segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Já temos orçamento

Finalmente o Presidente da República promulgou o Orçamento de Estado. Sem ele, teríamos um fiscal cliff pior do que o do Obama. A notícia foi recebida com satisfação de um lado e com raiva do outro. Mas a RTP, ao noticiar a promulgação, acrescentou que Cavaco Silva se prepara agora para pedir junto do Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva, tendo em consideração os pareceres jurídicos que pediu, mas que do Palácio de Belém não houve qualquer informação sobre essa intenção. Ora eu pergunto: Se o PR não informou ninguém sobre a sua intenção, como pode a RTP noticiar que se prepara para pedir agora a fiscalização do diploma que promulgou? Pode prever que seja natural essa acção, pensar que é provável esse desfecho, mas noticiar é outra coisa: Noticiam-se factos, não probabilidades. Bem sei que há semanas o Expresso noticiou que CS tinha decidido promulgar e pedir a fiscalização sucessiva, mas o Expresso já nos habituou a pôr como notícias simples previsões ou intuições. Não é jornalisticamente correcto informar sobre uma acção futura do PR de que não se pode ter a certeza que vai ter lugar, de que não há fontes que tenham confirmado esse facto. Eu também penso que Cavaco vai fazê-lo, mas, apesar de não ser jornalista (ou talvez até por isso), não vou informar ninguém que isso vai ser assim, quando muito posso dizer que acho que é provável.

Farenheit 451

Perante este escândalo, é de propor que se queimem todos os livros que incluam o nome de Salazar, pelo menos no título. Seria o melhor modo de evitar tentações.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Carros velhos 2

Escrevi aqui há mais de um mês sobre a violência da medida que se anunciou nessa altura de proibir a circulação de carros velhos ou menos recentes em determinadas zonas da cidade de Lisboa (as chamadas ZER). Ontem vi nas TVs reportagens sobre o caso dos táxis, que eu aliás tinha citado, mas fiquei baralhado com alguns aspectos que me pareceram novos, como a importância de dispor ou não de catalisadores. Na minha ingenuidade, pensei que recorrendo ao sítio da Câmara Municipal de Lisboa na net poderia ter uma informação completa, exacta e actualizada. Puro engano! Obtive informação que suponho exacta, talvez completa, mas, quanto a actualização, só está disponível a situação actual, referente ao que vigora desde 1 de Abril de 2012. Sobre o futuro não encontrei nada. Lamentável! Mesmo que o que se prepara para 2013 não seja definitivo, deveria ser divulgado. Uma busca mais geral levou-me, entre muitas notícias que pouco noticiavam de útil (no próprio sítio do ACP não obtive informação completa), a discussões num forum que só me deixaram com mais dúvidas, mas por fim encontrei a notícia do "Sol" de 1 de Dezembro que me pareceu a mais completa e actual.

A situação é a que eu temia, com uma diferença importante: Segundo o "Sol" e em parte de acordo com o que a CML indica para 2012, os residentes na capital "vão ficar isentos das restrições à circulação de automóveis com matrículas anteriores aos anos de 2000 e 1996, que se vão aplicar em Lisboa a partir do final do primeiro trimestre de 2013". Digo "em parte" porque na situação actual a CML só admite excepções para os residentes na Zona 2 (limitada pelas Avenidas das Forças Armadas e dos E.U.A. mais prolongamentos). Já é alguma coisa.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Finalmente, desculpas

Estava ansioso por saber se Nicolau Santos iria pedir desculpas por ter apresentado no Expresso da Meia-Noite como um economista da ONU, membro do PNUD, consultor do Banco Mundial e outros títulos sonantes um alegado impostor. Tinha mesmo dúvidas que Nicolau aparecesse no programa desta Sexta-feira, afinal não aparece em todos os programas, por vezes deixa Ricardo Costa dirigir o programa sozinho. Mas não só Nicolau apareceu e pediu desculpas, como Ricardo, antes, se co-responsabilizou e também pediu desculpa pelo convite a Artur Baptista da Silva. Embora não apague um erro dificilmente desculpável, ficou-lhes bem. Anunciaram também que o Expresso já tomou idêntica atitude na edição em linha (online em português) e o pedido de desculpas sairão ainda na edição em papel.

Espero agora que o PS ou pelo menos os responsáveis da Universidade de Verão do PS apresente também desculpas, se não ao público, ao menos aos seus militantes. (Agradeço a notícia e a foto a Rodrigo Moita de Deus e a André Azevedo Alves.)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Investimento na indústria

No último Expresso da Meia-Noite assisti a uma interessante discussão sobre os problemas que Portugal enfrenta actualmente e a necessidade de investimento, designadamente na indústria. Estiveram presentes Pires de Lima, da Unicer, Henrique Neto, que foi o fundador da Ibermoldes e tem ideias bem estruturadas sobre o estado e as necessidades da indústria, Peter Villax, da Hovione, e Artur Baptista da Silva, economista do Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul. Eu não sabia da existência deste organismo e infelizmente pouco fiquei a saber, mesmo depois de uma busca na net, a não ser que existe, tem como economista o Sr. Artur Baptista da Silva e dá conselhos e sugestões sobre questões económicas. Procurei referências ao Observatório, mas só achei um sítio de um Observatório Económico das Nações Unidas que não esclarece sobre o seu estatuto e a sua finalidade, tem notícias sobre diversas assuntos relacionados com a acção da ONU e suas agências, como o Conselho de Direitos Humanos e o Conselho Económico e Social, mas a notícia mais recente é de Outubro de 2010. Nada diz sobre a Europa do Sul. Hoje na RTP o mesmo economista foi apresentado como pertencendo ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), mas o assunto em notícia relacionava-se com um relatório entregue ao Governo português em que se alerta para "consequências catastróficas" da política seguida. Eu não sabia que a ONU se imiscuía deste modo na política dos estados membros e ignoro se foi o Governo que solicitou este relatório ou se é habitual emitir documentos análogos para todos os países membros.

Mas, voltando à discussão no Expresso da Meia-Noite, já quase no fim do programa houve uma troca de palavras que mostra que o economista do Observatório (ou será do PNUD?) tem uma visão dos problemas económicos do País bastante diferente da dos industriais presentes. Depois de Baptista da Silva ter afirmado que Portugal deveria negociar uma dívida de 41 mil milhões de euros que não fez por querer viver acima das suas possibilidades, mas que lhe foi imposta por ser contrapartida para receber fundos da UE (?) e que nessa negociação deveria pedir condições iguais não às da Grécia, mas sim às que foram concedidas à Alemanha quando recebeu auxílio destinado a resolver as dificuldades do banco Hypo, juro de 1% para um prazo de 3 anos. Por este meio, Portugal poderia poupar em juros 6 mil milhões de euros! Peter Villax notou que, se bem que as razões apontadas por Baptista da Silva pudessem ser válidas, a principal questão não era essa, mas sim fomentar o investimento para que se pudesse produzir e exportar de modo a assegurar o crescimento e a criação de emprego, como se verificara na década de 60, em que Portugal teve um crescimento médio de 6% ao ano. O economista da ONU retorquiu que isso foi no Estado Novo e que certamente Villax não quereria voltar ao tempo de Salazar. Esqueceu-se que, se é verdade que a Hovione foi fundada em 1959 e cresceu principalmente após 1969, ano da entrada em funcionamento da 1.ª fábrica da empresa, continuou a crescer e a internacionalizar-se depois de 1974, e nunca teve, que eu tivesse sabido, qualquer protecção especial durante o Estado Novo.

P.S.: Interrompo este postal ao tomar conhecimento, por uma notícia da SIC e uma declaração da TSF, que afinal Artur Baptista da Silva não é conhecido na ONU e que há suspeitas de que se trate de um impostor, que se apresenta como coordenador de um Observatório Económico e Social das Nações Unidas  para a Europa do Sul que não existe. Não posso, evidentemente, confirmar estas suspeitas, mas é estranho, para não dizer mais, que buscas na net sobre este Observatório apenas tenham como resultado as notícias ou os comentários sobre as declarações de Baptista da Silva no Expresso da Meia-Noite e numa entrevista dada recentemente à TSF, copiosamente repetidas em todos os blogs de esquerda, com rasgados elogios à clarividência do economista. Espero esclarecimentos adicionais.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

TAP 3

Já depois das minhas pobres observações sobre o aborto da privatização da TAP, li a mensagem de Ricardo Arroja, com quem muitas vezes não estou de acordo, sobre o assunto e tudo ficou mais claro. Vale a pena ler (n'O Insurgente).

Faltava garantia, mas não era garantia bancária

A Secretária de Estado de Tesouro Maria Luís Albuquerque explicou, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros de hoje, que a proposta de Efromovich para a compra da TAP foi rejeitada não por falta de garantia bancária, mas sim por falta de "garantias adequadas" ao cumprimento das exigências do caderno de encargos. Cai assim por terra o meu espanto por Efromovich não saber que as garantias bancárias são, por norma, prestadas antes de se fechar um negócio e como condição prévia para este se realizar.

TAP

O Governo decidiu não aceitar a única proposta ainda em jogo para a privatização da TAP. É daqueles temas em que, por desconhecer os meandros da questão em pormenor, confiei no juízo do Governo. Mas, apesar do desconhecimento referido, tinha opinião e esta era contrária à privatização nestas circunstâncias. Para confirmar a minha desconfiança no negócio, o candidato a comprador, Gérman Efromovich, já veio declarar que não compreendeu a exigência do Governo português em apresentar uma garantia bancária, pois só se adianta dinheiro depois do negócio fechado (Não sei se as palavras foram exactamente estas, mas foi esta a substância do que noticiaram que Efromovich declarou.). Parece uma declaração incrível para um empresário com tanta experiência. Prestar uma garantia bancária não é adiantar dinheiro. Claro que tem o seu custo, mas é uma exigência muito comum em negócios de muito menos responsabilidade e dimensão.

OE 2013 não foi enviado para o TC

Esperou-se até à meia noite do último dia em que o Presidente da República podia pedir a fiscalização preventiva de qualquer disposição do Orçamento de Estado ao Tribunal Constitucional para ter a certeza de que tal pedido não se verificara. Não é surpresa, mas é um alívio. Não será um alívio para todos. Se acreditássemos que os inquéritos dos programas do tipo Opinião Pública da SIC ou Antena Aberta da RTP reflectem a verdadeira opinião dos portugueses, teríamos de admitir que 92% dos portugueses não sentiram este alívio, mas sim ficaram frustrados. Mas é claro que estes inquéritos só representam a opinião de uma minoria, já que os canais em que estes programas são emitidos têm pequenas audiências, a grande maioria dos portugueses não têm facilidade de participar por os programas serem emitidos no horário laboral normal e apenas os mais motivados estão dispostos a pagar 60 cêntimos mais IVA para participar. Estou convencido que a maioria dos portugueses, ou pelo menos dos portugueses esclarecidos sobre as consequências de uma fiscalização preventiva, saudaram a opção do PR.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

E ainda mais TGV

Também Ana Paula Vitorino ainda não conseguiu compreender porque é que o projecto do TGV não era sustentável e tinha de ser abandonado. Como diz João Ferreira do Amaral no 31 da Armada, esta gente socialista ainda não aprendeu nada.

Ainda o fantasma do TGV

Na minha ingenuidade, pensava que, após a queda aparatosa de Sócrates, se calariam ou só falariam baixinho os defensores de provados disparates como a construção do TGV. Afinal enganei-me. Vem agora o antigo ministro António Mendonça afirmar que, por causa da anulação do projecto, "julga" que Portugal perdeu "muitas centenas de milhões de euros", perda que "deverá rondar os 1.800 milhões de euros perdidos" em fundos comunitários, e que não se criaram os "40 a 50 mil empregos relacionados com a execução dos projectos". Já não é ocasião de se "julgar" isto ou aquilo. Neste momento deveriam já ser evidentes e públicas as consequências das decisões sobre a construção ou a anulação do projecto do TGV. Sabe-se que os fundos comunitários não bastariam para financiar o projecto. De onde viria o restante? A que custo? como se pagaria o financiamento? Quanto aos postos de trabalho, a execução do projecto é uma fase transitória. Quantos empregos restariam na fase de exploração? Que custo teria essa exploração e a manutenção e quais as receitas espectáveis. Deve ser possível hoje ter uma ideia mais realista do número de viagens que seria possível vender (esquecendo a vinda em massa de madrilenos para irem à praia em Lisboa). Eu não sei a resposta a estas questões, mas certamente há quem as tenha e devem ter pesado na decisão de suspender o empreendimento. Pelos vistos António Mendonça não as sabe, e continua com as convicções que tinha quando era ministro.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Violência gratuita

No discurso de hoje, no fim da manifestação da CGTP, Arménio Carlos volta a condenar a "violência gratuita". Como já uma vez notei, o adjectivo que apões sistematicamente à palavra "violência" só pode significar que haverá uma outra violência, a que não é gratuita, que não merece condenação. A história do movimento comunista confirma em absoluto esta minha conclusão. Era portanto bom que Arménio Carlos nos explicasse quando é que a violência deixa de ser gratuita.

Taxa a 10 anos abaixo dos 7%

Belíssima prenda de Natal para Portugal: Pela primeira vez desde 2010 a taxa da nossa dívida para o prazo de 10 anos desceu, no mercado secundário, abaixo dos 7%. Se é esta a espiral que nos levará ao abismo, parece que mudou de direcção.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Putin e o envelhecimento

Li a notícia de que Putin decidiu tomar medidas para combater o envelhecimento. Logo de repente pensei que se ia submeter a alguma terapia nova, talvez baseada em manipulação genética para contrariar o encurtamento dos telómeros ou outra coisa parecida, a fim de prolongar a sua boa forma física até idade avançada, mas logo compreendi que se tratava do envelhecimento da população, neste caso da população russa, e não do próprio. A única coisa que consegui saber, porque mais não vi e creio que nem foi por cá divulgado, foi a ideia de que cada família deverá ter pelo menos 3 filhos. Como se convencerão as famílias a este extraordinário aumento da natalidade, com que incentivos, não sei. Tanto pode ser um abono de família generoso e atribuição de habitação espaçosa como castigos cruéis a quem se atreva a ter menos filhos, ou uma mistura destas medidas. Gostaria de saber mais, pois o combate ao envelhecimento deveria ser uma prioridade em Portugal e, se as ideias de Putin forem mais razoáveis do que as apontadas, talvez pudéssemos pensar em adoptá-las.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Será que o Mundo acabou e não dei por isso?

Afinal, tanto quanto me é dado ver da minha casa, o Mundo não acabou ontem como alguns previam. Já passa da meia noite e portanto o dia 12-12-12 já passou e não dei pelo fim do Mundo. Olhei pela janela, liguei a televisão, e tudo parece normal. Os que interpretaram o calendário Mais como prevendo o fim do Mundo para ontem enganaram-se. Mesmo os que defendem que os Maias não previram o fim do Mundo, mas sim o fim de um ciclo e o começo de outro também parecem não ter razão: Nada indica que estamos há minutos num ciclo diferente (talvez infelizmente). Mas ainda há uma esperança, ou melhor, uma razão para o pânico: Alguns "especialistas" nos calendários dos Maias indicam que a data não era a 12 de Dezembro, mas sim a 21. Será que vale a pena comprar prendas de Natal? Sugiro que se adiante o Natal para o dia 20; afinal o Natal é quando um homem quiser!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Adiamento do acordo ortográfico no Brasil. E cá?

A notícia foi festejada por todos os que, como eu, pensam que o acordo ortográfico é um verdadeiro aborto ortográfico e que não deve ser aplicado. Para além de pedir para adiar para 2016 a obrigatoriedade de aplicação do acordo, o senador Cyro Miranda, membro das comissões de Educação e de Relações Exteriores, afirmou: "O acordo está muito confuso. Acredito que tanto Portugal como o Brasil vão pedir para que ele seja revisto". Ora esta é uma notícia ainda melhor do que o adiamento.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

De acordo

Também eu estou de acordo:

«Absolutamente de acordo
Jerónimo: ‘Ninguém peça ao PCP que deixe de ser o que é’  - Antes pelo contrário o PCP deve assumir aquilo que é: um partido comunista, estalinista, defensor de uma solução totalitária para a sociedade portuguesa. O problema é que o PCP raramente assume o que é preferindo falar da sua versão anti (anti-fascismo, anti-capitalismo, anti-liberalismo…)  em vez de falar daquilo que defende: o comunismo.

Por Helena Matos»

Cada vez que vejo ou leio alguma coisa sobre o PCP e principalmente do PCP, lembro-me do que quer dizer ser comunista (desde Marx [o tal do Manifesto], passando por Lenine, Estaline, Mao e Fidel), para enquadrar e relativizar o discurso.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Quem te avisa teu inimigo é

Toda a gente conhece o provérbio "Quem te avisa teu amigo é". É bem certo, mas por vezes é exactamente o contrário, por exemplo no caso de Mário Soares para com Passos Coelho. Soares aconselha Passos a ter cuidado. O conselho até pode ser bom: Num país que há bem pouco tempo assistiu ao apedrejamento durante horas da polícia em frente do Parlamento, está claro que os governantes devem ter cuidado. Para isso contam com as medidas de protecção habituais. Mas Soares engana-se ao atribuir o perigo ao «povo desesperado e, em grande parte, na miséria». Para já, creio bem que Isabel Jonet conhece muito melhor a situação do povo do que o velho governante reformado, e quando ela afirma que em Portugal não há miséria deve estar a falar do que sabe; há pobreza, mas verdadeira miséria deve ser rara e não se pode dizer que "o povo" está "em grande parte, na miséria". Quanto ao "povo desesperado", claro que numa situação de crise há desesperados, mas não é esse o estado do povo, tendo em conta que quando se diz "o povo" devemos estar a significar uma grande parte, a quase totalidade, da população. Os conselhos de Soares mais parecem, e quero bem crer que não seja essa a intenção, ameaças ou até apelo à violência. Até parece que Soares deseja no seu íntimo um levantamento popular que derrube o Governo que ela tanto acusa e que certamente detesta.

Miguel Angel Martinez

Vi com algum espanto, no canal EconómicoTV, passar um roda-pé onde se lia «Austeridade dá "pão para hoje e fome para amanhã"». Fiquei curioso sobre quem teria expressado uma opinião tão contrária à lógica. Recorrendo ao sítio do Económico na net verifiquei que se tratava do Sr. Miguel Angel Martinez, vice-presidente do Parlamento Europeu que proferiu esta afirmação «em Lisboa, à margem da sessão de abertura da 19.ª edição do Fórum Lisboa, subordinada ao tema "A Estação Árabe: da Mudança aos Desafios", uma iniciativa do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, com o apoio da Aliança das Civilizações, da rede Aga Khan para o Desenvolvimento e do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.» Claro que quem assim falou, recorrendo a um ditado espanhol, segundo afirmou, pertence ao PSOE. É curioso comparar esta opinião com o que escreve Tavares Moreira e com o que disse Daniel Bessa, citado por Pinho Cardão. Das opiniões destes ilustres economistas conclui-se exactamente o contrário: A austeridade não dá pão hoje, infelizmente; até pode dar alguma fome hoje, mas se quisermos evitá-la, como alguns pretendem, teremos de conseguir meios de financiamento para sobreviver e para as medidas que promovem o crescimento, com o que aumentaríamos a dívida e teríamos, em vez do pão para amanhã, fome redobrada.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A vida deu e dá razão

Sempre me tem parecido que a comunicação social e principalmente as TVs têm quase sempre uma certa complacência para com o Parido Comunista, os seus membros e compagnons de route e as suas ideias. Posso estar enganado, mas o tempo e as palavras que dedicam às acções do PCP ultrapassam o que seria natural e expectável para a importância do Partido em termos eleitorais. Se tivesse dúvidas, o relevo dado ao Congresso em curso neste fim de semana tê-las-ia dissipado, principalmente no sábado com a transmissão em directo nos 3 canais informativos do filme de propaganda e de culto da personalidade "A Vida deu e dá razão". Sobre o carácter panfletário deste filme não ouvi uma palavra, mas ouvi "Álvaro Cunhal está a ser recordado" e "Delegados prestam homenagem ao líder histórico Álvaro Cunhal". Se bem me lembro, quando de congressos de outros partidos mais importantes, não se dá normalmente tratamento semelhante. Claro que sei que Álvaro Cunhal teve grande importância na política portuguesa recente e teve as qualidades de coerência (no erro comunista), de firmeza (no mesmo sentido) e de visão estratégica (para os respectivos fins), mas isso não justifica o endeusamento que o filme demonstra.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um país triste, pobre e revoltado

O New York Times publicou um artigo sobre a actualidade portuguesa ilustrado com fotografias do fotógrafo brasileiro Maurício Lima. O artigo (pelo menos na versão em linha) é factual, mas dá, em minha opinião, um retrato da situação que ignora parte da realidade. Por exemplo, ao afirmar que “São cada vez mais frequentes manifestações do tipo das que têm sido vistas em outros países que enfrentam crises económicas”, diz a verdade, mas apesar de serem cada vez mais frequentes estão longe do que se tem relatado na Grécia, em Espanha e mesmo em Itália em termos de frequência e de violência, além de que se tem notado alguma diminuição no número de participantes. Também quando diz que “Os salários dos trabalhadores têm sofrido cortes tanto no sector público como no privado”, esquece que os cortes no sector privado estão previstos no orçamento, mas ainda não foram realizados. Ainda ao dizer que “os reformados enfrentam aumentos no custo da saúde” poderia acrescentar que, se por um lado houve aumento das taxas moderadoras, a grande maioria dos reformados estão isentos, e que o preço dos medicamentos até baixou. Mas no fundamental a notícia está correcta.

O título do artigo é “Os portugueses juntam-se ao coro europeu de indignação”. Enfim, não serão todos os portugueses, mas já vamos estando habituados a estas generalizações abusivas nos meios de comunicação. Mais grave é o título escolhido pela TVI para divulgar o artigo: “Um país triste, pobre e revoltado”. Há muitos portugueses tristes, outros pobres e alguns revoltados, até pode haver alguns que têm as três situações, mas não é o estado geral do País. É , no entanto o que as fotografias escolhidas para ilustrar a notícia levam a crer. Maurício Lima pode ser um fotógrafo com um grande currículo e muito apreciado, mas as fotografias que acompanham o artigo não me parecem muito felizes para dar uma ideia da situação actual no nosso País. A demolição de casas ilegais ocupadas por imigrantes de Cabo Verde ocorreu, mas não é uma característica actual do País. Não sei quais são os “hospitais que estão a fechar”. A mudança dos móveis e pertences de um “idoso que morreu” não ilustra nada, a não ser que morrem idosos; os móveis até me parecem terem boa qualidade. Existem sem-abrigo, mas o que se mostra na fotografia deve ser um caso extremamente raro. Grafiti existem em quantidade em Lisboa, mas ainda não vi nenhum que se refira à elevada taxa de desemprego. Os ângulos escolhidos e o preto e branco parecem ter como propósito dar um aspecto triste. Maurício Lima deve tê-los escolhido propositadamente, mas não dá um retrato fiel de Portugal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Condições de crescimento aumentaram drasticamente

Lido no Chicago Tribune:

«On a recent visit to Portugal, German Chancellor Angela Merkel endured some nasty public protests, including displays of swastikas and catcalls such as, "Merkel Nazi, Go Away." As head of Europe's largest and most successful economy, Merkel is pushing fiscal discipline across the continent. She recognizes it is a tough path to follow. But she is exactly right when she notes that Portugal's "conditions for growth" have improved dramatically, as a result of "the courageous action of its government."»

E esta, hem?

E ainda, conforme salientado no Quarta República:

«Hollande has to muster the same political courage as leaders of Portugal and his counterpart, President Cavaco Silva, to make France competitive again.»

Que dirá Seguro?

Maré baixa nas manifestações

A manifestação de ontem frente ao parlamento para protestar contra a aprovação do OE2013 suscita-me as seguintes observações:

1) É de louvar o comportamento pacífico dos manifestantes da CGTP, aliás em resposta ao apelo nesse sentido de Arménio Carlos. Mas este comportamento não significa necessariamente que a CGTP e os seus membros sejam incondicionalmente contra a violência. Em primeiro lugar, trata-se confessadamente de um comportamento estratégico. Arménio Carlos disse, com razão, que a violência dá argumentos ao Governo. Portanto a ausência de violência tem, pelo menos primariamente, por fim evitar dar argumentos ao Governo. Em segundo lugar, o secretário-geral da CGTP repetiu que era contra "a violência gratuita". Esta repetição deixa adivinhar que a organização poderá aprovar ou mesmo promover comportamentos violentos desde que não sejam "gratuitos", o que, segundo a minha interpretação, poderá ser o caso de violência que seja um meio necessário para conseguir os fins pelos quais a CGTP luta. É bem sabido que para o partido do qual o movimento sindical é, ou deveria ser, a correia de transmissão, os fins justificam os meios.

2) Uma dezena de jovens fizeram tristes figuras ao aparecer mascarados de palhaços e a fazer palhaçadas. Será uma forma de luta de indignados, de anarquistas ou simplesmente de palhaços?

3) O movimento sindical e a oposição em peso deve meditar nas razões que levam a que as afluências às manifestações tenham uma tendência para diminuir cada vez mais. Pelo menos a avaliar pelas imagens das TVs, a manifestação de ontem teve fraca adesão.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aprovação do OE

Sou dos muitos que se congratularam com a aprovação do OE 2013, apesar de prejudicado pessoalmente nos meus rendimentos e também familiarmente nos respectivos. Mas não gosto de viver à custa de dinheiro emprestado, portanto suporto o sacrifício (ou pelo menos julgo que serei capaz de suportar).

Segui com interessa alguns momentos do debate de hoje antes da aprovação. Retive principalmente duas frases de representantes da oposição que demonstram uma certa confusão mental. Penso que não queriam bem dizer o que disseram ou não deram pelas contradições do discurso. Lá vai:

António Filipe (PCP) afirmou: "Não há alternativa com esta política." Então, se não há alternativa, porque votou contra? Os deputados do PCP estão fartos de dizer que há alternativa, e vêm agora dizer que não a há? Pensou no que disse?

António José Seguro, sobre as previsões da OCDE de maior recessão e mais desemprego hoje anunciadas disse que este anúncio "significa que terá de haver mais austeridade, mas a austeridade não resolve os problemas do país." Parece uma confissão de que quando há recessão e quando o desemprego aumenta terá de haver mais austeridade, ou seja, a austeridade é a resposta necessária ("terá de haver") a essas situações. Mas se não resolve os problemas, porque é que terá de haver mais? Onde está a lógica?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Carros velhos

A anunciada medida de proibição da circulação de carros antigos nas zonas centrais de Lisboa é um verdadeiro atentado à liberdade de circulação dos cidadãos e pode contribuir para um retrocesso no equilíbrio da balança de pagamentos com o exterior. O meu velho carro, de 1998, anda perfeitamente e ainda há dias passou na inspecção obrigatória. Quando vou à baixa utilizo normalmente os transportes públicos e só uso o automóvel se preciso levar companhia. Pois a partir de Abril ou Maio do próximo ano já não me posso dar a esse luxo: na baixa e na Avenida da Liberdade não há liberdade para circular com veículos automóveis anteriores ao ano 2000! Sou o mais possível a favor dos transportes públicos e gosto mesmo de andar de metro, mas nem todas as pessoas têm a facilidade que eu ainda vou tendo de subir e descer escadas e nem todos os locais estão bem servidos de transportes. Mas há mais: A minha filha tem um carro ainda mais antigo, uma coisa que a Câmara considera, ao que parece, quase pré-histórica, com matrícula de 1994. Apesar de ser dotado de catalisador e de estar em muito bom estado, a partir de 2013 não poderá entrar na zona limitada pela Av. de Ceuta, Eixo Norte-Sul, Av. Forças Armadas, Av. E.U.A., Av. Marechal António Spínola, Av. Santo Condestável e Av. Infante D. Henrique, isto é, a maior parte da cidade. Estes casos familiares servem apenas para exemplo, mas penso que são, em certa medida, representativos de muitas situações. Andei pelo meu bairro a olhar para as matrículas dos automóveis estacionados. Há alguns, não muitos, anteriores a 1996, que estão, portanto, na situação do carro da minha filha, mas os anteriores a 2000 são muito numerosos. Pensou o Presidente da Câmara nos inconvenientes que causa aos numerosos munícipes proprietários destas carros? Os casos dos táxis e dos veículos que fazem entregas ou outras deslocações em serviço por toda a cidade são talvez os mais graves, mas muitos particulares serão muito prejudicados. Alguns serão mesmo forçados a adquirir automóveis novos para poder fazer as deslocações a que estão obrigados para irem trabalhar, levar filhos às escolas ou outras razões, tendo de investir quantias importantes num momento de crédito escasso e de dificuldades financeiras. Ainda por cima, o valor dos seus carros velhos passará a ser praticamente nulo. A importação em quantidade extraordinária de novos automóveis terá influência negativa nas contas nacionais. Ainda não apareceu uma petição a solicitar a suspensão desta medida, mas será por demais justificada.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

4% ou 3,5%, eis a questão

A descida da sobretaxa sobre o IRS solicitada pelos deputados do PSD e do CDS e aceite pelo Ministro das Finanças dos 4% previstos na proposta de Orçamento de Estado para 2013 para uns meros 3,5% tem sido desvalorizada pela oposição e por vários comentadores. É certo que é uma descida de apenas 0,5%, o que, segundo cálculos divulgados pela comunicação social, representará, para um salário médio, só cerca de 10 € por mês, o que é insignificante, na verdade. No entanto, quando a proposta da sobretaxa de 4% foi apresentada, foi considerada um valor enorme, quase incomportável. Se bem que 4% seja 8 vezes a baixa agora concedida, se esta vale apenas 10 € por mês, o valor da proposta inicial seria apenas 80 € mensais, o que, sendo dinheiro, não dá para arruinar ninguém com o tal salário médio. Mas nessa altura ninguém fez as contas e a coisa foi apresentada e criticada dentro do pacote do "enorme" aumento de impostos, como se fosse mais uma enormidade.

Ainda a propósito da sobretaxa: Se não estou em erro, já pagamos desde 2011 uma sobretaxa de 3,5% sobre o IRS, imposta pelo OE para 2011, aprovado em 2010, mas nessa altura não deu a polémica que agora está a dar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Afirma Gaspar

A conferência de imprensa de Vítor Gaspar foi a mais calma e com menos surpresas desde a sua tomada de posse. De tudo o que foi dito, para além de ter reafirmado o cumprimento das metas e de ter avançado previsões macroeconómicas até 2016, o que retive foi a afirmação de que a reforma do estado social terá como objectivo chegar a "o estado social que os portugueses querem ter e que os portugueses podem pagar". O problema é que, como o próprio Vítor Gaspar reconheceu há dias, estes dois estados sociais não coincidem. O que penso que vai suceder é que os portugueses terão de se contentar com o estado social que podem pagar. E contra isto não há pressões, manifestações ou declarações da oposição que possam ter qualquer efeito. Como dizia o meu avô: O que tem de ser tem muita força.

Moody's corta notação da França

Então a Moody's corta a notação financeira dos títulos do Governo francês e por cá ninguém acha que é uma notícia suficientemente importante para interromper a emissão ou pelo menos introduzir a notícia em roda-pé, nem sequer os canais de informação? Mesmo nos sítios em linha na net, só encontrei a notícia na TSF, Expresso e Jornal de Notícias. Nas televisões nem sequer a Euronews e dos portugueses nem o canal Económico conseguem informar em devido tempo uma notícia desta importância!

PS: Soube da notícia pelo canal Bloomberg.

sábado, 17 de novembro de 2012

Critérios informativos

Os caminhos dos critérios informativos são insondáveis. Ou talvez até nem tanto. Veja-se este exemplo (visto no Quarta República):

«1. O Boletim Económico do Outono, esta semana divulgado pelo BdeP, apresenta, no que se refere às previsões económicas para 2013, três pontos que merecem especial atenção: (i) um cenário mais negativo para o desempenho global da economia, com uma nova contracção do PIB, de 1,6%, quando na anterior edição do Boletim (Verão) a apontava uma estagnação; (ii) apesar da maior negatividade do cenário económico, a previsão de variações positivas do PIB, em cadeia, a partir do 3º trimestre; (iii) e um cenário muito mais positivo no que se refere ao comportamento das contas com o exterior, com a previsão de um superavit das balanças de bens e serviços de 4,5% do PIB (era apenas de 0,8% do PIB no Boletim do Verão) e tb um superavit da balança corrente+ balança de capital, de 4% do PIB

 Porque só mereceu relevo informativo nas TVs o ponto (i), altamente negativo, e, que eu desse por isso, nada se disse sobre os pontos (ii) e (iii), muito positivos? Como nota Tavares Moreira, só "mereceu a atenção da comunicação social" "a previsão mais negativa" "por ser desfavorável".  Obviamente, critérios informativos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Violência

Foi possível ver várias vezes, nas numerosas manifestações que têm ocorrido em Portugal nestes últimos tempos, cartazes a afirmar que "Isto não vai lá sem violência" ou "Isto não vai lá sem sangue" ou coisas do género. Também em declarações de manifestantes se ouviram apelos semelhantes; lembro-me especialmente de um protestante que disse ser estivador e que estava mesmo integrado no grupo de estivadores que participou na manifestação de 15 de Setembro no Terreiro do Paço ter declarado à jornalista, que interrogava o grupo, que seria necessário violência para mudar o sistema que impunha a austeridade. Pois bem: Os que tanto desejavam violência e sangue tiveram ontem o que queriam, e bem repartida para ambos os lados: manifestantes e polícia. Claro que, pelo menos oficialmente, a manifestação promovida pela CGTP foi pacífica e ordeira e não esteve implicada nos desacatos que ocorreram frente à AR depois da desmobilização dos sindicalistas. O facto de já em outras iniciativas da CGTP se terem ouvido apelos à violência não implica que a CGTP como organização ou algum dos seus quadros esteja de acordo com estes apelos, assim como a detenção de um sindicalista da CGTP depois dos desacatos de ontem também não. De resto ainda não foi revelada a identidade nem a relação com a central sindical deste detido.No entanto é de notar que em nota emitida hoje, a CGTP condena a "violência gratuita" que se verificou; será que se a violência não for gratuita já será aceitável para a organização?

Mas de tudo isto, fica uma dúvida maior: Os incidentes da tarde de ontem frente à AR, e que são devidos alegadamente a alguns jovens excitados ou a "desordeiros profissionais", serão uma ensaio ou preparação para qualquer coisa maior? Veremos repetirem-se em maior escala incidentes do mesmo tipo nas manifestações futuras, sejam promovidas pela CGTP, pelo movimento "Que se lixe a troika" ou por qualquer outra organização? Espero que no dia 27 se desmintam estas desconfianças.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A greve dita geral

O que eu penso da greve geral, que não foi geral (nem foi uma das maiores de sempre, a não ser que se considerem maiores de sempre todas as que não foram mais pequenas) está aqui. Com preguiça de escrever, e como é mesmo o que eu penso, limito-me a remeter para o Forte Apache.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Informação enviesada ou parcial

A visita de Angela Merkel decorreu sem incidentes e sem surpresas, ou melhor, a única surpresa foi a fraca comparência de manifestantes em todos os locais em que se esperavam multidões a protestar. Na Praça do Império os jornalistas deambulavam entre pequenos grupos ou manifestantes isolados, mas os espaços vazios eram superiores à área ocupada. Uma jornalista, logo de manhã, informava, com alguma surpresa, que estariam umas 30 pessoas. Pareceu-me uma estimativa por baixo e é certo que posteriormente se juntou mais gente, mas penso não terem passado de algumas dezenas. O Largo do Calvário parecia mais cheio, mais pela diminuta área do largo do que pelo número de manifestantes. Junto ao aeroporto só a TV só conseguiu mostrar os 2 "homens da luta"; manifestantes, nada. Uma senhora, em frente do Palácio de Belém, explicou que a fraca afluência se devia a ser um dia de trabalho (mas estão os desempregados e os pensionistas não chegavam, infelizmente, para encher bem aquele espaço?) e pela presença de barreiras da polícia que obrigava os manifestantes a caminhar longas distâncias, o que tinha feito desistir muita gente. Fraca militância!

Mas a fraca afluência e a importância do evento não foram factos suficientes para que alguma comunicação internacional prestassem mais atenção à visita do que aos protestos. Assim, a Euronews afirma "Merkel foi recebida pelos portugueses com protestos e pelo Governo com elogios". Os portugueses? Poucas dezenas representam os portugueses? Quem viu as imagens de algumas manifestações recentes na mesma Praça do Império ou na Praça de Espanha teve mais a noção de como era minoritária a manifestação de hoje. A notícia era a falta de protestantes e não o facto de ter havido alguém a protestar. Por sua vez a Al-Jazeera noticiou em roda-pé."Protesters in Portugal rally against german chancellor Angela Merkel in opposition to spending cuts and taxes rises". É certo que no desenvolvimento da notícia a Aljazeera deu mais pormenores da visita com o devido relevo, mas mesmo assim pôs a tónica nas manifestações, embora reconhecendo que foram apenas duas dezenas de protestantes. Estes importantes órgãos de informação deram, pois, notícias enviesadas ou parciais.

domingo, 11 de novembro de 2012

Oportuno

Vale a pena ver a entrevista que a jornalista Isabel Silva Costa fez à chanceler (ou será chancelarina, como diz Seguro) Angela Merkel. Perguntas bem feitas e respostas bem informativas e esclarecedoras sobre a posição da mulher que dirige a Alemanha e que maior influência tem na política europeia. Isabel Silva Costa colocou a chanceler perante as dúvidas e acusações que muitos lhe fazem em Portugal. Merkel não fugiu às questões e foi muito clara quanto às responsabilidades que reconhece, explicando que, se considera necessária a austeridade, não tem culpa das causas desta necessidade. Muito oportuno. Claro que não convence, nem um bocadinho, os críticos e os que acusam Merkel de ser a causa de todos os nossos males. Mas talvez faça pensar alguns que não estejam de má fé.

Fraquinho

Se era com este vídeo que Marcelo pensava impressionar os alemães, falhou redondamente. Claro que não é culpa de Marcelo que o vídeo tenha resultado tão fraquinho, mas como a ideia foi dele, cabe-lhe uma parte da responsabilidade. Rodrigo Moita de Deus não soube dar ritmo e estrutura ao vídeo. Talvez não fosse possível sem mais meios e um orçamento muito maior, mas então teria sido melhor desistir da ideia. Se queria transmitir alguma informação útil ao povo alemão, ficou pela rama. E quando fala que "também cometemos alguns erros", parece querer insinuar que a culpa desses erros foi dos alemães. É aparentemente uma provocação. Se não era essa a intenção, parece.

Ainda há Movimento Nacional Feminino?

Continua a campanha contra Isabel Jonet. Desta vez foi o coordenador cessante Louçã a referir-se à Presidente do Banco Alimentar contra a Pobreza como "a senhora do Movimento Nacional Feminino a brincar à caridadezinha". Porquê tanta raiva? Porque é que até agora, que eu saiba, nem Louçã, nem o BE, nem em geral a esquerda acusara IJ ou o BACF de serem "caridadezinha", coisa nojenta e detestável, pelos vistos, ou de serem instrumentos da direita, cripto-capitalistas ou outras barbaridades? Já se sabe que para a esquerda a caridade é uma coisa terrível e a caridadezinha ainda pior. Já nos meus tempos de estudante se sabia que a esquerda recomendava que não se desse esmola aos pobres porque isso atrasava a revolução. Será ainda pela mesma razão que a caridade é tão mal vista? Ou por ser uma palavra muito usada pela igreja? Mas a esquerda da redistribuição da riqueza por meio de impostos progressivos não suporta que se ajudem os pobres?

sábado, 10 de novembro de 2012

Temos direito a comer bifes todos os dias

Fiquei espantado com as reacções da esquerda às declarações de Isabel Jonet na entrevista que deu à SIC. Seguramente é por ingenuidade minha. Vi a entrevista e pensei que o que IJ tinha dito fazia sentido. Posso mesmo acrescentar que subiu na minha consideração. Murmurei até: "Haja quem diga umas verdades!" Afinal há quem a considere "uma gaja nojenta", a acuse de "achar necessário empobrecer os portugueses" e de ter "intenções... terroristas e disfarçadas de solidariedade" (num comentário a esta mensagem do blog Corta-Fitas). Este é só um exemplo extremo das reacções e acusações de que IJ tem sido alvo. Até se chegou ao disparate de propor um boicote ao Banco Alimentar! Afinal porquê? Por ter dito que os portugueses vão empobrecer? Por ser de opinião que em Portugal não existe miséria (como a que viu na Grécia)? Repare-se que não disse que não existe pobreza. Miséria e pobreza não são sinónimos. Por ter dito que não se pode comer bifes todos os dias? Já uma vez expressei a minha opinião que não há um real empobrecimento dos portugueses; já éramos pobres, só que, como vivíamos à custa de dinheiro emprestado, não dávamos por isso. E será um direito adquirido comer bifes todos os dias que não pode ser discutido?

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Grécia: alívio

O parlamento grego acaba de aprovar as medidas de austeridade que permitem que a tranche do empréstimo bloqueada desde Junho seja libertada. A aprovação esteve em perigo por causa da recusa do partido DIMAR, que, apesar de fazer parte da coligação de governo, se opunha às medidas. A votação esteve também por ser adiada, uma vez que os funcionários do parlamento decidiram aderir à greve geral que dura desde ontem, o que se pensou que inviabilizaria o acto. Afinal votou-se e conseguiu-se reunir os 151 votos necessários. É um alívio para a Grécia, um alívio para o euro e um alívio para nós, portugueses.

Reduzir o défice pelo crescimento

Seguro disse ontem na entrevista que deu à SIC que não está de acordo com o corte de 4000 milhões de euros na despesa. À pergunta da jornalista, Clara de Sousa, como será então possível cumprir a meta do défice em 2013, respondeu que o que preconiza e tem repetido sempre é crescimento em vez de austeridade, visto que, sendo o défice uma dada percentagem do PIB, se pode reduzir o défice expresso em percentagem pelo crescimento em vez de ser pela redução da despesa. Matematicamente o raciocínio é rigoroso, mas experimentei fazer umas contas, a partir do PIB previsto para 2012 e da previsão de crescimento do PIB para 2013 (negativo), para saber quanto teria de ser o crescimento se se pretendesse obter um défice de 4,5% em 2013 sem o efeito correctivo dos 4 mM. Cheguei a um crescimento absolutamente absurdo de 54%. As contas são as seguintes:

O PIB 2012 previsto para 2012 é de 166.341,1 milhões de €.
Se o PIB cair 1% em 2013, como previsto, será nesse ano de 164.677,7 M€.
A meta do défice é de 4,5% deste último valor, ou seja  7.410,5 milhões de €.
Se são necessários 4000 milhões de cortes na despesa para atingir essa meta, é que o défice previsto sem essa correcção seria de 11.410,5 milhões, o que corresponde a 6,93% do PIB de 2013.

Para que este défice de 11.410,5 milhões corresponda, sem a correcção, a apenas 4,5% do PIB,
este teria de crescer em 2013 até 253.566,6 milhões de €, ou seja, o crescimento do PIB teria de ser de 88.888,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 54%.

A redução do défice pelo crescimento é desejável, mas só é possível a médio/longo prazo. Entretanto, das duas uma: Ou se vão fazendo défices sucessivos e para isso é necessário obter financiamento, o que se afigura dificílimo, e faria crescer ainda mais a dívida pública, ou se diminuem os défices rapidamente, seja pelo lado da receita, como o OE para 2013 pretende fazer maioritariamente, seja do lado da despesa, como se prepara para 2014 e seguintes com o corte dos tais 4000 milhões que Seguro desaprova. Recusar o corte e pedir que todo o ajustamento seja feito por meio do crescimento é absolutamente impossível, pois só crescimentos estratosféricos o permitiriam (é fazer as contas!), quando o que perfila para 2013 é até ainda um clima de recessão e para 2014 um crescimento anémico. Aliás, para quem protestou veementemente contra o brutal aumento de impostos, a recusa de cortes na despesa é irracional.








terça-feira, 6 de novembro de 2012

João Salgueiro

Na entrevista dada por João Salgueiro no programa Portugal 2012 na SIC-N ouvimos algumas das mais clarividentes observações sobre a economia portuguesa. O comentário que mais me chamou a atenção, feito em resposta a uma pergunta de António José Teixeira sobre se achava que o Governo tinha condições para continuar, foi o seguinte: "O actual Governo tem uma excelente condição para continuar: é que ninguém quer ir para lá." Pois é: Por muitos erros e omissões que os membros do actual Governo façam, temos de lhes reconhecer que só por patriotismo se aguentam no seu posto. Bem pode Mário Soares pedir que o Governo se demita. Quem quereria ir para lá nas actuais condições?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Grande descoberta!

Com grande alegria, li no Insurgente que tinha sido descoberta a saída do País para a crise:

«Está encontrada a solução para os problemas do país: PS e CGTP defendem novo modelo económico que promova crescimento e coesão
“Existe grande convergência entre nós, a CGTP e a UGT relativamente à necessidade de uma estratégia de crescimento e ao facto de que qualquer sociedade precisa de coesão social”, disse o líder socialista.
Como é que ninguém pensou nisto antes?»

Espero bem que, patrioticamente, Seguro tenha dado todos os pormenores desta extraordinária estratégia na reunião que teve hoje com o Primeiro Ministro e não guarde segredo para a aplicar só quando for governo.

Não ao Estado low-cost

António José Seguro afirmou que o Governo não pode contar com o PS para criar o Estado low-cost. Por consequência, defende um Estado high-cost, o que não é novidade, aliás no seguimento do very high-cost de Sócrates. Só não sei onde vai Seguro arranjar dinheiro para este elevado cost.

domingo, 4 de novembro de 2012

Novilíngua

Um dos maiores perigos da adopção do acordo ortográfico (que continuo a escrever com minúsculas, visto não lhe atribuir importância de maiúsculas, isto para não lhe chamar Aborto Ortográfico ou Desacordo Ortográfico) é uma possível e até talvez provável deriva de pronúncia como consequência da anulação das consoantes não pronunciadas que marcam vogais abertas que não pertencem à sílaba tónica (como em actor - ator, por exemplo). Temo bem que, com o tempo, haja tendência para vir a pronunciar estas vogais como mudas, alterando não só a ortografia, mas a própria pronúncia, o que em muitos casos pode dar lugar a confusões. Acontece que existem muitas palavras com terminação semelhante, mas que não possuem a consoante não pronunciada e em que a respectiva vogal é muda, diferentemente das palavras em que o acordo manda agora suprimir a consoante.

Para melhor compreensão do problema, apresento em seguida um pequeno quadro com alguns exemplos:

ortografia actual    segundo o a.o.    palavras com terminação semelhante, mas em que a vogal anterior à                                                        sílaba tónica é muda
actor                     ator                    estivador, motivador
sector                   setor                   cobertor, regedor, devedor,  corretor
corrector              corretor               idem
director                diretor                 idem
preceptor             precetor              idem
directora              diretora               agressora, devedora,
preceptora           precetora            idem
acção                    ação                   formatação, motivação, colação, atribulação, filiação
facção *               fação                 idem
infecção               infeção              tropeção, recessão, concessão
direcção              direção               idem
acepção *           aceção                idem
decepção *         deceção              idem
concepção *       conceção           idem
percepção *        perceção            idem
recepção *          receção              idem
excepção            exceção              idem
aspecto *            aspeto               coreto, carreto espeto, Gepeto, graveto
correcto              correto               idem
dilecto                 dileto                  idem
directo                direto                  idem
espectáculo        espetáculo        hibernáculo, senáculo, tabernáculo
receptáculo         recetáculo         idem
baptizado            batizado            organizado, granizado
baptismo             batismo             fanatismo, tribalismo
factura                fatura                 soldadura, formatura
respectivo *       respetivo           assertivo
objectivo           objetivo              idem
detectar *          detetar                secar
intersectar *       intersetar           estatelar
bissectriz            bissetriz            meretriz
actriz                   atriz                    nariz

* No Brasil conservam a consoante antes do c ou t, porque se pronunciam, mas não em Portugal!

Já basta certas pronúncias incorrectas que começam a ser frequentes não só entre jornalistas e outras pessoas, como vàcina por vacina (“a” mudo), béco por beco (pronúncia bêco). Mesmo antes do acordo era também frequente pronunciar “corrector” para designar quem trabalha na corretagem (de acções ou outros títulos de valores), quando quem faz corretagem é um corretor, quem corrige é um corrector. Se neste caso se tira o “c” as palavras passam a ser homógrafas e haverá inevitavelmente tendência para se tornarem homófonas, estabelecendo a confusão.

Se esta deriva de pronúncia se verificar, teremos uma autêntica “novilíngua”.

Ainda há classe média?

Uma das acusações mais frequentes que é feita à actual política do Governo é de que está a destruir a classe média. Está realmente a classe média a desaparecer? Todos os componentes da classe média estão a ser integrados nos pobres? Não acredito. Está a ser, sem dúvida, a classe mais sacrificada, já que os realmente pobres são em parte poupados ao aumento de impostos, aos cortes nos salários, ao congelamento das pensões e, excepto nos casos de desemprego, são menos sacrificados, e os ricos, embora com grandes perdas nos seus activos e por vezes nos seus rendimentos, pela progressividade dos impostos, pelos maiores cortes em salários altos, pela depreciação do património (incluindo participações sociais), pelas falências, têm em geral melhores condições de aguentar estas perdas ficando ainda em condições confortáveis. A classe média, entalada entre estes dois extremos tem, também pela sua dimensão, a maior quota de sacrifícios e não possui as almofadas que lhe permitam manter um mínimo de conforto.

No entanto há diariamente alguns factos que me fazem duvidar que o grosso da classe média esteja assim tão sacrificada. Ainda ontem 4 notícias me fizeram pensar no assunto: O concerto de Tony Carreira teve lotação esgotada. Um empresário que faz tatuagens não tem mãos a medir. Um grupo de caçadores preparava-se para uma batida a javalis. Em Bragança prepara-se uma feira de caça, pesca e castanha. Será que quem frequenta estes eventos em grande número são apenas pobres ou ricos, já que a classe média está a ser destruída?

sábado, 3 de novembro de 2012

Alberto João, e agora?

A vitória à tangente de Alberto João Jardim nas eleições para a presidência do PSD-Madeira deixa o partido regional com um grande problema: Nas próximas eleições para o Governo da madeira, Jardim já não se poderá apresentar, Albuquerque, derrotado, embora por curta margem, não está também em condições de concorrer. Quem será o candidato do PSD-M e provável próximo Presidente do Governo Regional?

Ao que chegou este país...

Ao que chegou este país! O Parlamento cercado por centenas de manifestantes gritando "Demissão!", alguns exaltados a ponto de, entre insultos, provocarem a polícia, de atirar pedras, garrafas e petardos. Durão Barroso vaiado e insultado por uma dezena de indivíduos à saída de um teatro em Almada. Manifestações de indignados, de trabalhadores, de pensionistas, de militares. Na manifestação diante da AR no dia da votação na generalidade do OE para 2013, as TVs até entrevistaram mascarados. Alguns dos entrevistados, sem máscara, afirmavam com ar calmo que "isto não vai lá sem violência". Já na manifestação da CGTP de 29 de Setembro no Terreiro do Paço, um estivador defendia que "era preciso sangue". No dia 31, frente à AR, todos pediam demissão, mas não sei bem de quem; como estavam à porta do Parlamento, seria de admitir que queriam a demissão dos deputados, mas perece-me que o verdadeiro alvo era o Governo. Em vários cartazes lia-se "O orçamento não passará". Suponho que a maioria dos portadores destes cartazes e dos que gritavam slogans do mesmo tom não terão a mínima ideia das consequências de uma reprovação do orçamento.

Um manifestante afirmava que "O Povo perdeu o medo". Não sei porque razão o Povo havia de ter medo: Vivemos em democracia e ninguém é prejudicado por expressar a sua opinião ou por se manifestar (desde que não atire pedras à polícia, obviamente). Parece-me que, perante os insultos, as ameaças e os apelos à violência o que alguns perderam foi a vergonha e a dignidade, mas esses não são "o Povo", podem pertencer ao Povo, mas são uma pequena parcela desse Povo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O estranho caso das bactérias marcianas

Vi há dias na SIC a notícia sensacional de que em "Cabeço de Vide [Alentejo] "em 2008 foi detectada uma bactéria também detectada no planeta Marte" e que a "vida na Terra pode ter começado numa vila alentejana". Pareceu-me uma reportagem absolutamente disparatada e sem fundamento, tudo se resumindo ao interesse da NASA na análise de água de umas termas locais pelas características geológicas do local e a especulações sobre o assunto. Mas agora (Domingo, dia 28) a TVI24 emitiu uma reportagem em tudo semelhante repetindo a notícia de que em Cabeço de Vide tinha sido encontrada "a mesma bactéria recolhida em Marte". Bactérias recolhidas em Marte? Quem foi lá recolhê-las? Terá sido um dos veículos robôs americanos? Mas como enviou a amostra de bactérias para a Terra? E porque não foi dada a notícia sensacional e só é divulgada agora a propósito de Cabeço de Vide?

Resolvi fazer uma pequena investigação na internet sobre a possibilidade de ter sido descoberta vida bacteriana em Marte. Descobri realmente que tinham sido divulgadas notícias datadas de 2009 sobre esta descoberta. Curiosamente detectei 62 notícias todas provenientes do Brasil e exactamente com a mesma redacção, que refere a divulgação, pelo "pesquisador Niel Darvin do JPL" da descoberta de bactérias em Marte,  que seria descrita em pormenor na "revista Natura". Também curiosamente as ligações (links) do texto da tecnoclasta não conduziram a nada. Segui então duas pistas: 1) Procurar pelo nome do técnico citado nas notícias: Niel Darvin; 2) Procurar no sítio da NASA alguma referência a vida em Marte; 3) Procurar todas as referências sobre vida em Marte, bactérias em Marte ou qualquer relação de Cabeço de Vide ou do Alentejo a Marte. 4) Procurar qualquer referência a vida em Marte ou a Niel Darvin numa revista chamada "Natura" ou na Nature. Os resultados foram os seguintes:

1) O nome deste pesquisador não aparece referido nem no sítio do Jet Propulsion Laboratory nem na net em geral, a não ser nas 62 notícias iguais referidas com redacção idêntica e provenientes do Brasil, sem confirmação nas ligações propostas.

2) São raras e apenas hipotéticas as referências no sítio da NASA a vida em Marte. O que se aproxima mais do pretendido refere-se a cristais de magnetite encontrados num meteorito proveniente de Marte que, pelas suas características, se pensa requererem uma "intervenção biológica para explicar a sua presença".

3) Nada consta sobre qualquer confirmação por parte da NASA de bactérias em Marte. O que encontrei foi uma série de desmentidos em comentários às notícias da SIC e da TVI aqui, aqui e principalmente aqui.

4) Não parece existir qualquer revista científica chamada Natura. Admitindo que se pode tratar de um lapso e se refira à Nature, a busca foi estendida e esta revista. No sítio da Nature não consegui encontrar qualquer referência a assuntos relacionados com a descoberta de vida em Marte, com Niel Darvin ou Niel Darwin  ou com Cabeço de Vide ou o Alentejo.

Conclusão: Completo disparate. Como é possível que jornalistas profissionais, directores de informação e chefes de redacção (se é que os há; antigamente havia nos jornais) deixem emitir notícias com tão pouco fundamento?

domingo, 28 de outubro de 2012

Reindustrialização

As jornadas parlamentares conjuntas dos partidos da coligação que decorreram na Sexta-feira e no Sábado passados tiveram pelo menos o mérito de podermos ouvir os vários ministros a expor o que foi feito e o que tencionam fazer cada qual no seu ministério, para além do discurso final do Primeiro Ministro que esclareceu também a ideia do rumo a seguir. Se nada mais tivesse ouvido, valeu a pena só para assistir à declaração do Ministro Álvaro Santos Pereira de que a reindustrialização é um desígnio nacional e que a Europa planeia incentivar a reindustrialização, estando Portugal na primeira linha.

Trabalhei a maior parte da minha vida profissional na Indústria e, quando mudei para o sector terciário, foi para serviços prestados à Indústria. Ao longo dos anos assisti à desindustrialização da Europa e particularmente de Portugal com pena e preocupação. Agora, que, não só a Europa, mas o Ocidente depende da fábrica do mundo que é a China, sei que não é fácil inverter a tendência que foi arvorada em desígnio de deixar o sector primário para uma pequena minoria, deixar minguar o sector secundário e fazer crescer o terciário desmesuradamente, mas se for verdade que há planos de incentivar a reindustrialização já é uma boa notícia.

sábado, 27 de outubro de 2012

Mistério

É para mim um mistério porque é que ainda há quem ache útil entrevistar Mário Soares. Hoje (26) não consegui ver por completo a conversa que teve com Maria Flor Pedroso, simplesmente porque não aguentei tanto disparate. Bastou-me ouvir Soares repetir com um sorriso as suas ideias chave: 1) O Governo deve demitir-se imediatamente e, se não se demitir, deve ser demitido pelo Presidente da República. 2) Depois da demissão do Governo, o PR deve decidir o que fazer, mas eleições antecipadas não são a melhor solução porque o processo é demorado e seria mau para o País esperar esse tempo (Neste último ponto, até estou de acordo). 3) A austeridade deve acabar imediatamente. 4) A crise da dívida resolve-se de um dia para o outro se o BCE puder emitir mais dinheiro. Nunca votei Soares, mas mesmo assim tenho vergonha de o ter tido com Presidente da República. Tenho a impressão que nesse tempo, apesar de não ter então concordado com as suas políticas, não era tão primário nas suas ideias. Devem ser já sinais de senilidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cortes

No Insurgente surgiu há dias uma extensa lista de organismos para os quais se propunha, para o Estado poupar dinheiro, encerramentos para 58, cortes de metade dos custos para outros 27, "pela sua inutilidade presente", e cortes de 20% em ainda mais 56, "onde são sobejamente reconhecidas ineficiências". À primeira vista pareceu-me uma boa proposta, mas quando li as listas mudei de opinião. Se admito que muitos dos organismos incluídos possam ser pouco mais que inúteis ou possam ser reformados de modo a não consumirem tantos recursos, já duvido muito que se possam encerrar pura e simplesmente a maioria dos fundos e serviços autónomos da lista 1., que a maioria dos da lista 2. tenham uma “inutilidade presente” tão evidente que mereçam um corte de metade e ainda que os da lista 3. tenham todos “ineficiências sobejamente reconhecidas” e possam sofrer cortes de 20%. É a propostas como esta que se chama com propriedade “cortes cegos”, tanto por cento e que se arranjem, sem justificar que reorganização pode suportar a perda de receitas. Choca-me principalmente ver incluídos nestas listas todas as Universidades e os Institutos Superiores e Politécnicos. Admito sem dificuldade que muitos dos organismos citados, e por ventura outros que não constam das listas, possam ou mereçam ter os seus orçamentos revistos e eventualmente diminuídos na parte que provém do Estado, mas, assim a granel, não. A lista pode ter a vantagem de lançar uma pedrada no charco e levar os responsáveis a pensar mais sobre o assunto, mas tal como está, se fosse posta em prática, creio que causaria problemas gravíssimos por falta de acções necessárias ou mesmo fundamentais e levaria à paralisia de organismos cujo funcionamento é importante.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Previsão de sismos

Fiquei profundamente chocado com a notícia da condenação por homicídio por negligência de cientistas italianos por não terem previsto o sismo de Aquila, ou melhor, por, segundo a acusação, 6 dias antes do terramoto terem, depois de um encontro, tranquilizado os habitantes com um relatório que subestimava os perigos que a cidade corria. Não sei absolutamente nada de sismologia e não tenho dados pormenorizados sobre a acusação nem sobre a sentença, mas sei que é voz corrente que é impossível prever com precisão a ocorrência de terramotos e que 5000 cientistas de todo o mundo escreveram ao presidente Giorgio Napolitano em defesa dos acusados exactamente com o argumento de que os sismos não podem ser previstos. Admito que o tal relatório fosse falsamente tranquilizador e que, embora sem segurança sobre a data e sobre o grau, talvez pudesse ser avaliado ser e cidade uma região de risco, até pela quantidade de edifícios antigos e, portanto, sem construção anti-sísmica, mas mesmo que se dessem estas circunstâncias, o que eu ignoro, parece-me a sentença desproporcionada e extremamente pesada. Calculo que, em sismologia como em outras situações de avaliação de riscos, os especialistas chamados a pronunciar-se hesitarão de futuro a aceitar o encargo ou então terão tendência a sobrestimar os riscos para não poderem ser acusados de negligência ou incúria. Se, por um lado, isto levará a mais precauções, por outro, estas precauções, que têm sempre custos e muitas vezes riscos, serão exageradas e até inúteis. É possível pensar que um relatório sobre o perigo de sismo eminente numa cidade, ou outro perigo julgado possível, poderá levar a evacuações da população que poderão, se a previsão estiver errada, ser completamente escusadas.

Não notícia

As TVs continuam a ter falta de assunto, talvez por causa da greve da LUSA ou de falta de imaginação. Assim vão buscar assuntos que não interessam nem ao menino Jesus e desenvolvem até à náusea. Agora foi a escuta que apanhou o Primeiro Ministro, que deu pano para mangas e que dias depois de tudo explicado e resolvido ainda dá para remexer os restos. Os três canais informativos começaram hoje os noticiários da manhã com o que ainda conseguiram sacar deste não assunto, o que só poderia dar uma não notícia. Com tom solene afirmaram quase em uníssono, só que em diferentes frequências do espectro televisivo, que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça se tinha recusado a falar sobre a escuta que envolvia o Primeiro Ministro e que lhe fora enviada para eventual validação. Estavam à espera de quê? Que Noronha do Nascimento anunciasse já hoje, perante as perguntas dos jornalistas, o que vai decidir sobre o assunto?

O assalto dos jornalistas às figuras públicas com perguntas por vezes até impertinentes começa a ter momentos de exagero, como aquele em que a jornalista anunciou que o PM tinha deixado expresso que não responderia a perguntas, mas que, mesmo assim, iria interrogá-lo para tentar obter uma declaração. Quando o PM passou, em passo apressado, perto dela, lá gritou uma pergunta que, evidentemente, ficou sem resposta. Será que não reconhecem que não é assaltando as pobres vítimas com perguntas e mais perguntas que podem obter alguma notícia que valha a pena. Por vezes, mesmo em entrevistas ou em conferências de imprensa, resolvem, perante a falta de resposta, refazer por outras palavras a mesma pergunta que já tinham feito ou que um colega tinha atirado. É um jornalismo de ataque que os políticos aprenderam a aguentar com alguma bonomia.

Aqui ao lado

A manipulação tem sido tão intensa que até eu me admirei com os bons resultados que o PP espanhol obteve nas eleições regionais que tiveram lugar hoje na Galiza e no País Basco, principalmente na Galiza. e principalmente com os maus resultados do PSOE em ambas as regiões. É pois evidente que o facto de se reunirem multidões nas praças e nas ruas não significa que o que estas multidões defendem corresponda ao sentir dominante do povo, ao contrário do que normalmente é admitido por individualidades que simpatizam com estas correntes contestatárias e com algumas expressões que saem da boca de alguns jornalistas. Claro que eu sei que a abstenção foi muito grande e que no País Basco as ideias nacionalistas sobrepuseram-se à dualidade esquerda/direita, mas, a crer na interpretação dominante nos meios de comunicação portugueses de que a contestação ao Governo era geral, a maioria absoluta do PP na Galiza e a perda de votos (e de lugares nos parlamentos regionais) do PSOE seriam incompreensíveis.

domingo, 21 de outubro de 2012

Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica

É bem conhecido o provérbio: "Caluniai, que da calúnia alguma coisa fica." Poderemos estender um pouco o âmbito e dizer com verdade: "Lançai rumores, que do rumor alguma coisa fica", ou: "Insinuai, que da insinuação alguma coisa fica." Que eu saiba estes dois últimos dizeres não são provérbios, mas não só são tão verdadeiros como o provérbio sobre a calúnia como são largamente praticados pela generalidade dos meios de comunicação. Lança-se uma notícia, que até pode ser e geralmente é verdadeira, mas que, pelo modo como é redigida e por vezes pelo que se cala, leva a pensar em ilicitudes, em actos menos honestos ou menos éticos ou em responsabilizações ilusórias.

Vem isto a propósito da notícia sobre ter Passos Coelho ter sido "apanhado" numa escuta telefónica no âmbito da investigação do caso Monte Branco, um tenebroso caso de alegada fraude fiscal e branqueamento de capitais. O Expresso chegou a utilizar como título a afirmação de que Passos tinha sido "alvo de escutas". Ora se foi apanhado fortuitamente não era obviamente ele o alvo. Era nitidamente uma não notícia, já que não divulgava o interlocutor, não referia o tema da conversa nem qualquer pormenor. Pois esta não notícia foi amplamente divulgada, como se dela se pudesse tirar qualquer ilação sobre qualquer envolvimento do Primeiro Ministro no caso sob investigação.

Felizmente a bolha foi rebentada rapidamente e o próprio interlocutor interveio para explicar o motivo do telefonema e esclarecer que nada havia a apontar ao Primeiro Ministro, que também já admitiu que autoriza a divulgação da conversa, que aliás não teria nada a ver com o caso Monte Branco. Mas, como do rumor ou da insinuação alguma coisa fica, e como tenho ouvido e lido acusações gravíssimas e não provadas contra Passos Coelho (basta ler os cartazes das manifestações e ler comentários na net), não me admirarei se este caso continuar a ser apontado como indicação de que Passo possa estar ligado a fraudes e lavagens de dinheiro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Uma boa notícia

Finalmente as empresas só devem entregar o IVA das suas vendas depois do respectivo recebimento. Como é uma boa notícia, a informação foi escassa e sem comentários. Até parece que o facto de uma criança de uma escola do Algarve ter tido um almoço constituído por uma sande e um copo de leite é mais importante (aliás acabo de ver no canal Hollywood um filme americano em que numa escola vários jovens e um professor almoçam sandes sem leite; eu próprio há dias almocei apenas uma sande de queijo e fiambre e fiquei satisfeito).

O anúncio da medida sobre o novo regime de caixa no IVA, feito hoje pelo Ministro Álvaro santos Pereira, incluiu outras medidas de estímulo à economia.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Argentina

Para os que gritam "Que se lixe a troika." seria salutar saber o que se passa ainda hoje com a Argentina 10 anos depois de ter declarado bancarrota e de ter negociado a dívida pedindo um haircut de 65%.

sábado, 13 de outubro de 2012

O fato da democracia

Na notícia publicada no Jornal de Notícias a que me referi, escreve-se que D. José Policarpo alertou "para o fato da democracia representativa estar em causa". Não sei que fato veste a democracia, mas creio que o Cardeal deve ter dito "facto" e não "fato". Será que teremos de continuar a ler disparates ainda maiores do que o chamado acordo ortográfico pretende impor? Note-se ainda outro erro na mesma frase, este menor mas infelizmente muito vulgar. Deveria ser "o facto de a democracia", já que neste caso não se deve abreviar "de a" para "da".

Palavras oportunas

Considero muito oportunas as palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa, José Policarpo, a propósito da tentativa de deslegitimizar os órgãos democraticamente eleitos através de manifestações de rua. Apesar de não ser católico, concordo em absoluto com a posição expressa. Claro que o Patriarca não definiu o caso como uma tentativa de deslegitimização, mas é isso que quer dizer quando afirma que "Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações" e se interroga "Até que ponto é que nós construímos uma saúde democrática com a rua a dizer como se deve governar[?]." De facto, importantes sectores da esquerda têm tentado declaradamente contestar a legitimidade do Governo com a "luta" nas fábricas e na rua. Já que a "luta" nas fábricas tem sido fraca, resumindo-se a algumas manifestações e vigílias junto de empresas em dificuldade e poucas greves (não incluindo as dos transportes e de portos, que não são fábricas), é principalmente em manifestações de rua que se tenta contestar as políticas seguidas pelo Governo, por parte de forças que nos órgãos próprios não têm força para alterar as opções da maioria, como o PCP e o BE, ou que nem têm representação em órgãos da democracia representativa, como os movimentos de indignados e outros.

Incentivo à natalidade: sim ou não

Muito interessante o debate de comentários no Insurgente a propósito da natalidade. Tudo surgiu com a insinuação de que a opinião de um deputado do PSD a favor de incentivos ao aumento da natalidade é uma ideia de esquerda (Laranja por fora, vermelho por dentro) com direito a ilustração e tudo. A partir daí a troca de opiniões é bastante rica e instrutiva. Por mim estou absolutamente com as opiniões de Aladin e de Um Azul, que usam argumentos sólidos e bem alicerçados. Os que apresentam opiniões contrárias também têm por vezes argumentos válidos, mas muitas destas opiniões assentam em falsas premissas. Para formar opinião é importante seguir a sugestão de Um Azul e observar a variação das pirâmides etárias de 1950 e de 2005 ( http://www.prof2000.pt/users/elisabethm/geo10/index11_files/piraliv.jpg. Vale a pena.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sinais

Considero um bom sinal a reacção que se está a verificar em largas camadas da população do Paquistão ao ataque que um fanático perpetrou sobre a jovem Malala que tinha escrito acusações sobre as actividades dos talibã. A Euronews mostrou imagens de Carachi e de Islamabad com grandes manifestações contra este crime. A existência de tantos paquistaneses conscientes dos direitos de liberdade de expressão de pensamento, em oposição às multidões que ainda há pouco atacaram representações diplomáticas e queimaram bandeiras americanas por um filme que consideraram ofensivo, faz ter esperança no despertar da consciência de povos em que numerosas camadas ainda estão presas a ideias de intolerância.

Medina Carreira

Sou dos que seguiu com grande interesse as ideias expressas pelo Dr. Medina Carreira desde há muitos anos e especialmente na parte final do consulado de Sócrates no programa Plano Inclinado de Mário Crespo. Dizia verdades que poucos gostavam de ouvir e alertava para os problemas que se avolumavam. Apesar da mudança de governo e da alteração profunda de políticas, continuou a criticar aspectos que mereciam crítica no programa Olhos nos Olhos com Judite Sousa. Mas pouco a pouco foi perdendo para mim o interesse, talvez em parte porque repetiu os mesmos argumentos e abordou outros mais gerais que, sem deixarem de ser importantes, não eram prioritários perante a situação de crise. No entanto continuou uma voz interveniente e lúcida que, para além de criticar, apontava por vezes caminhos que mereciam ser ponderados.

Foi pois para mim uma desilusão ouvi-lo afirmar que o actual Governo está desacreditado (não sei se foi exactamente esta a expressão, mas creio que foi equivalente) e que devia ser demitido e substituído por um novo governo de iniciativa presidencial, mas no actual quadro parlamentar e com aprovação da maioria dos deputados. Ao contrário do que MC preconiza, parece-me que qualquer mexida no Governo antes da aprovação do Orçamento de Estado para 2013 seria um desastre. Mesmo depois desta aprovação, não creio que seja necessário nem sequer aconselhável uma mudança de governo. Apesar de muitas vozes, à esquerda e à direita que reclamam a remodelação do Governo imediatamente ou a prazo e que preconizam a queda do Governo por estar "moribundo", "estraçalhado", etc., creio que o Governo não necessita mudanças, e agora, depois de aprovada em Conselho de Ministros a Proposta de OE 2013 ainda mais o creio. Por outro lado não vejo qualquer possibilidade de obter aprovação no Parlamento para um governo de iniciativa presidencial ou mesmo de um novo governo negociado entre partidos que possam constituir uma maioria, seja PSD+CDS, como o actual, seja PSD+PS. A proposta de MC parece-me não só despropositada como mesmo inviável. E é com pena que o digo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Boa educação

Há dias li no blog Apontamentos Sentidos:

« Inacreditável...

Digam-me como é que alguém que está numa fila de carros no meio do trânsito, nos dias de hoje, ainda abre calmamente o vidro do seu carro e deita um pacote de cigarros vazio para a rua?»

Alguém comentou:
«Isso é triplamente inacreditável e inaceitável.
Mas quando será que aprendemos a cuidar do que é nosso!
Há certas ruelas na nossa Lisboa que mais parecem latrinas, o cheiro é nauseabundo. A rua onde moro é a casa de banho dos taxistas :-(
Ainda não entendi porque é que o nosso Ministro da Educação retirou o espaço de Educação Cívica nas escolas.»


Seria realmente inacreditável se não tivéssemos exemplos destes todos os dias. Mas será com o espaço Educação Cívica que se resolve ou pelo menos se abranda o problema?
Quando eu andava na escola não havia Educação Cívica, mas era era raro alguém ser tão mal educado (como então se chamava) que deitasse lixo para a rua. Havia era mais civismo. Lembro-me de ouvir um amigo do meu pai afirmar que devia haver educação cívica nas escolas. Mas durante os anos em que houve esta disciplina não houve mais civismo. Não é preciso haver uma disciplina específica para inculcar nos jovens a boa educação, é preciso é o exemplo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Natalidade

O discurso do Presidente da República na comemoração do 5 de Outubro focou principalmente a questão da educação. Sem dúvida que é importante. Mas para mim o ponto fundamental do discurso foi a referência ao problema da baixa natalidade. Já em tempos Cavaco Silva disse que era necessário pensar o que era necessário fazer para os portugueses terem mais filhos. Na ocasião a frase foi objecto de chacota, mas é tempo de começarmos a pensar em incentivos para a natalidade, sem os quais não há solução possível para a sustentabilidade do estado social nem para uma retoma económica durável.

5 de Outubro: O melhor discurso

O melhor discurso das comemorações do 5 de Outubro foi, sem dúvida, o do vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva. Dir-me-ão: Mas não foi um discurso, foi uma intervenção informal em resposta a perguntas de jornalistas. É certo, mas no conteúdo valeu como um discurso e foi certeiro e esclarecedor, mais oportuno que os discursos de António Costa e de Cavaco Silva.

sábado, 6 de outubro de 2012

A bandeira de pernas para o ar

Não me lembro de um 5 de Outubro com tanta animação ou, se preferirem, com tantos incidentes. Talvez por ser o último em feriado, houve
- o hastear da bandeira ao contrário, ou, como se diz vulgarmente, de pernas para o ar, apesar de a bandeira não ter pernas,
- a perturbação da parte final do discurso do Presidente pelos gritos de uma senhora que clamava ter fome e ganhar pouco e
- a colaboração espontânea de uma cantora lírica que, no final da cerimónia, cantou o poema Firmeza de Fernando Lopes Graça.
Na situação grave que o País atravessa todos estes acontecimentos são apenas sintomas menores. Como disse (com algum cinismo) Mário Cesariny, "Que afinal o que importa não é haver gente com fome, porque assim como assim ainda há muita gente que come". Claro que não sou tão cínico como o Cesariny foi neste poema  chamado "Pastelaria", que aprendi de cor quando era estudante e é um dos meus preferidos: Haver gente com fome é realmente um problema gravíssimo, mesmo que haja muita gente a comer (e há, basta passar à hora de almoço pelas zonas de restaurantes dos centros comerciais). Quanto à cantora lírica, se o seu gesto era de protesto, não foi compreendido como tal e até foi aplaudido no final. Já o caso da bandeira ao contrário não passou de um lapso lamentável da organização, um engano entre duas pontas de uma corda, mas quem lhe quer ligar qualquer significado político está, obviamente, a ser pelo menos ilógico.

A este propósito não resisto a contar o que se passou há muitos anos com a minha mãe, que era professora do ensino primário, quando, depois de muitos anos a deambular por escolas da província, conseguiu finalmente, já perto do fim da carreira, colocação em Lisboa e foi nomeada directora de uma escola na Ajuda. Aos Domingos era norma hastear a bandeira portuguesa no mastro por cima da porta da escola. Ora num fim de semana a empregada que fazia esta operação teve o mesmo percalço que agora coube a Cavaco Silva: pôs a bandeira de pernas para o ar. Na Segunda-feira, a minha mãe deu pelo erro, mas como era ocasião de baixar a bandeira não deu muita importância ao caso, mas uma das professoras ficou escandalizada com o pouco caso que a minha mãe tinha dado ao incidente, clamando que era muito grave ter tido o símbolo da Pátria de pernas para o ar e exigindo esclarecimentos para castigar a responsável. O caso não teve, porém, qualquer seguimento. Nessa altura ninguém se lembraria de pensar que o erro tinha mais significado do que isso mesmo, um erro, um engano, sem consequências e sem significado. Como diria Cesariny

"Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra"

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Enorme? Que exagero!

Francamente esperava mais, principalmente depois de Gaspar ter afirmado que o aumento era "enorme". Claro que não gosto, também me estão a ir ao bolso. Terei de poupar mais, terei de adiar novamente algumas substituições de coisas avariadas lá para casa. Mas depois do que já tinha sido anunciado ou que se desconfiava vir aí, a notícia não me alarmou particularmente. Parece que há muita gente alarmada e mesmo indignada, mas não são assim tantos que tenham sequer conseguido encher a rua da residência do Primeiro Ministro com milhares de manifestantes. Segundo as notícias eram dezenas, mais especificamente pouco mais de uma centena. Para o alarme de alguns comentadores, parece pouco. Veremos se a CGTP, o PCP e o BE mais os indignados de diversos quadrantes vão conseguir fazer aumentar as manifestações contra a "enorme" austeridade.

TSU à francesa

Quando vi a notícia no Insurgente, duvidei que fosse exactamente como diziam, mas segui o link e, a menos que o Expresso tenha inventado, têm mesmo razão. Como, além do Expresso, o Insurgente se baseia no blog The Portuguese Economy que por sua vez cita o Monde, parece ser mesmo verdade. Sugiro que Seguro, que se vai encontrar com Hollande na próxima semana, faça ver ao presidente francês o terrível erro que está a preparar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ignorantes

Do blog "O Princípio da Incerteza":

Como é possível que meio País se preocupe mais em saber se quem chamou ignorantes a alguns empresários é ou não demitido, o que pensa sobre isso o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças e os outros ministros todos mais os deputados, os dirigentes de organizações patronais e outros que tais do que em saber como se vai governar o País?

Que significado político tem um dirigente de um partido de extrema esquerda acusar alguém que chamou ignorantes a alguns empresários de ofender o povo português? Será que para alguma esquerda os empresários ou alguns empresários são legítimos representantes do povo?

A falácia do falhanço da austeridade

Como sou preguiçoso a escrever, limito-me a aproveitar o trabalho dos outros, neste caso o do Dr. Tavares Moreira no Quarta República, que mostra claramente a falácia do dilema entre austeridade e crescimento e desenvolvimento. Para mim é evidente, mas não o saberia explicar tão bem como Tavares Moreira. Apesar desta evidência e de não ser a primeira vez que a falácia é denunciada, embora sem a clareza deste artigo, continua a haver gente a reclamar que a política de austeridade seja substituída pela do crescimento e a haver multidões que se juntam para reivindicar essa mudança, mas sem explicar como seria isso possível.

sábado, 29 de setembro de 2012

Austeridade e reacções

Não compreendo a surpresa e as reacções contra as medidas de austeridade anunciadas de modo muito geral e ainda vago e as que se adivinham. Claro que há muita gente, suponho mesmo que a maioria dos portugueses, que não compreendem ou não querem compreender que para passarmos a viver de acordo com o que produzimos a austeridade é inevitável. Claro que a manifestação de hoje organizada pela CGTP faz parte da luta política e a indignação contra as medidas de austeridade é um pretexto e uma maneira de mobilizar as pessoas. Mas já toda a gente sabia, porque tinha sido amplamente divulgado, que para reduzir o défice, a que éramos obrigados pelo Memorando de Entendimento que o anterior Governo negociou, mas que de qualquer modo seria necessário já que o financiamento dos sucessivos défices se tornara impossível, seriam necessárias em 2013 mais medidas de contenção de despesas do que nos anos anteriores. E em virtude do acórdão do Tribunal Constitucional esta medida teria de se reflectir também no sector privado. As medidas que se esperam para 2013, com TSU ou sem TSU, não deveriam portanto constituir qualquer surpresa, a não ser para os pouco informados. Desde o pedido de resgate que se sabe que os sacrifícios eram inevitáveis. Já se tinha afirmado e tornado a lembrar que 2013 seria um ano muito difícil, mesmo que se viesse a verificar nesse ano uma viragem na tendência para o aprofundamento da crise. Este viragem, que o PM previu, se se vier a dar, só terá efeitos nos anos seguintes. Por mim, como ainda será necessário baixar mais o défice para 2014, não me surpreenderei que mais sacrifícios venham ainda a ser pedidos. E, mesmo que tudo corra bem e o Governo tome as medidas mais adequadas, mesmo que possamos voltar aos mercados financeiros em 2013 ou em 2014, é evidente que os limites de endividamento terão de ser muito apertados, para não cairmos novamente na situação a que chegámos no ano passado. E independentemente do que se passe no nosso País e do nosso comportamento, o empobrecimento do Ocidente seguirá o seu rumo mais ou menos lentamente.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lição magistral sobre a dívida

Sob o pretexto de contestar o artigo "A dívida existe mesmo?" de José Vítor Malheiros publicado no Público, jcd dá-nos no Blasfémias uma lição magistral sobre como se forma a dívida pública e as implicações desta. O artigo de José Vítor Malheiros é uma demonstração de ignorância absoluta. Claro que há muita gente que não sabe como se formou a dívida e que é impossível pagá-la urgentemente, quais as fontes que se podem consultar para saber quando se formou, quanto se deve, em que se gastou o dinheiro e o que se pode fazer para estancar a hemorragia, mas essa muita gente não escreve artigos no Público a expor a sua ignorância.

Muito justamente, o artigo de jcd é referido em vários blogs, mas não resisto a juntar-me a esse grupo.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mais tempo custa mais dinheiro

A Grécia pediu, e está em vias de obter, mais 2 anos para conseguir cumprir as metas orçamentais. Mas agora chegou-se à conclusão de que esta extensão do prazo implica um financiamento de 13 a 15 mil milhões de euros. É lógico, mas espanta-me só agora se falar nisso. O Ministro da Finanças grego diz que crê não ser necessário sobrecarregar os contribuintes europeus. Espero bem que tenha razão.

Mas agora pergunto eu: Na 5.ª avaliação da troika ao programa de ajuste português foi autorizada a extensão por um ano do ajuste do nosso défice. Ninguém falou em financiamento complementar necessário por este adiamento. Então mais tempo na Grécia implica mais dinheiro, mas em Portugal não é assim? Porquê?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ninguém nos vai devolver nada

Ainda não se sabem pormenores das medidas de austeridade que serão adoptadas depois da reprovação da mexida na TSU. No entanto parece que ninguém ou quase ninguém se apercebeu que o abandono daquela mexida só afecta o défice em 7-5,75=1,25% do rendimento total dos trabalhadores do sector privado. Se se aperceberam disso, os comentários dos parceiros sociais e dos jornalistas não o dão a entender. Por isso o corte de parte ou da totalidade de um subsídio só teria de cobrir aquele diferencial. No sector público há apenas a substituição do aumento da taxa para a SS por um corte parcial de um dos subsídios, se entendi bem. Esperemos que as coisas se clarifiquem.

Há contudo um pormenor de linguagem que pode lançar alguma confusão. Quando ouvi um jornalista afirmar que um dos subsídios cortados aos funcionários públicos e aos pensionistas seria "devolvido", pensei que a expressão "devolvidos" não seria a mais correcta e que se devia a uma daquelas imprecisões de linguagem que são frequentes. No entanto, logo a seguir, ouvi o próprio Primeiro Ministro utilizar a palavra "devolução". Os mais incautos ou pouco informados poderão pensar que o Estado irá devolver o dinheiro cobrado ou não pago em 2012. Afinal não haverá qualquer devolução, mas sim a eliminação, em 2013, do corte de parte de um subsídio, isto é, uma diminuição em relação ao presente ano dos cortes no orçamento do próximo ano que está agora a ser discutido. Ninguém nos vai devolver nada.

domingo, 23 de setembro de 2012

Insultos

Saliento a frase de Graça Franco que ouvi anteontem: "Quem aceita governar nestas circunstâncias não merece que haja na rua quem insulte gratuitamente". É exactamente o que eu penso e logo que Passos Coelho aceitou ser indigitado para formar Governo pensei que, se tivesse a noção do que o esperava, mais valia recusar e manter-se afastado de funções políticas. Mais valia para ele; felizmente não cedeu a essa tentação. Ouvir agora multidões a gritar "Gatuno" e outros "elogios" faz-me lembrar as multidões que reclamavam cabeças durante a Revolução Francesa e particularmente durante o Terror. Felizmente agora não reclamam cabeças, a civilização evoluiu para formas de protesto menos drásticas, mas, por muito que possa haver erros de governação, continuo a acreditar na boa vontade destes governantes e parecem-me completamente injustos os insultos que se ouvem nas manifestações e em outras ocasiões.