quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Quem deve pagar a crise?

É uma discussão antiga. Desde que há crises em Portugal, após o 25 de Abril, que se houve a velha palavra de ordem "Os ricos que paguem a crise!". Mais recentemente, o slogan é: "Quem causou a crise [entenda-se: os americanos, o capital financeiro internacional, os grandes bancos, os governos que tomaram medidas erradas, os partidos do arco do governo, a direita] que a pague!". Não se pode negar a justiça destas reivindicações. O problema é que são absolutamente inviáveis. Por muitos ricos muito ricos que existam em Portugal, e creio que não há muitos e que na sua maioria não são muito ricos, serão talvez riquinhos, as suas fortunas somadas não chegariam para pagar a crise. Mesmo que chegassem, não seria fácil obrigá-los a pagar; veja-se o que aconteceu no 11 de Março, em clima revolucionário; muitos emigraram e alguns foram presos, mas a "nacionalização" dos seus bens não teve como resultado o enriquecimento dos outros portugueses.

Outra frase corrente é que "são sempre os mesmos a pagar", sejam esses "mesmos" os trabalhadores, os trabalhadores e os pensionistas, a classe média ou todos os que não são ricos. A verdade é que os ricos não têm sido poupados à crise, simplesmente porque os seus activos, que constituem a sua riqueza - sejam acções, património imobiliário ou outros - têm sido fortemente desvalorizados. Claro que os ricos continuam ricos e continuam a viver bem, sem os problemas com que se defrontam muitos menos ricos: dificuldades em pagar a prestação da casa, as contas da água e da luz ou os remédios que vão buscar à farmácia, mas isso não quer dizer que não tenham sido penalizados, e por vezes muito, pela situação. Além disso, a grande maioria da população é constituída exactamente pelos trabalhadores e os pensionistas, portanto não pode deixar de ser que sejam estes, em que me incluo, que são sujeitos à maior parte dos cortes. Para poupar os muito pobres, a classe média não pode ser poupada, por muito que a classe alta, muito menos numerosa, pague proporcionalmente muito mais (tenha-se em conta o aumento do IMI, a taxa do último escalão do IRS, de 46,5% mais a taxa de solidariedade de 2,5%, a taxação agora anunciada de carros de alta cilindrada, de barcos de recreio e de aeronaves e de prédios de alto valor). Paga proporcionalmente mais, mas em valor absoluto muito menos, pois as taxas mais altas vão multiplicar-se por um número muito mais reduzido de contribuintes. Não é verdade que "sejam sempre os mesmos a pagar", mas por este efeito são sempre os mesmos a arcar com a maior fatia, pela simples razão do seu número.

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