domingo, 19 de agosto de 2012

Louçã defende capitalismo selvagem

Alguns podem ficar espantados ou até escandalizados com o título deste postal. Talvez até Louçã me ponha um processo por difamação. Mas eu apresento os factos:

 Segundo ouvi há pouco nas notícias da TV, Louçã afirmou num comício em Quarteira que "Governo pagou 6.000 milhões de euros a esses bancos [BPI e BCP]" pelo que "Se o Estado português, com o dinheiro dos portugueses, pagou quatro vezes o valor do BPI e três vezes o valor do BCP, esses bancos devem ser postos ao serviço do crédito público, devem ser nacionalizados porque já estão a ser pagos pelo dinheiro de toda a gente". Estas falas foram confirmadas por numerosas fontes. Contudo eu ouvi Louçã acrescentar como explicação complementar que a sugerida nacionalização se justifica porque "Quem põe dinheiro, manda!" Infelizmente, não vi esta última fala reproduzida pela abundante comunicação social que noticiou as anteriores, mas deve haver gravações nos canais que a transmitiram. Parece-me que esta defesa do poder do dinheiro é um forte argumento para justificação do capitalismo e mesmo, visto que nenhuma regulação ou restrição foi aduzida, do capitalismo selvagem, isto é, o que deriva do "posso, quero e mando, porque fui eu que pus o dinheiro".

Mas afinal nem sei a que 6.000 milhões de euros se refere Louçã. Será a parte utilizada dos 12.000 que a troika nos disponibilizou para recapitalização da banca? Se for assim, não me parece que se trate de "dinheiro dos portugueses" ou de "dinheiro de toda a gente". É sim um empréstimo que os bancos terão de devolver ao Estado (e não ao Governo) e que este terá de reembolsar à troika com juros, tal como a parte restante do montante do resgate. Se os bancos não o devolverem no prazo estipulado,  o Estado ficará dono da parte correspondente dos bancos, e portanto haverá de facto uma nacionalização parcial, independentemente das exigências de Louçã. Se não estou em erro, é isto que ficou estipulado e não vale a pena estar agora a exigi-lo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quem dá dinheiro manda, logo a troika da dinheiro manda. Certo?

Freire de Andrade disse...

Ora aí está! Louçã não pensou bem nas consequências da sua afirmação.