segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Fado

Não sou grande apreciador de fado, não é o género musical da minha predilecção particular, mas gosto de ouvir um fado bem cantado e aprecio principalmente o som da guitarra portuguesa. De qualquer modo, fiquei satisfeito por o fado ter sido reconhecido como património imaterial da humanidade e acho que merecia essa distinção. Tive ocasião hoje de ouvir mais fados do que nos últimos 30 anos, gostei mais de alguns do que de outros, mas tive algum prazer, principalmente de recordar os fados mais antigos, mesmo quando cantados por vozes jovens.

Mas o que me deu mais satisfação foi verificar, ao procurar "fado" na Wikipedia por curiosidade, que a entrada correspondente estava actualizada a ponto de incluir já:

«O fado é um estilo musical português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa. O fado foi elevado à categoria de Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO[1] numa declaração aprovada no VI Comité Intergovernamental desta organização internacional, realizado em Bali, na Indonésia, entre 22 e 29 de Novembro de 2011.[2][3]

Não só temos uma tradição musical que é reconhecidamente património mundial, mas temos um rigor tal que nos leva a actualizar no próprio dia da adopção a referência ao fado na Wikipedia. Não sei quem fez a actualização, mas quem quer que tenha tido essa preocupação merece o meu apreço.

sábado, 26 de novembro de 2011

Estaremos a empobrecer? E os juros?

aqui defendi que não estamos a empobrecer: Já éramos pobres, mas, graças a viver com dinheiro emprestado, podíamos disfarçar. Agora revelou-se a nossa pobreza.
Também, mais recentemente, estranhei que toda a gente se tenha subitamente posto a estranhar que tenhamos de pagar quantias chorudas de juros do empréstimo do resgate.
Felizmente verifico que há quem esteja de acordo comigo nas duas questões. Diz rui a. no Blasfémias:

«estaremos mesmo a empobrecer?

Será que o país está realmente a empobrecer com as políticas deste governo, como sugerem, por aí, comentadores e opinadores diversos? Por acaso o governo mandou encerrar empresas e fábricas, destruiu fontes de recursos, mandou reduzir a produção, nacionalizou empresas privadas e pô-las a perder dinheiro, ou será que este governo se tem limitado, de calças na mão, é certo, como o faria qualquer outro no mesmo lugar, a pagar o que é devido aos seus credores, de modo a poder continuar a ter acesso a dinheiro que lhe permita evitar a falência? Sendo, evidentemente, isto que se passa, se Portugal não perdeu produto por estar a pagar o que deve, há uma conclusão a retirar do actual estado em que nos encontramos: ele é apenas o estado real do país – de pobreza, é certo – de um país que abandonou os campos, reduziu as pescas, limitou a iniciativa privada, que criou falso desenvolvimento público com recursos desbaratados vindos do exterior, que pouco ou nada produz, que abandonou, há muito, as exigências de qualidade na educação, na justiça, na segurança, na saúde, que exige direitos e quer poucos deveres, e que tem vivido acima do valor real do seu produto interno, à custa do crédito externo, ou seja, do dinheiro que alguém lá fora produz. Por outras palavras: nós não estamos a empobrecer; nós somos pobres. Agora que os avalistas – as célebres agências de rating – desconfiam da nossa capacidade real para pagar o que devemos e o que mais queremos ficar a dever, estamos somente entregues a nós mesmos, ao que somos ou não somos capazes de produzir, e à obrigação natural de pagar aquilo que voluntariamente ficamos a dever a quem nos emprestou. Entretanto, quanto aos juros da dívida contraída pelo PS, PSD e CDS – os célebres 34 mil milhões -, se houver por aí quem arranje dinheiro a preço mais barato, será certamente bem-vindo.»

É mesmo assim.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Juros

Não é nenhuma novidade que Portugal tenha de pagar juros e encargos pelos empréstimos concedidos ao abrigo do apoio financeiro do trio UE-BCE-FMI que são quase metade do valor emprestado. Era um facto sabido e já comentado e não é difícil de calcular esse valor a partir das taxas e dos prazos, como faz qualquer pessoa que pretenda pedir um empréstimo e tenha a cabeça no sítio. Já se tinha falado disso, mas agora a comunicação social em coro desatou a mencionar o assunto não só como se fosse uma descoberta actual mas também fosse um escândalo. Claro que o PCP e o BE aproveitaram para as suas críticas ao governo, à troika e ao sistema financeiro internacional.

Mas será que nunca pediram um crédito-habitação, nunca pediram um empréstimo para qualquer outro fim nem compraram bens a prestações. Principalmente nos empréstimos a longo prazo, como os de crédito-habitação, fazendo as contas toda a gente sabe que vai pagar muito mais pela casa do que se comprasse a pronto.

Concretamente no caso do resgate português, que alternativa haveria? Se Portugal não tivesse pedido o apoio, mesmo que conseguisse continuar a financiar-se no mercado, os juros seriam muito superiores e portanto o valor final, mesmo se fosse, por hipótese, suportável, seria muito superior aos tão falados 34,4 mil milhões.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Escalada da dívida

Convém não esquecer:
http://quartarepublica.blogspot.com/2011/11/o-grande-especulador-nacional.html
«Quinta-feira, 24 de Novembro de 2011
O grande especulador nacional
Dívida Pública Directa do Estado- Fonte: Instituto Gestão do Crédito Público
Março de 2005- 92,7 mil milhões
2005- 102 mil milhões
2006- 109 mil milhões
2007- 113 mil milhões
2008- 118 mil milhões
2009- 133 mil milhões
2010- 152 mil milhões
2011( 30 de Junho)- 172,4 mil milhões
Sócrates cometeu a proeza inimaginável de praticamente duplicar a dívida nos seus seis anos e três meses de governação. Aos 92,7 mil milhões que recebeu juntou mais 80 mil milhões, à razão de 10,6 mil milhões por ano!... E, para coroar a façanha, só nos últimos 25 meses do reinado, endividou-nos em mais cerca de 40 mil milhões!...Claro que teve que começar a pedir emprestado até para pagar os juros.
A especulação tem um nome e é nacional. Mas agora fazem as greves contra o governo e os especuladores internacionais!...»

Simplesmente impressionante.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Buracos, em cima da mesa, disparou, chumbar

A comunicação social também é dada a modas. Há certas palavras que começam a ser sistematicamente usadas e todos os jornais e canais de televisão as adoptam como se não houvesse outras maneiras de dizer as coisas. O verbo "chumbar", que quando eu era jovem era considerado calão comum entre os estudantes mas impróprio de ser usado num título de jornal, é agora sempre adoptado para dizer não só "reprovar", mas também "votar contra" ou "não aprovar", seja uma proposta, uma lei ou uma ideia. Quando um valor ou um parâmetro sobe um pouco mais do que o habitual, logo se diz de "disparou". Por vezes o disparo é de pouco alcance, logo seguido de uma "queda". É assim com os preços de acções na bolsa e com os juros dos empréstimos. Os assuntos a tratar ou as questões discutidas numa reunião "estão em cima da mesa", mesmo quando não há qualquer mesa entre as partes. Mais modernamente convencionou-se chamar "buracos" a quaisquer verbas que venham alterar um valor ou uma previsão. São os buracos da execução orçamental, os buracos da Madeira (Serão causados por carunchos, bichos antipáticos que deixam a madeira esduracada?), os buracos nas contas mais variadas. Seria tão bom se os senhores jornalistas fugissem dos chavões e diversificassem um pouco os termos usados.

domingo, 6 de novembro de 2011

Empobrecer? Não, pobres já éramos!

Diz-se que a crise - ou as medidas de austeridade do Governo, conforme as opiniões - estão a causar o empobrecimento do País. Mais globalmente, acrescenta-se que a crise - ou a austeridade - a nível da Europa está a empobrecer os povos europeus.

Não creio que seja assim. Pobres já nós éramos, só que muitos nem sabiam que o eram outros disfarçavam como podiam. Mercê de empréstimos que íamos conseguindo sacar, vivíamos como ricos ou pelo menos como remediados, mas éramos verdadeiramente pobres. Quando chega a hora de pagar as dívidas, claro que temos de passar a viver com menos dinheiro e logo com menos coisas, menos conforto, menos bem-estar. Mas isso só porque passamos a viver em conformidade com a nossa pobreza real.

sábado, 5 de novembro de 2011

Yes, we Cannes

Agora, que Papandreo ganhou, embora por pequena margem, a moção de confiança e, com razão ou sem ela, os políticos europeus respiram de alívio, já podemos dedicarmo-nos às pequenas questões. E uma destas pequenas questões, mas que para mim é bastante irritante, é a dificuldade que muitos jornalistas têm com a pronúncia de nomes estrangeiros. A tendência para inglesar a pronúncia de nomes alemães, franceses e até árabes, quando a pronúncia à portuguesa é por vezes a mais correcta, é quase universal.
Até há pouco o nome da cidade líbia de Sirte era muitas vezes pronunciado Sarte (com A mudo à inglesa). Agora, a propósito da cidade francesa que acolheu a reunião do G20, ouve-se mil vezes por dia pronunciar Cannes com A mudo, como can inglês. É certo que já quase ninguém com menos de 40 anos aprendeu francês, que no meu tempo era obrigatório no liceu durante 5 anos, mas o nome da cidade e a respectiva pronúncia devia ser conhecido pelo menos por causa do célebre festival de cinema.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Inovação

Primeiro, vi a notícia no blog Club das Repúblicas Mortas:


«A empresa Waydip, criada na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, foi selecionada como uma das 50 novas firmas mais inovadoras do mundo, num concurso da Kauffman Foundation.»

que remetia para o Expresso, onde li o desenvolvimento. Quer a inovação dos estudantes da UBI venha a ter um grande futuro, como espero, quer não venha a passar de uma ideia interessante mas sem viabilidade económica, a notícia é positiva e animadora.

Contudo convinha que os jornalistas tivessem um pouco mais de atenção ao aspecto técnico da notícia. Quando dizem:

«Cada mosaico do sistema Wayenergy esconde pequenos motores sob a superfície que quando são pressionados produzem energia que é acumulada em baterias.»

deviam ter em conta que os motores não produzem energia. Trata-se, seguramente de dínamos ou outro tipo de geradores que transformam energia mecânica em energia eléctrica. Claro que há motores reversíveis que podem também funcionar como dínamos, mas mesmo neste caso quando produzem energia eléctrica devem ser designados como "dínamos" ou "geradores" e não como "motores".

Referendo na Grécia

A decisão de Papandreu de pedir aos gregos que se pronunciem em referendo sobre o perdão de 50% da dívida soberana e o novo empréstimo já acordado é uma jogada muito perigosa, mas audaciosa. Sem este referendo, Papandreu e o seu governo continuariam a ter de enfrentar uma reacção popular muito violenta às medidas de austeridade. É possível que, mesmo na hipótese de Papandreu ganhar o referendo, as manifestações de protesto continuem e sejam talvez ainda mais violentas com o endurecimento das medidas, mas faltar-lhes-á legitimidade. Por outro lado, se o "não" ganhar, como indicam as sondagens, a situação na Grécia só pode piorar e a banca-rota será inevitável. Não vejo como Papandreu pode continuar a presidir ao governo grego e, com eleições antecipadas ou sem elas, as consequências para a Grécia e para a Europa serão terríveis. Se hoje, segunda-feira 31 de Outubro, só por se noticiar a perspectiva de referendo, as bolsas caíram e as taxas das dívidas portuguesa e italiana subiram, é difícil imaginar o que acontecerá se Papandreu perder.