quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O lucro é pecado

Para certas pessoas, o facto de empresas privadas terem lucro é um escândalo e quanto maior for o lucro conseguido mais escandaloso é. Porém essas mesmas pessoas lamentam, não sei se com sinceridade, o aumento do número de falências e de fecho de empresas.
Ontem ouvi parte de uma entrevista de um responsável (não ouvi qual o cargo) da CPPME - Confederação Portuguesa das Pequenas e Microempresas. Depois de críticas ao Governo por causa da inexistência de medidas de apoio às pequenas e microempresas, que, segundo afirmou, representam 97% do total de empresas do País, pelo que apoiar estas empresas é apoiar o País, lamentou que os lucros das grandes empresas tenha aumentado 155% entre 2004 e 2010, como um sinal de que a estratégia económica do Governo estava errada. O que me parece errado é a enorme predominância das pequenas e microempresas, o que limita certamente o aumento da produtividade e da competitividade da nossa economia. O encerramento de muitas pequenas e microempresas como consequência da crise e da diminuição do consumo que dela resulta é grave e é causa de aumento do desemprego com todo o sofrimento daí decorrente, mas se, a par deste processo, se verificasse o aumento de médias e grandes empresas, eventualmente por via de fusões ou de aquisições, poderia ter, a par dos efeitos inconvenientes referidos, outros benéficos. Infelizmente não está sendo o caso.
Outras afirmações do responsável da CPPME deixaram-me atónito. Uma foi de que, na falta de investimento privado, o investimento público deveria ser aumentado como a única via para salvação de pequenas empresas, nomeadamente no campo da construção, que está a ser dos mais duramente atingidos, o que é uma das principais causas do desemprego. Em teoria pode ser verdade, mas nas circunstâncias actuais é difícil ver como pode aumentar significativamente o investimento público, nomeadamente no domínio da construção. Na década anterior, mesmo antes do início da crise, este não evitou que as principais causas das nossas dificuldades actuais se avolumassem, nomeadamente a dívida pública e a dívida externa (pública e privada), antes contribuiu para aumentar esse efeito.
Outra das afirmações referidas foi a de que, se não foram tomadas medidas de apoio às empresas representadas pela CPPME, os empresários prejudicados poderão efectuar acções enérgicas, sem excluir protestos de rua. Protestos de rua de pequenos e microempresários para exigir apoios? Será inédito!

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