terça-feira, 31 de janeiro de 2012

É o mercado secundário, estúpido!

É talvez exagero chamar estúpido a alguém por não distinguir entre a colocação de títulos de dívida no mercado e as transacções no mercado secundário, mas pode-se com certeza chamar ignorante. Mas é o que acontece com grande frequência nos nossos meios de comunicação. Ainda hoje, na TV (não reparei em que canal) ouvi por duas vezes dizer que, em virtude do aumento das taxas das obrigações a 10 anos, Portugal ia pagar mais pelos empréstimos. Ora isto não é verdade, a não ser pela influência que as taxas no mercado secundário podem vir a ter sobre os investidores no mercado primário. Mesmo assim é preciso ter em conta que Portugal só recorrerá ao mercado primário a longo prazo lá para o fim de 2013 ou, como muitos defendem, mais tarde ainda. Portanto Portugal pagará exactamente o mesmo, que é a taxa fixada nos cupões quando da emissão dos títulos. O facto de os títulos de dívida terem mudado de mãos e os vendedores só as terem conseguido vender a preços inferiores ao valor nominal não força Portugal a pagar mais nem nos juros nem no vencimento. As taxas estão mais alta porque são calculadas em função do valor real do título transaccionado, mas o montante a pagar pelos juros é o mesmo, só a taxa em percentagem do juro em relação ao valor da transacção é que subiu. Alguém devia explicar isto aos senhores jornalistas.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Greves e luta de classes

No Quarta República, escreveu Pinho Cardão:

«"Nós somos os explorados e eles os exploradores!"
Arménio Carlos, no Congresso da Intersindical.
Na Soflusa, eles estão em greve. A Soflusa é uma empresa pública e os donos são todos os portugueses. Muitos milhares que precisam do transporte, e até já o pagaram, são explorados com a greve. Tem toda a razão o Arménio Carlos»


Portanto eu, que nunca ando de barco, estou a explorar os pobres dos trabalhadores (ou será mais apropriado chamar-lhes proletários?) da Soflusa. Claro! Sou eu que lhes pago os ordenados. Há tempos tive uma troca de ideias com uma pessoa que afirmava que a luta de classes ainda tinha sentido. Fiquei admirado por haver quem defendesse tal ideia e não tivesse dado pelo profunda transformação da sociedade. Afinal, a acreditar no novo secretário geral da CGTP, era eu que estava enganado. Só que por vezes é muito difícil saber quem pertence a cada classe...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fecha a Livraria Portugal

Já me tinham dado a notícia. Fiquei triste. Agora vejo a confirmação no Quarta República. É com muita pena que recordo muitas visitas à Livraria Portugal, há mais de 50 anos com o meu pai, que sempre encontrava amigos e companheiros para conversar, depois só. De certo modo fico também triste porque me sinto também responsável. Dantes, sem automóvel e até antes do metro não me custava ir à Baixa dar uma volta pelas livrarias do Chiado. Há anos, com muito mais facilidades de deslocamento é raro ir lá. Confesso que frequento muito mais as Bertrands e as FNACS do que as velhas livrarias da Baixa. Outros farão como eu. Qualquer dia, com os livros electrónicos, muitas das que ainda conseguem manter-se não resistirão.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Vasco Graça Moura

E se a nomeação de Vasco Graça Moura para presidente da Fundação Centro Cultural de Belém não se dever à sua ligação (que não militância) ao PSD mas sim ao seu curriculum impressionante e à sua qualidade amplamente demonstrada?

sábado, 21 de janeiro de 2012

Jornalistas e línguas estrangeiras

A profissão de jornalista devia ter uma formação obrigatória mínima nas mais importantes línguas estrangeiras, pelo menos na pronúncia, para que se evitassem tantos disparates ao referir nomes de pessoas ou locais.
Nos últimos dias já ouvi em canais de TV referir a ilha italiana de Giglio, perto da qual se deu a tragédia do Costa Concordia, pronunciando Guigueliu - em vez de Gilhio (escrito à portuguesa) - e o nome do novo presidente alemão do Parlamento Europeu, Schulz, como Skulz -em vez de Chulz (também escrito à portuguesa) . Eu sei que nem o italiano nem o alemão são línguas de que haja um conhecimento generalizado, mas são línguas importantes na Europa e é frequente ser necessário falar em nomes italianos e alemães. Por isso, os jornalistas deveriam pelo menos saber como pronunciar nomes.
Mas mais grave e irritante é ouvir com frequência dizer nomes franceses, alemães ou de outras línguas com pronúncia inglesa. Há semanas, numa notícia sobre uma nova técnica cirúrgica desenvolvida no hospital Saint Louis, cujo nome vem evidentemente do santo francês São Luís, ouvi pronunciar o nome do hospital à inglesa. Valha-nos Saint Louis.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Acordo de concertação social

As medidas do acordo hoje assinado entre o Governo, as organizações patronais e a UGT têm sido apresentadas como uma coisa extraordinária, uma autêntica revolução, quer pelos que as defendem, quer pelos que as acham inadmissíveis. O PCP fala em retrocesso e tem razão, mas quando diz que voltámos aos tempos do feudalismo ou outras barbaridades no género perde a razão toda. Mesmo a noção de retrocesso, na linguagem do PCP, é uma coisa condenável, diabólica, reaccionária e quiçá fascista, em oposição à ideia de progresso, que para os marxistas ortodoxos representa o caminho inevitável para a sociedade sem classes em que os meios de produção são propriedade de todos, o que assegura a felicidade na terra, os tais amanhãs que cantam. Eu admito que o PCP tem razão ao falar em retrocesso, porque já vivemos, e não foi há muito tempo, com condições como as que agora são consideradas inadmissíveis, como apenas 22 dias de férias e horas extraordinárias pagas por muito menos do que agora se praticava. Eu nunca tive mais de 22 dias de férias, nunca recebi horas extraordinárias, mesmo que o trabalho obrigasse a ficar mais tempo do que o contratado, nunca tive pontes que não fossem descontadas nas férias. Houve, portanto, um retrocesso na medida em que voltámos a uma situação anterior. Portanto nada me impressiona muito nestas medidas "revolucionárias" contra as quais se anunciam lutas e protestos. Sim, foi retrocesso porque se tinha ido longe demais. Agora é preciso retroceder, mesmo à custa dos chamados direitos adquiridos. Para a esquerda mais esquerda, os direitos adquirem-se de forma definitiva, não consideram que qualquer coisa adquirida pode ser posteriormente perdida.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Afinal para que serve a maçonaria?


Há dias em que todos os meus postais possíveis, mas não concretizados por falta de tempo, terminariam em pontos de interrogação. Este, concretizado, não é excepção.
Pouco sei sobre a maçonaria, mas nos últimos dias têm vindo a público numerosas informações sobre esta organização. Se bem que essas informações elucidem alguns aspectos (estrutura, regras, nomes), as questões em dúvida aumentam em vez de diminuir.
A frase mais lapidar sobre a maçonaria e o que ela hoje representa foi dita, segundo uma breve notícia de roda-pé num canal de televisão, pelo maçon Mário Soares: "A maçonaria está démodé." Mas apesar de démodé, as últimas revelações levam a crer que tem uma enorme influência na nossa sociedade actual e nos jogos de poder que influenciam a vida de todos nós.
A mim parece-me muito estranho que uma organização com base em princípios tão louváveis como liberdade, igualdade, fraternidade, obedeça a rituais que no mundo hodierno parecem ridículos, tais como usar aventais bordados, dar aos seus membros títulos que parecem saídos de literatura juvenil ou anacrónicos como "venerável" ou "cavaleiro", para dar só 2 exemplos, fazer reuniões em salas com pormenores decorativos como 3 colunas, chão em xadrez preto e branco, objectos e imagens triangulares com olhos desenhados, etc., tenha simultaneamente influência na política, nos negócios e na condução de outros aspectos importantes da sociedade. Claro que todos estes rituais e objectos têm um significado e uma justificação, mas parecem ser completamente supérfluos para os fins que a maçonaria diz prosseguir. Como podem estes senhores discutir nas suas reuniões assuntos muito sérios sem se porem a rir do modo como se vestem ou dos ritos a que se submetem?
Mas a estas considerações sobrepõe-se uma questão mais grave: Como podemos saber se perante uma decisão, uma regra, uma actuação do Governo, da AR, de uma associação ou de uma empresa, decisão essa que tem consequências sobre a nossa vida, como poderemos saber, dizia, se se trata de uma decisão independente ou se é o resultado de discussões de indivíduos que não sabemos quem são e que finalidade têm?