quinta-feira, 31 de maio de 2012

Noticia O Insurgente:

«Caça ao Relvas

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Expresso: Relvas recebeu nomes secretos de espiões
Visão: Relvas omitiu negócios com Silva Carvalho
Público: Relvas e ex-espião tomaram um café e almoçaram em Março do ano passado»
 
Como se pode comprovar, tudo acusações gravíssimas. Então o facto de ter tomado café é especialmente revelador. Claro que se tivesse sido chá, era bem pior. E receber nomes? Não vou gastar dinheiro a comprar o Expresso para saber pormenores: Saber que Relvas recebeu nomes já me basta. Quanto a omitir negócios, bem, nem sei que dizer. Demita-se o Relvas já! Demita-se o Relvas, PIM!

domingo, 27 de maio de 2012

Há quem não goste da verdade

Os gregos (ou talvez alguns gregos) sentiram-se ofendidos e estão furiosos com as declarações da Directora-Geral do FMI. Será que as notícias de que a fuga aos impostos está de tal modo enraizada e espalhada na Grécia que o governo não consegue cobrar o suficiente para alimentar as despesas correntes são mentira? Se assim for, que se ofendam com quem espalhou estas notícias. Se for verdade, não têm razão para se ofenderem, nem mesmo os cumpridores, já que Lagarde não se referia obviamente a estes. Aliás, a acreditar no que foi divulgado sobre o regabofe grego, o problema não reside apenas na dificuldade em cobrar impostos, está também na fuga generalizada ao pagamento dos transportes públicos, nas rendas vitalícias para descendentes de funcionários públicos, nos lugares de nomeação por favor, etc., etc.. Mais uma vez afirmo que lamento os sacrifícios que a austeridade impõe aos gregos, mas ofenderem-se por alguém dizer que pensa antes nas crianças africanas pobres (e podiam ser crianças de muitas outras regiões e adultos e idosos miseráveis de todos os países) é fechar os olhos ao sofrimento alheio.

Pelo sim, pelo não, recomendo à Sr.ª Lagarde que não pense em ir passar férias na Grécia.

PS: Não sou só eu a pensar assim.

Christine Lagarde cansou-se de ser politicamente correcta

As declarações de Christine Lagarde podem chocar os europeus mais convencidos de que a Europa é o centro do mundo e que o povo grego é o mais infeliz do planeta por causa das medidas de austeridade que lhe impuseram. Afinal, há povos com muito mais austeridade, não imposta por troikas nem FMIs, mas pelas circunstâncias difíceis que os seus países vivem, pela pobreza, pela falta de recursos e pela pequena esperança na vida e esperança de vida. Os gregos estão a sofrer, sem dúvida. Nós, que também sofremos a nossa austeridade, embora em menor grau, podemos compreendê-los. Mas ainda estão entre os países desenvolvidos em que a vida se tornou mais fácil e mais rica nos últimos séculos. Há muitos países com problemas muitíssimo mais graves e que já existiam antes da presente crise. Há que ver os problemas dos povos europeus a esta luz.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A importância do coiso

Louçã fez um violento discurso em que acusa o Ministro da Economia de tudo e mais alguma coisa por ter, em declarações que não ouvi, ter falado na necessidade de medidas para combater "o coiso" por lhe não ter ocorrido a palavra "desemprego". Claro que não é vulgar um ministro falar em "coiso". Claro que pode parecer estranho que a palavra "desemprego" não esteja na ponta da língua de um membro do governo, mas falhas acontecem. Ocorre-me muitas vezes ter dificuldade de recordar, durante uma conversa, uma palavra vulgar. Mas mesmo que a falha de memória lexical fosse grave, as conclusões que tira e as acusações que faz são completamente despropositadas, afirmando, com uma lógica rebuscada, que se "eles [os membros do Governo] não sabem dizer a palavra", é porque "não se preocupam, não querem saber". Até faz pensar que Louçã não encontrou nada importante para criticar o Governo e teve de fazer de um lapso de linguagem um facto de grande significado político.

Hollande e Rajoi

Não ouvi, nem sei se transmitiram, as declarações de Hollande sobre a necessidade de capitalização dos bancos espanhóis. Mas ouvi a resposta de Rajoi, que acusa Hollande de não conhecer os bancos espanhóis.

Não sei se a acusação de Rajoi tem ou não base de veracidade. Até admito a possibilidade de que o novo Presidente da República francesa seja um perito no sistema financeiro de Espanha (claro que me parece esta possibilidade extremamente improvável). Até admito que Hollande tenha razão no que afirmou, seja por conhecer a questão, seja por puro acaso. Mas o que sei é que a sua apreciação sobre a situação da banca espanhola foi no mínimo deselegante e pode ser considerada uma intromissão inadmissível num assunto interno de Espanha. Apesar de todos estarmos na UE e a situação financeira de um membro poder afectar os outros, uma afirmação como esta terá de ser fruto de falta de prática na diplomacia das relações entre os países.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Grande governo!

A notícia de que o novo governo francês escolhido pelo presidente François Hollande tinha 34 ministros deixou-me admirado. Que grande governo! Cá, a preocupação de Passos Coelho quando da formação do governo foi reduzir o número de ministros, já que os 17 de Sócrates lhe pareciam muitos. Não conseguiu reduzir tanto quanto pretendia (para 10), mas ficou-se pelos 11.

Depois de uma busca, verifiquei que nem todos os nomeados são verdadeiramente ministros.Os ministros titulares de pastas, a que correspondem ministérios são "apenas" 18. Os outros 16 são "ministres délégués", ou seja, o correspondente ao que em Portugal se designam como secretários de estado. Mesmo assim, convenhamos que 18 ministros já são muitos, ainda mais do que os do último governo Sócrates!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Banalidades 2

Também um monte de banalidades é o Manifesto para uma Esquerda Livre, que afinal não é só "para uma esquerda livre", mas também para um "Portugal mais igual" e para uma "Europa mais fraterna". Em geral ideias muito interessantes, só é pena que o Manifesto não explique bem como se concretizam. Se é através de "um horizonte mais humano de desenvolvimento, um novo caminho para a economia e um novo pacto de justiça social", espero bem que expliquem como se criam este horizonte, este caminho e este pacto.

Banalidades

Salvo uma ou outra ideia geral, salvo algumas posições já bem conhecidas, as declarações públicas no fim do encontro do Sr. Hollande com a Sr.ª Merkel foram um monte de banalidades. A viagem de Hollande só pode ter tido algum interesse como um sinal de que a França quer continuar a ter alguma influência na política europeia. Quer. Não significa que consiga. Será que ainda se poderá continuar a falar no eixo franco-alemão?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mais ofensas!

Afinal não foi só o Primeiro Ministro a ofender os desempregados (no dizer de Jerónimo de Sousa) pretendendo que tomem a situação como uma oportunidade para mudar de vida. Hoje, na Expo Franchise, várias pessoas exprimiram a mesma ideia. A própria organização do evento disse que o evento atraiu este ano muitos desempregados «em busca do próprio emprego e de uma "nova oportunidade profissional"».
 Não ouvi ainda o coro de protestos por mais esta ofensa e falta de sensibilidade, idêntico ao que se fez ouvir em relação às declarações do PM. Mas decerto que os organizadores da Expo Franchise vão ouvir das boas, não só de Jerónimo, mas também de Seguro, de Louçã e mesmo de Marcelo Rebelo de Sousa, além de muitos outros comentadores e cidadãos ofendidos.

sábado, 12 de maio de 2012

Mais uma polémica sem interesse

Não se passa um dia sem que uma frase do PM ou de outro ministro não seja aproveitada para um grande alarido da esquerda. Agora Passos Coelho foi acusado de insensibilidade, de ofensa aos portugueses, de não saber o que se passa com o povo e de outras coisas horríveis por ter dito que o desemprego não tem de ser visto como um estigma, mas pode ser considerado uma oportunidade. Nesta polémica não interessa tanto saber se o PM tem razão absoluta, um pouco de razão ou nenhuma razão nesta apreciação do desemprego. O que me choca é que tenha sido este o tema absoluto das notícias do dia, dos comentários dos políticos e das conversas. Pode ter sido uma frase genial ou talvez uma declaração infeliz. Em qualquer caso só mereceria uma opinião breve e sucinta e não a enorme troca de argumentos pró e contra, como se não houvesse mais nada a tratar nos meios de comunicação. Tenha o PM razão ou não, seria mais curial e até mais sensato discutir as opções a as acções do Governo, em vez de perder tempo a falar à exaustão de frases avulsas.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

São suicidas ou quê?

Segundo notícia de há minutos, os gregos não conseguem formar governo, dada a insistência do pequeno partido da esquerda democrática, o DIMAR, em só participar num governo com o PASOK e a Nova Democracia se o SYRIZA entrar também. Este último negou-se a participar.

O Presidente da República, Papoulias, pode ainda tentar formar um governo de unidade, mas com posições tão estremadas dos partidos, tal não parece possível.

A realização de novas eleições em Junho pode ainda dificultar as coisas, se as sondagens derem certo e a esquerda radical passar para o 1.º lugar. Mesmo que assim já consiga formar governo, será para acabar com as medidas de austeridade, arrastando o país para uma situação de insolvência.

Serão suicidas ou quê?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Crescimento sim; austeridade não!

N'O Insurgente há um postal que merece ser lido integralmente. Só transcrevo a frase que mais me agradou, de modo que quem esteja interessado vá ler no original.

«Hollande ecoa o discurso muito em voga de que é preciso deixar a “aposta” na “austeridade” e “virarmo-nos” para o “crescimento”. Como se houvesse uma opção. Como se a “austeridade” fosse uma escolha. Como se bastasse querer “crescer” para o conseguir. Mas ao contrário do que muitas pessoas parecem pensar, não há ninguém que defenda “políticas de empobrecimento”. A “austeridade” que de facto nos empobrece não é uma escolha, algo a que se possa “pôr fim” por decreto e voluntarismo.»

100% de acordo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O acordo da troika pode ir ao ar

Segundo Mário Soares, o acordo da troika "pode ir ao ar". E porquê? Porque A obrigação de cumprir o programa da troika que o PS assinou "foi assumida há um ano. Mas chegou ao fim. A austeridade tem limites."

Nem mais. Claro que Louçã já elogiou a posição do ex-PM. Aliás esta posição aproxima-se da que o BE tem defendido e até estranhamente da do BE da Grécia ( SYRIZA). Mas Mário Soares, tal como Alexis Tsipras, presidente da coligação de esquerda radical SYRIZA, não diz como, depois do acordo "ir ao ar", poderemos pagar aos funcionários públicos, as diferentes despesas do Estado e as dívidas que forem vencendo. Felizmente, em Portugal, como o PS não é governo, não há perigo de isto ocorrer, mesmo que o PS seguisse a ideia de Soares, o que já declarou não tencionar fazer. Espero que no caso grego também não haja este perigo, já que são remotas as hipóteses de a SYRIZA formar governo. Aí o perigo é o de não haver governo nenhum.

Não compreendo o que deu ao Dr. Mário Soares! Nem sempre tenho estado de acordo com ele, mas não me lembro de dizer asneiras deste calibre. Então, um acordo, lá por ter um ano, já não vale? Pode "ir ao ar"? "Chegou ao fim"? Soares ultrapassa os que defendem a renegociação do acordo. Para ele não há que renegociar, há que denunciar, mandar "ao ar".


segunda-feira, 7 de maio de 2012

O crescimento é bom para a economia?

Do blog O Princípio da Incerteza:

Há um paradoxo que ainda não vi ninguém notar, ou então sou eu que não percebo nada do que se está a passar. As eleições em França, ao dar a vitória a François Hollande, consagraram o princípio de que se deve dar prioridade ao crescimento, embora mantendo o rigor - termo que o presidente eleito prefere a austeridade - para que se limite o défice. Não é novidade e várias vozes, incluindo o chefe do nosso maior partido da oposição e, com ele, muitos socialistas, têm condenado o excesso de austeridade e defendido veementemente medidas que promovam, ou pelo menos favoreçam, o crescimento e o emprego. Até aqui não há qualquer contradição. O que pode parecer estranho é que os mercados reagiram mal ao resultados das eleições: as taxas de juro da dívida soberana de vários países, incluindo a França, subiram no mercado secundário, os índices bolsistas baixaram e o próprio euro caiu para o valor mais baixo em três meses, quando até recentemente esboçava uma recuperação que parecia segura. E todos os comentadores acharam uma consequência natural e espectável. Então, em que ficamos? Será que os mercados não gostam das perspectivas de crescimento? Será que o crescimento não tenderá a proporcionar aos investidores melhores condições de rentabilidade?»

Bem sei que houve também eleições na Grécia, que trouxeram incerteza adicional ao futuro do euro e da Europa, mas a dúvida sobre a influência dos resultados das presidenciais francesas mantém-se.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O tema da moda

Desde que frequento a blogosfera, nunca vi correr tanta tinta, incluindo tinta digital, nem me lembro de tanto tempo de antena dedicado a um tema como nestes últimos dias a propósito da promoção do Pingo Doce. É o tema da moda. Se o Soares dos Santos queria que se falasse do Pingo Doce, teve pleno êxito. Mas o que mais me diverte é ver as opiniões tão desencontradas e até frequentemente extremadas, incluindo por vezes no mesmo blog. Para uns foi um acto legítimo de marketing, para outros uma humilhação; para uns foi uma provocação aos trabalhadores, para outros um bodo aos pobres, que também são trabalhadores; e assim por diante. Dava para publicar um livro com muitos capítulos.

Mas como fica mal falar das opiniões dos outros sem dar a minha, cá vai:
Como acção promocional, penso que foi positiva, pelos factos referidos acima.

Sob o aspecto legal, se houve ou não dumping, não tenho uma opinião firme, pois desconheço a lei, mas há dois aspectos a considerar: 1) Normalmente, segundo penso, o dumping consiste numa acção continuada ao longo do tempo para prejudicar ou mesmo eliminar a concorrência. A promoção do Pingo Doce não foi assim. Mas talvez a lei não faça esta distinção. Deixemos às autoridades competentes a investigação e as consequências daí decorrentes. 2) A concorrência também faz promoções, embora diferentes desta, de que resultam preços com descontos semelhantes ou maiores (Veja-se a promoção feita hoje pelo Continente que oferece descontos de 75%. Embora seja num número muito limitado de produtos, penso que seja abrangida pela mesma lei. Também noutros tipos de comércio as promoções com descontos por vezes importantes são frequentes.).

Quanto à humilhação que sofreram os pobres consumidores, para quem vive num país que necessitou de ir de mão estendida pedir dinheiro emprestado sujeitando-se às duras condições de quem nos fez o favor de nos resgatar, qualquer outra humilhação é secundária. Para mais, só foi ao Pingo Doce quem quis. Mais humilhantes são alguns concursos da televisão em que os concorrentes se sujeitam a coisas degradantes pela possibilidade de ganharem alguns euros. Não estamos habituados a ver bichas, correrias e encontrões na abertura de saldos? Não há quem durma ao relento ou arme tendas para ser dos primeiros a adquirir certos produtos? Será isso humilhante? Os participantes nesta acção do Pingo Doce que foram interrogados pelas equipas de reportagem não pareciam humilhados, quer os que tinham perdido (ou talvez investido) horas para obterem o desconto nas suas compras, quer os que desistiram perante a multidão ou a confusão.

No que se refere à alegada provocação aos trabalhadores e aos organizadores das comemorações do 1.º de Maio e aos manifestantes, não vejo qualquer razão nestas alegações. É sabido que, por muitos milhares de manifestantes que costumem participar nas marchas do 1.º de Maio, há sempre muitíssimos mais  cidadãos, sejam trabalhadores ou não, que não participam. Mesmo quem quer manifestar-se, pôde muito bem ir ao Pingo Doce de manhã e entrar na sua manifestação preferida da parte da tarde, e poderia mesmo voltar ao fim da tarde ao Pingo Doce e fazer compras até de noite. Nenhuma incompatibilidade. E também do ponto de vista ideológico não vejo por que razão um trabalhador mesmo sindicalizado e ferrenho partidário dos partidos e movimentos que defendem a luta de classes não possa aproveitar preços reduzidos em promoções, até porque assim reduzem os lucros dos capitalistas. Afinal não vão às compras nos outros feriados, em que se comemora sempre qualquer coisa, mesmo os católicos não vão às compras aos domingos e nos feriados religiosos desde que as superfícies comerciais estejam abertas?

Muito mais haveria a dizer, mas não quero juntar mais ruído ao muito que já foi emitido sobre o assunto.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Fenómeno

O fenómeno do dia não foi o movimento de massas trabalhadoras a comemorar o Dia do Trabalhador ou a protestar contra as medidas do governo e a austeridade. O fenómeno a sério foi a afluência extraordinária em todo o País, não às manifestações e às marchas (afluência que neste caso nem foi grande coisa, a julgar pelas imagens das TVs), mas sim ao Pingo Doce mais à sua promoção. Conclusões? Não sou capaz de as tirar, nem sequer sou sociólogo nem economista. Mas este fenómeno levou-me a pensar que, apesar da crise, ainda há muita gente com dinheiro para gastar. Por outro lado, as mesmas pessoas que foram alegremente gastar o seu dinheiro fizeram-no para poupar. Portanto já não sei se devo dizer que foi "apesar da crise"; se calhar foi por causa da crise. Mas o que mais me impressionou foi o pouco valor que a maioria das pessoas dá ao seu tempo. Quando se afirma com ar sério que valeu a pena estar 4 horas à espera na bicha para poder entrar no supermercado e mais 2 horas para pagar, mesmo que assim tenham poupado 50, 100, 200 ou 500 euros, é porque se considera que o tempo vale pouco.