quarta-feira, 28 de março de 2012

Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa


Não consigo imaginar a razão da ausência completa de notícias na televisões sobre a entrega do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa ao presidente da Sérvia Boris Tadic e à presidente da Federação Internacional dos Direitos Humanos Souayr Belhanssen, que teve lugar ontem, 27, na sala do senado da Assembleia da República. Já na véspera nada se disse sobre o jantar que Cavaco Silva ofereceu ao seu homólogo sérvio. Claro que não posso afirmar peremptoriamente que não tenha havido qualquer referência, já que não pude assistir à totalidade da informação dos 3 canais de notícias, mas apesar de um intenso zapping a várias horas não consegui ouvir nem uma palavra sobre o assunto. Também nos sítios da net dos canais noticiosos não há nem uma referência. Será que a Presidência da República não convidou ou não informou devidamente os meios de comunicação e estes, em represália, resolveram boicotar o acontecimento? A página da Presidência da República tem ampla cobertura quer do jantar, quer da entrega do prémio. Mesmo que tenha havido qualquer diferendo com Belém sobre a cobertura noticiosa, os órgãos de informação tinham a obrigação de informar os espectadores.

domingo, 25 de março de 2012

Carga policial

Não estive no Chiado no dia em que decorreu a manifestação dos "indignados" que acabou com confrontos com a polícia. Só sei o que vi, ouvi e li nos meios de comunicação. Mas o que soube por esses meios foi suficiente para poder achar infeliz a moção aprovada durante o almoço comemorativo do "luto académico" de 1962 que "repudiou os actos de violência policial" (apesar das aspas, não resisti a corrigir a ausência do c mudo em "atos", já que no meu blog está decretada a ausência das normas do Acordo Ortográfico). Houve violência, mas não foi exclusivamente da parte da polícia. Não será de repudiar também a violência de alguns manifestantes, bem visível nos vídeos abundantemente difundidos? A agressão de jornalistas, de lamentar, não anula esse facto.

Além disso é completamente despropositada a comparação com o que se passou em 1962. Fui parte activa no "luto académico", como dirigente associativo, e cheguei a apanhar (de raspão porque nessa altura corria rapidamente) com um casse-tête; posso afirmar que nessa altura bastava o facto de nos reunirmos ou formarmos grupos fora dos recintos universitários para a polícia de choque carregar sobre nós. Não me lembro de terem invadido qualquer espaço da universidade; uma das ocasiões em que estiveram mais perto foi quando dispersaram violentamente um plenário no recinto frente ao Hospital de Santa Maria, o que provocou correrias. Nesse dia houve até cabeças partidas, que os nossos colegas de Medicina ajudaram a tratar na sua Associação. Outra ocasião foi o cerco da Cantina Universitária. Mas não era tolerada qualquer manifestação, nem sequer aglomeração, fora dos locais estritamente universitários, o que culminou com a perseguição e prisão dos estudantes que se dirigiam pelo Campo Grande ao Restaurante Castanheira onde pretendiam jantar a convite do Reitor Marcelo Caetano.

No entanto, em todas essas ocasiões, a acção da polícia era muito mais violenta e não necessitava de qualquer pretexto para espancar os estudantes. Muito diferente do que se passou no dia 22.

sábado, 17 de março de 2012

Tiro ao Álvaro


Nas barracas de feira que é a política portuguesa temos assistido nos últimos tempos a uma verdadeira competição de tiro ao Álvaro, tomado como alvo preferido da esquerda bem educada e da outra. Bem podia ter evitado este achincalhamento quem estava em sossego no Canadá. Veio expor-se à fuzilaria até agora em silêncio, o que só irritou os que faziam questão de o acusar de ausente, inexistente, elo mais fraco, demissionário ou demissionável. Finalmente, com calma e educação, respondeu às acusações e mostrou que não foge nem disfarça. Estou com Soares dos Santos quando diz ter dificuldade em compreender porque é tão atacado. Ou talvez compreenda: Pensaram que por ser comedido e trabalhar sem espectáculo seria o elo mais fraco. Estavam habituados ao contrário: falta de comedimento e promoção do espectáculo. Habituem-se!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Forte melhoria do Sentimento Económico na Alemanha

Como é habitual, as boas notícias não merecem relevo ou mesmo menção na comunicação social. Não ouvi uma palavra sobre o facto de o Instituto ZEW ter anunciado que o indicador do Sentimento Económico na Alemanha subiu. É uma boa notícia não só para a Alemanha; é-o para a Europa e particularmente para Portugal, já que se trata de um parceiro comercial importante do nosso País. Foi preciso ver a notícia no Quarta República para ficar a saber. Se algum meio de comunicação noticiou, não foram certamente os noticiários das televisões; tinha muito mais interesse dissecar até ao nível molecular a saída de um secretário de estado do Governo do que dar uma boa notícia.

Viragem

A notícia, para mim inesperada, de que a agência Fitch subiu em 4 níveis a notação financeira da Grécia foi uma muito boa notícia. Significa o reconhecimento de que os esforços dos países que tentam debelar a crise podem começar a ter algum êxito mesmo para as agências de notação que têm sido tão implacáveis.

domingo, 11 de março de 2012

António Arroio


Passo frequentemente pela rotunda das Olaias e sempre admirei o magnífico painel de azulejos de mestre Querubim Lapa que decora a fachada da António Arroio. A escola que existia no local foi completamente demolida e foi construída uma nova escola de raiz, mas o painel foi felizmente conservado com cuidado. Apesar de me ter regozijado com este cuidado, a própria remodelação radical da escola sempre me pareceu que correspondeu a um custo que talvez pudesse ter sido evitado com uma adaptação menos completa. Agora que estalou o escândalo da Parque Escolar, estou ainda mais convencido de que aquela opção não foi a mais económica e que poderia ter sido evitada. Mas, voltando ao painel e ao cuidado da sua conservação, só é pena que, desde as obras, um enorme cartaz de publicidade à própria obra, representando alunos felizes e sorridentes, como mandam as boas regras da publicidade, esteja ainda, depois de vários meses desde que a obra foi concluída, a tapar exactamente uma parte do painel. Espero bem que o eventual fim da Parque Escolar não provoque o esquecimento da existência do cartaz e não leve à sua eternização.

sábado, 10 de março de 2012

O que realmente interessa

Mesmo a propósito do que disse no postal anterior sobre faits divers, sendo as questões sérias relegadas para segundo plano ou ignoradas, li agora no Corta-Fitas a seguinte notícia (não noticiada por quem devia):

«Luís Marques Mendes revelou, hoje, no Política Mesmo da TVi24, às 22 horas, os seguintes dados sobre redução de serviços do Estado pelo governo de Passos Coelho:

Direcções Gerais - das 102 existentes há 8 meses, foram extintas 18.

Direcções Regionais - das 43 existentes há 8 meses, foram extintas 29.

Institutos Públicos - dos 74 existentes há 8 meses, foram extintos 17.

Órgãos Consultivos - dos 122 existentes há 8 meses, foram extintos 65.

Outros organismos - dos 18 existentes, foram eliminados 13.

Ou seja, de um total de 359 organismos do Estado, foram extintos 142, uma diminuição de 40%.

E a omissão intrigante (ou a pergunta legítima) é esta: como é que estes dados eram inéditos até lhes pegar hoje Marques Mendes, um comentador político, e não mereceram atenção ou referência de qualquer jornalista da imprensa, rádio ou televisão?»

Eu não sei responder a esta pergunta! É a informação a que temos direito...


Faits divers

Num momento em que continua acesa a questão da sobrevivência do euro e da Europa na sua concepção actual, em que a grave situação da Grécia parece aliviada pelo menos a curto prazo, mas sem que se tenham desanuviado definitivamente as nuvens que ensombram o horizonte, em que o Primeiro Ministro procura reforçar a situação de Portugal no estrangeiro e em que se perspectivam reformas fundamentais para o futuro do País, a comunicação social diverte-se e procura entreter-nos com o que Cavaco diz num prefácio dum livro, com se quem manda mais é o Ministro das Finanças ou o Ministro da Economia e se o PM respondeu bem ou não a uma questão de compensação sobre portagens em Agosto na Ponte 25 de Abril. Põem pessoas dos partidos, politólogos e comentadores, que ganharam estatuto de quase profetas, a discutir estes assuntos e até o Expresso da Meia Noite desta semana foi inteiramente dedicado à primeira questão, como se não houvesse nada mais importante.

É da maneira que vejo menos televisão, leio menos jornais, e fico com mais tempo para a família, música e livros.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quantos são?

A petição ontem entregue na AR a pedir a demissão do Presidente da República tinha, segundo a comunicação social, cerca de 40 000 assinaturas. É um bonito número, mas permite chegar à conclusão que houve pelo menos 690 000 votantes no BE e no PCP que não assinaram, visto que o total de votantes nestes partidos (considerando que os votos na CDU são na prática votos comunistas) foi de 730 345. Já não estou a contar com os votos no MRPP, no PCR e no POUS. Será que não assinaram por apoiar Cavaco Silva? Por, mesmo não o apoiando, acham que se deve manter em funções? Porque não se querem incomodar? Porque não têm intenet? De qualquer modo, não me parece que o Presidente da República tenha razão para preocupações...

terça-feira, 6 de março de 2012

Casamentos e idosos


Não é comum reunir numa mesma declaração o que se passa com casamentos e a situação de idosos, a não ser em casos particulares como a notícia de um casamento entre um casal de internados num lar de idosos. Já em declarações gerais não parece esta associação muito lógica.

Não pensou assim o jornalista da SIC que declarou hoje num noticiário: "Retrato de Portugal moderno: Cada vez há menos casamentos e mais idosos que vivem sem companhia." (reproduzido de memória) Não me parece uma notícia bem trabalhada, porque na verdade são duas notícias, sem grande relação entre si, numa só frase. Seria quase o mesmo que noticiar: "Aumenta a produção de couve galega e diminui o número de acidentes com moto-serras."

Mas de qualquer maneira, podemos achar uma certa lógica, pelo menos no que se refere à possibilidade de remediar os dois problemas: Para incrementar o número de casamentos e contribuir para a diminuição do número de idosos solitários é possível preconizar, e incentivar com deduções fiscais ou outras mordomias, o casamento entre idosos. Assim teríamos mais casamentos e menos idosos a viverem sozinhos. Talvez este aumento dos casamentos não tivesse efeito na natalidade, mas pelo menos combatia-se a solidão dos idosos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Robôs e a felicidade na Terra

Lembro-me de ter visto há muitos anos, quase de certeza mais de 10, um programa de TV que previa que o aparecimento de robôs na indústria, que nesse momento começava a entrar em força principalmente na indústria automóvel, iria a médio prazo revolucionar o mundo do trabalho à medida que a robotização se espalhasse pelas outras indústrias e demais actividades humanas de modo a reduzir drasticamente a necessidade de trabalho humano. Talvez a previsão não andasse totalmente longe da verdade, com mais ênfase na computorização e menos na robotização, só que o que a reportagem supunha que vissem a ser as relações de trabalho no futuro era demasiado optimista, parecida com a felicidade na Terra, para não usar a expressão "amanhãs que cantam", que diz respeito a outra utopia. Previa-se, e demonstrava-se com imagens, que devido à redução da necessidade de trabalho humano, os trabalhadores poderiam trabalhar apenas qualquer coisa como 2 horas por dia, passando o resto do tempo a descansar ou divertindo-se, o que era ilustrado com um trabalhador que depois do seu curto período de trabalho ia calmamente jogar golfe. Para mais, a robotização reduziria os custos de produção, o que faria com que o feliz trabalhador pudesse nos seus longos tempos de lazer ter acesso a todas as comodidades. Não terá ocorrido ao autor da previsão que o resultado pudesse ser o aumento vertiginoso do desemprego, com as suas trágicas consequências, sem vantagens evidentes para os poucos que conseguem manter os seus postos de trabalho, para mais sempre com medo que o desemprego os possa vir também a atingir.