principalmente com os maus resultados do PSOE em ambas as regiões. É pois evidente que o facto de se reunirem multidões nas praças e nas ruas não significa que o que estas multidões defendem corresponda ao sentir dominante do povo, ao contrário do que normalmente é admitido por individualidades que simpatizam com estas correntes contestatárias e com algumas expressões que saem da boca de alguns jornalistas. Claro que eu sei que a abstenção foi muito grande e que no País Basco as ideias nacionalistas sobrepuseram-se à dualidade esquerda/direita, mas, a crer na interpretação dominante nos meios de comunicação portugueses de que a contestação ao Governo era geral, a maioria absoluta do PP na Galiza e a perda de votos (e de lugares nos parlamentos regionais) do PSOE seriam incompreensíveis.

domingo, 21 de outubro de 2012

Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica

É bem conhecido o provérbio: "Caluniai, que da calúnia alguma coisa fica." Poderemos estender um pouco o âmbito e dizer com verdade: "Lançai rumores, que do rumor alguma coisa fica", ou: "Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica." Que eu saiba estes dois últimos dizeres não são provérbios, mas não só são tão verdadeiros como o provérbio sobre a calúnia como são largamente praticados pela generalidade dos meios de comunicação. Lança-se uma notícia, que até pode ser e geralmente é verdadeira, mas que, pelo modo como é redigida e por vezes pelo que se cala, leva a pensar em ilicitudes, em actos menos honestos ou menos éticos ou em responsabilizações ilusórias.

Vem isto a propósito da notícia sobre ter Passos Coelho ter sido "apanhado" numa escuta telefónica no âmbito da investigação do caso Monte Branco, um tenebroso caso de alegada fraude fiscal e branqueamento de capitais. O Expresso chegou a utilizar como título a afirmação de que Passos tinha sido "alvo de escutas". Ora se foi apanhado fortuitamente não era obviamente ele o alvo. Era nitidamente uma não notícia, já que não divulgava o interlocutor, não referia o tema da conversa nem qualquer pormenor. Pois esta não notícia foi amplamente divulgada, como se dela se pudesse tirar qualquer ilação sobre qualquer envolvimento do Primeiro Ministro no caso sob investigação.

Felizmente a bolha foi rebentada rapidamente e o próprio interlocutor interveio para explicar o motivo do telefonema e esclarecer que nada havia a apontar ao Primeiro Ministro, que também já admitiu que autoriza a divulgação da conversa, que aliás não teria nada a ver com o caso Monte Branco. Mas, como do rumor ou da insinuação alguma coisa fica, e como tenho ouvido e lido acusações gravíssimas e não provadas contra Passos Coelho (basta ler os cartazes das manifestações e ler comentários na net), não me admirarei se este caso continuar a ser apontado como indicação de que Passo possa estar ligado a fraudes e lavagens de dinheiro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Uma boa notícia

Finalmente as empresas só devem entregar o IVA das suas vendas depois do respectivo recebimento. Como é uma boa notícia, a informação foi escassa e sem comentários. Até parece que o facto de uma criança de uma escola do Algarve ter tido um almoço constituído por uma sande e um copo de leite é mais importante (aliás acabo de ver no canal Hollywood um filme americano em que numa escola vários jovens e um professor almoçam sandes sem leite; eu próprio há dias almocei apenas uma sande de queijo e fiambre e fiquei satisfeito).

O anúncio da medida sobre o novo regime de caixa no IVA, feito hoje pelo Ministro Álvaro santos Pereira, incluiu outras medidas de estímulo à economia.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Argentina

Para os que gritam "Que se lixe a troika." seria salutar saber o que se passa ainda hoje com a Argentina 10 anos depois de ter declarado bancarrota e de ter negociado a dívida pedindo um haircut de 65%.

sábado, 13 de outubro de 2012

O fato da democracia

Na notícia publicada no Jornal de Notícias a que me referi, escreve-se que D. José Policarpo alertou "para o fato da democracia representativa estar em causa". Não sei que fato veste a democracia, mas creio que o Cardeal deve ter dito "facto" e não "fato". Será que teremos de continuar a ler disparates ainda maiores do que o chamado acordo ortográfico pretende impor? Note-se ainda outro erro na mesma frase, este menor mas infelizmente muito vulgar. Deveria ser "o facto de a democracia", já que neste caso não se deve abreviar "de a" para "da".

Palavras oportunas

Considero muito oportunas as palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa, José Policarpo, a propósito da tentativa de deslegitimizar os órgãos democraticamente eleitos através de manifestações de rua. Apesar de não ser católico, concordo em absoluto com a posição expressa. Claro que o Patriarca não definiu o caso como uma tentativa de deslegitimização, mas é isso que quer dizer quando afirma que "Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações" e se interroga "Até que ponto é que nós construímos uma saúde democrática com a rua a dizer como se deve governar[?]." De facto, importantes sectores da esquerda têm tentado declaradamente contestar a legitimidade do Governo com a "luta" nas fábricas e na rua. Já que a "luta" nas fábricas tem sido fraca, resumindo-se a algumas manifestações e vigílias junto de empresas em dificuldade e poucas greves (não incluindo as dos transportes e de portos, que não são fábricas), é principalmente em manifestações de rua que se tenta contestar as políticas seguidas pelo Governo, por parte de forças que nos órgãos próprios não têm força para alterar as opções da maioria, como o PCP e o BE, ou que nem têm representação em órgãos da democracia representativa, como os movimentos de indignados e outros.

Incentivo à natalidade: sim ou não

Muito interessante o debate de comentários no Insurgente a propósito da natalidade. Tudo surgiu com a insinuação de que a opinião de um deputado do PSD a favor de incentivos ao aumento da natalidade é uma ideia de esquerda (Laranja por fora, vermelho por dentro) com direito a ilustração e tudo. A partir daí a troca de opiniões é bastante rica e instrutiva. Por mim estou absolutamente com as opiniões de Aladin e de Um Azul, que usam argumentos sólidos e bem alicerçados. Os que apresentam opiniões contrárias também têm por vezes argumentos válidos, mas muitas destas opiniões assentam em falsas premissas. Para formar opinião é importante seguir a sugestão de Um Azul e observar a variação das pirâmides etárias de 1950 e de 2005 ( http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo10/index11_files/piraliv.jpg. Vale a pena.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sinais

Considero um bom sinal a reacção que se está a verificar em largas camadas da população do Paquistão ao ataque que um fanático perpetrou sobre a jovem Malala que tinha escrito acusações sobre as actividades dos talibã. A Euronews mostrou imagens de Carachi e de Islamabad com grandes manifestações contra este crime. A existência de tantos paquistaneses conscientes dos direitos de liberdade de expressão de pensamento, em oposição às multidões que ainda há pouco atacaram representações diplomáticas e queimaram bandeiras americanas por um filme que consideraram ofensivo, faz ter esperança no despertar da consciência de povos em que numerosas camadas ainda estão presas a ideias de intolerância.

Medina Carreira

Sou dos que seguiu com grande interesse as ideias expressas pelo Dr. Medina Carreira desde há muitos anos e especialmente na parte final do consulado de Sócrates no programa Plano Inclinado de Mário Crespo. Dizia verdades que poucos gostavam de ouvir e alertava para os problemas que se avolumavam. Apesar da mudança de governo e da alteração profunda de políticas, continuou a criticar aspectos que mereciam crítica no programa Olhos nos Olhos com Judite Sousa. Mas pouco a pouco foi perdendo para mim o interesse, talvez em parte porque repetiu os mesmos argumentos e abordou outros mais gerais que, sem deixarem de ser importantes, não eram prioritários perante a situação de crise. No entanto continuou uma voz interveniente e lúcida que, para além de criticar, apontava por vezes caminhos que mereciam ser ponderados.

Foi pois para mim uma desilusão ouvi-lo afirmar que o actual Governo está desacreditado (não sei se foi exactamente esta a expressão, mas creio que foi equivalente) e que devia ser demitido e substituído por um novo governo de iniciativa presidencial, mas no actual quadro parlamentar e com aprovação da maioria dos deputados. Ao contrário do que MC preconiza, parece-me que qualquer mexida no Governo antes da aprovação do Orçamento de Estado para 2013 seria um desastre. Mesmo depois desta aprovação, não creio que seja necessário nem sequer aconselhável uma mudança de governo. Apesar de muitas vozes, à esquerda e à direita que reclamam a remodelação do Governo imediatamente ou a prazo e que preconizam a queda do Governo por estar "moribundo", "estraçalhado", etc., creio que o Governo não necessita mudanças, e agora, depois de aprovada em Conselho de Ministros a Proposta de OE 2013 ainda mais o creio. Por outro lado não vejo qualquer possibilidade de obter aprovação no Parlamento para um governo de iniciativa presidencial ou mesmo de um novo governo negociado entre partidos que possam constituir uma maioria, seja PSD+CDS, como o actual, seja PSD+PS. A proposta de MC parece-me não só despropositada como mesmo inviável. E é com pena que o digo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Boa educação

Há dias li no blog Apontamentos Sentidos:

« Inacreditável...

Digam-me como é que alguém que está numa fila de carros no meio do trânsito, nos dias de hoje, ainda abre calmamente o vidro do seu carro e deita um pacote de cigarros vazio para a rua?»

Alguém comentou:
«Isso é triplamente inacreditável e inaceitável.
Mas quando será que aprendemos a cuidar do que é nosso!
Há certas ruelas na nossa Lisboa que mais parecem latrinas, o cheiro é nauseabundo. A rua onde moro é a casa de banho dos taxistas :-(
Ainda não entendi porque é que o nosso Ministro da Educação retirou o espaço de Educação Cívica nas escolas.»


Seria realmente inacreditável se não tivéssemos exemplos destes todos os dias. Mas será com o espaço Educação Cívica que se resolve ou pelo menos se abranda o problema?
Quando eu andava na escola não havia Educação Cívica, mas era era raro alguém ser tão mal educado (como então se chamava) que deitasse lixo para a rua. Havia era mais civismo. Lembro-me de ouvir um amigo do meu pai afirmar que devia haver educação cívica nas escolas. Mas durante os anos em que houve esta disciplina não houve mais civismo. Não é preciso haver uma disciplina específica para inculcar nos jovens a boa educação, é preciso é o exemplo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Natalidade

O discurso do Presidente da República na comemoração do 5 de Outubro focou principalmente a questão da educação. Sem dúvida que é importante. Mas para mim o ponto fundamental do discurso foi a referência ao problema da baixa natalidade. Já em tempos Cavaco Silva disse que era necessário pensar o que era necessário fazer para os portugueses terem mais filhos. Na ocasião a frase foi objecto de chacota, mas é tempo de começarmos a pensar em incentivos para a natalidade, sem os quais não há solução possível para a sustentabilidade do estado social nem para uma retoma económica durável.

5 de Outubro: O melhor discurso

O melhor discurso das comemorações do 5 de Outubro foi, sem dúvida, o do vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva. Dir-me-ão: Mas não foi um discurso, foi uma intervenção informal em resposta a perguntas de jornalistas. É certo, mas no conteúdo valeu como um discurso e foi certeiro e esclarecedor, mais oportuno que os discursos de António Costa e de Cavaco Silva.

sábado, 6 de outubro de 2012

A bandeira de pernas para o ar

Não me lembro de um 5 de Outubro com tanta animação ou, se preferirem, com tantos incidentes. Talvez por ser o último em feriado, houve
- o hastear da bandeira ao contrário, ou, como se diz vulgarmente, de pernas para o ar, apesar de a bandeira não ter pernas,
- a perturbação da parte final do discurso do Presidente pelos gritos de uma senhora que clamava ter fome e ganhar pouco e
- a colaboração espontânea de uma cantora lírica que, no final da cerimónia, cantou o poema Firmeza de Fernando Lopes Graça.
Na situação grave que o País atravessa todos estes acontecimentos são apenas sintomas menores. Como disse (com algum cinismo) Mário Cesariny, "Que afinal o que importa não é haver gente com fome, porque assim como assim ainda há muita gente que come". Claro que não sou tão cínico como o Cesariny foi neste poema  chamado "Pastelaria", que aprendi de cor quando era estudante e é um dos meus preferidos: Haver gente com fome é realmente um problema gravíssimo, mesmo que haja muita gente a comer (e há, basta passar à hora de almoço pelas zonas de restaurantes dos centros comerciais). Quanto à cantora lírica, se o seu gesto era de protesto, não foi compreendido como tal e até foi aplaudido no final. Já o caso da bandeira ao contrário não passou de um lapso lamentável da organização, um engano entre duas pontas de uma corda, mas quem lhe quer ligar qualquer significado político está, obviamente, a ser pelo menos ilógico.

A este propósito não resisto a contar o que se passou há muitos anos com a minha mãe, que era professora do ensino primário, quando, depois de muitos anos a deambular por escolas da província, conseguiu finalmente, já perto do fim da carreira, colocação em Lisboa e foi nomeada directora de uma escola na Ajuda. Aos Domingos era norma hastear a bandeira portuguesa no mastro por cima da porta da escola. Ora num fim de semana a empregada que fazia esta operação teve o mesmo percalço que agora coube a Cavaco Silva: pôs a bandeira de pernas para o ar. Na Segunda-feira, a minha mãe deu pelo erro, mas como era ocasião de baixar a bandeira não deu muita importância ao caso, mas uma das professoras ficou escandalizada com o pouco caso que a minha mãe tinha dado ao incidente, clamando que era muito grave ter tido o símbolo da Pátria de pernas para o ar e exigindo esclarecimentos para castigar a responsável. O caso não teve, porém, qualquer seguimento. Nessa altura ninguém se lembraria de pensar que o erro tinha mais significado do que isso mesmo, um erro, um engano, sem consequências e sem significado. Como diria Cesariny

"Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra"

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Enorme? Que exagero!

Francamente esperava mais, principalmente depois de Gaspar ter afirmado que o aumento era "enorme". Claro que não gosto, também me estão a ir ao bolso. Terei de poupar mais, terei de adiar novamente algumas substituições de coisas avariadas lá para casa. Mas depois do que já tinha sido anunciado ou que se desconfiava vir aí, a notícia não me alarmou particularmente. Parece que há muita gente alarmada e mesmo indignada, mas não são assim tantos que tenham sequer conseguido encher a rua da residência do Primeiro Ministro com milhares de manifestantes. Segundo as notícias eram dezenas, mais especificamente pouco mais de uma centena. Para o alarme de alguns comentadores, parece pouco. Veremos se a CGTP, o PCP e o BE mais os indignados de diversos quadrantes vão conseguir fazer aumentar as manifestações contra a "enorme" austeridade.

TSU à francesa

Quando vi a notícia no Insurgente, duvidei que fosse exactamente como diziam, mas segui o link e, a menos que o Expresso tenha inventado, têm mesmo razão. Como, além do Expresso, o Insurgente se baseia no blog The Portuguese Economy que por sua vez cita o Monde, parece ser mesmo verdade. Sugiro que Seguro, que se vai encontrar com Hollande na próxima semana, faça ver ao presidente francês o terrível erro que está a preparar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ignorantes

Do blog "O Princípio da Incerteza":

Como é possível que meio País se preocupe mais em saber se quem chamou ignorantes a alguns empresários é ou não demitido, o que pensa sobre isso o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças e os outros ministros todos mais os deputados, os dirigentes de organizações patronais e outros que tais do que em saber como se vai governar o País?

Que significado político tem um dirigente de um partido de extrema esquerda acusar alguém que chamou ignorantes a alguns empresários de ofender o povo português? Será que para alguma esquerda os empresários ou alguns empresários são legítimos representantes do povo?

A falácia do falhanço da austeridade

Como sou preguiçoso a escrever, limito-me a aproveitar o trabalho dos outros, neste caso o do Dr. Tavares Moreira no Quarta República, que mostra claramente a falácia do dilema entre austeridade e crescimento e desenvolvimento. Para mim é evidente, mas não o saberia explicar tão bem como Tavares Moreira. Apesar desta evidência e de não ser a primeira vez que a falácia é denunciada, embora sem a clareza deste artigo, continua a haver gente a reclamar que a política de austeridade seja substituída pela do crescimento e a haver multidões que se juntam para reivindicar essa mudança, mas sem explicar como seria isso possível.