segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Requiem pela língua portuguesa

aqui dei conta do meu descontentamento pela secundarização da língua portuguesa no domínio da propriedade industrial. O nosso governo, ao aderir ao Acordo de Londres sobre tradução de patentes, sem que nada o obrigasse a isso, manifestou desprezo pela nossa língua, que, segundo The Cambridge Encyclopedia of Language (David Crystal, Cambridge University Press, 1987), está em 8.º lugar em número de falantes, depois de inglês, chinês, hindi, espanhol, russo francês e arábico. É portanto, das línguas europeias, a 4.ª língua mais falada no mundo, pelo que merecia outro tratamento. As línguas oficiais do Instituto Europeu de Patentes são o inglês, o francês e o alemão. Compreende-se a presença do alemão, que, apesar de estar em 12.º lugar das línguas mais faladas, tem maior expansão na Europa e tem uma importância indiscutível nos domínios industrial e económico. Mas já não se aceita que nem para vigorar no nosso país seja necessária a tradução de documentos legais, como as patentes, para português.

Há pouco, José Ribeiro e Castro escreveu no Expresso um pequeno texto em que desenvolve com grande precisão os argumentos para a preservação da língua portuguesa neste domínio. Merece a pena lê-lo e meditar.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ele há ditadores e ditadores

Depois de ouvir (os excertos d)o discurso de Khadafi, chego à conclusão que afinal Ben Ali e Hosni Mubarak eram ditadores suaves, não só por se terem retirado sem batalha, mas principalmente por, antes de reconhecer a derrota e deixado o poder, terem ambos feito discursos algo conciliadores, que revelavam algum grau de cedência, embora não suficiente, em vez das ameaças de Khadafi. Por outro lado tinham um discurso muito mais estruturado e com uma linha lógica, ao passo que o discurso ameaçador de do líder líbio era descoordenado e revelava falta de domínio de si.E eu que achei o longo discurso do filho de Khadafi patético! Isso foi antes de ouvir o discurso do pai. Não desejo a morte de ninguém e sou frontalmente contra a pena de morte, mas se Khadafi deseja tanto morrer como mártir, porque não lhe fazem a vontade?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Riqueza e boa educação

Sócrates disse uma grande verdade ao afirmar que "Não basta ser rico para ser bem-educado." Só que esta verdade não se aplica às afirmações de Alexandre Soares dos Santos, pelo menos daquelas que vieram a público. Em que é que dizer "Não vale a pena continuarmos a mentir. Não vale a pena pedir sacrifícios às pessoas sem lhes dizer a verdade. As pessoas têm de saber para que estão a fazer os sacrifícios e não adianta negar que estamos em recessão, porque estamos." revela falta de educação? Será que Sócrates também considera mal educado o Governador do Banco de Portugal? Será que todos os que duvidam da sinceridade do PM são malcriados? O mais provável é que Sócrates não se tenha lembrado de mais nada para dizer.

Já depois de deixar aqui a minha opinião sobre este caso, que de tão revelador de um modo de estar na política não pode ser considerado um fait-divers, li o sábio comentário do Quarta República. Pois é!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Chefias da função pública

Perante a notícia ouvida hoje de que o Ministério do Trabalho se prepara para reduzir em mais de uma centena o número de chefias da Segurança Social e que mais tarde poderá reduzir mais 70, interrogo-me sobre quantas chefias ao todo haverá no Ministério. Certamente que a redução não poderá ser superior a 50%; deverá mesmo ser muito inferior a este número. Mas admitindo que no máximo se pretende reduzir o número de chefias para metade, isso significa que actualmente a Segurança Social tem pelo menos 340 chefes! Não será muito chefe? Como se entendem?

Se esta redução atinge só a Segurança Social, pergunto: E quantas chefias haverá nos restantes sectores do Ministério? E nos outros ministérios? A quantos chefes pagamos nós?

Segundo a Agência Financeira, os cortes anunciados levarão a uma redução de despesa da ordem de 5 milhões de euros. Isto dá 29412 euros por chefe (para os 170 anunciados; se for para 100 será 50000 euros). Como estes chefes são normalmente funcionários públicos em comissão de serviço e, a acreditar na palavra do Primeiro Ministro, não há intenção de despedir funcionários públicos, depreende-se que os chefes despromovidos continuarão a receber os seus salários normais e que a quantia poupada - os tais 29 a 50 mil euros - será só o que ganhavam a mais por serem chefes. Será possível?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

António Barreto


Acabo de ver a notável entrevista que António Barreto deu na TVI24 a Constança Cunha e Sá. Notável pela lucidez e pela precisão do discurso. Embora nem sempre concorde com as suas ideias, revejo-me na grande maioria delas. A mensagem não é de esperança, mas a justeza no diagnóstico, tão ao contrário do discurso corrente, seja o oficial, sejam os discursos oficiosos ou contra-oficiais, mas limitados ou erradamente direccionados, deixa-nos a esperança de constatar que há ainda espíritos lúcidos e que, portanto, talvez haja ainda possibilidade de mudar alguma coisa.