segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O espião do milénio ou do Millennium?

Ao ouvir ontem à noite, e mais tarde ao ler, a notícia sobre a iniciativa do presidente do BCP Carlos Santos Ferreira de se dispor a passar ao governo dos Estados Unidos informações financeiras que pudesse recolher no Irão no âmbito de uma actividade bancária naquele país, fiquei verdadeiramente chocado. Pensei que hoje ouviria veementes desmentidos do envolvimento de Sócrates e do Governo, mas não consegui pensar qual seria a reacção de Santos Ferreira. Julguei que o mais provável era este, perante a gravidade do escândalo e a verosimilhança das fontes, ter de pedir a demissão do cargo no banco que dirige. Previ um grande reboliço de comentários, pedidos de explicações, desmentidos, desculpas mal forjadas e um rolar de algumas cabeças. Afinal, no país dos brandos costumes, pouco aconteceu do que eu previra. Os lacónicos desmentidos do Governo foram os normais, e o facto de os contactos com membros do Governo ser referido no telegrama confidencial divulgado como uma afirmação de Santos Ferreira pode levar a duvidar da sua veracidade, pelo que os desmentidos podem ser sinceros. Já a posição de Santos Ferreira parece-me insustentável e as suas explicações na entrevista que deu na TV deixam muitas dúvidas. Quem pode, daqui em diante, confiar na confidencialidade das suas contas e operações efectuadas no Millennium BCP? Como encararão os governos dos países em que o BCP tem filiais ou qualquer actividade o facto de alegadamente o banco ter encarado a possibilidade de quebrar o dever de confidencialidade? A confiança no BCP só pode ser reposta se Santos Ferreira sair.

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