domingo, 29 de abril de 2012

Degradação da linguagem

Não esperava ouvir um bastonário de uma ordem importante como é a Ordem dos Advogados utilizar a expressão "barata tonta" para uma ministra. Ao que chegou a nobre profissão de advogado.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Marcha da desobediência: respostas

Continuo a transcrever o blog "O Princípio da Incerteza":

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No meu último postal, sobre a marcha da desobediência, que eu considerava quase secreta, perguntava:

«Será uma marcha secreta? Será uma marcha fantasma? Onde estão neste momento? Estão a chegar a Lisboa? Quantos são? Milhares? Centenas? Quantos militares aderiram? Os membros da Associação 25 de Abril", que decidiram não participar na celebração oficial do 25 de Abril, participam na marcha? Levam armas? Como pretendem mudar o sistema político? Que sistema político querem em vez do actual?»

Bem, já tenho algumas respostas:
A marcha não foi secreta, mas a comunicação social não a considerou importante o suficiente para a noticiar (Com razão!).
Não foi uma marcha fantasma, mas foi uma marcha, se se tratou de marcha e não de passeio, minimalista.
No momento em que eu escrevia deviam estar a chegar a Lisboa, não a marchar, mas sim de comboio.
Os participantes na marcha, a julgar pelas imagens na plataforma e no exterior da Estação de Santa Apolónia, deveriam ser nem milhares nem centenas, nem sequer dezenas, talvez uns 3 a 6.
Militares, não os vi. Se algum dos participantes era militar, não o declarou. Não me parece que houvesse qualquer membro da Associação 25 de Abril. Tal como não quiseram participar na sessão comemorativa na AR, também não aderiram à marcha.
Não vi armas, só um megafone e um dístico pintado num pano que foi desenrolado no exterior da estação que dizia "ABUSO DE AUSTERIDADE" e tinha um desenho de um cravo.
Parece que pretendiam mudar o sistema político fazendo uma curta declaração à poucas pessoas que passavam e que pararam para os ouvir.
Não especificaram que sistema político pretendiam.

Não conhecia o sítio "bambuser" e não sei o que é nem o que pretende. Não sei quem é o autor da notícia que adoptou o nome de z3povinho. Pelas imagens do vídeo pareceu-me que a TVI foi cobrir o evento, mas não dei por ter sido transmitida qualquer notícia.
Bem fez quem os ignorou. Eu é que fiz mal em ir ao engano.
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terça-feira, 24 de abril de 2012

Uma marcha quase secreta

Ao ouvir um comentário no programa Opinião Pública da SIC referir uma tal "marcha de Coimbra" com alguma preocupação, como nunca tinha ouvido falar em tal marcha, resolvi investigar. Encontrei uma notícia da LUSA, repetida ou resumida em diversos órgãos de comunicação, sobre uma "marcha de desobediência" que se teria iniciado no passado dia 20 em Coimbra e que viria a caminho de Lisboa, passando hoje de manhã por Santarém, onde seria prestada homenagem a Salgueiro Maia, devendo chegar à Capital esta noite, terminando a marcha depois da meia noite em frente da Assembleia da República. O objectivo da marcha é, nem mais nem menos, mudar o sistema político. Para isso fazem apelo à desobediência e a que os militares "saiam para a rua e se juntem a eles". Mas na minha busca não consegui encontrar qualquer notícia que confirmasse a saída de Coimbra, a passagem por Santarém, a caminhada até Lisboa, nem uma imagem, nem uma referência. Será uma marcha secreta? Será uma marcha fantasma? Onde estão neste momento? Estão a chegar a Lisboa? Quantos são? Milhares? Centenas? Quantos militares aderiram? Os membros da Associação 25 de Abril", que decidiram não participar na celebração oficial do 25 de Abril, participam na marcha? Levam armas? Como pretendem mudar o sistema político? Que sistema político querem em vez do actual? Muitas perguntas. Nenhuma resposta. Por enquanto, pelo menos.

Rasgar, chumbar, chatear

Não sou um purista da linguagem, mas gosto de ouvir falar correctamente nas notícias da rádio ou da televisão. Além da correcção formal, aprecio um mínimo de elegância de estilo, sem empolamento nem demasiada formalidade, mas com naturalidade, evitando, principalmente, expressões deselegantes e calão. Mas ultimamente a generalidade dos jornalistas dos diversos canais de televisão decidiram, se é que foi uma decisão, utilizar uma forma de falar mais popularucha. "Reprovar" ou "votar contra" passou a ser sistematicamente "chumbar", "denunciar" um contrato ou acordo passou a ser "rasgar" (verbo que se repetiu nos últimos dias vezes sem conta a propósito da ameaça da UGT, cujo secretário-geral nunca usou essa palavra) e até já ouvi uma jornalista perguntar a um entrevistado se, por um facto que o devia ter contrariado, tinha "ficado chateado", tendo a expressão do próprio entrevistado e a resposta delicada sido sinal de estranheza. Era bom que os jornalistas tivessem lições de bom estilo de redacção.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Eleições francesas

Apesar dos grandes títulos de alguns jornais e de notícias televisivas anunciando a vitória na 1.ª volta das eleições presidenciais francesas para François Hollande e a derrota de Sarkozy, o facto é que os resultados desta volta foram inconclusivos. Se é certo que Hollande teve mais votos, a diferença para o actual presidente foi apenas de 1,55% e a verdade é que ambos tiveram votações miseráveis, pois, para quem pretende vir a ser (ou continuar a ser) presidente de todos os franceses, nem um nem outro atingiu os 30% de votação, enquanto os extremos, à direita e à esquerda, obtiveram resultados muito significativos. Daí se poder concluir que se trata de facto, como alguns fizeram notar, de um voto de protesto. E serão principalmente os eleitores que votaram nestes extremos que irão decidir a vitória na 2.ª volta. A distribuição destes votos vai decidir o desfecho. E se Marine Le Pen, satisfeita com a sua votação, criticou ferozmente as políticas dos dois candidatos mais votados, recusando dar orientações de voto para a 2.ª volta, não é de crer que quem votou Marine vá agora escolher Hollande. Podem muitos escolher a abstenção, mas tendo em conta que a votação na Front Nationale aumentou substancialmente, logicamente à custa da direita moderada, é de crer que a maioria venha a votar Sarkozy. Já à esquerda, penso que os votos em Mélanchon migrarão em massa para Hollande. Como Bayrou ainda não deu qualquer orientação, tudo está em suspenso, apesar de os votos em Sarkozy + Marine ultrapassarem os de Hollande + Mélanchon + verdes + os 2 candidatos trotzkistas em 1,33%. Se Bayrou não se definir, só poderemos fazer prognósticos depois do jogo.

sábado, 21 de abril de 2012

Bancarrota

Nas mensagens políticas há que ter o máximo cuidado com a linguagem. Uma pequena imprecisão pode ter consequências ou pelo menos dar azo a comentários.

Estranhei as notícias segundo as quais a Ministra da Justiça teria dito que Portugal estava na bancarrota. Pensei que deveria ter havido alguma má interpretação das palavras da ministra ou que pelo menos a frase tinha sido tirada do contexto. Mas pouco tempo depois vi nas notícias televisivas que a frase tinha mesmo sido proferida. Creio que foi uma declaração infeliz. Para já não compete à Ministra da Justiça tecer considerações tão gerais sobre as finanças do País; tal tarefa deverá ser reservada ao Ministro das Finanças ou ao PM. Além disso, se a ministra desejava explicar de forma enfática a impossibilidade de suavizar as medidas de austeridade, poderia simplesmente dizer: "Não há dinheiro!" ou ou qualquer outra frase que não implicasse uma declaração de bancarrota. Não é só pelo receio de reacções dos famigerados mercados, que conhecem bem a nossa situação se não se deixam influenciar por uma simples declaração, mesmo inapropriada; é que não é exacto.

Felizmente, logo a seguir, o ministro Paulo Portas, talvez como reacção, veio esclarecer que o Governo está a fazer tudo para afastar Portugal da bancarrota. Logo, não está, para já, em situação de bancarrota. De facto, embora sob resgate com todas as suas consequências, Portugal ainda não falhou qualquer pagamento de dívidas internacionais vencidas, nem é provável que tal venha a acontecer durante a vigência do programa de assistência.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sondagens

As sondagens continuam a apontar repetidamente para consideráveis vantagens do PSD sobre o PS. A última, hoje divulgada pela SIC Notícias, dá uma vantagem de 4,8 pontos percentuais, o que, juntamente com uma votação ainda significativa no CDS/PP, atribui ainda maioria absoluta à coligação no Governo, apesar de ambos os partidos da actual maioria sofrerem perdas. Num clima de austeridade, de imposição de sacrifícios e de queixas e acusações generalizadas não só dos partidos da oposição, mas também de organizações sindicais e outras, estes resultados só podem indicar que a maioria da população compreende que foi a política do anterior governo que nos conduziu à triste situação de necessitar de pedir ajuda e de suportar as duras condições impostas por quem nos pode ajudar. Além disso, o principal partido da oposição não só não se definiu quanto à política socrática como não apresenta alternativas credíveis. Só posso concluir que o povo português não é estúpido.

domingo, 15 de abril de 2012

Caça perigosa

Apesar de republicano convicto, tinha uma certa consideração pelo Rei Juan Carlos de Espanha. Não me esqueço que eu vivia em Espanha em 1981 quando se deu o golpe do coronel Tejero Molina.


O Rei teve uma intervenção decisiva ao fazer abortar o golpe. Além disso é simpático e fala correctamente português, o que, se não contribui para a consideração, dá pelo menos para suscitar alguma simpatia. Ontem, quando ouvi a notícia de que Juan Carlos precisara de ser submetido a uma operação à anca por causa de uma queda, tive pena do pobre Rei. Mas logo que soube que a queda teve lugar quando caçava elefantes no Botsuana, fiquei com mais pena dos pobres elefantes. Espero bem que o Rei não tenha conseguido atingir nenhum. Não tenho qualquer espécie de simpatia pela caça, mormente pela caça grossa como desporto e muito especialmente pela caça de elefantes. Ainda para mais, sob o aspecto político, parece-me muito mal que num momento de crise o Rei se vá divertir para os confins do continente africano a matar, ou tentar matar, animais inofensivos.

sábado, 14 de abril de 2012

O lugar onde se nasce

Alguém disse que "o lugar onde se nasce nunca devia morrer". Quanto a mim é uma afirmação tola e não adianta nada para a polémica sobre o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, polémica que, como jmf bem notou, tem sido alimentada na comunicação social com os argumentos que menos interessam.

Os meus pais sempre me disseram que eu nasci em casa. Claro que hoje, felizmente, ninguém nasce em casa, mas sim em locais mais seguros e apropriados. Não sei se ainda existe a casa onde nasci, nem me interessa saber. Só sei que ficava numa vila que hoje é cidade. Se eu fosse célebre talvez isso interessasse para porem uma lápide, mas só depois de eu morrer, o que me seria indiferente. Os meus filhos nasceram em clínicas que ou já não existem ou já não têm bloco de partos. A minha neta nasceu na MAC, mas nem ela nem ninguém na família se importa que feche ou que não feche. Depois dessa experiência pude proporcionar ao meu neto um nascimento num hospital privado. Não me arrependi. Esse hospital não está para fechar, mas se fechasse também não nos faria diferença: há outros com as mesmas condições. Os locais, maternidades ou outros, por vezes perdem as condições de terem a utilidade para que foram construídos. Nesse momento não lhes resta senão mudarem de função ou desaparecerem.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Com que então queriam ser espanhóis?

Do blog "O Princípio da Incerteza":

«Lembram-se que ainda não há muito tempo espalhou-se a moda de que seria bom se fôssemos espanhóis, já que os portugueses se debatiam com tantos problemas? Pois eu gostava de saber onde estão agora esses patriotas... Ser espanhol deixou de estar na moda.»

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Financial Times


Tive oportunidade de ler na íntegra o relatório do Financial Times "Doing Business in Portugal". Trata-se de um documento extenso, com vários capítulos que descrevem com um algum pormenor a situação da economia portuguesa, os antecedentes da crise, as medidas tomadas e em curso para a debelar, as privatizações, as reformas, as dificuldades e o clima de negócios. Vale a pena lê-lo: bem escrito e, tanto quanto posso apreciar, exacto. A impressão geral é de uma visão maioritariamente optimista, sem deixar de referir com destaque os perigos e as dificuldades.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Uma verdade para cada um

Se não me falha a memória, o título deste postal baseia-se no de uma peça de Pirandello. Confesso que não li a peça, e portanto não sei se trata da audição de uma ex-Ministra da Educação para quem a verdade é completamente diferente da verdade que o actual ministro da pasta, e com ele muitas outras pessoas, reconhece. Mas se não for este o assunto da peça, bem podia ser. Ouvi com espanto as afirmações de Maria de Lurdes Rodrigues na audição à comissão da AR que investiga a acção da Parque Escolar. Parece que o relatório do Tribunal de Contas que, segundo MLR elogia a gestão da Parque Escolar, não é o mesmo que aponta para enormes derrapagens orçamentais e pagamentos ilegais. Mas o que mais me impressionou foi MLR afirmar, em sua defesa, que "o que é barato, às vezes, sai caro", pois uma poupança nas obras de requalificação de escolas pode provocar que estas só durem 2 anos! Não sei se há casos concretos de escolas ou melhoramentos em escolas que só tenham durado 2 anos. Se houvesse alguma caso assim, certamente que seria possível responsabilizar os construtores.

Outro episódio digno de registo foi a defesa, por parte de MLR, da escolha para uma escola de candeeiros de Siza Vieira, o que, segundo ela, não constituiu um luxo injustificável, pois esta escolha não seria considerado um luxo noutros espaços. Não sei a que espaços se referia, mas o preço dos candeeiros, 1700 euros cada, deveria ser razão para evitar a sua escolha mesmo para o gabinete do Presidente da República.

domingo, 1 de abril de 2012

Passeio até Lisboa


Como desconfiava, foi agora confirmado pela RTP Informação que os numerosos autocarros que trouxeram os manifestantes a Lisboa para participarem na festa contra a fusão de freguesias foram "pagos com dinheiro público". O Presidente da ANAFRE, interrogado directamente por um jornalista da SIC sobre quem pagava a deslocação, quis disfarçar a questão, respondendo que as freguesias são instituições democráticas e que os seus elementos foram eleitos, quando não era isso que estava em jogo. Ninguém duvida da legitimidade e democraticidade da freguesias, mas isso não legitima que gastem o dinheiro dos contribuintes, isto é, nosso dinheiro com deslocações para se manifestarem, por muito que possam ter razão.

Quanto me custou o BPN?

Do Princípio da Incerteza:

Gostava bem de saber quanto me custou, como contribuinte, a nacionalização do BPN. Falou-se de vários números, de injecções de liquidez da parte da CGD de valor não revelado, de um passivo de 1,8 mil milhões de euros, da necessidade de regularização de um "buraco" de 3,5 mil milhões de euros em 2011, de outras quantias, mas qual foi o custo final não foi ainda revelado. Esperemos que a auditoria e o inquérito parlamentar em curso nos esclareçam. Mas fiquei intrigado há dias quando ouvi falar de juros que o BPN terá de pagar pelos empréstimos da CGD e pelo aval do Estado. Será que nas enormes quantias referidas pelo menos uma parte foi dinheiro emprestado? Se sim, quem vai pagar se é que alguém pagará? Não acredito que o BPN depois de comprado pelo BIC pague empréstimos da CGD contraídos antes da venda, isto é, que seja o próprio BIC a pagar. Quem nos esclarece? Quem paga, ou seja, nós todos, tem direito de saber.