segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vitórias que são derrotas e derrotas que são vitórias

Já é habitual um grande grau de subjectividade na apreciação dos resultados eleitorais. Já tem havido eleições em que todos ganham, o que não foi agora o caso perante a evidência das derrotas, felizmente algumas assumidas, mas é sintomático o esforço para desvalorizar a vitória do único vencedor real, desde salientar a magnitude da abstenção e dos votos em branco e nulos, até apontar a quebra do número de votantes no presidente agora reeleito. Mas dois casos merecem destaque nas falsidades das apreciações políticas dos resultados:
Fernando Nobre considerou-se vencedor, mais, achou que teve uma vitória retumbante! Sem comentários.
Jerónimo de Sousa considerou o resultado de Cavaco Silva como uma "vitória pífia", mas salientou como muito positivo o resultado de 7,15% do candidato do PCP! Não haverá uma profunda contradição nestas considerações?

Cooperação institucional

Tavares Moreira, no Quarta República, apresenta reflexões pertinentes sobre os resultados da eleição de ontem para a Presidência da República. Entre outras coisas aponta como uma das consequências que «ou me engano muito ou vai consistir na alteração do que até agora se convencionou chamar "cooperação institucional".
Vamos continuar a ter cooperação, certamente, mas em vez de "institucional" ela vai ser "amarga"...muito "amarga", mesmo...»
Acho que tem toda a razão. Além disso, é muito sintomático que desta vez tenha sido o derrotado Sócrates a oferecer - ou, melhor, a pedir - uma cooperação institucional. Tudo indica que o presidente eleito estará muito menos inclinado a grande cooperação do que esteve no primeiro mandato.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Reproduzo o texto reproduzido pelo Insurgente porque me revejo quase completamente nele. Ao lê-lo tive a alegria de averiguar que não sou assim tão anormal:

«Reproduzo de seguida um texto enviado pelo leitor Fernando Gomes da Costa:

Sou um futuro criminoso. Muitas das coisas que faço, gosto ou defendo, já foram em tempos normais, hoje são mal toleradas, e tudo se encaminha para que num prazo não muito longínquo sejam proibidas.
Gosto de comer carne e peixe, compro fast food, mesmo sem fumar entro em cafés de fumadores, gosto de carros e de tecnologia em geral, frequento centros comerciais, acho que a comida biológica é um embuste, que a ecologia está dramaticamente poluída pela ideologia e que se transformou hoje no mais esmagador e ditatorial instrumento de poder.
Acredito que as pessoas são diferentes, e que isso é bom para as sociedades, tenho duvidas sobre muitas teorias “assentes”, como sejam as das alterações climáticas, o fim da biodiversidade ou a bondade do igualitarismo.
Acho que as ideologias servem apenas para colocar os cérebros em piloto automatico. Chego mesmo ao ponto de acreditar que existe uma industria do mal-estar e do medo com o fito de explorar, controlar e manipular a maioria das pessoas.
O meu desvio comportamental leva até a que, em vez de apenas defender a liberdade de expressão, eu a tente incentivar e praticar, ou que, em vez de, como é hoje de bom tom, “tolerar” as ideias dos outros, eu as procure antes respeitar e equacionar.

Para piorar a situação, não tenho passado anti-fascista ou de militância de causas progressistas, não sou anti-católico, sou do sexo masculino, heterossexual, e de raça branca (e, como vêem, ainda uso palavras proscritas como “raça”‘ evitando, conservadoramente, termos salutarmente fracturantes como f…-se, ou car…., que disfarço pudicamente com reticências).
Enfim, tenho, como os gurus psicologistas gostam de classificar, uma personalidade de risco. Sou um potencial cliente prioritário para um futuro tratamento de adaptação social.

Resta-me apenas uma consolação: a natureza humana não muda como os altermundistas dizem e gostariam, e por isso estarei sempre bem acompanhado por uma confortável maioria da Humanidade. A mesma que (mesmo tendo que saltar muros) sempre fugiu, ou quis fugir dos paraísos tidos como modelos pela intelectualidade dominante para os infernos sociais por ela denunciados, ao mesmo tempo que sempre se recusou sair dos mesmos infernos para os ditos paraísos (mesmo sem ter que saltar muros). Essa vasta maioria alienada permanecerá. Mesmo que silenciosa ou silenciada.

Boaventura Paciência de Santos

Nota psicanalítica:
Ontem tive a oportunidade de rever na RTP um programa chamado “Desafio Verde”, em que uma sentenciosa jovem, julgo que a falar a sério, acusa regularmente de terrorista (sic) quem, entre outras calamidades, tome banho durante mais do que alguns minutos ou com agua bem quentinha, ou compre fraldas descartaveis, ou não coma alimentos “biologicos”‘ ou deixe uma luz acesa, ande sozinho de carro, etc., etc…Não sei se o programa é patrocionado por alguma espécie de Gestapo ou KGB verde, mas a sensação de que pouco faltará para começar a enviar cidadãos para campos de reeducação eco-estalinista, emerge sinistramente real.

Já hoje, numa livraria, folheei um livro em destaque intitulado ” Comer Animais”, que, a cada página folheada, reiterava que a agro-pecuária e os selvagens comedores de carne ou peixe são a fonte de todos os males ( incluindo, claro, as alterações climáticas…), para acabar na contracapa a dizer que, se alguém depois de ler o livro continuar a ser carnívoro ou peixívoro, é, obviamente, uma besta. Graças ao aviso, não comprei o livro.

Foi por essas e por outras que nasceu em mim o Boaventura Paciência de Santos, inspirado, por antítese, num meu conterrâneo que, já há muito, mas em especial desde há dias, sente na pele como o filão eco-progressista é bem rentável…»

Bem visto! Parabéns a Fernando Gomes da Costa pelo texto sucinto mas certeiro.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Presunção de inocência só quando dá jeito

A presunção de inocência é com frequência brandida contra afirmações e principalmente contra acusações que atingem pessoas que estão a ser julgadas e que por vezes já foram mesmo judicialmente acusadas. Está correcto, por muito evidente que sejam os crimes cometidos, judicialmente só serão considerados culpados depois de trânsito em julgado. Há portanto que respeitar esta norma. Mas há quem se lembre dela só quando dá jeito, quando os acusados são do seu círculo ou do seu partido, e a abandone quando se trata de acusar inimigos políticos. Quando quem faz isto é um ministro e o faz no âmbito das suas funções em plena conferência de imprensa é particularmente grave.

Pois foi o que fez o ministro Silva Pereira ao defender a actual administração do BPN quando afirmou que o que havia era "responsabilidade criminosa da anterior administração do BPN". O julgamento ainda não começou, mas para Silva Pereira já são oficialmente considerados criminosos.